• Nenhum resultado encontrado

O contraponto entre a Política de Assistência Social e a de Assistência Estudantil

2 A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: DAS LUTAS SOCIAIS AO PNAES

2.2 O contraponto entre a Política de Assistência Social e a de Assistência Estudantil

O acesso ao ensino superior no Brasil sempre foi um espaço de discussões e de disputas de interesses entre classes, apresentando-se sempre como tema polêmico (OLIVEIRA et al., 2006a, p. 8). Esse caráter polêmico ocorria porque se, por um lado, o acesso a esse nível educacional era permeado por perspectivas elitistas, onde o diploma era sinônimo de status e prestígio a uma reduzida parcela populacional, por outro, a pressão popular por igualdade de oportunidades crescia, exigindo a ampliação do acesso ao ensino

superior. Com tal pressão, as classes menos favorecidas objetivavam alguma inserção profissional que lhes garantisse a melhoria em suas condições de vida, sendo também uma possibilidade de ascensão social (OLIVEIRA et al., 2006a, p. 8).

Oliveira et al. (2006a, p. 6) afirmam ainda que, ao se

[...] falar sobre democratização do acesso e a inclusão na educação superior implica em estabelecer políticas que beneficiam variados atores sociais. Além disso, deve-se notar que a inspiração de uma política de matiz popular pode ser uma preocupação de movimentos sociais e, ao mesmo tempo, de organismos multilaterais postos, paradoxalmente, sob suspeição pelos próprios movimentos sociais.

Para Martins (2009, p. 35), as políticas sociais são elaboradas a partir das manifestações das desigualdades sociais e das diferenças de classes. A autora afirma ainda que elas resultam de interesses sociais e da correlação de forças presentes entre os grupos que compõem a sociedade, além de se mostrarem como estratégias desenvolvidas de forma a “[...] direcionar a sociedade em determinadas perspectivas de acordo com o modelo de sociedade que se quer manter” (MARTINS, 2009, p. 36).

As políticas educacionais compõem as políticas sociais, pois, segundo Martins (2009, p. 36), “[...] a educação é uma das áreas que integram as ações previstas por essas políticas”. Outra questão apontada por Martins (2009, p. 46) e que demonstra a necessidade de outras políticas aliadas à expansão do ensino superior é o fato de que

As políticas sociais desenvolvidas na área da educação têm sido apontadas como necessárias à inclusão, ou seja, seria por meio do acesso de todos à escola que as pessoas passariam a ter condições iguais. Garantindo o acesso à educação, todos teriam iguais condições de competir no mercado de trabalho, favorecendo uma sociedade com mais oportunidades e menos desigualdades sociais. Essa perspectiva apresenta, todavia, limitações, uma vez que o acesso à educação não garante a permanência dos alunos na escola, bem como que a inserção de alunos nessas instituições educacionais não garante que estes desenvolvam conhecimentos que lhes garantam igualdade de condições.

Indo ao encontro da demanda e pressão social, políticas de expansão do acesso e de garantia da permanência de alunos no ensino superior foram elaboradas e implantadas. Isso se deu em especial na última década, pois nesse momento o governo pautou suas ações objetivando a ampliação do Estado Social, visando a inclusão social e a redução da pobreza. Barreto (2008, p. 26) afirma que

[...] discutir políticas públicas e inclusão social significa delinear e operacionalizar projetos que aumentem as probabilidades de acesso e

inserção social dos diversos grupos à margem da sociedade, seja por circunstância de pobreza extrema ou por condição de etnia, cor e raça, por diferenciações em relação a aspectos físicos ou cognitivos, opção religiosa, política ou de orientação sexual, dentre tantas outras possibilidades.

Oliveira et al. (2006a, p. 5) corroboram o acima exposto, afirmando que

Toda política pública ou iniciativa governamental de implementação de uma política social implica mudanças no espaço de disposição dos atores sociais no campo de que trata o objeto de intervenção pública, causando rearranjos de acordo com a nova correlação de forças que pode, a partir daí, se construir. Assim, percebe-se que os atores sociais estão em luta constante por espaços e a efetivação de novas políticas apresenta-se como um momento de oportunidades de deslocamentos públicos no campo social. No caso específico da reforma da educação superior proposta pelo governo de Luís Inácio Lula da Silva, nota-se que houve a sinalização de benefícios para os estudantes provenientes de escolas públicas, para as etnias sub- representadas nas universidades (negros e índios) e para os jovens pertencentes às camadas sociais mais empobrecidas.

