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2- CNSA: O histórico de sua implantação em Sousa

2.1. O Colégio Auxiliadora e a historiografia sousense

Fizemos um levantamento por meio da pesquisa na cidade de Sousa com relação às obras historiográficas acerca do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora para problematizar o que foi discutido sobre a implantação desse educandário, que transformou a educação da cidade. Conseguimos ter contato com as seguintes obras:

Antes que ninguém conte (1986); Além do Rio (2012) e a Revista Comemorativa dos 50 anos do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora (2008).

O primeiro livro foi produzido pela escritora Julieta Pordeus Gadelha, em 1986, no qual a autora discute sobre a história de Sousa, fazendo um trabalho memorialista da cidade desde a sua fundação até a década de 1980. Seu trabalho tem a finalidade de exaltar ou destacar os grandes acontecimentos e personagens da história da cidade, sendo algo comum nas historiografias da época, sem ter uma preocupação de se discutir

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os significados e divergências desse tipo de narrativa. A autora Rafaela Dário6 explica sobre esse tipo de historiografia marcante, destacando a desenvolvida na cidade de Sousa:

Até a década de 1980 era muito comum se deparar com trabalhos sobre as cidades onde a preocupação maior era elevar os grandes vultos, evocar sobre a fundação da urbe, sem, contudo, realizarem análise crítica em seus conteúdos, ou seja, tais trabalhos refletiam a postura da época, não podendo ser considerados inferiores por conta disso, tendo em vista a grande contribuição dos mesmos na e para a história das cidades (DÁRIO, 2012, p. 45).

Gadelha (1986) faz uma narração da fundação de cada escola e colégio existentes na cidade no período que desenvolveu seu livro. Não cabe aqui analisar cada um deles, pois nosso objeto de estudo é o Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. Ela faz um breve comentário sobre o Colégio, sem fazer uma análise crítica do mesmo, destacando a fundação do educandário:

O Ginásio Nossa Senhora Auxiliadora chegou, depois de uma série de trabalhos sem êxito, pelo Cônego Oriel Fernandes, cabendo ao padre João Cartaxo Rolim, vigário da Paróquia de Nossa Senhora dos Remédios, o mérito de sua instalação, através da orientação de irmãs religiosas, Ordem de Santa Teresa, do Ceará. Foi fundado em março de 1958 e funciona no Antigo prédio da Caridade, doado pelos herdeiros, com a condição de que, no momento em que deixar de servir à causa educacional, voltará aos seus legítimos donos (GADELHA, 1986, p. 70).

De maneira semelhante, o livro Além do Rio (2012) de Augusto Ferraz é uma obra que apresenta um panorama fotográfico da cidade sousense. Ele destaca que a finalidade de seu trabalho era registrar a evolução arquitetônica da cidade no século XX, mostrando as manifestações dos costumes, as atividades sociais, comerciais e de lazer durante este período, possibilitando aos pesquisadores em geral uma fonte de pesquisa.

O trabalho apresenta mais de duzentas imagens em diferentes épocas da cidade, fazendo uma breve narrativa da história sousense, sendo um trabalho também memorialista das grandes mudanças e transformações ao longo do século anterior.

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DÁRIO, Rafaela Pereira. Nos caminhos do progresso, nas veredas da modernização: representações da cidade de Sousa-PB. Dissertação – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa – PB, 2012.

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Nas páginas do livro, encontramos imagens do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, e como Julieta Pordeus havia explicado, o espaço de funcionamento atual está situado onde ficava a Casa da Caridade e logo depois, o Colégio São José.

Figura 1 - Sede do Colégio São José.

Fonte: FERRAZ, Augusto. Além do Rio (2012).

Segundo Ferraz, a Casa da Caridade foi criada pelo Padre Ibiapina, no momento em que ele desenvolvia trabalhos sociais na cidade, sendo esta Casa uma doação do Padre José Antônio Marques Guimarães, no ano de 1860. Após anos de funcionamento da Casa da Caridade, o prédio se tornou a sede do Colégio São José até o ano de 1957.

Antes porém, por volta de 1948, o prédio que pertencia à família Mariz fora doado, por solicitação de “Nozinho” Gonçalves da Silva, para continuar como estabelecimento de ensino. Em 1957 o padre João Cartaxo Rolim convida para Sousa a Congregação das Filhas de Santa Teresa de Jesus e implanta, junto com as Irmãs, o Colégio N. S. Auxiliadora inaugurado em 1958 (FERRAZ, 2012, p. 29).

A vinda da Congregação das Filhas de Santa Teresa de Jesus para cidade ocorreu após a chegada de Padre João Cartaxo Rolim que se encarregou de ir até a cidade do Crato, sob a orientação do bispo Dom Zacarias Rolim de Moura. Chegando à cidade, Padre João conseguiu trazer a Madre Teresa Machado à Sousa, que na época era Superiora Maior da Ordem, e a mesma aceitou o pedido de implantar um colégio religioso.

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Percebemos que nestas produções havia uma visão de que devido à cidade ter uma forte religiosidade, que foi marcada pelo suposto Milagre Eucarístico,7 a necessidade de um colégio religioso em Sousa foi marcante. Isto é bastante presente na

Revista Comemorativa dos 50 anos do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. A mesma

foi uma edição festiva do Colégio, que visou relatar momentos, vivências, contextos e depoimentos para homenagear essa data significativa. Assim como nos dois principais trabalhos de referência, não havia uma análise problemática da revista, porém alguns depoimentos e textos escritos nos auxiliaram para investigar sobre o CNSA.

A princípio, a ex-gestora Madre Aurélia, tem em várias páginas seus textos sendo destacados, que relatam vivências no período em que a mesma foi diretora desse espaço, chegando à cidade em 21 de abril de 1965 e foi a quinta Superiora Geral da Congregação das Filhas de Santa Teresa de Jesus, mostrando ter um conhecimento do Colégio e também do papel desta Congregação.

Ela faz um panorama da implantação do Colégio, afirmando que a influência católica presente no lugar, possibilitou crescer o desejo do “povo” por um educandário religioso. Com isto, uma questão surgiu: quem era este povo que desejava um educandário religioso? Era a elite sousense, que até então não dispunha de um colégio que fosse de influência religiosa e que supostamente propiciasse um ensino melhor do que o público? Ou seria a maioria da população, que nesse contexto da educação nacional, mantinha uma pequena parcela de seus filhos na escola?

Entendemos que as congregações religiosas, a princípio, têm um ideal de servir a sociedade e, sobretudo, aqueles mais necessitados. A Congregação das Filhas de Santa Teresa de Jesus através do bispo Dom Quintino tinha esse pensamento, mas que ao longo do tempo, as instituições educacionais foram destinadas a elite, que tinha recursos para colocar suas filhas nos educandários. O mesmo aconteceu em Sousa, pois o Colégio passou a ser destinado às jovens moças da elite sousense, ganhando o

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Na cidade de Sousa-PB um suposto Milagre Eucarístico aconteceu despertando em sua população muita fé e devoção. Segundo Gadelha (1986), após a entrega da hóstia ao homem negro, ele saiu correndo e retirou a hóstia da boca. Os fiéis viram a situação e saíram atrás desse homem, no qual acabou deixando “cair a partícula num matagal ali existente, onde também existia uma grande lagoa, chamada do Carão” (GADELHA, 1986, p. 33). O homem negro era, segundo os relatos apresentados por Gadelha em seu livro memorialístico, um feiticeiro e que usaria a hóstia para alguma feitiçaria. Após o ocorrido, um pastor de ovelhas encontrou a hóstia através das ovelhas que em círculo estavam vendo a mesma. O pastor avisou ao vigário, que por sua vez convocou os moradores ao redor da então Igreja do Rosário e nesse local foi feito uma capelinha para representar o ato milagroso. Gadelha analisa que o Milagre Eucarístico foi muito chamativo para uma então cidade pequena e com moradores bastante católicos. Isso provocou um sentimento de devoção e crença. Porém, ela chama atenção para os que relataram essa realidade exposta, pois não apresentam a veridicidade das datas, os relatos podem ter partes que foram possivelmente deturpadas e o nome do padre que realizou a missa no ocorrido acima não foi citado.

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educandário um prestígio sem igual. Porém, o colégio proporcionava bolsas filantrópicas para aquelas jovens que residiam em cidades da região de Sousa e que não podiam pagar a mensalidade. Assim, vai surgir no educandário o internato, para que essas jovens dêem prosseguimento aos seus estudos.

No dia da inauguração do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, Madre Aurélia após o contato com o Livro de Ata da Fundação do educandário, explica que na data de 23 de março de 1958, a cidade foi acordada com vários fogos para o início da solenidade de abertura do educandário, contando com a participação da sociedade sousense, de políticos e vários religiosos.

Figura 2 - Abertura oficial do Colégio N. S. Auxiliadora em 1958

Fonte: Revista Comemorativa dos 50 anos do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora (2008).

Um aspecto que nos chamou a atenção foi à escolha pelo nome do Colégio, sendo escolhido por meio de um sorteio, em que estava para se decidir entre Dona Silvia Mariz – esta doou o prédio onde se localiza o Colégio Auxiliadora a Paróquia Nossa Senhora dos Remédios, para que fosse instalada uma escola mantida e dirigida por uma congregação religiosa – e o outro nome era Bento Freire de Sousa – este foi considerado o fundador da cidade sousense. Segundo Aurélia, “a sorte recaiu sobre o nome “Nossa Senhora Auxiliadora”, devoção trazida para Cajazeiras e, consequentemente, para a região, pelos Padres Salesianos”. (AURÉLIA, 2008, p. 7).

Nas imagens abaixo apresentamos a estrutura física do educandário atualmente, que apresenta uma ampla instalação, com salas climatizadas, ginásio esportivo,

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memorial do educandário apresentando fotos e recordações daqueles que foram importantes para a ampliação do mesmo.

Figura 3 - Entrada do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora

Fonte: Site oficial do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. Disponível em: <http://cnsasousa.com.br/>, acesso em: 21 de abril, 2019.

Figura 4 - Colégio Nossa Senhora Auxiliadora: parte interna

Fonte: Site oficial do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora. Disponível em: <http://cnsasousa.com.br/>, acesso em: 21 de abril, 2019.

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Aurélia destaca as vestimentas das religiosas, sendo hábitos de cor marrom, numa referência a Santa Teresa, em que elas tinham um ideal de amor, mas também de temor. Na imagem abaixo vemos o dia da inauguração do educandário, apresentando as características do fardamento escolar, sendo saias e mangas das blusas compridas juntamente com um tênis preto e as irmãs com sua vestimenta tradicional.

Figura 5 - Alunas em desfile festivo para receber autoridades

Fonte: FERRAZ, Augusto. Além do Rio (2012).

Nos colégios religiosos apenas as meninas estudavam, em um aspecto da educação nacional conservadora, com as mulheres sendo destinadas a terem como profissão a dedicação religiosa ou a profissão de professoras, como também voltadas para serem uma boa esposa e mãe.