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O critério de classificação de pacientes adotado na FO-UFJF

No documento patriciachavesdemendonca (páginas 42-45)

Fluxograma 5 Relação entre as medidas propostas e os resultados esperados

1 DESAFIOS VIVENCIADOS PELAS CLÍNICAS DE ESTÁGIO DE

1.4 QUESTÕES CRÍTICAS REFERENTES AO ATENDIMENTO NAS CLÍNICAS

1.4.1 O critério de classificação de pacientes adotado na FO-UFJF

Um dos pontos críticos verificados nas Clínicas de Estágio de Urgência Odontológica da FO-UFJF é o critério de seleção adotado que é a ordem de chegada dos pacientes, não havendo nenhum tipo de classificação de risco ou priorização de casos mais urgentes, o que implica no atendimento de casos não urgentes em detrimento de outros que possam exigir um atendimento imediato e, com isso, estes acabam permanecendo na fila de espera ou precisam retornar em outras datas. A fila de espera resulta em diversos problemas, o que afeta a resolutividade dos tratamentos, além do não atendimento de casos urgentes, o agravamento do quadro apresentado pelo paciente, e a possibilidade de exodontias, entre outros.

A falta de critérios em que a isonomia seja valorizada na seleção dos pacientes prejudica a qualidade do atendimento, a resolutividade, a integralidade e a promoção da equidade. Nesse sentido, a seleção dos pacientes por meio de um protocolo definido permitiria que os procedimentos adotados pelas Instituições de Ensino estivessem de acordo com os valores citados, superando os desafios já apontados (MACIEL; KORNIS, 2006).

Levando-se em conta que a FO-UFJF faz parte do Sistema Único de Saúde, esta deve prestar um atendimento integral, partindo da Atenção Básica de Saúde, e seguindo os princípios adotados pelo SUS, entre eles, a universalidade, a integralidade e a equidade (BARBOSA, 2010). Diante dos desafios observados nas Clínicas de Urgência da FO-UFJF, percebemos que a falta de um protocolo de classificação de risco acarreta uma série de problemas que aumenta a vulnerabilidade dos pacientes atendidos.

De acordo com Maciel e Kornis (2006), a seleção criteriosa de pacientes que receberão tratamento é imprescindível para um processo baseado nos valores e princípios que norteiam a Atenção Básica de Saúde, por isso, os atendimentos devem ser realizados com a devida triagem de pacientes, com a seleção a partir de um critério coerente com a situação apresentada pelo paciente e sua classificação de risco, em que se priorizem os casos mais graves e os dependentes do Sistema Público de Saúde.

Conforme estudo realizado por Leandra Almeida (2017), na FO-UFJF, já houve um protocolo de classificação adotado no Curso de Especialização em Ortodontia da FO-UFJF. Este modelo de seleção segue orientações de Kornis e Maciel (2006), e

particularmente apresentou boa efetividade em priorizar casos mais graves e pacientes mais dependentes do SUS. Infelizmente, por não haver pessoal para assumir esta tarefa, o modelo foi abandonado. A autora sugere a criação de um projeto em que os alunos realizariam a triagem, o que proporcionaria a oportunidade de aprendizado para os alunos, e a retomada do modelo de seleção de pacientes, contribuindo para a busca de um atendimento com integralidade e equidade.

Em um estudo voltado para o tratamento ortodôntico na FO-UFJF, Maciel e Kornis (2006) destacam a importância da seleção criteriosa dos pacientes por meio da classificação dos casos em vez da fila de espera por ordem de chegada. Assim, os autores enfatizam a importância da escolha criteriosa dos indivíduos que receberão o tratamento na busca de um atendimento com maior equidade. O estudo indica a adoção de critérios classificatórios para os pacientes relacionados a fatores biológicos (gravidade da má-oclusão), psicossociais e, por fim, econômicos. Os critérios indicados por Maciel e Kornis (2006) foram ressaltados por Almeida (2017), em seu estudo realizado também na FO-UFJF.

