• Nenhum resultado encontrado

Os orientadores: “A bengala da viagem e a luz do percurso”

2. PARTE I: “Se a montanha não vai a David, vai David à montanha”

2.3 O contexto de intervenção

2.3.4 Os orientadores: “A bengala da viagem e a luz do percurso”

foram dois: o PC, a minha a bengala durante esta viagem; e a PO que, pela indicação de alguns “sinais”, foi a luz da orientação. Silva et al. (2017) referem que a preocupação do PC é que os estagiários percebam e experienciem a escola como um todo. Inicialmente, a falta de confiança, o medo de mostrar as minhas fragilidades e a ansiedade levaram-me a procurar, muitas vezes, o apoio e conhecimento junto do PC. Este professor foi um elemento fundamental ao longo de todo este processo, principalmente na fase inicial, em que o professor, com toda a sua transparência, falou comigo e me deu apoio

para ultrapassar esses momentos. De acordo com Cardoso et al. (2016, p.

136), “É grande a preocupação do PC com a gestão das emoções necessárias para desafiar e apoiar os estagiários na conquista da já referida autonomia. De entre os oldtimers, o PC é, por inerência, o membro que mantém uma maior proximidade com os newcomers, que acompanha de perto as suas alegrias e as suas angústias, que tem a incumbência de ajudar cada estagiário a ultrapassar as suas dificuldades concretas e a encontrar conscientemente, o seu lugar, o seu espaço de agência, o seu caminho de entre vários possíveis”. O PC conseguiu encaminhar-me dentro de profissão, explicando-me as diferentes facetas do que é ser professor, bem como mostrando a sua própria versão através das ações, atitudes e comportamentos exemplares que apresentou ao longo deste ano letivo. É de frisar que o PC sempre transmitiu a ideia de termos um olhar crítico em tudo que realizamos, mantendo ao mesmo tempo uma visão ampla e alargada dentro das nossas ações e intervenções no contexto escolar. O PC sempre demonstrou disponibilidade para ajudar, tirar dúvidas, ou mesmo dar apoio moral e emocional. Mesmo assim, houve momentos em que nos sentíamos perdidos e tínhamos de ir em busca da

informação, o que estimulou a nossa pro-atividade.

A relação entre o professor cooperante e os estagiários requer alternância entre proximidade e distância, o que leva à conquista de uma autonomia crescente (Cardoso et al., 2016). Foi desta forma que o professor nos

encaminhou ao longo desta viagem. Embora o PC tenha inúmeras funções enquanto profissional, sempre conseguiu adotar uma postura exemplar, encontrando sempre um equilíbrio nas diversas áreas onde devia intervir, sem desviar a atenção dos seus estagiários. Em todas as minhas intervenções no contexto escolar, apalpando aos poucos e de forma progressiva esta nova realidade, o PC foi a minha bengala e suporte ao longo deste processo. Quando eu perdia o equilíbrio, o PC sustentava-me e, mesmo quando estava cansado desta caminhada, foi um forte apoio.

Naturalmente que nós, enquanto estagiários, não éramos a única preocupação do PC. Silva et al. (2017) revelam que um PC tem uma dupla função na escola, ser professor de EF e orientador; além disso, está envolvido em cargos de coordenação. Realmente o PC ocupava várias funções dentro de instituição escolar, mesmo assim conseguia gerir com sucesso todo o seu trabalho. A sua forma de trabalho, com rigor e qualidade, mantendo sempre a calma mesmo em tempos difíceis, surpreendeu e mostrou-me como lidar em situações mais complicadas, uma vez que nem toda gente tem essa capacidade organizativa e o equilíbrio necessários entre trabalho e repouso. Desta forma, o PC foi uma boa referência enquanto professor e a vivência do dia-a-dia com ele, incluindo as conceções do ensino que defende, deu-nos uma imagem do que é ser um professor.

No que à reconstrução da identidade profissional dos estagiários concerne, Cardoso et al. (2016) indicam que se pode recolher elementos para a sua eventual edificação, recorrendo à análise das narrativas dos PC relativamente ao trabalho desenvolvido em contexto escolar, fruto das ações e das tomadas de decisões do PC. A imagem que o professor passou enquanto docente, responsável por uma variedade de funções, mostrando sempre uma solução para as mesmas e gerindo de forma equilibrada todo o seu processo profissional, deixou-me espantado, tornando-se, para mim, num exemplo a seguir. Neves (2007) diz que os PC têm uma importância determinante na formação dos estagiários, de tal forma que são recordados pelos mesmos e vistos como um modelo e referência profissional inesquecível. Hoje em dia, vejo o professor como um colega de trabalho e um amigo, devido à amizade

que se construiu ao longo de todo este percurso.

O PC não foi a única personagem a guiar-nos dentro desta viagem. Tal como Neves (2007) lembra, existem dois elementos fulcrais no processo formativo dos discentes, o PC e o supervisor institucional, neste caso a PO. O mesmo autor revela que cabe a ambos mobilizar e promover a transformação dos saberes disciplinares em saberes profissionais. A PO sempre mostrou disponibilidade e vontade de ajudar, preocupando-se com a nossa integração no contexto escolar, bem como com os problemas que enfrentávamos, principalmente na fase inicial.