Para Medeiros (2003, p. 4),

As dificuldades que se colocam para o enfrentamento da pobreza pela via da educação e do trabalho sugerem que alguma outra forma de redução das desigualdades sociais é também necessária. No caso da distribuição da renda, por exemplo, é preciso que existam medidas de transferência direta de recursos, como são, por exemplo, os programas de renda básica, renda cidadã, ou termo equivalente. Há muita resistência das elites brasileiras em relação a esse tipo de transferência sob o argumento de que ela viola o princípio de que a renda das pessoas deve ser definida pelos méritos de seu trabalho e, por isso, causa incentivos negativos na população. Não é minha intenção discutir aqui esse argumento, mas tão somente apontar que a cultura de “não dar o peixe, mas ensinar a pescar” ou, mais exatamente, que políticas sociais de assistência devem ser reservadas às emergências, pode ser um grande obstáculo para o enfrentamento da pobreza no Brasil. O que eu gostaria de ressaltar é que a situação de pobreza deve ser entendida como uma situação de “emergência duradoura” e que, portanto, se queremos realmente erradicar a pobreza no país temos que nos acostumar com o fato de que nos próximos vinte ou trinta anos será preciso dar o peixe enquanto se ensina a pescar.

Medeiros (2003, p. 3) traz ainda que,

Posto que o principal determinante da variação salarial é a educação, é tentador pensar que a principal estratégia para erradicar a pobreza em um prazo razoável por meio de reduções nas desigualdades sociais seja investir pesadamente em educação. Embora melhorar o nível educacional da população brasileira seja, por diversas razões, extremamente importante, investimentos no sistema educacional provavelmente não são uma solução viável para o problema da pobreza em um prazo razoável. A razão é simples: educação é um investimento de longo prazo de maturação que dificilmente poderia ser estendido a toda a população. Um sistema de ensino de qualidade requer alunos dedicando grande parte de seu dia às atividades educacionais

durante anos, motivo pelo qual é extremamente difícil educar adultos trabalhadores. Se feitos agora, investimentos pesados no sistema de ensino beneficiariam majoritariamente crianças e jovens.

Dessa forma, considerando que a educação é um instrumento capaz de propiciar a redução da desigualdade social, é sensato entender que a política de assistência estudantil é também mecanismo fundamental nesse processo, mesmo porque o direito à educação superior na forma em que está explicitado na CF de 88 deixa lacunas quanto à responsabilidade plena do Estado em garantir acesso a todos os cidadãos a esse nível educacional.

Antes de lançar o olhar sobre o tema assistência estudantil, é primordial lançar aqui uma discussão proposta por três autores sobre assistência estudantil e assistência social. Cislaghi e Silva (2011), Barreto (2003) e Vasconcelos (2010) falam, em seus estudos, sobre a relação e conceitos da assistência social e da estudantil e divergem em suas colocações. Como foi citado anteriormente neste estudo, Vasconcelos (2010, p. 603) afirma que a trajetória da assistência estudantil coincide com a trajetória da política de Assistência Social, “[...] pois ambas despontam a partir dos movimentos sociais que lutaram pelo fim do regime militar e a promulgação de uma nova Constituição Federal”. A autora explicita ainda as concepções de Educação e Assistência Social trazidas na CF de 88, afirmando que essa lei resultou no início de “[...] um período de reflexões e mudanças, inaugurando um novo padrão de proteção social afirmativo de direitos superando as práticas assistencialistas e clientelistas” (VASCONCELOS, 2010, p. 606). Barreto (2003, p. 51) afirma que a assistência passa a ser apreendida no Brasil enquanto direito com a promulgação da CF de 88, porque até então ela era sinônimo de política de favor. Ainda hoje existem muitas críticas à assistência social, pois esteve por muito tempo associada às ações paternalistas e compensatórias. A Assistência Social na forma como é explicitada na CF consiste em uma das três políticas sociais que compõem o Sistema de Seguridade Social16. E a educação, como já mencionado neste estudo, é apreendida como direito de todo cidadão, “[...] que deve ser dirigido a todas as classes sociais e a todos os níveis de idade, sem qualquer tipo de discriminação, devendo o Estado proporcionar condições para que todos tenham acesso de modo igualitário a esse direito” (VASCONCELOS, 2010, p. 606), com ressalvas para a educação superior. Ao que parece, em seus estudos, Vasconcelos traça relação direta entre assistência social e assistência estudantil.