Guimarães (2015) corrobora o entendimento de Maciel e Kornis (2006) e Almeida (2017) com relação à questão da fila de espera ser uma questão crítica, quando esta não adota critérios adequados de classificação para a seleção do atendimento. Em seu estudo, nota-se que a fila de espera das IES é formada de acordo com ordem de chegada, e isto vai de encontro a um atendimento mais justo e igualitário, e contraria diretrizes e princípios estabelecidos pelo Ministério da Saúde.

De forma geral, Guimarães (2015) enfatiza que a falta de informatização para o agendamento de consultas, a má organização das listas de espera e a precariedade no armazenamento dos documentos e prontuários são muito presentes nos serviços das IES. Um estudo realizado especificamente no serviço de atendimento de urgência da FO-UFJF avaliou o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos por este setor, e diversos dados foram levantados. Dentre estes dados, notou-se também o problema da fila de espera. No referido estudo, propõe-se a adoção de um sistema de triagem como forma de organização da demanda e identificação dos casos mais urgentes e que devem ser atendidos com prioridade. A adoção desse tipo de instrumento organizacional é muito relevante, principalmente nos atendimentos de urgência odontológica, que é um tipo de serviço que recebe pacientes que têm dificuldade de acesso à atenção odontológica preventiva, e têm situação de vulnerabilidade socioeconômica (PAULA et al., 2012).

Por sua vez, Barbosa (2010) aponta a classificação de risco como um recurso valioso na organização da demanda para atendimento odontológico nos serviços públicos de saúde. Entre estes recursos, estão instrumentos como a classificação de risco e a adoção de protocolos de atendimento. Para o autor, a organização do atendimento a partir dos instrumentos já citados é uma forma de se atingir um atendimento segundo os princípios do SUS. O objetivo da classificação de risco é personalizar os serviços de saúde e estabelecer a prioridade de atendimento para os casos mais graves.

A falta de um sistema de priorização de casos mais graves gera implicações também para o aspecto da resolutividade das Clínicas de Urgência. A resolutividade refere-se à capacidade do serviço de saúde de receber o paciente, oferecer para ele um atendimento integral e responder de forma efetiva às suas necessidades.

Uma vez que a classificação de risco, de acordo com Osanam (2012), trata-se da ordenação do atendimento de acordo com a necessidade apresentada pelo paciente, ela permite a formulação de fluxos, melhora o acesso e possibilita um atendimento responsável. Ao passo que a adoção de classificação de risco permite melhor organização do serviço, esta implica diretamente na resolutividade apresentada pela clínica em questão.

Outro aspecto que também é influenciado pela existência ou não de classificação dos casos mais graves é a referência e contrarreferência. A referência e contrarreferência, ou o processo de “referenciamento” ou “encaminhamento” dos pacientes, é de extrema importância no que tange à conclusão dos tratamentos iniciados nas Clínicas de Urgência. Quando é feito um levantamento e então é realizada a classificação de riscos dos casos que precisam de atendimento, é possível a existência de um processo de encaminhamento mais efetivo dos pacientes, visto que os casos terão sido diagnosticados de forma criteriosa (OSANAM, 2012).

Considerando que as questões referentes à resolutividade e ao referenciamento são fundamentais para esta pesquisa, este tema será tratado de forma mais aprofundada no Capítulo 3, a fim de relacionar essas questões a outros desafios verificados no atendimento prestado pelas Clínicas de Urgência Odontológica.

De forma geral, a adoção da classificação de risco permite melhor organização do serviço desde a fila de espera, passando pela resolutividade do tratamento, e, por fim, também contribui para maior efetividade no processo de encaminhamento dos

pacientes.

Na sequência, apresentamos o embasamento da abordagem aos prontuários dos pacientes atendidos, bem como aos dados levantados nos arquivos das Clínicas de Urgência Odontológica I e II da FO-UFJF referentes ao critério de classificação dos pacientes, que se trata de listas de fila de espera preenchidas em cada dia de atendimento nas clínicas.

No documento patriciachavesdemendonca (páginas 42-45)