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O desporto e as lesões consequentes

No documento O uso de Diclofenac no desporto (páginas 60-62)

Apesar dos benefícios inerentes à atividade física, como o estado geral de saúde e aptidão física, a participação envolve alguns riscos. Na realidade, o risco de contrair uma lesão é bastante considerável, mesmo para os atletas que treinam e competem regularmente. De facto, a atividade física submete o atleta a acrescidos esforços físicos que podem ter efeitos negativos no seu desempenho físico, podendo surgir alterações no seu comportamento que sugiram a existência de problemas médicos.2,3

A dor desencadeada após a prática de atividades extenuantes surge como uma resposta do corpo ao esforço físico suportado, denunciando a falta de repouso que é necessária que ocorra a adequada cicatrização das estruturas lesadas. Inicialmente, a maioria dos atletas perante com os primeiros sinais e sintomas, inicia algum tratamento antes da visita ao médico, consumindo medicamentos não sujeitos a receita médica, nomeadamente contendo fármacos pertencentes à classe dos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs). Além disso, lamentavelmente, muitos atletas não permanecem afastados dos treinos ou das competições o tempo necessário para que tal aconteça, pelo que um retorno precipitado, antes que se restabeleça o equilíbrio músculo-esquelético, aumenta o risco de lesões.2,4-6

Embora muitas lesões não sejam graves, os atletas apresentam dor e incapacidade física temporária e, dependendo do grau da lesão, estas podem conduzir à redução da qualidade de vida e sobrecarregar economicamente o indivíduo e a sociedade devido aos custos de tratamento e diminuição de tempo no trabalho e/ou da atividade física.Além disso, uma lesão aguda pode desencadear efeitos a médio e longo prazo, como o desenvolvimento de artrite pós-traumática, dificultando o dia-a-dia e ciclo de treinos. 4,7-9

As causas que estão por detrás de uma lesão desportiva poderão ser: tipo de modalidade praticada, métodos de treino incorretos, anomalias estruturais, debilidade musculosquelética e desgaste crónico. Geralmente, os desportos de contato estão associados a um maior risco de lesões devido ao seu alto potencial de impacto. Na Europa, modalidades como o futebol, a ginástica, a aeróbica, o handebol, o hipismo e o esqui, estão associadas às taxas mais elevadas de lesões. As modalidades em equipa com bola contam com cerca de 40% de todas as lesões desportivas na Europa, com o futebol associado a cerca de 74% das lesões detetadas. Além disso, fatores de risco intrínsecos e extrínsecos, que atuam individualmente ou em conjunto, influenciam diretamente a frequência e a ocorrência de lesões desportivas. Os fatores intrínsecos podem ser biológicos ou psicológicos e permitem distinguir uma pessoa da outra, como por exemplo: a idade, o sexo e o historial de lesões. Quanto aos fatores extrínsecos, estes estão mais relacionados com as condições externas ou ambientais, pelo que estão associados ao tipo de desporto.2,7

Os programas de prevenção de lesões incluem exercícios de aquecimento, exercícios de alongamento, exercícios específicos com vista à redução de lesões globais e emprego de

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equipamento adequado incluindo calçado, palmilhas e protetores de diferentes partes do corpo.7,8

As lesões desportivas afetam várias das estruturas que compõem o sistema musculosquelético, o que inclui: músculos, ossos, tendões, ligamentos e cartilagem. Cada estrutura no corpo exibe diferentes propriedades biomecânicas e responde de forma diferente quando é aplicada uma carga sobre a mesma, sendo que uma lesão ocorre quando a carga aplicada excede os limites de tolerância da estrutura em causa. Porém, nem todas as lesões ocorrem como resultado da transferência aguda de energia, pelo que as lesões desportivas podem ser classificadas como lesões agudas ou lesões de esforço ou sobrecarga, dependendo do mecanismo incidente, da relação dos ferimentos subsequentes e da sequência temporal. As lesões agudas podem ser definidas pela localização ou pelo mecanismo que desencadeia a lesão, enquanto que as lesões de esforço ou sobrecarga resultam de movimentos repetitivos ou uso excessivo/esforço acumulado, dependendo do nível de atividade do atleta, e de um tempo de recuperação inferior ao necessário. As lesões mais frequentes são: hematomas, entorses, distensões, contusões e fraturas.3,7

As lesões podem produzir inflamação local do tecido. A inflamação é uma resposta natural que se desenvolve após irritação ou deterioração dos tecidos. As consequências resultantes da resposta inflamatória podem ser dor, inchaço, rubor, sensibilidade, sensação de ardor, mobilidade limitada e, se a lesão for suficientemente grave, incapacidade física. A inflamação local envolve a produção e libertação de mediadores pró-inflamatórios tais como prostaglandinas e citocinas. As prostaglandinas, além de promoverem o processo inflamatório, podem excitar ou sensibilizar vários neurónios resultando na perceção de dor.10,11

A patologia de uma lesão sofrida no decorrer da prática desportiva não é significativamente diferente de qualquer outro trauma, sendo igualmente importante estabelecer a atividade exata, a causa e o tempo de latência envolvidos. Para diagnosticar uma lesão, é necessário ter em conta duas questões: o grau da lesão e o tempo entre o incidente e a observação da área lesionada. De facto, se o atleta for examinado 24 a 48 horas após se ter lesionado, quando a dor, a inflamação e inchaço já se instalaram, não só os resultados dos exames realizados mas também os sinais e sintomas manifestados serão diferentes, o que poderá gerar falsos resultados e dificultar a determinação do correto diagnóstico. Além disso, é necessário questionar o atleta sobre a sua atividade desportiva e as condições em que se desencadeou a lesão: descrição detalhada das circunstâncias em que ocorreu a lesão, onde se experienciou a dor imediatamente, as sensações associadas à lesão, se se verificou inchaço da área e quão rapidamente se desenvolveu, se o atleta foi capaz de completar o jogo ou treino, se existem elementos particulares da atividade que exacerbam a dor, e se existem alterações recentes no programa de treinos e/ou o volume total de treino. Além das respostas do atleta, o exame físico, a observação do atleta em ação, a avaliação do equipamento do atleta, as análises laboratoriais e outros exames (radiografias, tomografia axial computadorizada, ressonância magnética, artroscopia, eletromiografia) podem ajudar a clarificar o diagnóstico e a identificar os fatores que possam ter contribuído para o incidente.

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A determinação do correto diagnóstico o mais cedo possível permite que o atleta receba o tratamento mais adequado, melhorando o prognóstico.2,8,12

No documento O uso de Diclofenac no desporto (páginas 60-62)