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O Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES, como garantia de permanência no ensino superior.

2 A ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL: DAS LUTAS SOCIAIS AO PNAES

2.3 O Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES, como garantia de permanência no ensino superior.

O Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES, instituído pela Portaria Normativa nº 39, de 12 de dezembro de 2007, e pelo Decreto nº 7234, de 19 de julho de 2010, tem o objetivo de reduzir a evasão nas IFES e garantir a permanência com melhor aproveitamento acadêmico pelos graduandos. Esse programa é voltado aos graduandos das

instituições federais matriculados na modalidade de ensino presencial. De acordo com dados disponibilizados no site do MEC17, com a implementação do PNAES busca-se “[...] viabilizar a igualdade de oportunidades entre todos os estudantes e contribuir para a melhoria do desempenho acadêmico, a partir de medidas que buscam combater situações de repetência e evasão”. O objetivo desse programa é de “[...] atender aos estudantes matriculados em cursos de graduação presencial, das IFES, visando promover o apoio à permanência e conclusão dos alunos de baixa condição socioeconômica” (VASCONCELOS, 2010, p. 612).

A implantação desse programa é o resultado de anos de lutas dos movimentos sociais e estudantis para que essa questão recebesse atenção especial, como afirma Vasconcelos (2010, p. 614). Ele consiste também em uma das ações que constava no Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, elaborado e implantado no primeiro mandato do governo Lula (VASCONCELOS, 2010, p. 612).

A implantação do Programa Nacional de Assistência Estudantil representou um marco histórico na área da assistência estudantil, pois foram anos de reivindicações dos diversos movimentos sociais para que essa temática tivesse uma atenção especial, uma vez que é sabido que os alunos de baixa condição socioeconômica acabam abandonando o curso em decorrência da insuficiência de recursos financeiros para sua manutenção, sendo então, obrigado a submeter-se a subempregos de baixa remuneração como recurso de sobrevivência, abandonando, em alguns casos, em definitivo, a chance de qualificação profissional. (VASCONCELOS, 2010, p. 614).

Sendo assim, foi somente a partir de dezembro de 2007, com a publicação da portaria que a instituiu, que a assistência estudantil seguiu no sentido de se tornar uma política de Estado, tornando-se algo concreto, permanente e normatizado. Para Cislaghi e Silva (2011, p. 10), o PNAES foi instituído “no rastro do REUNI”, já que a meta estabelecida, por este Plano, de elevação da taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais era de 90%. Outra diretriz apontada no REUNI foi a disponibilização de mecanismos de inclusão por meio da assistência estudantil.

De maneira resumida, o PNAES é um programa que garante apoio aos graduandos de baixa renda, matriculados na modalidade presencial das IFES, de forma a democratizar as condições de permanência deles, reduzindo a evasão e a retenção. A criação do PNAES foi necessária, pois o REUNI proporcionou um aumento do número de estudantes de baixa renda nessas instituições de ensino. Para garantir a permanência dos alunos na graduação, traçaram- se ações que visassem viabilizar um melhor desempenho acadêmico. Para muitos estudantes,

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a graduação não seria algo possível, tendo em vista os gastos com materiais didáticos, alimentação, transporte e, especialmente, com moradia, levando em conta que grande parcela dos estudantes desloca-se do interior do país rumo aos grandes centros.

De acordo com o artigo 2º da Portaria Normativa nº 39, “[...] o PNAES se efetiva por meio de ações de assistência estudantil vinculadas ao desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão, e destina-se aos estudantes matriculados em cursos de graduação presencial das Instituições Federais de Ensino Superior”. Observa-se aqui que os alunos de pós-graduação, ou mesmo os graduandos da educação à distância não são contemplados por essa lei. No parágrafo único desse mesmo artigo temos explicitados, como possibilidades de ações de assistência estudantil: moradia estudantil; alimentação; transporte; assistência à saúde; inclusão digital; cultura; esporte; creche; e apoio pedagógico. Ocorre que tais ações não são ofertadas, todas elas, em toda e qualquer IFES. Para que isso se resolva, o Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis - FONAPRACE tem sido um espaço fundamental de construção de ações coletivas, de esclarecimento de dúvidas, de esclarecimentos de caminhos.

