• Nenhum resultado encontrado

O desafio do acolhimento integrado no auxílio à consolidação das

4 MÉTODO

5.3 Dados produzidos nas entrevistas

5.3.1 Dados produzidos com a chefe do ambulatório

5.3.1.2 Apresentação dos recortes das falas e análise do discurso da chefe do

5.3.1.2.9 O desafio do acolhimento integrado no auxílio à consolidação das

Entre os desafios da operacionalização do AI, a coordenadora do ProDia aponta para a importância da sistematização na troca de informações entre os membros da equipe. No entanto, vislumbra, nessa ferramenta, a possibilidade de ajuda no trânsito de dados entre os trabalhadores de saúde.

Eu acho que, todas essas áreas, a gente tem nove cursos trabalhando aqui, eu acho que eles tinham que convergir em uma ponte que é a escuta do usuário, ai todos se reuniam, e fala: “olha, o que eu vejo é isso. (Fragmento 19)

Então, eu acho que, essa coisa do acolhimento podia trazer isso. Essa coisa de ser o caminho para unir todo mundo, para as pessoas tentarem falar a mesma língua. Isso é o que ele pode contribuir para o Serviço. (Fragmento 20)

Pra articular isso bem, pro acolhimento funcionar bem, pra esse Ambulatório efetivamente ser interdisciplinar, porque eu ainda acho que ele é multidisciplinar, ele não é inter! Essas pessoas precisariam se reunir. Ou seja, todos precisariam de uma pós- consulta. (Fragmento 21)

Embora a abertura para passar a bola, o Acolhimento traz à tona a visualização dos desafios para seu bom funcionamento e, por consequência, para o bom andamento do ProDia. A coordenadora do Ambulatório aponta que a escuta realizada pelos diferentes trabalhadores do Serviço deveriam convergir no diálogo constante entre as áreas, visando à integralidade dos sujeitos atendidos. A “ponte”, significante evidenciado no Fragmento19 de sua entrevista, capaz de levar e trazer informações dentro da equipe, é vislumbrada como uma edificação possível de ser realizada com a ferramenta de acolhimento, como mostra o Fragmento 20. Para a coordenadora, a criação de um espaço de troca de informações é um ponto crucial para que a equipe alcance a interdisciplinaridade. No movimento de troca de informações, Magali destaca a relevância do preparo da equipe para realizar as discussões de casos.

Todos precisariam de uma pós consulta de cada dia. A gente já tentou fazer isso, em nossa reunião de equipe, mas o que a gente percebe é que o aluno da graduação e o recém-saído da graduação, ele não está muito preparado pra isso não. Ao invés dele trazer questões, pelo menos a gente fez isso umas dez vezes no máximo, as pessoas traziam muitas questões, digamos assim, da área dela, que sim, era uma coisa interessante para o Ambulatório, mas que começavam a se debater em pontos que diziam respeito, é, à vida pessoal do paciente. Eu particularmente parei de fazer isso porque eu acho que existia uma certa invasão da privacidade daquilo que o doente comentou com uma determinada pessoa, trazia para uma reunião de equipe como uma forma meio, meio grosseira e que a mim não me agradava [...] Ou seja, a coisa sempre caminhava pra uma coisa meio novelesca, e eu acho que a coisa não era isso. (Fragmento 22)

Obviamente ninguém está preparado pra isso. Chega nas outras áreas, você até tenta fazer o seu trabalho, mas ainda é: eu vou fazer o meu trabalho do jeito que eu aprendi no meu curso de graduação. No meu curso de graduação eu também não fui treinado pra abordar um médico, por exemplo. Ou se eu for abordar esse médico, eu não abordo esse médico, não no mesmo nível. É uma coisa que eu sinto. As pessoas abordam o médico como se fosse um ser diferente. Ele é um profissional dentro do Ambulatório, mas ele é um pouco diferente. Ou então eles passam assim: “ é porque os alunos da medicina são muito desligados, os alunos da medicina, eles não entram no Projeto”. Ou seja, ainda existe uma disputa do que é médico e do que não é médico. As pessoas ainda não conseguem focar no doente, focar no que a gente quer atender, focar no conhecimento daquilo e a partir daí formar realmente uma equipe. (Fragmento 23)

Eu acho que a equipe tem que crescer primeiro. Entender o que é a conversa interdisciplinar, entender o que é preservar um doente e não expor o doente em uma equipe, que às vezes, tinha vinte pessoas discutindo a vida de uma pessoa de uma forma meio leiga, digamos assim. Ai eu acho que dentro da academia isso não pode acontecer. Então eu acho que esse é o gargalo agora. [...] Existe uma confusão, por parte da maioria dos alunos, em saber o que é uma atividade de extensão. Talvez, muitos profissionais dentro da universidade não tenham muito essa ideia. O ensino é claro, a pesquisa é clara, a extensão fica uma coisa nebulosa. (Fragmento 24)

A troca de dados dentro do Ambulatório de Diabetes ainda é vista como insatisfatória por Magali. Essa insatisfação fica evidenciada nos fragmentos 22, 23 e 24, em que o Projeto é visto em uma posição limítrofe entre a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade. Para a melhora desejada, a coordenadora destaca a manutenção de um espaço formal de repasse de informações entre os trabalhadores do Ambulatório. Algo que já foi tentado pela coordenadora do Projeto, mas que, segundo ela, acabou se desvirtuando em comentários que invadiam a vida pessoal do atendido, afetando sua privacidade. A discussão “novelesca” do caso, apontada no Fragmento 22, guiava o debate em equipe para assuntos que, na visão da coordenadora, não eram relevantes ou pertinentes à reunião. Para a superação desse impasse, Magali destaca a importância do amadurecimento e formação da equipe, e repudia a postura

invasiva na discussão de casos dentro da academia, como aponta o Fragmento 24. Esse despreparo pode ser fundamentado no dito de Magali, quando sublinha a dificuldade dos alunos e professores da universidade em relação às atividades de extensão.

Ainda refletindo sobre a comunicação dentro do Ambulatório de Diabetes, Magali ressalta o repasse de informações entre a medicina e as demais áreas do programa, no Fragmento 23. Na fala da coordenadora, chama atenção a forma como ela identifica a maneira com que a equipe de saúde se coloca diante do médico em um momento de troca. Nele, a equipe não se põe no “mesmo nível” que o médico para abordá-lo, ficando subentendido seu posicionamento em um patamar de inferioridade. Dessa forma, mais uma vez, a possibilidade de quebra do modelo de atendimento médico-centrado, proposta pelo Acolhimento Integrado, foi colocada em cheque. No mesmo fragmento, a médica ainda aponta para o embate nas relações entre médicos e não médicos. Essa disputa, segundo a coordenadora, desvirtua a finalidade do tratamento, retirando o foco do atendimento do sujeito que procura o Serviço. Em sua fala, a coordenadora apresenta o médico como alguém que deve ser tratado de forma igual aos demais trabalhadores, destituído a relação médico-centrada nos cuidados em saúde.