No ano de 2001, numa pesquisa vivenciada em quatro escolas da Rede Pública,
responsáveis pelos anos iniciais do Ensino Fundamental, houve a oportunidade de visualizar
duas importantes realidades; uma em relação aos alunos em Cursos de Formação de
Professores, e outra em relação aos professores atuantes.
A maioria dos alunos em formação tem o conhecimento meramente teórico e busca
uma aproximação com a prática educativa nas escolas que oferecem o nível de ensino em que
desejam atuar. Nesse momento, os alunos acreditam que seus problemas estão resolvidos. Isso
momento de ser contemplado o saber prático, em sala de aula, ou em conversas com o
professor já atuante.
Mas, ao vivenciar a prática, o aluno em formação enfrenta grandes desafios, pois
percebe que a universidade não lhe ofereceu todo suporte de base teórico-prática para que
pudesse fazer a transposição de determinados conhecimentos para sua prática pedagógica.
Inserido nessa realidade, o aluno sai em busca de respostas e, para isso, procura o professor
em exercício. Nesse contato, o aluno percebe que o professor também não tem as respostas
para os questionamentos levantados, pois lhe falta a instrumentalização de base teórica, visto
que muitos professores não tiveram formação universitária, ou seja, seu saber é fruto da
prática por ele vivenciada. Nesse processo, o professor atuante formula uma teoria da própria
prática.
Isso posto, os formandos encontram-se sempre em contato com novas situações e, nem
sempre, sabem como reagir a elas por falta de conhecimento de ordem prática, pela reflexão–
ação. O futuro profissional diante da realidade se vê perdido, e cabe ao orientador, nesse caso
o professor responsável pela formação de professores, direcioná-lo às novas descobertas,
porque nada é fixo e tudo pode ser alterado. Para se conseguir realizar a prática nessa
perspectiva, é preciso mais que teorias e técnicas, é preciso talento, intuição e sensibilidade.
Isso é o que caracteriza o bom profissional. Os formandos, segundo Schön apud Alarcão
(1996), deveriam fazer estágios com os bons profissionais, pois estes despertariam, por meio
do saber-fazer, novas formas de se utilizar as competências aos novos saberes.
Conhecendo essa realidade é que se pode considerar a existência da falta de melhor
articulação, ainda nos dias de hoje, entre a teoria e a prática. O mais preocupante é que há
muitos professores com formação universitária, atuantes nas escolas, que não têm definido o
envolvem o assunto teoria e prática, é pertinente, nesta fase da dissertação, desenvolver um
raciocínio que permeia o entendimento dessa temática.
Para haver melhor compreensão da relação que concebe teoria e prática, foi necessário
buscar em Kosik (2002) fundamentos da dialética estabelecida entre o abstrato e o concreto
que são, à medida que se comunicam, elementos que se unem e resultam na totalidade
concreta.
Esta recíproca conexão e mediação da parte e do todo significam a um só tempo: os fatos isolados são abstrações, são momentos artificiosamente separados do todo, os quais só quando inseridos no todo correspondente adquirem verdade e concreticidade. Do mesmo modo, o todo de que não foram diferenciados e determinados os momentos é um todo abstrato vazio. (KOSIK, 2002, p. 49).
A interpretação dada aos escritos acima nos leva a pensar um pouco mais na questão
do diálogo que é vital existir entre a teoria, aquilo que ainda ocupa um espaço de abstração, e
a prática, entendida como o concreto. Sem deixar de enfocar o cenário educativo, é preciso
apontar que essa relação oferece condições para compreender que, se os fatos (abstrações)
estiverem isolados das ações (prática) presentes no cotidiano dos professores e alunos no
âmbito escolar, as fundamentações e a própria ação estarão cercadas do vazio, ou seja, da
ausência de conteúdo ou do próprio sentido inerente à ordem prática, desvinculando-se
daquilo que Kosik chama de totalidade concreta. Complementando diz:
A compreensão dialética da totalidade significa não só que as partes se encontram em relação de interna interação e conexão entre si e com o todo, mas também que o todo não pode ser petrificado na abstração situada por cima das partes, visto que o todo se cria a si mesmo na interação das partes. (KOSIK, 2002, p. 50).
Também é possível entender que, ao caminhar para a totalidade (articulação entre
teoria e prática), o resultado dessa interação não poderá estar centrado na abstração, e, sim, na
promoção de maior interação entre o todo e as partes, como num processo intenso de novas
É nesse contexto que a educação melhor se enquadra como atividade humana que atua
na totalidade da organização social e não de forma isolada da situação global intrínseca à
sociedade (SANTANA, 1995).
Nessa perspectiva, com o apoio dos estudos de Kosik e Santana, observa-se que essa
discussão em torno da teoria e da prática sinaliza uma atividade produtiva permeando uma
expressão que é muito utilizada e pouco pensada. Tal expressão se refere à práxis, que, no
sentido de Bottomorte (1988 apud Santana, 1995), significa estar além da prática. Isso por ela
ser uma atividade criativa e auto-criativa, ou seja, por meio dela o homem cria, produz e
transforma o mundo.
Tem-se maior clareza dessa questão ao se ler:
O homem é o que é em e pela práxis-histórica, posto que a história é, em definitivo, a historia da práxis humana ... visto que os problemas das relações entre homem e natureza, ou entre o pensamento e o ser, não pode ser resolvido à margem da prática. (VASQUEZ, 1997, p. 36 apud SANTANA, 1995, p. 2).
Neste momento, importa lembrar o quanto é primordial se fazer uma reflexão crítica
sobre como tem-se efetivado a prática educativa, verificando, dessa forma, o que pode ser
feito para melhorar certas posturas, a própria metodologia adotada, ou ainda avaliar se o
conteúdo está sendo abordado corretamente.