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O CIDADÃO BAIANO DESCONHECE A EXISTÊNCIA DA LAI

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.2 O CIDADÃO BAIANO DESCONHECE A EXISTÊNCIA DA LAI

Este item visa o enfrentamento da primeira hipótese desta pesquisa, aquela segundo a qual o cidadão baiano desconheceria a existência da LAI. Ela está localizada na Seção 2 do instrumento de pesquisa, intitulada “Pesquisa sobre a existência ou inexistência de lei específica”, possuindo o seguinte enunciado: “No Brasil, existe e já está em vigor uma Lei que foi criada especificamente para regulamentar o acesso do cidadão às informações públicas?”. As respostas possíveis são dicotômicas: “sim” ou “não”.

Conforme apontado no capítulo relativo à metodologia, tomou-se como base o WJP. Assim, considerar-se-ia a LAI conhecida pela população caso mais de 50% dos cidadãos afirmassem ter ciência de sua existência. Seguem, assim, os resultados obtidos.

O primeiro e único enunciado desta Sessão (questão 1) pretende verificar se os entrevistados declaram conhecer a existência da LAI:

Tabela 23 – Questão 1

1 - No Brasil, existe e já está em vigor uma Lei que foi criada especificamente para regulamentar o acesso do cidadão às informações públicas Qtde (%) Sim 328 (72,1) Não 121 (26,6) Não informado 6 (1,3) Total 455 (100)

Verifica-se que, das 455 respostas auferidas, 328 apontam para o conhecimento da existência da LAI. Este número equivale a 72,1% dos pesquisados, número significativamente superior a 50%, de forma que pode-se afirmar, com base na pesquisa efetuada, que o cidadão baiano sabe que a LAI existe.

Só se pode falar em sujeito informativo se houver diálogo possível com a esfera pública, e esta interface é mediada por políticas de acesso, aqui representadas pela LAI. Assim, saber da existência da LAI é o primeiro ponto para

que, nos estritos limites desta pesquisa, possamos identificar o cidadão como sujeito informativo. Ademais, é interessante notar o formato curioso a partir do qual o direito à informação pode se configurar: empunhá-lo implica em possuir o direito de ser informado que se tem direito à informação.

Sem amplo conhecimento acerca da existência da LAI a noção de transparência no Brasil tornar-se-ia precária e o controle vertical (accountability) exercido pelo cidadão, prejudicado. A qualidade da democracia, se não reside neste momento, certamente depende, em larga medida, desse conhecimento acerca da existência de legislações que instrumentalizam o cidadão para exercer o controle.

Nesse sentido, destaca-se, aqui, a atuação do próprio poder público no Brasil. De fato, no ano em que a LAI entrou em vigor, a CGU engajou-se em diversas campanhas informativas (um exemplo delas pode ser observada nas transcrições apresentadas no capítulo desta pesquisa intitulado “Além da LAI”), visando dar a conhecer a LAI ao cidadão e aos funcionários públicos, bem como explicar seus pontos mais relevantes. Evidentemente, houve cobertura midiática à época, mas o papel deste órgão foi central. Ademais, seu site tornou-se uma importante fonte de informação e pesquisa, oferecendo relatórios, infográficos, cartilhas, vídeos explicativos e minicursos online (dentre outras inúmeras iniciativas). Até o dia de hoje, continua sendo referência inescapável para o cidadão em geral bem como para os funcionários públicos.

O poder executivo federal, via CGU, conforme já se explicitou, foi quem capitaneou a implementação da LAI nos estados e municípios e nas três esferas do poder (executivo, legislativo e judiciário), de forma que a ele deve ser imputado parte do sucesso ou do insucesso desta norma. No que diz respeito ao funcionalismo público, especialmente no âmbito federal, acredita-se que a atuação tenha sido consistente e abrangente – abarcando as duas dimensões da LAI, a ativa e a passiva – ainda que haja muito o que se avançar e embora a eficácia desta norma não dependa apenas de treinamento e informação, mas também de recursos.

Havia que se levar em conta, entretanto, o fato de que a força de um órgão como a CGU – ainda que o âmbito de sua atuação seja nacional – costuma se fragilizar no relacionamento com estados e municípios, já que estes não possuem o mesmo orçamento e estrutura administrativa para implementar com rapidez as mudanças necessárias (e aqui não se está falando da mera regulamentação da LAI

nos estados e municípios, embora isso também seja importantíssimo na sua divulgação, pois suscita debates locais).

