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Foto 7 Rio Verde: Parque Industrial da Cargill

2 A IMPLANTAÇÃO DA CULTURA DA SOJA E A CONSOLIDAÇÃO DO

3.2 Condições Socioeconômicas do Produtor Empresarial/ Grande Produtor e Pequeno e

3.2.4 A Produção da Soja e o Meio Ambiente

O debate que existe hoje em torno da questão do meio ambiente, sua ampla divulgação pela mídia, as cobranças de instituições do setor público e outras, principalmente de organizações não-governamentais, bem como experiências dos próprios produtores, permitiram que pudessem ser colocadas questões relacionadas ao assunto, sem correr o risco de que eles não estivessem atentos a essa questão.

A questão ambiental foi discutida cada vez mais com dados científicos, trazendo informações que orientaram os produtores, e não apenas informações alarmantes dos efeitos negativos da atividade agrícola no meio ambiente. A discussão científica dos impactos ambientais da atividade agrícola tinha beneficiado a adoção de práticas conservacionistas em todos os segmentos produtivos. Nesse estudo sobre a soja e, buscando caracterizar as práticas conservacionistas dos produtores, observou-se que existia em todas as categorias uma adoção de práticas diversas. Entre elas, citou-se o terraceamento, plantio em nível, faixas de retenção, cordão de contorno, rotação de cultura, adubação verde, plantio direto, conservação de estradas, dentre outras.

Questionados sobre a existência de voçorocas no estabelecimento rural, as duas categorias de produtores afirmaram que não ocorria esse tipo de degradação em suas áreas. Esse dado demonstrou que as práticas conservacionistas descritas anteriormente têm evitado o problema de voçorocas na região. Isso é muito importante, pois como foram anteriormente salientados, esses produtores não faziam a rotação da cultura como recomendado, o que

favorecia a degradação do solo. Sem a adoção de tais práticas, certamente os problemas ambientais seriam mais sérios nas propriedades rurais.

Um elemento que devia ser ressaltado nos dados analisados era que alguns pequenos e médios produtores informaram, no que tange à utilização de produtos químicos, que se orientavam através das informações das embalagens e de acordo com a própria opinião, demonstrando que ainda existia um problema de capacitação, nesse setor, quanto ao manejo de produtos químicos. Isso também reflete a falta de assistência para esses produtores, que em muitos casos conduzem seu processo produtivo através de experiência do cotidiano.

Quanto aos cuidados que os produtores tinham na aplicação de produtos químicos, destacou-se que a maioria dos produtores utilizava luvas, botas e máscaras. Os índices foram acima de 94% para cada categoria, indicando que existia uma preocupação em garantir a qualidade de vida e saúde no manejo de produtos químicos que afetam a saúde humana.

O termo “uso indiscriminado” foi citado como causador de problemas ambientais em sentido amplo: contaminação dos rios, contaminação das nascentes, contaminação dos mananciais pela pulverização aérea, aplicação inadequada e excessiva de defensivos, utilização de produtos não-fisiológicos e não-seletivos53, resíduos desses produtos no solo – comentou-se que o uso de agrotóxicos causa o aparecimento de novas pragas. Alguns entendiam que o problema estava no modo de aplicação, para outros, a toxidez desses produtos constituía um problema. Citou-se que não existiam conscientização e cobrança com relação à utilização de biocidas, tampouco com relação à necessidade de preservar a fauna e a flora.

Questionados a respeito da soja transgênica, houve uma variação nas respostas encontradas nas duas categorias de produtores. A maioria das repostas se concentraram na necessidade de sua utilização para redução de custos e garantia de viabilidade da cultura. Percebeu-se também que os produtores tinham informações sobre o processo de regulamentação dessa nova tecnologia e preocupação com a fiscalização e controle do poder de mercado das empresas que detiveram as sementes transgênicas, sem se preocuparem com questões ambientais.

Observou-se que existia uma clara tendência à adoção da tecnologia transgênica pelos produtores mais capitalizados, o que pode, em longo prazo, favorecer a lucratividade dessa

53 Produtos não-fisiológicos são agrotóxicos de natureza química mais agressiva ao meio ambiente. Produtos

categoria e inviabilizar a cultura para a produção de pequena escala e com baixo padrão tecnológico.

A seleção no mercado através de eficiência econômica já tinha demonstrado que a cultura da soja, quando utilizada pelos pequenos e médios produtores, gerava custos altos e que, em períodos de crise na comercialização do grão, eram esses os produtores mais afetados. Isso pôde ser demonstrado quando se analisou a quebra da safra na região do Sudoeste de Goiás, em 2004/05, devido ao surgimento de focos de doença como a ferrugem asiática e as intempéries como a seca ou muita chuva, houve um endividamento dos pequenos e médios produtores e um grave problema dentro dos assentamentos da região. Vários produtores foram cultivados em forma de adiantamento dos recursos para a produção com terceiros, porém, após a crise, essa situação tinha se mostrado insustentável para várias famílias de produtores.

Ao comentarem os problemas ambientais de suas regiões, os produtores utilizaram diversas vezes a palavra “controle”, sua ausência, incapacidade do poder constituído de fazer respeitar as normas, sugerindo que ele fosse mais atuante com relação às questões ambientais.

Muitos ainda trataram a questão ambiental de modo cauteloso, demonstrando que existia certo mal-estar com relação ao tema que, de certa forma, ainda era tabu para a maioria dos produtores, por ser causa/conseqüência de um fervoroso debate. Mas, de um modo geral, pôde-se inferir que os produtores eram conscientes das mudanças que estavam ocorrendo à sua volta, mesmo que, para eles, os responsáveis estivessem em outros setores da cadeia produtiva, como no setor urbano, por exemplo.

Considerando os graves problemas ambientais que as propriedades rurais enfrentavam com a questão da destinação de lixo doméstico, considerou-se relevante verificar essa questão nas categorias dos produtores. As opções de respostas no Roteiro de Entrevista foram as seguintes: depositado diretamente no terreno, as margens ou nos cursos d’água, queimado, aterrado, utilizado como adubo, utilizado como alimento de animais, coleta pública ou outra opção, que teria de ser especificada pelo entrevistado. As opções também poderiam ser conjugadas pelos produtores. Na análise, visando um melhor diagnóstico, optou-se por apresentar os dados das variáveis que obtiveram a maior representatividade.

Ressaltou-se que devia existir uma política de educação ambiental com os produtores, visando alterar suas ações com o lixo doméstico dentro das propriedades. A queima e o aterramento do lixo provocaram problemas ambientais que tendiam a ser agravados à medida

que ocorresse a acumulação de resíduos. Um dos principais problemas que pôde ser enfrentado por estes produtores foi a contaminação do solo e queimadas descontroladas, principalmente devido à seca em alguns períodos do ano, no cerrado, que favorecia uma queima rápida da vegetação nativa.

É preciso desenvolver trabalhos relacionados com essa temática, com apoio de instituições públicas ligadas ao meio ambiente, além do apoio de instituições de pesquisa e de ensino superior. Na região do Sul Goiano, a preocupação com os lençóis freáticos e com as queimadas tinham se expandido devido ao apoio de ONGs que tinham contribuído para a melhoria e gestão do lixo dentro das propriedades rurais.