Sobre essa questão é pertinente inserir a leitura de Cislaghi e Silva (2011, p. 16) sobre os temas surpramencionados. Para esses autores, “[...] um equívoco em relação à assistência

16 O Sistema de Seguridade Social é composto pelas políticas de Assistência Social, Saúde e Previdência Social.

estudantil é relacioná-la à Assistência Social”, sendo esta última uma política social vinculada ao Sistema de Seguridade Social e regida pela Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS –, Lei Federal nº 8.742, de 1993 (CISLAGHI e SILVA, 2011, p. 17). Até pouco tempo atrás, a assistência social se fundia à caridade, porém, hoje, quando falamos de assistência social, falamos em política pública de direitos (NICOMEDES, 2007, p. 1). A caridade/solidariedade é ato digno, mas nada tem a ver com a política de assistência social, que é ação técnica dotada de métodos e instrumentais de operacionalização. Sobre o supraexposto, Carvalho (1995, p. 27) afirma que

A Assistência Social como política pública trabalha com dois paradigmas: o do direito constitucionalmente inscrito e o da solidariedade.

Este imbricamento de paradigmas – direito social e solidariedade – se dá exatamente porque o terreno da proteção social comporta demandas com alta visibilidade pública e por isso reconhecidas como direito social à proteção do Estado.

Cislaghi e Silva (2011, p. 17) afirmam ainda que “[...] a Assistência Social incide sobre a parcela da população que se encontra nas camadas da pobreza ou da extrema pobreza. Objetiva prover o que seria o mínimo social para reprodução do ser humano”. Para Barreto (2003, p. 52),

A assistência social tem a função de atender demandas referentes às necessidades humanas que são sociais e históricas, numa sociedade regida pela lógica do mercado. Deste modo, a assistência antes de ser uma ação programática do atendimento às demandas e necessidades de parte da população pobre, ela é, acima de tudo, produto e expressão crivada de conflitos de interesse, e exige do Estado e da sociedade, sua participação. Para tanto, a Assistência Social pode ser entendida como uma política pública que tem por objetivo “[...] garantir a cesta de mínimos sociais aos cidadãos que não conseguem atingi- los pelas condições adversas postas pelo capital/Estado/sociedade” (CARVALHO, 1995, p. 26).

De acordo com o artigo 1º da LOAS, “[...] a assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas”. O seu artigo 2º afirma que os objetivos da assistência social são:

I – a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II – o amparo às crianças e adolescentes carentes;

IV – a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;

V – a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou tê-la provida por sua família.

Parágrafo único. A assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais.

A assistência estudantil tem “[...] por finalidade prover os recursos necessários para transposição dos obstáculos e superação dos impedimentos ao bom desempenho acadêmico (FINATTI et al., 2007, p. 191). Essa política surge com a proposta de garantir a permanência, provendo recursos necessários para que os alunos possam transpor obstáculos e superar questões que impeçam o bom desempenho acadêmico deles. Visa permitir “[...] que o estudante desenvolva-se perfeitamente bem durante a graduação e obtenha um bom desempenho curricular, minimizando, dessa forma, o percentual de abandono e de trancamento de matrícula” (VASCONCELOS, 2010, p. 609). A assistência estudantil perpassa todas as áreas dos direitos humanos, abrangendo ações que propiciem “[...] desde as ideais condições de saúde, o acesso aos instrumentais didáticos pedagógicos (sic) necessários à formação de profissionais nas mais diferentes áreas do conhecimento, o acompanhamento às necessidades educativas especiais, bem como o provimento dos recursos mínimos a sua sobrevivência, como moradia, alimentação, vestuário, transporte e recursos financeiros” (FINATTI el al., 2007, p. 191).

