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4. CONCEITOS DE SUSTENTABILIDADE

4.1. O desenvolvimento sustentável no meio ambiente urbano

A gestão do meio ambiente urbano representa um dos desafios mais complexos para a sociedade contemporânea, cada vez mais aglomerada e densa, pois não trata apenas de preservar os recursos naturais, mas também de assegurar condições de vida digna à população, evitando, principalmente, a exclusão social como conseqüência do desenvolvimento das cidades (SILVA, 2003a). Dentre os principais objetivos definidos na Agenda 21 em relação ao desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos, está o provimento de moradia digna a todos, reiterado fortemente na Agenda Habitat (ARAÚJO, 2003).

Segundo Bezerra e Fernandes (2000), principalmente após a Eco 92, foram firmadas as noções de sustentabilidade ampliada e sustentabilidade progressiva. A primeira anunciando justamente essa indissociabilidade entre os fatores sociais e ambientais, a fim de que as lutas contra a degradação do meio ambiente sejam enfrentadas juntamente com os desafios mundiais de pobreza; e a segunda apontando para a sustentabilidade não como um estado, mas como um

processo, sendo que o termo ‘progressiva’ não se refere de fato à prorrogação de decisões e ações ligadas ao desenvolvimento sustentável, mas sim à gradual adequação dos mecanismos e instrumentos que atualmente legalizam o desenvolvimento em bases insustentáveis. Essas noções, ainda segundo as autoras, possibilitam a combinação de duas importantes características da Agenda 21, o pragmatismo e a utopia.

De forma geral, o documento da Agenda 21 fez críticas ao modelo atual de desenvolvimento econômico, e propôs uma alternativa “justa e ecologicamente responsável, produtora e produto do desenvolvimento sustentável [...]: a democracia participativa, com foco na ação local e na gestão compartilhada dos recursos” (BRASIL, 2002 apud BRITO, 2008, p. 07).

A conferência Eco 92 consagrou, como já mencionado, a importância do papel das cidades no almejado desenvolvimento sustentável e os governos locais tornaram-se responsáveis por cumprir com esse papel através da criação e implementação das agendas locais, tendo como base, principalmente, as diretrizes traçadas pela Agenda 21 (ARAÚJO, 2003).

No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) coordenou a elaboração da Agenda 21 Brasileira, cujas diretrizes gerais, de acordo com Bezerra e Fernandes (2000) e Brito (2008) são: - Crescer sem destruir, indicando a necessidade de se conseguir o equilíbrio entre

desenvolvimento e preservação;

- Indissociabilidade da problemática ambiental e social, combinando estratégias eficientes e equilibradas para esses dois grandes desafios urbanos;

- Diálogo entre as estratégias da Agenda 21 Brasileira e as atuais opções de desenvolvimento, considerando tanto as diversidades regionais quanto as políticas federais como fundamentais na promoção do desenvolvimento sustentável nas cidades;

- Especificidade da Agenda Marrom, reconhecendo as particularidades e problemáticas concernentes ao ambiente urbano;

- Incentivo à inovação e à disseminação de boas práticas, afastando o caráter utópico do desenvolvimento sustentável através da valorização de práticas urbanas existentes;

- Fortalecimento da democracia, incentivando a prática da cidadania;

- Gestão integrada e participativa, flexibilizando a gestão e ampliando a noção de responsabilidade ambiental da sociedade;

- Foco na ação local, fortalecendo os municípios através da mudança no enfoque das políticas de desenvolvimento e preservação ambiental, substituindo, paulatinamente, os instrumentos de punição por instrumentos de indução e incentivo; e

- Informação para tomada de decisão, aumentando a consciência da população como um todo para as problemáticas urbanas, e dando subsídio de informação para a participação popular. Ainda em 1988, a Constituição Federal consagrou o direto ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem como o meio ambiente urbano, cabendo ao poder público e à coletividade preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988). Reforçado no Estatuto da Cidade – Lei no. 10.257 de 10 de julho de 2001 – o direito ao meio ambiente urbano

equilibrado foi inserido nas diretrizes de política urbana de forma mais clara e específica como direito à cidade sustentável, e traduzido como o direito à terra, à moradia, ao saneamento ambiental, à infra-estrutura urbana, ao transporte e aos serviços públicos, ao trabalho e ao lazer (SILVA, 2003a; ARAÚJO, 2003).

Outras diretrizes de política urbana do Estatuto da Cidade se direcionam ao objetivo de fomentar o equilíbrio do meio urbano como: o direcionamento da ordenação e controle do uso do solo voltado para a solução de problemas como a utilização inadequada dos imóveis urbanos e a deterioração das áreas urbanizadas; fortalecer e assegurar a efetiva participação da comunidade no planejamento e na gestão democrática da cidade; a adoção de padrões de expansão urbana compatíveis com os limites da sustentabilidade ambiental, social e econômica do município; a preservação e recuperação do meio ambiente natural e construído (ARAÚJO, 2003). Dessa forma, o Estatuto da Cidade traz contribuições ainda incipientes, mas relevantes na construção de cidades democraticamente planejadas e socialmente mais justas, associando-se diretamente com o desenvolvimento urbano capaz de atenuar os efeitos causados sobre o meio ambiente.

Segundo Araújo (2003), grande parte da degradação do ambiente urbano está vinculada com a realidade da pobreza existente no planeta. No Brasil, onde ainda é frágil a estrutura de fiscalização dos órgãos do Sistema Nacional de Meio Ambiente, os conflitos entre a preservação das áreas de proteção ambiental e os assentamentos habitacionais irregulares são críticos. A população mais carente, excluída do mercado formal de habitação, tende a ocupar áreas de fragilidade ambiental de forma irregular e sem a infra-estrutura necessária tanto para a obtenção dos recursos naturais quanto para o descarte dos resíduos sólidos e líquidos. Assim,

ocorre a proliferação desse tipo de assentamento, muito comum em cidades de países subdesenvolvidos, agravando cada vez mais os problemas ambientais no meio urbano.

Além dos problemas relacionados à pobreza, o modelo modernista-industrial de conformação da rede urbana brasileira, baseado na expansão por novos vetores em detrimento do aproveitamento da estrutura existente, consiste num padrão insustentável e ineficiente. Este modelo resulta na subutilização da infra-estrutura e no espraiamento da malha urbana, que representa visivelmente o desperdício do território enquanto espaço e dos recursos naturais, além das perdas em relação à identidade da cidade e da qualidade do meio ambiente urbano. O crescimento desordenado dos espaços urbanos vai contra a preservação do meio ambiente: o aumento da densidade populacional das cidades; a inadequação das escalas administrativas; e a falta de integração social alguns dos elementos que traduzem a desorganização urbana, que resulta na degradação de seu próprio ecossistema (BRITO, 2008).

Dessa forma, a expressão ‘sustentabilidade urbana’, pressupõe inicialmente o equilíbrio social, a provisão de infra-estrutura pública, a qualidade de vida, o fortalecimento de redes sociais e a participação popular nos processos de planejamento e gestão do ambiente urbano, que contribuirão para a busca das condições determinantes para a concretização do que seriam as ‘cidades sustentáveis’ (DROBENKO, 2006). Essa afirmativa, entretanto, deve servir muito mais para encorajar o desafio do que para desmotivá-lo por seu caráter utópico. Em longo prazo, o desenvolvimento urbano sustentável deverá resultar de um ‘pacto intergeracional’ (BARBIERI, 2006 apud BRITO, 2008), traduzido na preservação desses aspectos e no gerenciamento dos recursos, a fim de preservá-los para as gerações futuras.