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2. PARTE I: “Se a montanha não vai a David, vai David à montanha”

2.3 O contexto de intervenção

2.3.3 O departamento de Educação Física

Existem treze departamentos curriculares na EC, entre os quais o departamento de EF. O grupo de EF é composto por sete professores, em que uma professora está ligada apenas à lecionação das aulas de EF no ensino básico, dois professores atuam em ambos os níveis de ensino e quatro professores intervêm unicamente no ensino secundário. Visto que a EC tem um projeto educativo próprio, seis docentes estão diretamente ligados ao curso de AGD, responsáveis por lecionar não apenas aulas de EF, mas também diversas disciplinas e conteúdos específicos teórico-práticos, ligados ao

desporto, como é o caso de disciplina de PPD. Neste grupo, dois professores exerciam a função de PC, um para cada NE de duas instituições, FADEUP e o Instituto Superior da Maia (ISMAI).

Relativamente ao nosso NE, parte integrante do departamento de EF, era constituído por três elementos, um grupo que contava com uma rapariga, que fui conhecendo ao longo desta viagem e dois rapazes, eu e o outro colega que já conhecia do primeiro ano de mestrado. Nunca estive preocupado com quem iria ficar no ano do estágio, uma vez que tenho facilidade em criar boas amizades com as pessoas. Com efeito, foi o que aconteceu com este grupo fantástico, onde se criaram laços fortes de uma amizade e de vivências que não irei esquecer. Um grupo criado a partir de três turmas diferentes do primeiro ano do mestrado, que caminhou junto para o mesmo objetivo. Gomes et al. (2019) referem que, dentro do NE, é possível identificar dificuldades e os possíveis meios de as superar.

Rapidamente percebi que o departamento de EF, mais precisamente este núcleo, passou a ser o meu porto seguro. Um grupo constituído por pessoas com quem podia contar nos bons e nos maus momentos e que me ajudou a ultrapassar as minhas dificuldades pessoais, um grupo onde partilhei sentimentos, opiniões, conhecimentos e experiências. No fundo, o nosso NE correspondia às características identificadas por Wenger (cit. por Gomes et al., 2019, p. 20); ou seja, “um núcleo de estágio que funcione como um grupo de afinidade, em que os elementos estão dispostos a participar em práticas específicas, que fornecem a cada um dos seus membros as experiências necessárias ao seu desenvolvimento pessoal e profissional e que, em conjunto, promovam o desenvolvimento do próprio grupo”.

Numa fase inicial, o NE passou por um período em que nos sentíamos algo desorientados, porém constatámos que “o núcleo deve tomar mais as suas próprias iniciativas e ser proactivo, indo ao encontro das informações” (Diário de Bordo, dia 27 de Novembro de 2019). A partir deste momento, a dinâmica e o funcionamento do NE começaram a destacar-se no colégio. No estudo de Martins et al. (2017), os autores reportam que o NE pode ser uma fonte de conhecimento que permite recolher informações e estratégias no que diz

respeito às atividades de aula. Ao longo do ano letivo, essa ideia estava fortemente presente, devido às características e aos conhecimentos individuais quanto às modalidades, o que possibilitou a criação de um ambiente de entreajuda e partilha. Esta vantagem de diferentes experiências e conhecimentos do NE facilitou a concretização do estágio. O bom entendimento entre todos os elementos do NE era um estímulo para otimizar o nosso trabalho, o que nos dava a sensação de que “devíamos aproveitar essa dita “química” para potencializar mais os nossos trabalhos e atividades, fosse em relação à prática pedagógica, fosse em outras tarefas” (Diário de Bordo, dia 27 de Novembro de 2019). O trabalho de grupo inicialmente passou pela seguinte fase:

“O trabalho de equipa do NE deve ser mais reforçado, tanto na comunicação como na partilha de informação.”

(Diário de Bordo, dia 7 de Janeiro de 2020)

Nóvoa (2009) refere que uma das competências de um professor passa pelo trabalho em equipa, de forma coletiva e colaborativa, havendo uma intervenção conjunta frente aos projetos educacionais. Desta forma, o trabalho em equipa ganhou um peso importante na realização das diferentes tarefas ligadas ao estágio, tornando o grupo mais coeso. O trabalho em equipa exige um esforço pessoal e baseia-se numa dinâmica de coesão e organização (Bauchetet e Colombat, 2017). Os mesmos autores afirmam que quem fala em trabalho em equipa, fala igualmente da necessidade de ter um espírito aberto, confiança, comunicação, aceitação dos outros e o sentimento de pertença. Na verdade, devo dizer que senti todos estes pontos mencionados pelos autores durante este ano, uma vez que tinha de ter uma abertura para as novas ideias sugeridas pelo NE e pelos outros professores do departamento, confiar no seu trabalho, principalmente na divisão das tarefas para as atividades extracurriculares. Além disso, era fundamental que se mantivesse uma boa comunicação dentro desse grupo, em que toda a gente falasse a mesma “linguagem”, aceitando as dificuldades e diferenças de cada um. Comparo o NE com a história d’ “os três mosqueteiros”, que conta as aventuras vividas no

século XVII em França, uma época em que sucederam uma série de alterações políticas, do poder económico e mesmo na cultura de sociedade. De certo modo, podemos comparar estas alterações com a nossa ‘aventura’ durante este ano letivo, no meio onde fomos inseridos, dentro da EC, uma vez que enfrentámos uma nova política, novas formas de gestão e organização de uma instituição escolar, em relação à qual se pode falar em poder económico, uma vez que é uma instituição privada, mas que tem o apoio financeiro do POCH. Além disso, descobrimos uma nova cultura, dentro de comunidade escolar. Finalmente, “os três mosqueteiros” têm o objetivo de atingir o posto de sonho que é ser mosqueteiro, no nosso caso, a luta para atingir o cargo de professor de EF. O nome enquadra-se também com o NE, uma vez que cada um de nós tem características diferentes, como acontece com os três mosqueteiros, tendo o seguinte lema: “um por todos e todos por um”.

