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Brasil e Nordeste

3.2. O Discurso do Turismo

O turismo é considerado um fenómeno em expansão no mundo, a cada ano mais pessoas viajam aumentando o volume de capital movimentado pela actividade. Considerado uma categoria de exportação, que exporta bens e serviços, o turismo ganha destaque estando atrás apenas das exportações de combustíveis químicos e produtos automotivos. Porém, para alguns países em desenvolvimento e algumas ilhas, turismo é considerada a principal actividade de exportação.(OMT,2006).

O turismo caracteriza-se como uma importante fonte geradora de renda, empregos e divisas para muitos países. No entanto, os benefícios obtidos através do turismo geralmente são vivenciados apenas de países desenvolvidos para países desenvolvidos e, em alguns países que se encontram à margem da economia (Aulicino, 1997).

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Cazes (1999) faz críticas relacionadas a discursos optimistas sobre números como receita, desembarques e geração de empregos. O autor chega a esta conclusão através da sua observação que embora os números apresentem um cenário favorável para a actividade, não implica haver necessariamente um indicativo de melhoria da qualidade de vida nas comunidades receptoras. Os empregos gerados pela actividade turística ainda estão muitas vezes relacionados ao sector informal de forma precária por motivos como a sazonalidade da actividade, absenteísmo, baixa qualificação, grande número de jovens e mulheres, entre outros.

A importância do turismo reside menos nas estatísticas que mostram, parcialmente, seu significado e mais na sua incontestável capacidade de organizar sociedades inteiras e condicionar o (re) ordenamento de territórios para a sua realização (Cruz 2000, p.08).

De acordo com a autora, a importância do turismo vai além das estatísticas, o turismo tem influência directa sobre a realidade das comunidades em que se desenvolve. Esta redefinição pode inclinar-se para o lado negativo ou para o lado positivo, o que dependerá directamente do tipo de planeamento que foi implementado.

O turismo como factor de inclusão social é defendido pelos Oito Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (OMD), que foram estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2000, para um grupo de 191 países, entre os quais encontra-se o Brasil. Com base neste documento a Organização Mundial de Turismo (OMT), como participante do Sistema da ONU, busca possibilidades de incluir o turismo como forma de reduzir a pobreza e proteger o meio ambiente. Este movimento teve seu início em 1999 quando a Comissão das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável incentivou os governos a explorar ao máximo as oportunidades proporcionadas pelo turismo para a erradicação da pobreza e protecção ao meio ambiente através da elaboração de estratégias com a participação de grupos interessados e da comunidade local.

O Ministério do Turismo percebe a importância da regulamentação da actividade turística através da sustentabilidade, “ou seja, que a actividade turística possa desenvolver-se sem prejuízos a sua matéria-prima, especificamente o património

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conceito de sustentabilidade”(Ministério do Turismo, 2005, p.12).

Uma das formas de turismo que é considerada como a maior geradora de impactos sejam eles positivos ou negativos é o turismo de massas. O crescimento deste tipo de turismo provocou inúmeros impactos na actividade turística, ao tratar a actividade como um negócio na busca por um retorno a curto prazo. Pode provocar danos irreparáveis nos destinos contribuindo para o aumento das desigualdades sociais, provocar a dependência económica das comunidades, além de descaracterizar as culturas locais.

Segundo Cooper et al. (2001), muitos locais no mundo já desapareceram mediante os impactos negativos provocados pelo turismo sofrendo danos irreparáveis perdendo lugar para novos destinos. Para os autores o planeamento e a gestão são indispensáveis para a protecção dos recursos, a preservação ambiental e a conservação social da localidade turística na sua forma original. Sem um planeamento adequado, as possibilidades da actividade turística gerar impactos negativos aumentam consideravelmente.

Porém, não se pode ignorar o facto de que o turismo também pode ser um grandioso factor para a valorização de lugares que não possuem importância para outras actividades económicas. Segundo Cruz (2000), o interesse crescente pelo turismo configura-o como solução para todos os problemas.

As inegáveis potencialidades do turismo no Brasil, representadas, entre outros factores, por um formidável conjunto de recursos naturais preservados, salubridade do clima, culturas e gastronomia, requerem políticas de desenvolvimento dessa actividade que implicam significativos investimentos dos sectores público e privado […] possibilitando a geração de empregos e divisas e a transformação do turismo em um mecanismo que contribua para a inclusão social das populações residentes nos destinos (Ministério do Turismo, 2005, p.5).

A sustentabilidade é indispensável para que o turismo se desenvolva de acordo com as necessidades das comunidades de forma positiva proporcionando o máximo de benefícios, torna-se necessário um planeamento com bases sólidas e com a efectiva participação da comunidade juntamente com os poderes públicos e privado. No caso do Brasil, é necessário tratar o turismo de forma descentralizada de acordo com as

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necessidades e especificidades de cada região, levando em consideração seus níveis de desenvolvimento, tendo como prioridades a redução das desigualdades regionais e a inclusão social através do desenvolvimento do turismo.

No Brasil, o raciocínio oficial sobre o turismo é que quem o produz é o Governo. Para Coriolano (2005, p. 53), “o discurso em torno dos lugares e do turismo é um repertório polémico, no qual o referente é disputado pelos interessados em uma relação tensa de alterações de sentidos, configurando-se como uma prática de resistência e afrontamento”. Para alguns o turismo possui um significado de degradador e para outros o turismo é sinónimo de desenvolvimento sendo neste segundo grupo que o Estado se encontra.

Muitas vezes a sociedade segue os padrões mercadológicos vendo o turismo apenas como uma actividade rentável, considerando unicamente o factor económico do turismo. Para o Governo a actividade turística está sempre relacionada ao pensamento do turismo como gerador de empregos e renda, actividade responsável pelo crescimento da economia, propõe o desenvolvimento sustentável, é considerado como uma actividade ecologicamente correcta, entre outras.

Segundo Fratucci (2007) para justificar os grandes investimentos da actividade turística, vista como prioridade nos planos de governo, especialmente nos estados nordestinos, marcando-se notavelmente através do paradigma do desenvolvimento sustentável.