Ademais, para a CGU, chegar até o cidadão exige estratégias diferentes das que são usadas para alcançar o funcionalismo público, até mesmo pelo fato deste lhe ser, na falta de melhor palavra, subordinado. Assim, no que se referia ao cidadão, pairava a dúvida. No que diz respeito ao cidadão baiano, contudo, não mais: o poder público (ainda que não apenas ele, obviamente), representado pela CGU, atuou de forma eficaz no sentido de dar conhecimento acerca da existência da LAI.

No item anterior, verificou-se que 67,7% dos cidadãos pesquisados trabalham ou trabalharam a maior parte da vida no setor privado. Desta forma, é mais significativo ainda o alto percentual de conhecimento da existência da LAI encontrado (tendo em vista que aqueles que trabalham para o setor público – ao menos os que ainda estão na ativa – dificilmente não saberiam da existência da LAI). Da mesma forma ocorre em relação a outra questão do mesmo item, onde 84,6% dos entrevistados declaram que não fazem parte de entidades de representação coletiva. No que diz respeito à LAI, a atuação dessas entidades, ao menos em tese, poderia favorecer sua divulgação bem como facilitar o entendimento das informações públicas, já que, muitas vezes, sua complexidade exigiria uma espécie de “tradutor” para que esta se torne inteligível pelos interessados, papel que normalmente poderia ser exercido por um sindicato, por exemplo (FUNG et alii, 2007, p. 62). Entretanto, os cidadãos pesquisados, em sua grande maioria, não contariam com esse tipo de mediação, ao menos não de forma direta.

Passa-se, assim, para a análise de cada mesorregião, onde existiram destaques, como a mesorregião Nordeste (APÊNDICE D), que apresenta percentual de conhecimento acerca da existência da LAI de 88%, seguido da Extremo Oeste (APÊNDICE C), que perfaz 87,5%, conforme se observa:

Tabela 24 – Questão 1: respostas por mesorregião

1 - No Brasil, existe e já está em vigor uma Lei que foi criada especificamente

para regulamentar o acesso do cidadão às informações públicas (%) "SIM"

Bahia (72) Centro-Norte (62,3) Centro-Sul (63,5) Extremo Oeste (87,5) Nordeste (88) Sul (63,9) Vale S. F. (72,2) Metropolitana (75,9)

Restou apenas uma questão: poderia ter sido o alto percentual de conhecimento da existência da LAI fruto de uma confusão entre a direito à informação em abstrato (previsto pela constituição desde 1988, no inciso XXXIII do artigo 5°) e a LAI? Poderia o cidadão ter tomado o primeiro pelo segundo? Esta pergunta é relevante, tendo em vista que há uma diferença substancial entre uma previsão constitucional e uma lei que é editada para regulá-la. O dispositivo constitucional já garantia o acesso, genericamente, desde a promulgação da Carta (que está próxima de completar 30 anos). Entretanto, o enunciado proposto pelo instrumento de pesquisa deixava claro que se estava falando não apenas de uma lei, mas de uma lei específica.

Há, igualmente, a possibilidade da LAI estar sendo confundida com legislações aparentadas, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, que está perto de completar 20 anos de edição. A preocupação, aqui, reside na terminologia: essa norma foi a responsável pela implementação dos portais da transparência, palavra chave nas discussões sobre a LAI e que facilmente sequestra a atenção (ainda que já se reconheça que a LAI propõe um conceito expandido de transparência, mais amplo que o trazido pela LRF). Entretanto, espera-se ter diminuído eventuais equívocos pelo fato do instrumento de pesquisa utilizado não mencionar a palavra nenhuma vez.

Entretanto, não se olvide que saber da existência de uma determinada norma é apenas uma das dimensões envolvidas para que se possa falar em eficácia de uma lei, e que uma política pública efetiva deve ir além do aspecto normativo. É o início daquele processo de “chamamento” para que a sociedade civil desempenhe

um papel na democratização da informação ao qual aludia Gonzáles de Gómez (2012).

Resta, assim, refutada a primeira hipótese: se a LAI possui baixa força normativa, isso não pode ser tributado à falta de conhecimento de sua existência pela população.

5.3 O CIDADÃO BAIANO NÃO CONHECE AS POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO