• Nenhum resultado encontrado

O desafio do acesso e da manutenção dos jovens na escola e na universidade

Tanto na Constituição, quando nas demais leis, o acesso e a manutenção das crianças, adolescentes e jovens são garantidos, entretanto ao passo que existem declarações e previsões legais, também existe a violação destes direitos, que ocorre de diversas formas, e visando a garantia dos direitos do homem, dentre os quais se encontram aqueles já citados, Bobbio (2004), tratava isso como um problema político:

O problema que temos diante de nós não é filosófico, mas jurídico e, num sentido mais amplo, político. Não se trata de saber quais e quantos são esses direitos, qual é a sua natureza e seu fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas sim qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes declarações, eles sejam continuamente violados.

O desafio do acesso e a permanência dos jovens nas escolas não estão simplesmente no ato de criar mais leis que garantam isso, mas sim em buscar uma forma de evitar a violação desses direitos, devendo ser esta violação considerada como um ato de violência, que

geralmente é direcionada aos que se encontram em situações de fragilidade e desvantagem, em uma sociedade marcada pela relação entre os desiguais. A sociedade brasileira ainda convive com alguns tipos de violência que deveriam ser extirpados, como é o caso da exploração do trabalho infantil, a exploração sexual das crianças e adolescentes, entre outros. (LIZANA, 2009).

Há muito tempo o trabalho infantil tem sido utilizado e na maioria das vezes as crianças são submetidas à semiescravidão, podendo ser encontradas em inúmeros locais, como no campo, nas plantações em geral, vendedores de rua, carregadores de carga, reciclagem de lixões, auxiliares no submundo do tráfico de drogas, entre outros. Além de ficarem em risco de vida constante, eles tem apenas uma renda que permite a sua sobrevida, dentro da miséria e opressão, confirmando assim a estreita conexão entre a pobreza, exploração precoce do trabalho e evasão escolar desta criança ou adolescente que se submete a essa situação. (SILVA, 1999).

A violência também é um fator que contribui para a evasão escolar, nas suas diversas formas, como a violência doméstica, a violência das ruas, e até mesmo dentro das escolas, ela tem afetado diretamente os adolescentes, Cardia (1997 apud MILANI, 1999, p. 107), afirma que essas crianças ou adolescentes que presenciam ou são vítimas de violência,

[...] têm mais dificuldades de leitura e compreensão de textos [...], menor capacidade de atenção e concentração em tarefas [...], são ainda mais apáticas, desinteressadas pelas normas. Têm mais problemas disciplinares, mais suspensões, piores notas, repetências [...] O mau desempenho escolar afeta a auto percepção de competência e motivação para as atividades escolares. Esses aspectos estão associados a uma baixa autoestima e à violência dentro das escolas.

Mesmo diante de tanta violência, Senna e Werhein (1998 apud LUZ, 1999, p. 42), dizem que

Ainda assim, notamos a ausência de uma discussão mais ampla destinada a reconhecer as causas da violência, a identificar e dar resposta às demandas, necessidades e inquietações de nossos jovens, a criar mecanismos institucionais de expressão e de diálogo, à diagramação de políticas que promovam as oportunidades para todos os jovens de nosso país. Cabe dizer que pensar o jovem implica tornar relevantes seus espaços, suas ideias e práticas. Implica, sobretudo considera-los atores com os quais é possível e necessário estabelecer uma relação dialógica, construindo assim um espaço

onde possam contribuir para a formulação e soluções de seus problemas que, em última instância, são também os nossos problemas, são questões de toda a sociedade.

Ligada aos demais fatores, a desigualdade social tem grande representação para o abandono das escolas, muitas crianças, adolescentes e jovens acabam expulsando a escola de suas vidas, criticando o sistema escolar, eles explicam que até gostariam de frequentar as aulas pelo símbolo social que isso representa, mas dizem que não vale a pena “perder” tempo com um conteúdo escolar desmotivador e afastado da realidade vivida por eles, e a partir daí, saem às ruas em busca de novas possibilidades, não aceitando assim, passivamente, o modelo de educação que lhes é dirigido. (LEITE, 1999).

Atualmente os índices de evasão e repetência atingem de forma considerável a escola pública, tornando perceptível a necessidade do emprego de esforços e recursos para possibilitar o enfrentamento do fracasso escolar e dos problemas educacionais, que somente pode acontecer quando os envolvidos no processo pedagógico passarem a refletir sobre os elementos históricos, assim como as relações socioeconômicas, políticas e culturais responsáveis por essa situação. É preciso ter em mente que o fracasso não é culpa do aluno ou da sua família, mas pode estar ligado a problemas emocionais, orgânicos e neurológicos. (FORGIARINI; SILVA, [S. d.]).

A ampliação do ensino obrigatório deve ser pensada e promovida, não se limitando apenas ao ingresso nas escolas, mas abarcando também o acesso a recursos materiais, políticos e culturais do local e do seu contexto, garantindo o acesso às estruturas e mediações do processo de escolarização, além dos bens culturais e a formação básica empenhada na emancipação pessoal e social de cada educando. (FREITAS, 2008).

A criação e oferta de vagas para todos que necessitam do ensino fundamental é necessária, entretanto, além disso, deve-se pensar na permanência do educando na escola, e isso nada mais é do que um papel do Estado, da sociedade e do grupo familiar, que devem se unir e buscar esforços para criar e proporcionar estratégias que obstem a evasão e a reprovação escolar, harmonizando assim a desigualdade social e individual de grande parcela da população. (KANTHACK, 2007).

A partir da década de 90, a educação tem sido alterada de forma significativa, o ensino fundamental foi universalizado, tornando-se obrigatório, houve também o crescimento do ensino médio, e uma facilitação no acesso ao ensino superior, que proporcionou um grande aumento no número de matrículas, embora este número ainda seja baixo, quando a situação brasileira é comparada com a de outros países, como os Estados Unidos e Coréia do Sul. (ANDRADE, 2012).

O aumento na busca pela universidade pode ser observado na tabela abaixo:

Inscritos no exame vestibular, por dependência administrativa1990-2000 ANO

DEPENDÊNCIA

FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL PRIVADA TOTAL

1990 442.943 373.471 65.147 1.023.937 1.905.498 1991 563.623 383.618 68.006 970.578 1.985.825 1992 569.367 398.955 76.539 791.998 1.836.859 1993 614.435 441.968 78.496 894.624 2.029.523 1994 682.977 523.750 85.642 944.654 2.237.023 1995 737.585 565.847 95.660 1.254.761 2.653.853 1996 740.520 549.318 94.805 1.163.434 2.548.077 1997 752.431 577.669 95.682 1.285.994 2.711.776 1998 857.281 629.801 104.201 1.266.733 2.858.016 1999 956.259 772.716 77.233 1.538.065 3.344.273 2000 1.129.749 951.594 59.044 1.685.906 3.826.293

Fonte: INEP (Em: www.inep.gov.br)

Para além do acesso ao ensino superior, outro desafio que deve ser enfrentado é o prolongamento da escolaridade dos jovens, para que eles consigam superar as outras etapas até chegar à faculdade, e para isso, atualmente existem muitas questões sociais e políticas no país que buscam a qualificação do cidadão e a expansão universitária. Hodiernamente já é possível visualizar a quebra de uma tradição de curta escolaridade nas famílias de baixa renda, assim como também a viabilidade de ascensão social. (BONEVAES; CARMO-OLIVEIRA; LEANDRO; TEIXEIRA; VIDAL, [S. d.]).

Documentos relacionados