Considerando o exposto sobre assistência social e assistência estudantil, pode-se afinar os conceitos e objetivos da primeira com a segunda, pois ambas visam a redução da desigualdade social, mas se deve atentar para as diferenças entre elas, já que ambas visam assistir ao indivíduo, ainda que cada uma se situe em área específica, bem como se fundamente em critérios de seleção e análise, leis e documentos pertinentes a cada uma delas. Sendo assim, a política de assistência social pode servir de parâmetro para ações da assistência estudantil, mas nunca nortear suas ações com seus documentos. Tem-se, portanto, que a assistência estudantil é uma política vinculada à educação, promovida no interior das IES. Faz sentido, quando se fala em assistência estudantil, orientar-se pelas concepções que permeiam a assistência social desde que se desenhe sua função enquanto parâmetro para ações vinculadas à assistência estudantil, ou seja, a primeira é parte do Sistema de Seguridade Social e a segunda é vinculada à política de educação.

No artigo 206 da CF de 88 é explicitado que o ensino deverá ser ministrado com base em princípios, entre os quais, “[...] igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” (ALVES, 2002, p. 4; ARAÚJO e MORGADO, 2007, p. 2; BARRETO, 2003, p. 59). Entende-se essa explicitação como extensiva ao ensino superior, pois não há menção, nesse artigo, que isso se aplique a um ou outro nível educacional. Associados a isso, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 96 encontram-se dispositivos que também amparam a assistência estudantil, como exemplo o artigo 3º, que expõe de forma idêntica a ideia posta no artigo 206 da CF de 88 (ALVES, 2002, p. 4; ARAÚJO e MORGADO, 2007, p. 2; BARRETO, 2003, p. 59). Ou seja, até mesmos os estudantes de ensino superior têm direito à “[...] igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”.

Sob o ponto de vista de Cislaghi e Silva (2011, p. 17), “assistir ao estudante” com bolsificação e políticas focalizadas contraria a ideia do “[...] direito à educação como política universal estendida a todos os estudantes”. Ratifica-se aqui, porém, que o direito à educação superior é explicitada no inciso V do artigo 208 da CF de 88, onde se afirma que o “[...] acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um”. Ou seja, a garantia a esse nível educacional não é efetivamente plena, assim como o é a educação básica. Alves (2002, p. 3) afirma que “[...] educação ainda não se tornou direito de todos, forjando um quadro extremamente injusto e desigual tanto no campo das oportunidades de acesso a níveis cada vez mais complexos de ensino, quanto no campo da qualidade de oferta dos serviços educacionais existentes no país”.

Outra questão trazida por alguns autores (PORTES, 2006; NOBRE, 2011; BARRETO, 2003; ZAGO, 2006; ALVES, 2002) é que, no início do século XX, houve registros na literatura sobre alunos pobres no meio acadêmico em cursos jurídicos, mas isso sempre era relatado enaltecendo o aluno que conseguia concluir o curso, escondendo a pobreza, “[...] ocultando as condições reais nas quais esses sujeitos conseguiram construir uma carreira acadêmica no interior de um espaço que discriminava o pobre” (PORTES, 2006, p. 226). Essa maneira de ver o sucesso de alguns dos estudantes carentes reforçava a discriminação no meio acadêmico, pois, segundo o autor, nem todos os pobres que acessaram a educação superior tiveram sucesso. Esses alunos eram vistos como “’fracos’, ‘vis’ e ‘pusilânimes’ que pereceram às primeiras adversidades” (PORTES, 2006, p. 226). O autor traz ainda que

