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CAPITULO 2 – A POLÍTICA URBANA E A POLITICA AMBIENTAL

2.1 O contexto da RDSEPT

A partir da reflexão sobre ocupações em áreas protegidas e da compreensão dos instrumentos e mecanismos de aplicação da legislação urbana e ambiental, vistos no capitulo anterior, o presente capítulo busca compreender de que forma estes instrumentos e mecanismos se relacionam com os assentamentos litorâneos da RDSEPT, universo da pesquisa, e de que forma estão sendo aplicados, para que possam ser relacionados com os elementos da sua estrutura urbana.

A RDS Estadual Ponta do Tubarão está situada no litoral norte do Rio Grande do Norte, abrangendo áreas dos municípios de Macau e Guamaré (Figura 1).

Figura 1 – Localização da RDSEPT no Estado.

A área delimitada pelo IDEMA para a implantação da RDSEPT, através da Lei Estadual nº 8.341 de 2003, compreende um território com 12.960 ha. Os núcleos litorâneos de Barreiras, Diogo Lopes e Sertãzinho fazem parte do município de Macau e estão localizados a cerca de 20 km da sede do município. Além dos núcleos litorâneos, a Reserva engloba comunidades mais ao interior, denominadas Mangue Seco I, Mangue seco II e Lagoa Doce. Macau fica a cerca de 180 km de Natal e limita-se com Guamaré a leste, Pendências, Carnaubais e Porto do Mangue a oeste, Pedro Avelino e Afonso Bezerra ao sul, e ao norte, com o Oceano Atlântico. As principais vias de acesso são a rodovia BR-406 que leva a Macau e as RN-221 e RN-403 que conduzem até RDSEPT (Figura 2).

Figura 2 – Mapa de delimitação da RDSEPT. Fonte: IDEMA, 2008.

A Reserva é composta por manguezais, extenso campo dunar, área representativa da caatinga e área marinha que se estende por 2 milhas da linha da costa. A principal forma de subsistência na Reserva é a pesca tradicional para as

comunidades litorâneas e a pecuária de subsistência para as comunidades do interior (IDEMA, 2008).

Os municípios de Macau e Guamaré fazem parte do Pólo Costa Branca, uma das rotas do Turismo Sol e Mar do Estado do Rio Grande do Norte. A Ponta do Tubarão figura como uma das atrações e destaques da região de Macau. Essa inserção da Reserva na rota do turismo do Estado, aliados a beleza cênica local torna-a suscetível às interferências externas. Ferreira e Silva (2007) avaliam a dinâmica do mercado imobiliário relacionado ao setor turístico no Nordeste:

A compreensão sobre a dinâmica econômica do Nordeste brasileiro, passa hoje pela análise da dinâmica do mercado imobiliário e do setor turístico. O “turismo imobiliário”, como o mercado vem denominando, é uma das chaves interpretativas para o cenário econômico do Nordeste atual. [...]

A guerra fiscal entre os estados encontra no fator locacional das “raridades” – no sentido de singularidade dos espaços geográficos valorizados pela sua “beleza cênica paisagística” – um ponto de diferenciação no ambiente de competição e na relação Empresa-Estado, permitindo que não apenas a isenção de impostos e doação de terrenos para plantas industriais sejam relevantes. A própria natureza física (geográfica) e os recursos naturais dos estados são ativos de capitalização ao investidor “imobiliário-turístico”, possibilitando aos governos com poucos recursos econômicos, competir com estados mais ricos. [...]

Por outro lado, estas novas oportunidades trazem desafios ou reforçam desigualdades sócio-espaciais existentes, principalmente para as populações mais vulneráveis, além da pressão sobre o uso do solo público em áreas ambientais. Este cenário é reforçado pelos organismos frágeis de fiscalização e controle e acaba por deixar um território aberto às ingerências do capital – nacional ou internacional - apreendendo os recursos naturais, a paisagem e privatizando os espaços públicos. (FERREIRA E SILVA, 2007)

O “turismo imobiliário”que ocorre nas áreas litorâneas do Nordeste brasileiro valorizadas pela beleza cênica e paisagística, visando a construção de segundas residências, hotéis e resorts, não obteve sucesso na área de abrangência da RDSEPT. Essa modalidade de turismo provoca a expulsão dos moradores das áreas costeiras causando impactos ambientais provocados pela sobrecarga de utilização das fontes de água, dos sistemas de saneamento e da maior produção de resíduos sólidos. A manutenção do patrimônio ambiental e das fontes de subsistência dos moradores da Reserva orientou as lutas que repercutiram na sua criação, após tentativas de exploração irregular da área para a construção de um resort por italianos, em 1995, além da ocupação do mangue para carcinicultura em 2000.

Em áreas contíguas à Reserva, as atividades de exploração petrolífera exercidas pela Petrobrás, através de plataformas marítimas e poços terrestres, além

de um pólo de processamento de gás e querosene a poucos quilômetros do limite leste da unidade, também representam ameaças às atividades pesqueiras locais, em função da sempre presente possibilidade de derramamentos de óleo, fato já registrado na Ponta do Tubarão no primeiro semestre de 2003.

Em 2009 foi apresentada ao Conselho Gestor da RDSEPT uma proposta de implantação de parques eólicos em áreas internas e adjacentes à Reserva, por empreendedores estrangeiros. O Conselho deliberou sobre as possibilidades de impactos causados por essa atividade, tais como, o impacto visual; o impacto ambiental, no que diz respeito aos movimentos de terra necessários para a implantação dos aerogeradores; a construção de estradas de acesso; problemas sociais advindos do incremento da população local pela população flutuante que o empreendimento trará para a construção das bases e implantação dos aerogeradores.

A continuidade das lutas dos moradores da Reserva, no sentido de conter os avanços do mercado imobiliário turístico, o enfrentamento das ameaças inerentes às atividades de exploração do petróleo ou de novas atividades a serem implantadas, como os parques eólicos, bem como os problemas urbanos presentes nos assentamentos litorâneos são alguns dos desafios que se colocam no processo de gestão da RDSEPT.