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CAPÍTULO II O QUADRO LEGISLATIVO EUROPEU DA PROTEÇÃO DE DADOS

2. O Quadro Legislativo Europeu da Proteção de Dados

2.2. A Diretiva 95/46/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 04 de Outubro de

2.2.2. Os fundamentos de legitimidade do tratamento de dados pessoais – em

2.2.2.1. O Consentimento como fundamento específico para tratamento de dados

países terceiros que não assegurem um nível de proteção adequado

Além de fundamento geral de licitude, o consentimento aparece ainda como um fundamento específico no caso do tratamento de dados pessoais

325

GRUPO DO ARTIGO 29.º PARA A PROTEÇÃO DE DADOS, Parecer 15/2011 sobre a definição ... , cit., p. 9.

326 “Por principio, o consentimento não devia ser visto como uma derrogação aos outros princípios de proteção de

dados, mas sim como uma salvaguarda. O consentimento é, antes de mais, um fundamento de licitude, não afastando a aplicação de outros princípios.”, GRUPO DO ARTIGO 29.º PARA A PROTEÇÃO DE DADOS, Parecer 15/2011 sobre a definição ... , cit., p. 9.

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sensíveis327 – em que o consentimento da pessoa em causa tem de ser

explícito328 – e no caso da transferência de dados para países terceiros que

não assegurem um nível de proteção considerado adequado pelo direito da

União329.

O tratamento de certas categorias específicas de dados – ou dados

pessoais sensíveis, como comummente são referidos – é, em princípio,

proibido.

Excecionalmente, o tratamento de dados pessoais sensíveis é permitido quando a pessoa em causa para tal dê o seu consentimento explícito. Esta é a única situação em que a Diretiva expressamente requer

que o consentimento prestado seja explícito330.

O consentimento é explícito quando é manifestado de forma expressa. Ou seja, no caso do tratamento de dados sensíveis, o consentimento da pessoa em causa não pode ser inferido de um ato tendente a expressar a sua manifestação de aceitação, sem mais. Deve, sim, resultar da resposta ativa à questão que lhe apresenta a oportunidade de dar ou não o seu acordo para um uso especial ou divulgação da informação pessoal que lhes diz respeito.

327

Sobre o consentimento enquanto fundamento específico para o tratamento de dados pessoais sensíveis na Lei n.º 67/98, de 26 de outubro, ver CASTRO, Catarina Sarmento e, Direito da Informática ... , op. cit., pp. 88 a 99 e pp. 215 a 222.

328 Artigo 8.º, n.º 2, alínea a), da Diretiva 95/46/CE.

329 Artigo 26.º, n.º 1, alínea a), da Diretiva 95/46/CE.

330

Como analisaremos melhor no Título 2.4. deste Capítulo II, a Proposta de Regulamento Geral de Proteção de Dados da Comissão Europeia introduz na definição de consentimento o requisito de que este tem de ser explícito. Assim, a ser aprovado o texto avançado, o consentimento explícito será exigido não só para o tratamento de dados pessoais sensíveis mas para todos os tratamentos de dados pessoais legitimados pelo consentimento da pessoa em causa. COMISSÃO EUROPEIA, Proposta de Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho relativo à proteção das pessoas singulares no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais e à livre circulação desses dados (regulamento geral sobre a proteção de dados), COM(2012) 11 final 2012/0011 (COD), disponível em

http://ec.europa.eu/justice/data-protection/document/review2012/com_2012_11_pt.pdf, última consulta em 21 de outubro de 2013.

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O consentimento explícito é prestado verbalmente ou por escrito, através de um ato pelo qual o titular expressa a sua opção de aceitar uma

forma de tratamento de dados pessoais que lhe dizem respeito331.

A Diretiva 95/46/CE prevê, no entanto, outras situações excecionais que podem legitimar o tratamento de certas categorias específicas de dados. Assim será quando o tratamento for necessário para o cumprimento das obrigações e dos direitos do responsável pelo tratamento no domínio da legislação do trabalho, desde que o mesmo seja autorizado por legislação

nacional que estabeleça garantias adequadas332; ou quando a pessoa em

causa se encontre física ou legalmente incapaz de prestar o seu consentimento e o tratamento for necessário para proteger interesses vitais

desta ou de uma outra pessoa333; ou quando o tratamento for efetuado por

uma fundação, uma associação ou qualquer outro organismo sem fins lucrativos de carácter político, filosófico, religioso ou sindical, no âmbito das suas atividades legítimas e com as garantias adequadas, na condição de o tratamento dizer unicamente respeito aos membros desse organismo ou às pessoas que com ele mantenham contactos periódicos ligados às suas finalidades, e de os dados não serem comunicados a terceiros sem o

consentimento das pessoas em causa334; ou o tratamento disser respeito a

dados manifestamente tornados públicos pela pessoa em causa ou for necessário à declaração, ao exercício ou à defesa de um direito num

processo judicial335. O tratamento de dados pessoais sensíveis é, ainda

possível quando for necessário para efeitos de medicina preventiva, diagnóstico médico, prestação de cuidados ou tratamentos médicos ou gestão de serviços da saúde e quando o tratamento desses dados for efetuado por um profissional da saúde obrigado ao segredo profissional pelo direito nacional ou por regras estabelecidas pelos organismos nacionais

331 “Num ambiente on-line, o consentimento explícito pode ser dado através de assinaturas eletrónicas ou digitais.