Outras características merecedoras de registros e que denunciam a presença de pobres no interior dos cursos jurídicos, encontradas na literatura consultada, são cor e idade, utilizadas para reforçar os feitos daqueles estudantes que destoavam do conjunto dominante. A essas características se

somam os aspectos anedótico e folclórico que envolvem os registros obtidos sobre os estudantes. As minhas análises mostram que o fato de ser uma figura folclórica ou pertencer ao anedotário institucional parece ser a razão de merecer registro, o que se dá de forma cômica, engraçada, disfarça os preconceitos e encobre as discriminações observadas na prática pedagógica de diferentes professores. Nesse caso, o anedótico e o folclórico, encerrados em si mesmos, podem mascarar uma série de circunstâncias sociais vividas pelos atores, aqui caricaturados, em um cotidiano de penúrias, para se manterem no interior das academias. Cabe ainda ressaltar, mais uma vez, que esses casos folclóricos surgem de um tipo de pobreza particular, e não da pobreza em geral, que é a pobreza de determinados estudantes que tiveram acesso às academias, onde as regras eram determinadas pela sobra da riqueza material e cultural daqueles que as dominavam. (PORTES, 2006, p. 226).

Portes (2006, p. 227) afirma ainda que muitos desses alunos, para se manterem, buscam atividade remunerada ou a ajuda de padres, correligionários políticos ou parentes. Outros “[...] ingressavam na carreira eclesiástica como meio de obter a proteção da Igreja, na figura de clérigos e instituições a ela ligadas, como via de acesso ao conhecimento e à construção de um certo capital cultural” (PORTES, 2006, p. 227). Em seus estudos, Portes (2006, p. 227) verificou que

[...] um forte elo existente entre os estudantes pobres, nos diferentes períodos, é o constrangimento econômico ao qual eles vêm sendo submetidos historicamente. Os dados do passado e do presente permitem que eu fale de um efeito de durabilidade e permanência desse fenômeno no tempo. Se a condição econômica não é determinante das ações e práticas do estudante pobre – em um passado e em um presente –, ela é um componente real, atuante, mobilizador de sentimentos que comumente produzem sofrimento neste tipo de estudante e ameaçam sua permanência na instituição.

Portes afirma ainda que

A busca de ajuda material é um fantasma constante na vida dessas famílias, principalmente com a entrada do filho na universidade. Colocar e manter um filho na universidade. Colocar e manter um filho nos cursos de Medicina, Fisioterapia, Direito, Comunicação Social, Engenharia Elétrica ou Ciências da Computação, mesmo numa universidade pública como a UFMG, são atos que retiram a tranquilidade da família, pois, nos meus casos, trata-se de um ensino que, mesmo sendo público, é economicamente dispendioso. Exigências próprias do acadêmico e exigências características de cada curso exercem aí uma forte influência – aquelas dizem respeito a transporte, compra de livros, xerox, material escolar, roupa, calçado, aluguel, alimentação e lazer, etc., enquanto que as últimas se configuram por necessidades como, por exemplo: para quem faz Comunicação Social, coloca-se a exigência de se assinar revistas e jornais diversos; para quem faz Ciência da Computação, exige-se ter em casa um computador; para quem faz Direito, desde muito cedo, exige-se usar paletó, gravata, sapatos (e não tênis), etc. Tudo isso irá propiciar uma instabilidade econômica familiar

capaz de refletir-se de forma preocupante naquilo que ao longo da trajetória escolar (e social) mais parecia alicerçar esse estudante: sua segurança nas questões atinentes ao escolar. Mesmo contando com a importante ajuda da FUMP, observa-se uma submissão e humilhação ao pedir de forma recorrente ou aceitar ajuda material de terceiros (geralmente parentes com situação econômica mais favorável ou amigos íntimos, ou mesmo agiotas). Ajuda frágil inconstante, mas que remedia circunstâncias materiais e assegura condições psicológicas básicas para a continuidade dos estudos acadêmicos do filho. (PORTES, 2006, p. 230).

Alves (2002, p. 3) afirma que a renda familiar de milhares de alunos universitários é insuficiente para garantir a permanências e término do curso por eles, ocasionando o baixo rendimento acadêmico ou a evasão. Sendo assim, a ausência de recursos das famílias ou do governo em implantar políticas que visem garantir a permanência desses estudantes pode acarretar no atraso da conclusão do curso ou na desistência do mesmo. A política de assistência estudantil, além de garantir possibilidades de permanência e conclusão de curso ao aluno, é também uma ação que resulta em menor “desperdício do dinheiro público”, pois,