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4 EXPERIMENTAÇÃO HISTÓRICO-CRÍTICA

4.2 EXPERIMENTAÇÃO NA DIMENSÃO DO CONTEÚDO

4.2.3 O conteúdo experimentação

Os conteúdos acima descritos são exemplos dos muitos experimentos que fizeram parte da formação de conteúdos da química. Tratam-se de conteúdos que, de acordo com currículo atual, devem ser ministrados no ensino médio. A abordagem desses conteúdos, na maioria das vezes, é teórica. Contudo, tratam-se de dois conteúdos clássicos e que foram construídos através da experimentação, logo, percebemos a necessidade de se refletir de maneira mais ampla a experimentação como parte integrante do conteúdo.

Já foi mais que explicitado a importância da experimentação para o ensino de química, contudo, para os conteúdos que se sedimentaram a partir de experimentos, a exemplo desses expostos anteriormente, é extremamente importante que o aparato experimental faça parte do próprio planejamento didático. Entendemos que mostrar a forma como o conhecimento foi construído contribui para uma melhor compreensão deste. Nesse ponto, é importante pensar na utilização do aparato digital com uma opção possível, quando a realidade real e objetiva não permite a realização de experimentos reais (com soluções e vidrarias). Existem algumas ferramentas de ensino que poderão auxiliar na prática educacional, pois elas podem

79 trazer uma proposta de experimentos virtuais. A pedagogia histórico-crítica não é contra a utilização do aparato tecnológico, desde que este esteja devidamente planejado e articulado ao ensino de conteúdos.

Uma possibilidade é a utilização dos chamados OEs (Objetos Educacionais), a exemplo do PheT (Physics Education Technolog). Esse software foi desenvolvido pela Universidade do Colorado, e apresenta uma série de simulações interativas das áreas de ciências naturais, matemática e outras. A simulação, quando bem fundamentada e sistematizada, permite aos alunos a compreensão de fenômenos naturais, sem a obrigatoriamente destes estarem dentro de um laboratório. Isso também é uma forma de utilizar a experimentação. Não estamos aqui advogando o uso exclusivo dos OEs, pretendemos que o laboratório didático seja essencial para a realização de determinados experimentos, afinal, nem sempre a simulação trará uma boa aproximação do concreto. O que queremos é reafirmar que o ensino desses conteúdos (que tem a experimentação como base para sua fundamentação) precisam tomar como base a experimentação, seja ela através de experimentos reais ou por simulações.

Através das explanações anteriores, podemos anunciar que o educador que pretende trabalhar com a experimentação na dimensão do conteúdo, pensando mais especificamente nos experimentos que fazem parte da construção dos conteúdos químicos, deve pensar na elaboração de experimentos que contribuam para o movimento do entendimento de clássico. A experimentação escolar na perspectiva histórico-crítica, na dimensão do conteúdo, deve ser planejada de modo que contribua para o entendimento do conceito e importância dos conteúdos clássicos.

Percebe-se que, com a grande e rápida aceitação do construtivismo, as escolas estão cada vez mais se afastando do ensino de conteúdo. Segundo Saviani (2013 a), o próprio conceito de currículo encontra-se distorcido, o extracurricular se confunde com o curricular e a escola passa a ser um espaço onde se comemora tudo, se fala de tudo, existe uma demanda grande de atividades extracurriculares, em detrimento de uma redução no tempo para o essencial que o ensino e transmissão de instrumentos para o acesso ao saber elaborado, conteúdos clássicos. A discussão de clássico, ainda precisa ser mais explorada e discutida na própria escola, nesse sentido, pode-se pensar na utilização de experimentos que contribuam para o entendimento dos conteúdos clássicos e para o entendimento do próprio conceito de clássico, para a pedagogia histórico-crítica.

80 Observamos que existem trabalhos que tratam a importância dos experimentos para ensinar os conteúdos de química, que são formados através da experimentação, e trazem uma abordagem através do viés de utilização dos OEs. Contudo, novamente, essas atividades encontram-se fundamentadas em pedagogias do “aprender a aprender”. Vejamos a seguir um exemplo de um trabalho que utiliza os OEs como alternativa para o ensino do conteúdo lei da conservação das massas:

[...] o uso de simuladores por meio de programas de computador é o mais utilizado como forma alternativa para ensinar o aluno a balancear (KUMAR, 2001a). A vantagem da simulação é que ela cria uma ambientação realística onde é apresentado ao aluno um problema para que ele tome decisões

e execute ações. Como resposta o aluno recebe informações sobre como a

situação do ambiente se altera com a sua resposta. Em outras palavras a simulação permite que o aluno verifique o funcionamento de um determinado modelo simplificado da realidade a partir de suas próprias hipóteses (EIVAZIAN, 1995) (MENDES; SANTANA; JUNIOR, 2017, p. 53, grifo nosso)

A utilização do termo em destaque mostra que a motivação da utilização do simulador é a tomada de decisão por parte do aluno, isso denota uma das principais características das pedagogias do “aprender a aprender” que é a valorização da autonomia dos estudantes. Logo, precisamos superar essa visão, estímulo da autonomia, em prol do avanço do sincrético para o sintético.

A pedagogia histórico-crítica permite a ressignificação da experimentação no ensino de ciências, ampliando seu conceito para além de um recurso didático, refletindo sua grande contribuição para a consolidação do próprio ensino de ciências. A discussão acercad a importância dos experimentos, nessa perspectiva do conteúdo, ainda é pouco explorada no âmbito escolar, alguns conceitos, por vezes, perdem seu sentido quando não explorados de maneira mais aprofundada. Nossa defesa é pelo ensino de conteúdos clássicos, e definimos que esses conteúdos são aqueles que não se perderam na história, servindo como base para compreensão do mundo que nos rodeia. Ao passar pela dimensão conteúdo (para pensar a experimentação na tríade forma-conteúdo-destinatário), percebe-se a contribuição da experimentação no processo de formação dos clássicos dentro da química.