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O Congresso da UNE de Ibiúna

No documento 2014NiltonCleberOliveira (páginas 53-57)

A eleição pela direção da UNE em 1968 seria muito disputada. Todos os votos seriam importantes. Os dois principais grupos que disputavam a presidência da UNE eram a AP, liderada na época por Travassos, e a DI (Dissidência do PCB, especialmente no Rio e São Paulo), que tinha como principais representantes José Dirceu e Vladimir Palmeira. Esse grupo apontava para a luta armada imediata.

O candidato da Ação Popular era Jean Marc Von Der Weid. Posteriormente, Jean Marc entendeu que a vitória da “dissidência” na escolha pelo local da realização do Congresso marcou definitivamente os rumos da UNE, do Movimento Estudantil e do futuro enfrentamento da luta contra a ditadura já que, após o desfecho trágico do Congresso, a direção da UNE foi presa e grande parte da estrutura dos militantes universitários do Brasil foi fechada pela polícia. Uma posição parcialmente correta, já que não incorpora o refluxo do movimento social e, portanto, universitário, devido em partes à expansão econômica que se sucederia, a partir dessa ano – Milagre Brasileiro.

Em defesa da proposta de realizar um congresso de tal magnitude, em forma clandestina, no interior de São Paulo, destaque-se que havia o medo do mapeamento geral da militância estudantil, o que ocorreu, de fato, em forma geral e minuciosa, após a queda do congresso. Após os sucessos, correu o boato da despreocupação das organizações voltadas para a luta armada com a queda do congresso, o que, se ocorresse, terminaria com as ilusões sobre os meios pacíficos de luta, realidade jamais confirmada documentalmente.

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Disponível em <www.vladimirpalmeira.com.br/ano1968_4html>. Acesso em 24/07/ 2013.

Eu e o Luís Travassos fizemos e panfletamos uma proposta de realização no Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo (CRUSP). Ali era uma espécie de área liberada, e a idéia era fazer no CRUSP e aberto. Dava para mobilizar a Ordem dos Advogados do Brasil e todos os estudantes para fazer um negócio tão grande que seria difícil para a repressão cair em cima.113

Porém, para buscar manter a unidade do Movimento Estudantil Universitário, o grupo ligado à AP, liderado por Travassos (Presidente da UNE), recuou e aceitou a ideia defendida pelo grupo de oposição a direção da UNE. O que registra, igualmente, falta de confiança em sua posição, pelo setor majoritário da UNE, no caso, a AP.

Com a “queda” do Congresso da UNE de Ibiúna se confirmam os temores dos militantes da AP. Este é o último dos grandes atos do movimento estudantil nacional antes do AI-5.

Após esta ação alguns atos de grupos militantes revolucionários como o seqüestro do embaixador americano são usados de pretexto para os militares “linha dura” construírem o período mais duro da ditadura simbolizado pelo AI-5.

Inicia-se, com o AI-5, uma das mais sombrias fases da história recente do Brasil. Esta conjuntura gerou muitas feridas. Muitas aparentes e muitas na alma.

O Capítulo 2 irá tratar da formação da Ação Popular no movimento universitário de Passo Fundo. Para isso tratará de elementos que deram fundamento para a existência desta organização, sua forma de atuar no movimento estudantil, as manifestações contra a Ditadura e seu declínio no período posterior ao AI-5.

2 A AP EM PASSO FUNDO

Existe uma dificuldade em especificar uma origem da Ação Popular na cidade de Passo Fundo. Diversos motivos contribuem para isso. Especialmente e falta de registros escritos das ações desenvolvidas. E pelo caráter clandestino da organização no período posterior ao Golpe Militar.

Mas segundo os diversos depoimentos colhidos podemos afirmar que um dos fundamentos da origem desta organização tenha ocorrido, como foi nacionalmente, pelo desenvolvimento das organizações especializadas da Ação Católica, especialmente e JEC e JUC.