Contudo, pode também ser dado clicando num botão, dependendo do contexto, enviando mensagens de correio electrónico de confirmação, clicando em ícones, etc.”, GRUPO DO ARTIGO 29.º PARA A PROTEÇÃO DE DADOS, Parecer 15/2011 sobre a definição ... , cit., p. 29.

332

Artigo 8.º, n.º 2, alínea b), da Diretiva 95/46/CE.

333

Artigo 8.º, n.º 2, alínea c), da Diretiva 95/46/CE.

334

Artigo 8.º, n.º 2, alínea d), da Diretiva 95/46/CE.

93 competentes, ou por outra pessoa igualmente sujeita a uma obrigação de

segredo equivalente336.

As derrogações à proibição geral, podem, ainda, ser outras além das previstas na Diretiva. Aos Estados-membros é permitido estabelecer, por motivos de interesse público importante, outras derrogações através de disposições legislativas nacionais ou de decisões da autoridade de controlo,

desde que prestadas as garantias adequadas337.

É permitido, ainda, sob reserva das derrogações que poderão ser concedidas pelo Estado-membro com base em disposições nacionais que prevejam garantias específicas e adequadas, o tratamento de dados relativos a infrações, condenações penais ou medidas de segurança se efetuado sob o controlo das autoridades públicas ou se o direito nacional estabelecer garantias adequadas e específicas. O registo completo das condenações penais deve, no entanto, ser mantido sob o controlo das autoridades

públicas338.

O consentimento enquanto fundamento específico para a transferência de dados para países terceiros que não assegurem um nível de proteção

considerado adequado339 pelo direito da União tem de ser inequívoco340. O

alcance deste requisito é o mesmo que encontramos no artigo 7.º, alínea a), da Diretiva.

Os fundamentos alternativos ao consentimento que podem legitimar a transferência de dados para países que não assegurem um nível de proteção

adequado341 são semelhantes às condições que legitimam o tratamento de

dados pessoais342.

336 Artigo 8.º, n.º 3, da Diretiva 95/46/CE.

337

Artigo 8.º, n.º 4, da Diretiva 95/46/CE.

338

Artigo 8.º, n.º 5, da Diretiva 95/46/CE.

339

A Comissão Europeia reconheceu que asseguram um nível de proteção adequado a Andorra, a Argentina, a Austrália, o Canadá, a Suíça, as Ilhas Faroé, Guernsey, o Estado de Israel, a Ilha de Man, Jersey, os Princípios da Privacidade em Porto Seguro (Safe Harbor) do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, e a transferência de registo de nomes de passageiros aéreos para o Bureau of Customs and Border Protection dos Estados Unidos. Cf. COMISSÃO EUROPEIA, Commission decisions on the adequacy of the protection of personal data in third countries, disponível em http://ec.europa.eu/justice/data-protection/document/international- transfers/adequacy/index_en.htm, última consulta em 15 de outubro de 2013.

340

Artigo 26.º, n.º 1, alínea a), da Diretiva 95/46/CE.

341 “Em derrogação ao disposto no artigo 25º e sob reserva de disposições em contrário do seu direito nacional em

casos específicos, os Estados-membros estabelecerão que a transferência de dados pessoais para um país terceiro que não assegure um nível de proteção adequado na acepção do nº 2 do artigo 25º poderá ter lugar desde que: a) A pessoa em causa tenha dado de forma inequívoca o seu consentimento à transferência; ou b) A transferência seja

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A particularidade é que o consentimento – ou alguma das situações

alternativas sujeitas ao teste da necessidade – tem de se verificar em relação à transferência para o país terceiro que não assegurem um nível de proteção considerado adequado.

Assim, o consentimento prestado nos termos do artigo 7.º, alínea a), para o tratamento não legitima, por si só, a transferência. É necessário que além de uma condição legitimante do tratamento se verifique,

cumulativamente, uma condição legitimante para a transferência343. O

consentimento livre, específico, informado e inequívoco da pessoa em causa

é uma dessas condições344.

2.3. A Proteção da Privacidade no Sector das