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5. RESULTADOS E ANÁLISES DOS DADOS

5.5. A governança: liderança, estratégia e monitoramento

5.5.4. O controle e monitoramento

A última dimensão da governança no modelo TCU (2014) é a execução e controle e o monitoramento. O controle serve para que os processos delineados na estratégia sejam executados. Para isso, é necessário mapear os riscos, que devem ser avaliados e mitigados (Idem). Incorporadas à dimensão do controle estão: (i). a gestão de riscos e o controle interno; (ii). a auditoria interna; e, por fim, (iii). a accountability e a transparência. Para isso, é fundamental que as metas da estratégia e seus indicadores estejam claramente definidos, um déficit atual no processo de recuperação e/ou reflorestamento.

As metas e indicadores precisam ser definidos no nível de cada área em cada bioma, com suas respectivas características, como quantidade de carbono estocado, tipo de vegetação, grau de degradação e/ou alteração, dentre outras, para viabilizar um monitoramento eficaz. Para Brancalion, uma vez que é definido o objetivo, consegue-se estabelecer os indicadores necessários para o monitoramento.

O Entrevistado 1 complementa Brancalion afirmando que o monitoramento é um problema justamente pelo fato de a CND apresentar parâmetros diferentes. Por conta dessa falta de parâmetros, é muito importante estabelecer as metas e os indicadores:

o monitoramento é um problema, porque a gente vai ter que estabelecer o monitoramento da INDC, que é uma coisa diferente. Por exemplo, as nossas metas de pastagens degradadas e ILPF [integração lavoura-pecuária-floresta] são em hectares, a própria recuperação de florestas é em hectares. Não é CO2 equivalente, não é

A governança deverá contar com essa relevante informação na definição desse monitoramento; mesmo tendo o objetivo comum de redução de GEE, cada medida apresenta suas próprias referencias. Além desses indicadores, Brancalion também julgou ser importante que se estabeleçam referências para eles:

vou precisar também dos valores de referência para esses indicadores. Por exemplo, o que é que espero de uma floresta com doze anos de idade? Para que a medida seja cumprida, quanto que essa floresta de doze anos de idade, caso plantada hoje, vai ter de carbono? Vou ter florestas com diferentes datas estabelecidas em diferentes condições. Para que no final da conta sejam alcançadas tantas toneladas de carbono na biomassa, preciso ter uma estratégia, preciso saber quanto cada floresta tem em cada faixa de idade e em determinadas condições.

Já Scaramuzza, demonstrou inquietude em relação ao monitoramento seja do impacto como dos processos associados à política, uma vez que esse monitoramento ainda é pouco desenvolvido, precisando de melhorias e melhor implementação. Um desses aspectos apontados por Scaramuzza é a necessidade de aperfeiçoar a diferenciação entre áreas em recuperação ou restauração das florestas de reflorestamento monocultural. Para ele, sem essa diferenciação, fica difícil monitorar alcance da medida da política. No entanto, mesmo necessitando de melhorias, o ponto positivo é que, segundo o entrevistado, elas já vêm acontecendo.

Para Scaramuzza, pelo menos nos primeiros anos da recuperação, em que as plantações estarão mais suscetíveis ao fogo, as formigas e as secas e outros fatores de distúrbio, é preciso um esforço local de acompanhamento para assegurar a implementação da floresta, além do trabalho de monitoramento baseado em sensoriamento remoto.

Calmon concordou com Scaramuzza quanto à utilização de sensoriamento remoto. Ele acredita que o uso dessa tecnologia pode facilitar o monitoramento das áreas recuperadas. Os dois entrevistados, Calmon e Scaramuzza, também concordam em relação ao monitoramento em escala local; para eles, é preciso que esse monitoramento se dê no nível da escala do projeto. Calmon sugeriu que, além desse monitoramento ocorrer em escala de projeto, ele deverá ser participativo:

uma das coisas que anda se discutindo bastante é o monitoramento da implementação na escala local que tem funcionado bem, o monitoramento participativo. Onde você tem um grupo de produtores de diferentes agendas ou áreas de atuação que fazem um monitoramento participativo.

Além disso, os dois entrevistados possuem opiniões coincidentes em relação à importância do CAR para o monitoramento dessa medida de recuperação florestal. Suas opiniões coincidem ao passo que os entrevistados afirmam que, por meio do CAR, será possível identificar as propriedades e os proprietários para realizar esse monitoramento.

Teixeira ainda apontou dois caminhos para se realizar esse monitoramento e controle. Para ela, como a medida foi desenhada embasada em modelos de recuperação – pelo cumprimento da Lei de Proteção da Vegetação Nativa ou pelo setor industrial –, o MRV (mensuração, relato e verificação) deverá se dar a partir desses modelos. Deste modo, Teixeira declarou que:

se for com base na Lei de Proteção da Vegetação Nativa, é compliance legal e o CAR tem um modo de monitoramento. Então, ao fazê-lo, aqueles que têm área preservada, não têm passivo. Quem tem passivo vai assinar o acordo do PRA, vai ser monitorado por vinte anos até restaurar, senão não dá baixa no cadastro. Você tem um sistema de monitoramento, para verificar se o que ele se comprometeu a fazer está sendo feito. A outra questão é a floresta plantada, mostrando onde é que as empresas avançam.

O Entrevistado 3 declarou, concordando com Teixeira em relação ao cumprimento da Lei de Proteção da Vegetação Nativa, que esse monitoramento vai depender de onde ocorrerá o processo de recuperação: é em que área de ciclo produtivo? Dentro de uma área de preservação? Dentro de uma reserva legal? Então é a lei que decidirá, você é obrigado a preservar a área, quando a recuperação se dá em áreas em desacordo com a normas da lei. Então o monitoramento se torna menos complexo, uma vez que a floresta plantada deverá permanecer no local, sem prazo determinado, como seria o caso da floresta plantada para fins econômicos. Teixeira ainda complementou afirmando a importância desse sistema de monitoramento ser balizado pela ciência:

a questão é, se esses métodos de monitoramento são certificáveis junto à Convenção do Clima, daí a importância de acessar a ciência, daí a importância da ciência, que toda estratégia de monitoramento que o Brasil for adotar seja balizada em métodos científicos e certificados internacionalmente, reconhecidos para evitar a dupla contagem.

É possível entender que o monitoramento, apesar de já ter um direcionamento, será um grande desafio para as lideranças desse processo. Por isso, deverão ser estabelecidos indicadores com parâmetros bem definidos para que as metas da estratégia sejam monitoradas e avaliadas. Além de melhorar o sensoriamento remoto para a diferenciação dos tipos de áreas por não ser binário, como a avaliação do desmatamento. Cabe registrar que o monitoramento

da recuperação e/ou reflorestamento é mais complexo. Todas as métricas e melhoramentos deverão ser embasados pelo método científico e certificados internacionalmente, para que não ocorram erros em suas contagens.

No entanto, quando se fala na recuperação e/ou reflorestamento por meio legal, o CAR representa um grande avanço para que esse monitoramento ocorra, principalmente no âmbito de projeto, com um modelo participativo. Quando se fala na recuperação e/ou reflorestamento de passivos ambientais, o monitoramento é mais fácil, já que diferentemente das florestas com finalidade econômica, essas florestas deverão permanecer intactas depois de recuperadas e/ou reflorestadas para permanecerem em acordo com a Lei de Proteção da Vegetação Nativa.

6. GOVERNANÇA PARA A RECUPERAÇÃO E/OU