Segundo Alcides Guareschi114, na época assistente da JEC (Juventude Estudantil Católica), ramo especializado secundarista da Ação Católica. Em Passo Fundo, existiu um núcleo efetivo da Ação Popular, especialmente na nascente universidade, formado por estudantes em geral oriundos da JEC e JUC. Em verdade, a influência da Ação Popular nessa cidade do norte do Rio Grande do Sul estava circunscrita a universidade e a poucos eletricitários da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), visto que Miguel Rocha115 e por um breve período Gilberto Borges116 trabalharam nesta empresa. Fora esses, existiam pouquíssimos contatos, sempre não públicos.117

Passo Fundo era um pólo local regional na década de 1960. É nesse período que se consolida como um grande centro médico118 cultural119 e especialmente educacional com a criação da Sociedade Pró-Universidade120. No processo de desenvolvimento que o país experimenta desde os anos 1950 Passo Fundo se torna uma cidade de referência regional. Onde as pessoas das diversas cidades da região recorrem a ela para buscarem serviços mais especializados.

No aspecto educacional a cidade deu um grande salto com a criação da SPU na qual reforça esta característica de polo educacional. Atraindo para a cidade um contingente ainda maior de jovens para o ensino superiormente.

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Entrevista Pe. Alcides Guareschi a Nilton de Oliveira em setembro de 2009.

115 Entrevista Ivaldino Tasca a Nilton de Oliveira em julho de 2013. 116 Entrevistas Juliane Borgesa Nilton de Oliveira em março de 2013. 117 Entrevista Ivaldino Tasca a Nilton de Oliveira em setembro de 2010.

118 DAMIAN, Marco Antônio. Artigo publicado na página da Sociedade Brasileira de História da Medicina.

Disponível em : <http:// www.sbhm.org.br.>. Acesso em 10 de dez. de 2012.

119 DAMIAN, Marco Antônio. Artigo publicado na internet no Projeto Passo Fundo. Disponível em : <http://

www.projetopasso fundo.com.br>. Acesso em 10 de dez. de 2012.

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BENVEGNÚ, Sandra Mara. Décadas de Poder: O PTB e a ação política de César Santos na Metrópole da Serra. 2006. Dissertação de Mestrado UPF. p. 191.

No aspecto de comunicação121 já contava na época com dois jornais diários relativamente bem estruturados e com uma rádio municipal.

Na década de 1960 Alcides Guareschi conta que a JUC em Passo Fundo foi muito ativa. Estava vinculada ao Movimento de Educação de Base (MEB), que tomou um grande impulso no período do governo de João Goulart. As aulas eram transmitidas nacionalmente via rádio, seguindo o método de alfabetização de adultos construído por Paulo Freire. Os militantes da AP faziam grupos de estudos especialmente nas paróquias onde eram vinculados, na perspectiva de promover a conscientização política da realidade e a alfabetização. Este trabalho era realizado especialmente na diocese. Chegou-se a estabelecer um trabalho de alfabetização de adultos nos bairros de Passo Fundo por volta de 1961 na comunidade de Santa Teresinha.122

Regionalmente, neste período, a JUC tinha uma postura mais voltada para a espiritualidade, tanto que a eleição do primeiro presidente jucista da entidade maior dos estudantes brasileiros foi recebida sem sobressaltos. Denotava que a JUC era uma entidade muito ampla e quando se unia sua força era muito grande. Era um período de busca de transformações, sem que houvesse clareza sobre elas e como seriam feitas. Colaborou para a o estabelecimento desse processo a construção do documento conhecido como Ideal Histórico, no congresso da JUC de 1960, fortemente influenciado por pensadores sociais cristãos. O documento apresentava a necessidade do enfrentamento dos cristãos com os elementos históricos ou terrenos e não mais apenas transcendentais. O método da Ação Católica deste período já apontava para um engajamento social, pois tinha como palavras chaves: ver, julgar e agir.

Como vimos, o documento Ideal Histórico foi fundamental para a JUC e para AP quando do seu surgimento até sua aproximação com o marxismo, no processo gradativo de mudança de visão puramente religiosa do mundo para ação política. As mudanças gradativas na JUC apoiaram o surgimento da AP. As mudanças políticas do período provocaram mudanças na AP no sentido na constituição de um partido socialista e depois maoísta, como também proposto.

A JUC em Passo Fundo era uma pequena organização de lideranças leigas da Igreja Católica que não excedia as 20 pessoas123, com característica fundamentalmente juvenil.

121DAMIAN, Marco Antônio. Disponível em <www.projetopasso fundo.com.br> acesso 15/12/2012. 122

Entrevista Pe. Alcides Guareschi a Nilton de Oliveira em setembro de 2009.

No documento 2014NiltonCleberOliveira (páginas 53-57)