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O design de investigação

2. O Acompanhamento da Ação Educativa

1.4. Opções metodológicas

1.4.4. O design de investigação

Os trabalhos empíricos têm sempre, implícito ou explícito, um design de investigação. Este diz respeito à sequência lógica seguida no processo de investigação e estabelece a articulação entre os dados empíricos e as questões que nortearam o início da investigação, até à redação das suas conclusões.

Yin define o design de um trabalho de investigação como

“um plano lógico para ir daqui para lá, onde aqui pode ser definido como o conjunto inicial de questões a serem respondidas e lá um conjunto de conclusões (respostas) sobre essas questões. Entre ‘aqui’ e ‘lá’ pode ser encontrada uma série de medidas importantes, incluindo a recolha e análise de dados relevantes” (2010:48).

Dada a natureza complexa dos fenómenos que se pretendia estudar no âmbito do estudo de caso, o design da investigação seguiu uma abordagem metodológica de natureza qualitativa. O estudo de caso de carácter qualitativo “procura estabelecer uma compreensão empática com o leitor através da descrição, às vezes uma descrição densa, transmitindo ao leitor a própria experiência transmitida” (Stake, 2012:54). A procura de significados complexos não pode ser simplesmente obtida retrospetivamente (Denzil & Lincoln, 1994), mas antes exige uma atenção contínua.

139 Diversos autores (Bogdan & Biklen, 1994; Bryman & Burges, 1994; Lessard-Hébert et al., 1990; Denzil & Lincoln, 1994; Yin, 2010; Stake, 2012) destacam a perspetiva holística e a ênfase no processo como as principais características da investigação qualitativa.

A institucionalização de diferentes mecanismos de avaliação tem proporcionado às escolas um diagnóstico das suas fragilidades e sublinhado a necessidade e urgência de estas implementarem medidas que se revelem eficazes e eficientes na melhoria do seu funcionamento e, consequentemente, dos resultados escolares dos alunos.

Concluído o primeiro ciclo do programa AEE (2006-2011) levado a cabo pela IGE, foi dado início, em novembro de 2011, ao segundo ciclo deste programa, com a introdução de algumas alterações ao modelo, face ao que foi desenvolvido no primeiro ciclo de avaliação, como sejam, possibilidade de recurso, a aplicação prévia de questionários de satisfação à comunidade, redução de cinco para três domínios de análise, indicação do valor esperado dos resultados académicos, introdução de um novo nível na escala de classificação, auscultação das autarquias em entrevista de painel específica e a obrigatoriedade das escolas apresentarem um plano de melhoria na sequência da avaliação externa.

A introdução do plano de melhoria pretende que a avaliação externa seja consequente e se traduza numa melhoria efetiva de cada escola, visando promover a apropriação dos resultados por parte da escola e a sua capacidade de iniciativa, devendo conter a ação que a escola se compromete a realizar nas áreas identificadas na avaliação externa como merecedoras de prioridade no esforço de melhoria.

Nesta linha, a IGEC tem vindo crescentemente a implementar metodologias de trabalho que suscitam a intervenção dos atores da escola como principais autores e intérpretes de medidas de melhoria do desempenho da organização educativa.

Assim, foi criada pela IGEC em 2013 a atividade de AAE, inserindo-se neste continuum de intervenção, centrando-se num trabalho de acompanhamento das estratégias implementadas por cada organização educativa, com especial enfoque nos mecanismos internos de coordenação e supervisão pedagógica do trabalho dos docentes.

140 Partindo da premissa assumida por Patton (2000) – a avaliação focada na utilização – propomo-nos analisar o plano de melhoria como meio de dar resposta às recomendações da IGEC e a influência deste plano na apropriação dos resultados da AEE por parte da escola, a sua capacidade de iniciativa e o impacte da implementação do plano na melhoria da escola. Procuramos ainda perceber a importância que a escola atribui ao acompanhamento prestado pela IGEC.

O presente trabalho de investigação desenvolveu-se em três grandes fases:

1.ª Fase – Construção do referencial teórico, normativo e metodológico (2013,

2014, 2015 e 2016)

Na primeira fase construímos um corpus teórico, normativo e metodológico nuclear para o estudo. Detivemo-nos nas teorias e modelos de avaliação e no impacte de sistemas de avaliação externa de escolas. Complementarmente, desenvolvemos um quadro referencial normativo sobre a legislação vigente acerca do sistema de avaliação do ensino.

2.ª Fase – Estudo Empírico (2014 e 2015)

Atendendo aos objetivos definidos, seguimos uma metodologia de análise eminentemente

qualitativa (Bogdan & Biklen, 1994; Denzin & Lincoln, 2005; Yin, 2010), envolvendo um

conjunto variado de práticas e materiais interpretativos. Desenvolvemos um estudo de

caso (Bogdan & Biklen, 1994, Stake, 2007; Yin, 2010) num agrupamento de escolas,

situado no concelho de Aveiro, que foi objeto de intervenção cumulativa das atividades da IGEC : AEE (segundo ciclo) e AAE. Tendo em conta que a investigadora integrou, na qualidade de inspetora, as equipas que desenvolveram aquelas atividades, este estudo de natureza qualitativa, estudo de caso, integrou o paradigma de investigação-ação.

Apoiados em Stake (2012), Bogdan & Biklen (1994) e Yin (2010), desenvolvemos o estudo de caso através de análise documental (do relatório da AEE, plano de melhoria, programa de acompanhamento, plano das ações de melhoria objeto de acompanhamento, instrumentos de monitorização das ações, relatórios intercalares e final do AAE, relatório de avaliação do plano de melhoria e outros documentos organizacionais) e de entrevistas semiestruturadas a atores privilegiados (nomeadamente aos elementos da equipa que elaborou o plano de melhoria, aos interlocutores do agrupamento no AAE, aos elementos

141 da equipa que elaborou o relatório de avaliação do plano de melhoria e aos elementos da direção). Para a construção dos guiões de entrevistas, seguimos os contributos de Bogdan & Biklen (1994), Stake (2007), Yin (2010) e Amado (2009).

Recorremos à técnica de análise de conteúdo (Bardin, 1977; Bogdan & Biklen, 1994; Robert & Bouillaguet, 1999) com a finalidade de “efetuar inferências, com base numa lógica explicitada, sobre as mensagens cujas características foram inventariadas e sistematizadas” (Vala, 2001: 104). A análise e tratamento dos dados realizou-se com recurso ao Web Qualitative Data Analysis (WebQDA), software para análise e tratamento de dados de natureza qualitativa. Criámos pastas de Entrevistas, Relatórios da IGEC,

Relatórios do Agrupamento e Outros Documentos e codificámos os dados de acordo com

as nossas questões de investigação.

3.ª Fase – Finalização (2014, 2015 e 2016)

Nesta terceira e última fase, procurámos: (i) correlacionar o modelo teórico com os dados recolhidos; (ii) elaborar recomendações que visem o aperfeiçoamento do programa AAE, particularmente o seu quadro de referência e a metodologia utilizada; (iii) tomar a decisão mais esclarecida e (iv) melhorar a atividade AAE, designadamente as inovações que poderiam ser introduzidas no sentido de tornar o acompanhamento por parte da IGEC mais eficaz e produtivo, concluindo a escrita da tese.

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