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O Complexo da Soja e as Relações Sociais no Espaço do Sul Goiano

Foto 7 Rio Verde: Parque Industrial da Cargill

4 REESTRUTURAÇÃO SOCIOESPACIAL DA REGIÃO DO SUL GOIANO: os

4.2 O Complexo da Soja e as Relações Sociais no Espaço do Sul Goiano

Para verificar a influência que o Complexo Agroindustrial da Soja exerceu na espacialização do Sul Goiano, convém, ao pensamento geográfico, definir o que se entende por “espaço”; para tanto, não se deve esquivar de perceber a relação existente entre o homem e a natureza, uma vez que a Geografia se ocupa de estudar as relações que se estabelecem entre a sociedade e a natureza. Andrade (1994, p.97) diz que “a sociedade atua sobre a natureza, transformando-a e possibilitando a formação de uma nova natureza, que não é

idêntica à primitiva, mas que guarda algumas características da mesma, aglutinada à nova qualidade”.

Uma constante disputa entre o novo e o velho deu origem a novas formas estruturadas no processo histórico e, por conseguinte, a diferentes espaços com características relativas ao modo de produção dos diferentes lugares em momentos distintos (SANTOS, 1979).

A busca, nada fácil, pela compreensão de espaço encontrou-se inserida na história e na filosofia da ciência, não somente na Geografia, mas também em disciplinas afins. Nas obras que abordavam o tema espaço, percebeu-se a presença constante da inter-relação do espaço físico com o espaço social, como se pode observar na seguinte afirmação de Soja (1993, p.101) “o espaço, nessa forma física generalizada e abstrata, foi conceitualmente incorporado na análise materialista da história e da sociedade, a ponto de interferir na interpretação da organização espacial humana como um produto social”.

Santos (1980, p.120), afirma que o “espaço que nos interessa é o espaço humano ou espaço social, que contém ou é contido por todos os múltiplos do espaço”. O espaço contextualizado não se referiu ao espaço dos objetos, de um país, ou até mesmo ao espaço cósmico, mas tratou-se do resultado da ação humana no decorrer da história, ou seja, o espaço construído pela sociedade. Ainda para Santos (1999), o espaço é um conjunto de fixos e fluxos. Os elementos fixos, estabelecidos num lugar definido, identificavam-se com os instrumentos de trabalho e as forças produtivas em geral. Eles, ao mesmo tempo, criavam e transformavam o lugar de sua existência, necessitando, para isso, de dinâmica. Para tanto, encontrou-se em circulação, de acordo com sua distribuição, originando os fluxos.

Sobre esta concepção de poder materializado no espaço social, pôde-se pensar em espaços formados por comunidades com autogestão, nas quais eram claras as relações de poder e de apropriação de espaço concreto e contínuo e também em espaços formados por coorporações no processo da modernização da agricultura, que eram delimitados por sua influência, como foi o caso da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (COMIGO), instalada na década de 1970, e a Perdigão Agroindustrial, Braspelco, Mitsubishi Motors, Usina Vale do Verdão e John Deere Brasil, instaladas na década de 1990. Incentivada pela iniciativa estatal e uma série de condições favoráveis para territorializar na região, essas empresas criaram sistemas de objetos e ações sobre objetos já preexistentes.

A dinâmica dos fixos representada pelos fluxos ocorreu em virtude dos poderes econômicos, político e/ou social, com maior ou menor influência no modelo espaço

geográfico, através de seus elementos, constituídos pelas firmas, instituições, os homens em ação, o meio ecológico e as infra-estruturas (SANTOS, 1997).

Os homens destacaram-se neste processo, através da sua produção, por meio de seu trabalho, inclusive as camadas sociais que não se inseriram na população economicamente ativa, pois todos possuíam relevância na constituição do espaço, visto que, devido ao fato de existirem, demandavam a produção de outros.

As firmas encarregavam-se de dar suporte para a existência, consistência e transformação dos homens por meio da produção de bens, serviços e idéias, já que as instituições produziam normas, ordens e legitimações, no anseio de viabilizar meios para a atuação dos elementos do espaço.

A Perdigão, Braspelco, Mitsubishi Motors, Usina Vale do Verdão e John Deere Brasil são exemplos de empresas que criaram um plano estratégico que tinha como objetivo sair de suas regiões e atender em outras regiões, utilizando a denominação dada por Santos, poderiamos confirmar que estas empresas entre outras foram responsáveis pela consolidação de sistemas de objetos e ações no Sul Goiano levando a um novo contexto a relação campo- cidade.

O meio ecológico é o conjunto de complexos territoriais que constituem a base física do trabalho humano, pois se configura no habitat em que o homem está inserido e nele realiza transformações, tornando-o meio técnico, fato que se resulta em novas formas e significados a partir do que já existia.

As infra-estruturas são representadas pelos resultados obtidos através de esforços físicos e mentais dos seres humanos, como as construções civis, os campos cultivados, as rodovias, as rotas aéreas etc.

Esses elementos do espaço não existem isoladamente. Portanto, são intercambiáveis e redutíveis uns dos outros. Logo, no processo de interação, um elemento do espaço pode assumir a função de outro, como no exemplo do homem que vende sua mão-de-obra e torna- se uma firma, ou como o cidadão que se constitui numa instituição com direitos e deveres. Da mesma forma, as firmas que possuem grande patrimônio econômico podem impor no comando político local os seus interesses, tornando-se uma instituição (SANTOS, 1997).

Por sua vez, o sistema de objetos e ação da empresa Perdigão trouxe uma rede de outros empreendimetos à sua volta, contribuindo para os circuitos especiais de produção e círculo de comparação (SANTOS, 1994) no campo e na cidade; para os circuitos espaciais de produção e círculo de cooperação (SANTOS, 1994) no campo e na cidade; e para a formação

de uma nova relação de Rio Verde, altamente especializados, carregados de meio técnico- cientifico-informacional.

O que se observou, no Sul Goiano, e especificamente em Rio Verde foi uma tendência de interesses comuns em busca de melhores resultados. Os circuitos espaciais de produção e círculos de cooperação facilitaram a atração de investimentos e compartilharam capitais, o que permitiu instalar ao lado da Perdigão por exemplo, grandes industrias prestadoras de serviços e com alta qualificação, dentre as quais, citaram-se, a empresa de embalagens plásticas – Videplast – e a empresa de embalagens de papel e papelão – Grupo Orsa.

Essa forma de circuito espacial de produção e círculo de cooperação na cidade de Rio Verde, Elias (2003) denomina de economia urbana de consumo. A cidade tornou-se receptível a atender as necessidades de uma produção agrícola e agroindustrial.

Neste início de século XXI, diante do processo de mundialização da economia, as firmas, as instituições e os homens necessitaram de maior rapidez e agilidade no processo de circulação de seu produto, para atingir vastos mercados consumidores ou fornecedores de matérias-primas. Com isso, foram criados novos fixos e novas funções para os fixos já existentes, da mesma forma que os fluxos ganharam importância muito grande (SANTOS, 1988).

Para compreender o específico que reflete no global, ou o global que reflete no específico, é necessário assimilar o papel a ser desempenhado pelas partes, para posteriormente construir a totalidade espacial, sendo conveniente estar sempre buscando auxílio nos elementos do espaço mencionados anteriormente. Partindo da compreensão desses elementos, desenvolveu-se uma relação entre o Complexo Agroindustrial da Soja e os elementos do espaço do Sul Goiano.

4.3 Os Indicadores de Desenvolvimento Social e Econômico das Microrregiões da