Resumindo, “aucun de nous ne sait ce que nous savons tous ensemble”8

(Bauchetet e Colombat, 2017, p. 190). Numa fase inicial, o NE trabalhava de forma isolada dos restantes elementos do departamento de EF, mas com o passar do tempo a inclusão foi surgindo de forma natural.

A primeira vez que entrei dentro de sala dos professores obtive a seguinte sensação:

“Durante a reunião no departamento de desporto (…) senti nervosismo em estar presente numa sala de professores, ser visto como um futuro professor e perceber que é o primeiro passo de vida profissional”.

(Diário de Bordo, “Primeiras semanas” Outubro de 2019)

Desde o primeiro dia que fomos considerados docentes, havendo desta forma uma igualdade dentro do grupo, trabalhando todos para o mesmo objetivo. Barrère (2005) diz que o trabalho dos professores revela o estabelecimento de diretrizes para trabalhar em equipa, sendo necessário que toda gente esteja implicada. Às vezes, as diretrizes não eram bem especificadas, partilhadas e comunicadas dentro do departamento, chegando

8 Tradução do autor para: “aucun de nous ne sait ce que nous savons tous ensemble” –

algumas informações para certos colegas “às pinguinhas”. Nóvoa (1992) relata que a troca de experiências, a partilha de saberes e o diálogo entre os professores são fundamentais, em que cada professor tem um papel de formador e de formando. Esta dupla função de formador e formando devia ter mais ênfase dentro do departamento de EF, uma vez que tinha a sensação de que cada docente tinha as suas estratégias, entendimentos e conceções sobre o ensino e a EF. As planificações, o desenvolvimento das intervenções pedagógicas, a supervisão e mesmo a avaliação eram distintas e pouco partilhadas dentro do departamento de EF. Do meu ponto de vista, cada um seguia as suas orientações no ensino com a sua forma de trabalhar, fruto de uma acumulação entre a formação adquirida e a experiência vivenciada ao longo dos anos. De acordo com Feiman-Nemser (cit. por Matos, 2009), a formação e as conceções obtidas influenciam o processo de ensino- aprendizagem. O mesmo autor destaca cinco orientações concetuais, designadamente: tecnológica, prática, pessoal, reconstrucionista social e académica. Curiosamente, parecia-me que os professores do departamento com mais experiência na área utilizavam uma mistura académica e tecnológica, ou seja, um processo de transmissão do conhecimento centrado no professor, esperando o entendimento de parte dos alunos com um papel pouco ativo na aprendizagem, visando os resultados e o produto final. Por outro lado, os professores com menos anos de carreira, provavelmente com uma formação mais recente, utilizavam conceções direcionadas para a pedagogia crítico- social, por outras palavras, construir e preparar os alunos para a sociedade, possibilitando o desenvolvimento de emancipação, em que o professor tem um papel de “bússola” para orientar o aluno. Tudo isto para dizer que as conceções de cada professor fizeram com que também eu refletisse que tipo de professor queria ser, utilizando “um pouco de todos” para construir a minha própria visão sobre ensino de EF. Além disso, a função de formador e formando podia ter mais peso dentro do departamento, com a partilha das visões de cada professor, alimentando e alargando, assim, os conhecimentos de cada um, incluindo os do NE. Desta forma, as dinâmicas necessárias eram essa mesma partilha para favorecer o trabalho em equipa.

O modo como cada docente via o ensino da Educação Física era pouco visível nas partilhas, contudo a partilha de experiências entre todos os docentes contribuiu para o meu desenvolvimento profissional, designadamente ao nível da organização das atividades extracurriculares e, acima de tudo, para a afirmação do departamento de EF e do NE.

Pessoalmente, considero que ao longo de todo o ano letivo, o trabalho em equipa e o empenho de todos os professores nem sempre foi notável nas

várias dimensões, principalmente na organização das atividades

extracurriculares. Visto que maioritariamente o trabalho desenvolvido nesse aspeto foi pelos dois NE, os restantes professores podiam ter participado de forma mais ativa nesses processos. Por vezes, a divergência entre as diversas personalidades conduziu ao debate de opiniões distintas relativamente às organizações de certos eventos.

Não obstante o referido, sentia-se um relacionamento saudável entre todos os elementos do departamento de EF. As relações interpessoais eram bastante positivas, facilitando desta forma a integração no grupo. Por isso, trabalhar com este conjunto de profissionais não foi difícil, pelo contrário, tornaram-se colegas e “amigos” de trabalho com os quais podíamos contar em caso de dúvida. Como refere Barrère (2005), o convívio entre os colegas de trabalho pode estender-se para encontros fora do contexto de trabalho, o que aconteceu várias vezes entre o NE, bem como entre os outros professores.

De uma forma geral, os professores mostraram sempre apoio e disponibilidade para ajudar em quaisquer problemas. O bom clima e entendimento ajudaram-me a perceber o quão importante é haver esta ligação e química para potencializar a comunicação e o funcionamento de um trabalho de grupo. Adicionalmente, a partilha das experiências, conhecimentos e vivências contribuíram para o entendimento de trabalho de equipa e para o meu desenvolvimento profissional.

2.3.4 Os orientadores: “A bengala da viagem e a luz do percurso”