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O contato entre as adolescentes privadas de liberdade e suas famílias

4. SISTEMA SOCIOEDUCATIVO NO ESTADO DO PARÁ

4.18. O contato entre as adolescentes privadas de liberdade e suas famílias

Segundo investigação realizada pela UNIPOP (2011), demonstrar que 28% dos adolescentes internados no Estado do Pará não possuem contato regular com suas famílias não sugere necessariamente “abandono da família”. O fato de esses jovens acautelados não manterem contato com as suas famílias pode estar relacionado com a distância entre o local de moradia dessas famílias (49% delas moram em outros municípios que não Belém) e as UASESs, na sua maioria, serem concentradas na Região Metropolitana de Belém (aspecto já examinado nos tópicos anteriores) e de algumas dessas não possuírem telefones para manter o contato.

Adolescente em instituição judicial no Pará – Se mantém contato com a família e proximidade do local de moradia com a unidade de internação

Tem contato com a família Número de adolescentes que responderam % Família mora no mesmo município da unidade de internação Número de adolescentes que responderam %

Sim 51 72 Sim 36 51

Não 20 28 Não 35 49

TOTAL 71 100 TOTAL 71 100

Fonte: UNIPOP, 2011

Nossa pesquisa dos prontuários do CESEF indicou que 42% das socioeducandas, entre os anos de 2007 a 2012, provinham de Belém, e os 48% restantes estavam distribuídos entre os mais variados municípios do Pará, tal como podemos verificar na próxima tabela:

Local de origem das adolescentes cumprindo medida socioeducativa no CESEF

Local de origem Adolescentes

Belém 20 42% Afuá 2 4% Anajás 1 2% Barcarena 1 2% Bragança 2 4% Conceição do Araguaia 2 4% Capanema 1 2% Capitão Poço 1 2% Castanhal 1 2% Jacundá 1 2% Gonçalves 1 2% Igarapé Açu 1 2% Juruti 1 2% Maranhão 1 2% Moju 3 6% Mosqueiro 1 2% Parauapebas 1 2% Outeiro 1 2% Placas 1 2% Santarém 1 2% Rurópolis 1 2% S. J. Porfirio 1 2% Tomé-Açu 1 2%

Sta. Ma. Pará 1 2%

TOTAL 48 100%

Dando continuidade à questão dos vínculos familiares, 85% dos prontuários evidenciaram a escolha por uma referência familiar e apenas em 15% não foi informada uma referência, indicando que a maioria das adolescentes possuía algum tipo de vínculo com sua famílias de origem.

Pessoa de referência das adolescentes cumprindo medida socioeducativa

Referência Familiar Nº de adolescentes % Mãe 20 42% Pai 8 17% Mãe e pai 6 13% Avô/Avó 2 4% Outros 5 10% Não informado 7 15% TOTAL 48 100%

Fonte: Prontuários do CESEF de 2007 a 2012

Nesse contexto, para a realização dos contatos familiares, no caso específico do CESEF, as jovens podem tanto realizar ligações telefônicas em situações em que a família resida em outro município e não possua condições econômicas para o traslado para Ananindeua. Nas situações nas quais a família reside em local próximo ou pode proporcionar sua locomoção, o contato é feito nas instalações do próprio prédio do CESEF. Em ambas as modalidades, o contato é semanal.

Assim, de acordo com o que foi exposto ao longo deste tópico, podemos destacar algumas das consequências ligadas ao processo de internação e da pouca presença de Unidades Socioeducativas pelo interior do Estado do Pará, principalmente para o sexo feminino: as instituições, em sua maioria, são incompatíveis com a convivência familiar, o que contribui para a fragilização e/ou ruptura dos laços familiares.

Se refletirmos que entre as propostas das medidas socioeducativas é a realização de um trabalho integrado dos adolescentes com as famílias como estratégia necessecária para a promoção da daquilo denominado como reiserção social dos socioeducandos, este se apresenta comprometido no sistema de internação no Estado do Pará, visto que se percebe uma ruptura, mesmo que temporária, com visitas esporádicas dos familiares, contribuindo com um tipo de violência institucional contra os jovens internados, pois, quando se trata de avaliar e aplicar as medidas socioeducativas previstas no Estatuto da

Criança e do Adolescente, o afastamento do convívio familiar e o “encarceramento” ainda parecem ser a forma mais simples de tratar a questão da penalização juvenil.

Esta situação aponta para a problematização realizada apoiada em Rauter (2003) de que no Brasil estratégias do biopoder coexistem com especificidades brasileiras próprias, já que as disciplinas e a biopolítica não alcançaram os mesmo refinamento técnico de controle e nem a mesma abrangência territorial, estando mais presente nos centros urbanos e inexistente nos grandes espaços territoriais da Amazônia.

Esta autora indica que nessas lacunas as relações de poder não deixam de operar e utilizam-se de velhas estratégias pautadas em formas de violência, como é nas situações decritas à cima a violação do direito ao convívio familiar garantido.

Como salientamos anteriormente os Estado do Pará, em sua dimensão territorial de proporções continentais de 1.247.954,666 km² e com uma população de 7.581.051 habitantes, e 144 municípios (IBGE, 2010), possui apenas uma unidade para o acautelmaneto de jovens mulheres e possui pouquíssimas unidades de diferentes modalidade de medida socioeducativa fora da capital: duas no município de Santarém e uma no município de Marabá. A consequência desta configuração é que os adolescentes que são capturados pelo poder e passam a ser considerados como em conflito com a lei no vasto território paraense são encaminhados para apenas três possbilidades para o cumprimento de medidas, demonstrando as possíveis graves violações e violências aos quais a população jovem na Amazônia pode estar submetida.

A falta de unidades para a aplicação das modalidades de medida socioeducativa neste estado brasileiro em formas de estratégias de controle da população produz também formas outras de violência. Não se deixa de encarcarcerar os corpos jovens denunciados e equacionados como criminosos, em uma lógica que podemos interrogar como possíveis práticas de cunho moralizante e de expiação (FOUCAULT, 1997), como são os acontecimentos onde jovens são trancafiados em prisões para adultos remontanto práticas anteriores da não indiferenciação entre crianças, jovens e adultos descritos na história das políticas públicas infanto-juvenil. Neste sentido, caso de repercusão nacional e internacional foi da adolescente de 15 anos que, em 2007, ficou várias semanas presa com 20 homens em uma delegacia no município de Abaetetuba, que não possui espaços adequados para o acautelamento de jovens, por mais de um mês, onde foi submetida a ter relações sexuais forçadas com vários detentos (Folha de São Paulo, 2007).

Esses formas de violência são extremamente comuns no território amazônico e são extremamente necessários para uma compreensão das formas como no Brasil a situação da periculosidade juvenil é tratada. Contudo, apesar da relevância da questão não foi nosso objetivo problematizar essas práticas de violência nesta pesquisa, mas consideramos ser necessária aprofundá-las em novos desdobramentos de pesquisa futuramente.

No tópico a seguir apresentamos alguns apontamentos analíticos realizados sobre relações possíveis entre as adolescentes e os atendimentos realizados às suas famílias que efeitos de poder atravessarm suas vidas não através da violência através de práticas extrapenais, mas sim que foram acpturadas nas estratégias legias, não extrapenais, de controle e punição estatais.