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O Conjunto Novo Horizonte e a luta contra a desapropriação

O conjunto Novo Horizonte foi um conjunto habitacional construído pela Caixa Econômica Federal (CEF) no bairro Vila Lobo, localizado na periferia da cidade do Crato, próximo ao bairro e Estádio de Futebol Mirandão. A Vila Lobo contém uma população de baixa renda, em sua predominância há famílias que estão segregadas e marginalizadas das áreas centrais da cidade.

Figura 36: Conjunto Novo Horizonte – Crato – CE. Fonte: google Earth. Data: 02/02/2014.

O conjunto habitacional Novo Horizonte foi construído no ano de 1990 e concluído em 1992, passando quatro anos sem destinação, abandonado pela Caixa Econômica Federal (CEF). Em 1996, 214 famílias ocuparam essas casas, como descreve um depoente, morador do local e militante do movimento de ocupação.

O meu envolvimento com a associação do conjunto Novo Horizonte foi pelo motivo que o conjunto foi construído pela construtora, na época, de nome Leimo e como ela não repassou o empréstimo que fez diante da Caixa Econômica, a Caixa tomou as casas da Leimo e o conjunto foi iniciado no ano de 1990 e concluído em 1992. Em fevereiro de 1996, após 04 anos fechado, sem habitante, por volta das 18:00 horas da noite, o conjunto foi ocupado por pessoas sem teto, que não tinha moradia, foi ocupado por 214 famílias e a partir daí não existia nada na comunidade, água, não

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tinha saneamento, creche e a partir daí a gente começou a se preocupar, conversando com os moradores, com as pessoas que estavam habitando, preocupado também por a razão da Caixa Econômica querer despejar as pessoas, com medo do despejo, que nós criamos a associação para poder defender os moradores. Em 1998, nós criamos a associação dos moradores aqui do conjunto e ainda hoje vive nessa luta pra defesa da moradia, na defesa do lado social, das pessoas que habitam aqui, das crianças, dos jovens, dos idoso, e é uma luta que não vai parar nunca (Entrevista – liderança comunitária, 2012).

O depoimento acima, de um dos moradores do conjunto Novo Horizonte, menciona, com bastante clareza, que o conjunto habitacional construído pela Caixa Econômica Federal, estava com as casas abandonadas há mais de quatro anos, não cumprindo, assim, sua função social. Isso, segundo o relato do morador e ocupante, essas famílias não tinham moradia própria, o que levou as pessoas sem teto a ocuparem essas casas, por meio da mobilização e união.

Há uma população distinta em três grupos de mutuários. O primeiro são os moradores que compraram as casas no ato da construção; o segundo são os que compraram as casas dos primeiros moradores, quando muitos deixaram o local; o terceiro grupo são os moradores que fizeram a ocupação das casas que estavam fechadas (SILVA, 2000).

Após a ocupação dessas casas houve uma ofensiva da Caixa Econômica Federal no intuito de despejar as famílias do local, quando, no ano de 2000, a ordem de despejo chega, juntamente com a polícia, no intuito de desalojar essas famílias das residências.

Em 2000 teve a ordem da Caixa Econômica para o despejo dos moradores, das 214 famílias, foi nesse momento, nesse dia, nessa data, onde teve a pressão policial. Mas com a união de todos e nosso trabalho nos conseguimos através da associação trazer três advogados em nome da associação e também a imprensa, a TV Jangadeiro na época, e também a TV Verdes Mares e nessa noite aqui na Rua 03 nós tivemos uma reunião com todos os moradores e com o pessoal da Caixa Econômica Federal do Crato e também da Caixa Econômica de Fortaleza. Naquele momento, ficou acordado um documento que a Caixa Econômica não iria mais despejar os moradores, mas sim ia dar prioridade às pessoas que estavam habitando as casas para com o tempo quitar suas moradias (Entrevista – ocupante, 2011).

Além das casas terem passado quatro anos desocupadas, não cumprindo a função social da propriedade privada, a CEF, depois dos quatro anos, após a ocupação das casas pelas 214 famílias, resolve desapropriá-las do local, através de uma ordem de despejo e com a força policial. Quer dizer, a CEF, um órgão público federal, que detém uma função social de grande relevância na consolidação e contribuição do sonho da casa própria e da moradia para a população brasileira, nesse momento, desconsiderou os princípios da função social da propriedade privada e tentou despejar os moradores do local. Na fala acima, percebe-se ainda,

a incompatibilidade do judiciário brasileiro com a função social da propriedade privada a partir da ordem de despejo concedida pelo poder judiciário, contribuindo, assim, para a criminalização do movimento de ocupação e desapropriação das famílias do local.

Figura 37: Reuniões dos ocupantes, alguns líderes políticos e o pessoal da CEF na ocupação do Conjunto Novo Horizonte. Fonte: Associação do bairro. Data: 02/12/2010.

As famílias conseguiram se manter nas residências, contanto que fossem pagas as casas, quitando o débito com a CEF. Nessa imagem, visualiza-se uma reunião dos moradores do conjunto, juntamente com técnicos da CEF e professores da Universidade Regional do Cariri (URCA) alguns anos depois da ocupação para a realização de um projeto de construção de uma creche no local.

Assim, a luta do conjunto Novo Horizonte foi mais uma das lutas dos movimentos sociais de moradia na cidade do Crato, tendo, na associação de moradores um exemplo emblemático de luta, conquista e defesa da luta pela moradia na cidade. No Crato, a maioria das lutas por moradia ao longo da história contribuiu significativamente na produção do espaço urbano da cidade, tendo as associações de moradores um papel importante na conquista do direito à moradia ou mesmo no direito à cidade.

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A comunidade se organizou após a ocupação do conjunto na forma de associação de moradores. Fundada em 1º de Setembro de 1998. Com a fundação da associação, pode-se realizar juntamente com outras entidades vários projetos de cunho social e de geração de emprego e renda, como é o caso do projeto desenvolvido no conjunto em parceria com a Fundação de Desenvolvimento Tecnológico do Cariri (FUNDETEC) e a CEF. Esse projeto, iniciado no ano de 2000, visava a construção de um centro comunitário, cujo objetivo principal era utiliza-lo como creche. Foram realizados também vários grupos de trabalho e cooperativas, cujo objetivo era a geração de emprego e renda, como as cooperativas de artesanato, doces e salgados, confecção de roupas e farmácia e horta viva. Todas essas, tiveram o apoio financeiro da CEF e da FUNDETEC, que contribuíram para a geração de emprego e renda no intuito de que as famílias que ocuparam o conjunto pudesse pagar pelas devidas casas.

Atualmente, a comunidade encontra-se enfraquecida do ponto de vista da organização, mas que, ainda funciona o centro comunitário, contribuindo na educação do bairro, através da creche.