No artigo 3º da portaria em discussão temos que “[...] as ações de assistência estudantil serão executadas pelas IFES considerando suas especificidades, as áreas estratégicas e as modalidades que atendam às necessidades junto ao seu corpo discente”. Nesse artigo fica claro que cada universidade deverá analisar as necessidades específicas de seus discentes, assim como as especificidades de cada instituição, ou seja, as IFES devem considerar os seus limites e potencialidades, seja em recursos humanos, espaço físico, características regionais, entre outros, contrapondo com a demanda estudantil de forma a efetivar propostas que garantam o acesso e a permanência dos graduandos durante todo curso.

No inciso 1º do artigo 3º tem-se a afirmação de que todas as ações de assistência estudantil deverão contribuir para o desempenho acadêmico, possibilitar a igualdade de oportunidades e promover a redução dos índices de repetência e evasão que decorrem de baixa condição socioeconômica. Para isso, é necessária a integração de uma equipe interdisciplinar que oferte apoio psicossocial e psicopedagógico principalmente. O inciso 2º do artigo em questão afirma que os recursos do PNAES serão repassados às IFES e que essas serão responsáveis pela implementação das ações de assistência estudantil.

No artigo 4º da Portaria nº 39 tem-se explicitado que “[...] as ações do PNAES atenderão a estudantes matriculados em cursos presenciais de graduação, prioritariamente, selecionados por critérios socioeconômicos, sem prejuízo de demais requisitos fixados pelas instituições de educação superior em ato próprio”. O acompanhamento e a avaliação do

PNAES devem acontecer sob responsabilidade das IFES, as quais estabelecerão os instrumentos necessários para efetivação do proposto.

O artigo 5º trata das despesas do PNAES e afirma que “[...] as despesas do PNAES correrão à conta das dotações orçamentárias anualmente consignadas ao Ministério da Educação, devendo o Poder Executivo compatibilizar a quantidade de beneficiários com as dotações orçamentárias existentes, observados os limites estipulados na forma da legislação orçamentária e financeira”.

O Decreto nº 7.234, de 19 de julho de 2010, dispõe sobre o PNAES e no seu artigo 1º ratifica que a finalidade desse programa é “[...] ampliar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal [...]”, sendo que os objetivos, expressos no artigo 2º, são “[...] democratizar as condições de permanência dos jovens na educação superior pública federal; minimizar os efeitos das desigualdades sociais e regionais na permanência e conclusão da educação superior; reduzir as taxas de retenção e evasão; contribuir para a promoção da inclusão social pela educação”. De acordo com o artigo 3º, a implementação do programa deverá ocorrer de maneira articulada com as atividades de pesquisa, ensino e extensão e implementando ações de assistência estudantil como citado na portaria que institui o PNAES, adicionando um item “X” neste artigo (parágrafo 1º), que cita que o “[...] acesso, participação e aprendizagem de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades e superdotação” também deverão constar nas ações desenvolvidas pelas IFES no que se refere a esse programa. O parágrafo 2º cita que a seleção dos alunos a serem beneficiados caberá às IFES, assim como a metodologia e critérios usados na análise.

O Art. 4º fala que o PNAES deverá ser executado em todas as IFES, inclusive nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, considerando todas as suas especificidades, conduzindo sempre à igualdade de oportunidades, contribuindo para o melhor desempenho acadêmico, evitando as evasões decorrentes da carência financeira.

O artigo 5º cita os critérios básicos que devem ser atendidos no processo seletivo: alunos que cursaram prioritariamente a rede básica e pública de ensino ou que possuam renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio. Outros requisitos podem ser fixados pelas IFES, assim como alguns mecanismos de avaliação e acompanhamento do PNAES.