“A professora queria saber o ponto de situação do nosso estágio, tendo sido abordados três grandes temas fundamentais que dizem respeito à nossa formação. Nesta fase inicial, a professora está preocupada com a dinâmica de grupo de estágio, a interação na escola, as áreas de desempenho e as questões problemáticas que encontrámos até agora, no nosso percurso”.

(Diário de Bordo, dia 27 de Novembro de 2019)

A PO teve um papel importante na nossa orientação no estágio, indicando sempre algumas ideias e “ferramentas de sobrevivência” nesta caminhada, sendo a lanterna e a luz da orientação. Com efeito, Costa et al. (2013) destacam a importância do orientador da faculdade ao assumir a responsabilidade na orientação dos estagiários. Na realidade, o estágio sem orientação não garante o entendimento do papel enquanto futuro professor (Carvalho Filho et al., 2008). Como relatam os mesmos autores, cabe ao PO supervisionar e conduzir o aperfeiçoamento do estagiário na melhoria de sua prática pedagógica. A professora orientadora sempre tentou transmitir as suas ideias com toda clareza, respeitando a individualidade de cada um e o contexto onde estávamos inseridos. Além disso, a forma como pensava e enfrentava as diversas problemáticas, que nós apresentávamos nas diversas sessões, sobressaía, distinguindo-se de um pensamento comum e banal, que outros professores têm.

A PO conseguiu “puxar por nós” e criar estratégias e discursos para refletirmos sobre as nossas intervenções no ensino, as aprendizagens dos

alunos, bem como as estratégias para chegar aos objetivos traçados, dentro de nossa realidade contextual. A PO tem como função auxiliar os estagiários a compreenderem a realidade do contexto, tentando resolver conflitos e solicitar um estado constante de reflexão, discutindo com os estagiários sobre o observado e o vivido (Costa et al., 2013). Os mesmos autores defendem que o orientador da faculdade acompanha e controla as diversas nuances ligadas à esfera do ensino e da aprendizagem do estagiário. Do meu ponto de vista, esse controlo é muito relativo; na minha opinião, a PO nem controlou muito, não por falta de interesse ou disponibilidade, mas para nos dar mais autonomia e assim crescermos dentro de profissão. Já Mesquita et al. (2012) afirmam que antigamente os orientadores geriam o desenvolvimento dos estagiários, mas atualmente contribuem mais para o desenvolvimento das capacidades de autossuperação. Por sua vez, Alarcão (2016) defende que não são estes professores que fazem ou mandam fazer; o seu papel é antes o de criarem condições para que os estagiários pensem e ajam de uma forma crítica. Senti e partilho a mesmo opinião deste último autor, uma vez que um supervisor não faz as tarefas por nós, surge antes como um guia no nosso percurso, mostrando as diversas vias que podemos seguir, cabendo-nos a nós decidir por onde queremos caminhar. Por outro lado, é de notar que a PO tem diversas funções, sendo por isso compreensível que a sua atenção não esteja apenas focada nos estagiários, muito menos a “fazer a papinha” aos novos profissionais de EF. Como tal, não é sua função estar sempre connosco, tão- pouco estar sempre na escola onde estamos inseridos. Neves (2007) recorda que o PO não está diariamente presente na escola de acolhimento dos estagiários, mas mesmo assim faz a ponte entre a instituição e os PC.

De acordo com Costa et al. (2013), os dois professores orientadores estão em constante articulação no processo de construção da profissionalidade, assumindo um lugar de relevo e ajudando o estagiário no processo de mobilização dos conhecimentos para a sua prática de ensino. A PO, enquanto luz de orientação ao longo deste ano letivo, contribuiu para o meu desenvolvimento e crescimento na profissão. Apesar de nem sempre estar presente por razões pessoais e externas, ajudou-me a ter um olhar mais crítico

frente ao ensino.

Será que em longas caminhadas, em momentos de tempestade e o céu cheio de nuvens, sem certezas de quando tudo vai passar, tanto a luminosidade como a luz estarão sempre presentes, ou devíamos desistir do nosso percurso por causa de situações exteriores, imprevistas e incontroláveis?

“Immer wenn du denkst es geht nicht mehr, kommt von irgendwo ein Lichtlein her.”9

Em síntese, tanto o PC como a PO foram peças fundamentais na minha orientação enquanto futuro professor. Desde o primeiro dia até o último dia do ano de estágio, contribuíram para todo o meu desenvolvimento pessoal e profissional, assumindo-se como referências que nunca irei esquecer. Mostraram-me diversos caminhos, dando-me a liberdade e autonomia de escolher o meu próprio caminho e encontrar o meu “eu” na profissão. Ambos contribuíram para alargar a minha visão sobre o entendimento do ensino e da EF, provocando e promovendo em mim um profissional crítico e reflexivo acerca da minha intencionalidade e ação pedagógica.

9 Tradução de autor: “Immer wenn du denkst es geht nicht mehr, kommt von irgendwo ein

3. PARTE II: ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DO ENSINO E