• Nenhum resultado encontrado

O Processo de construção do acolhimento integrado no Ambulatório de

4 MÉTODO

5.2 O Processo de construção do acolhimento integrado no Ambulatório de

Para a implementação do Acolhimento Integrado no Ambulatório de Diabetes do HU-UFJF, primeiramente, foi criado, em junho de 2009, um grupo interdisciplinar de estudo, formado por acadêmicos, residentes e profissionais de saúde, que visava abordar as temáticas

acolhimento, integralidade e Saúde Pública. Após o período de levantamento bibliográfico,

estudos e debate, os membros da equipe elaboraram o Projeto de Implantação do Acolhimento Integrado. A proposta foi apresentada e debatida por toda a equipe e sua operacionalização foi testada durante o mês de agosto do mesmo ano. Nesse período, foram feitas as últimas modificações necessárias no Projeto de Implementação do Acolhimento. Depois de testada, a ferramenta foi colocada em prática, no mês de setembro de 2009, tornando-se a porta de entrada do Serviço. Vale ressaltar que a criação e a implantação do AI no Ambulatório de Diabetes se deram de forma distinta da concepção de Acolhimento do HU-UFJF. Esta concepção geral era até então desconhecida dos trabalhadores de saúde do Serviço. A Proposta do Acolhimento Integrado no Ambulatório de Diabetes foi planejada em concordância com as diretrizes da Política Nacional de Humanização (MS, 2008), os princípios do SUS, com destaque a integralidade (Mattos, 2009) e a concepção de “trabalho vivo em ato” de Merhy (2007, p. 31). Ele se concretiza como um comprometimento com o cuidado, a recuperação, a promoção e a prática de produção de saúde.

O objetivo principal do Acolhimento Integrado ao diabético é intervir sobre o modelo técnico assistencial do Ambulatório de Diabetes do HU-UFJF, através da reorganização do trabalho da equipe interdisciplinar e, com isso, melhorar a qualidade do atendimento ao diabético. Como objetivos específicos, pode-se citar: a supressão de ações repetitivas por parte dos membros da equipe; o acompanhamento e registro da evolução dos casos de forma mais clara; a busca de realização de um melhor atendimento à demanda dos usuários; o aprimoramento das práticas interdisciplinares; e a possibilidade de criação de ferramentas para avaliar a qualidade do serviço oferecido.

O Acolhimento Integrado foi dividido em Acolhimento Inicial e Acolhimento Retorno. O Acolhimento Inicial compreende a primeira consulta no Ambulatório. Sua maior diferença em relação ao Acolhimento Retorno está na ficha de identificação que inclui a data de nascimento do usuário, endereço, telefone, composição familiar e unidade primária de referência (Anexo 2). Em um primeiro plano, o Acolhimento Inicial no Ambulatório de

Diabetes diz respeito à oferta das diferentes áreas de atendimento. Muitos usuários que estão, pela primeira vez, em consulta no Serviço, não fazem ideia da diversidade de atendimentos possíveis. Nesse momento, a investigação norteia-se pelas perguntas elaboradas por cada uma das disciplinas atuantes no Projeto, buscando a identificação das necessidades de cuidado do usuário.

O Acolhimento Retorno (Anexo 3) busca avaliar o que mudou da última consulta até o presente momento e indagar como está o tratamento. Esta ficha possui um número menor de perguntas. Nessa modalidade de acolhimento, a equipe parte do princípio que aquele que demanda o Serviço já tenha conhecimento sobre as possibilidades de atendimento, embora ele sempre seja lembrado das áreas disponíveis no Ambulatório. Esse procedimento visa tanto indagar ao usuário por qual especialidade ele quer passar, quanto entender a razão de sua demanda.

Com a implantação do Acolhimento Integrado, houve alterações no fluxograma de atendimento aos usuários. A partir de sua operacionalização, todos os usuários que chegam ao Serviço para o tratamento do diabetes, seja para primeira consulta ou retorno médico, passam pelo Acolhimento Integrado antes do encontro com qualquer uma das especialidades.

Como foi pensado interdisciplinarmente, sua operacionalização também é interdisciplinar. O acolhimento pode ser feito por qualquer trabalhador da equipe de saúde, não se restringindo a nenhuma área em particular. Sua prática é pautada na escuta interessada dos integrantes da equipe, a fim de detectar a demanda de cada usuário e ressignificar a queixa do sujeito. Essa ressignificação da queixa pode ser entendida como o movimento de reconstrução da demanda, em que o profissional de saúde ajuda no direcionamento do tratamento tendo como norte o desejo do usuário. Esse movimento pode ser percebido quando, por exemplo, o usuário retorna ao Ambulatório pedindo atendimento médico por causa de dores e feridas no pé que não cicatrizam. Nesse caso específico, o atendimento não precisa ser necessariamente médico, sua demanda pode ser ressignificada e o atendimento encaminhado para o Serviço de Enfermagem do Ambulatório.

Em sua concepção, o projeto do Acolhimento Integrado buscou orientar a escuta do profissional de saúde para que ele se torne capaz de identificar o discurso do usuário “não como manifestação patológica que exige correção ou resposta imediata, mas como possibilidade de fazer aparecer outra dimensão da queixa que singulariza o pedido de ajuda.” (Figueiredo, 1997, p. 43). A preocupação do trabalhador de saúde deve se inclinar para o motivo do encaminhamento e retornar para sua responsabilização com o sujeito e sua queixa, interrogando a demanda e procurando compreender o sujeito para além dos sintomas

relatados. O trabalho, dessa maneira, se volta para a implicação do profissional de saúde com o caso, através da coleta de informações relevantes, com o objetivo de avaliação do caso e encaminhamento aos demais membros da equipe, de acordo com a necessidade de tratamento do usuário. Assim, o especialista que acolhe o usuário passa a se responsabilizar por sua escuta e pela busca de solução para o problema do sujeito acolhido.