O artigo 6º cita que qualquer informação referente ao programa pode ser solicitada e deverá ser compartilhada com o MEC. Os artigos 7º e 8º falam que os recursos serão repassados às IFES e que estas deverão fazer uso do capital sob orientação desse decreto e que

[...] as despesas do PNAES correrão à conta das dotações orçamentárias anualmente consignadas ao Ministério da Educação ou às instituições federais de ensino superior, devendo o Poder Executivo compatibilizar a quantidade de beneficiários com as dotações orçamentárias existentes, observados os limites estipulados na forma da legislação orçamentária e financeira vigente.

Cislaghi e Silva (2011, p. 11) apontam uma diferença importante entre a portaria e o decreto: “[...] enquanto a portaria dizia apenas que os estudantes deviam ser ‘prioritariamente selecionados por critérios socioeconômicos (art. 4º), o decreto aponta que devem ser atendidos ‘prioritariamente estudantes da rede pública de educação básica ou com renda familiar per capita de até um salário mínimo e meio’ (art. 5º)".

O número de benefícios e valores de recursos investidos no PNAES demonstra um investimento crescente.

Quadro 2.3.1 Número de benefícios e recursos destinados ao PNAES

2008 2009 2010

Número de benefícios (mil) 196,0 408,5 600

Recursos (R$ milhões) 125,3 203,8 304,0

Fonte: SESU/MEC FONTE E SITE

O Quadro 3.1 mostra que, em 2008, o governo destinou aproximadamente R$ 125,3 milhões para a assistência estudantil de 57 instituições públicas de ensino superior; em 2009, o investimento chegou à casa de R$ 203,8 milhões; em 2010 calcula-se que o montante aproximado foi em torno de R$ 304 milhões. O número de benefícios destinados aos estudantes foi de aproximadamente 196 mil em 2008; em 2009, o valor contabilizado esteve próximo dos 408,5 mil benefícios; e, em 2010, o número estimado foi de 600 mil benefícios, considerando que até agosto do referido ano já haviam sido concedidos 454,7 mil benefícios.

Sendo assim, segundo dados disponibilizados no site do Ministério da Educação, em 2009 o PNAES foi alicerçado em todas as universidades federais, com concessão de mais de 408,5 mil benefícios para graduandos. Os benefícios mais concedidos foram: alimentação (122,4 mil alunos) e apoio pedagógico (68,8 mil alunos) e a concessão de um benefício não exclui a possibilidade de concessão de outro ao mesmo graduando, ou seja, um aluno pode ser beneficiado por moradia, alimentação e transporte, e outros. A mensuração quantitativa tem sido possível com a colaboração das IFES, mas o MEC e demais gestores têm encontrado

dificuldade para mensurar o impacto do PNAES no que tange ao desempenho acadêmico dos bolsistas.

Ainda falando em recursos financeiros, é possível verificar uma proposta do governo objetivando a adesão das IFES ao ENEM, ou seja, a partir de 2009 as universidades que viabilizassem o vínculo de seu processo seletivo ao ENEM poderiam obter um incremento de até 100% do valor inicial destinado a elas pelo PNAES. Outros critérios para a concessão de maiores recursos também foram postos pelo SESU, responsável pela determinação dos critérios e pela concessão dos recursos às instituições. Dois dos parâmetros para repasse da verba consistem no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB – do município e no número de alunos matriculados na graduação.

As informações sobre o PNAES são parcas, não havendo muitos estudos acadêmicos aprofundados até o momento, mesmo porque o programa é recente. Para Vasconcelos (2010, p. 614), ainda é cedo para se tirar conclusões definitivas acerca desse programa, mas “[...] pode-se afirmar que, ao longo da história da educação, esse tipo de iniciativa e incentivo financeiro governamental foi almejado por todos os profissionais que atuam diretamente com a assistência estudantil na IFES do Brasil”.

3 ESTUDO DE CASO: O PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NA