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O DOCUMENTÁRIO – OTTÍLIA: MÚLTIPLOS OLHARES

Produzir o documentário (Anexo 2) não constituiu uma tarefa simples, em virtude da experiência dos participantes e dos recursos disponíveis, o que foi compensado pela determinação e força de trabalho dos alunos que se empenharam decisivamente na sua realização. Em alguns momentos, pode-se perceber certo não-engajamento da parte de alguns alunos, quase sempre associada a uma atitude associada à idéia de que o papel do professor é o de planejar e prover materialmente a atividade escolar, restando ao aluno, o papel de receber, ou ainda, de executor passivo de comandos. Ao depararem com a necessidade de se

organizarem em funções, consideraram a questão logística como um elemento complicador. Esta dificuldade inicial provocou algumas interrupções das atividades para que se pudessem reavaliar os procedimentos e o nível de engajamento dos envolvidos. Ao mesmo tempo possibilitou que se revelassem afinidades individuais para esta ou aquela função a ser assumida, segundo as tarefas executadas, ou seja, as dificuldades acabaram por servir como desafios a serem superados.

De início, foi feita uma pesquisa prévia de todos os assuntos que deveriam ser abordados pelo documentário, e a partir destes assuntos decidiu-se quais atividades mereceriam registro e quais pessoas deveriam ter suas falas registradas para compor o vídeo. A partir desta pesquisa foi elaborado um roteiro para o documentário (Anexo 3). A primeira parte (das atividades) foi bem mais fácil que a segunda (das pessoas). Os alunos obtiveram rapidamente as informações necessárias sobre as atividades curriculares e extracurriculares da escola, suas práticas cotidianas e projetos especiais, seus processos históricos, onde e quando se iniciou, de como foi construída naquele sítio específico e de que modo, e o porquê, foi escolhido o nome da professora Ottília Homero da Silva como denominação oficial da instituição. Já a segunda parte, em que deveriam ser identificadas, e convidadas, as pessoas que teriam suas falas inseridas no documentário, foi bem mais complexa. Disponibilidade de tempo, inibição e constrangimento foram relatadas como as principais causas de impedimento na participação, solucionado pela persistência dos alunos e dos que se engajaram na proposta.

Apesar de algumas dificuldades iniciais, as adesões foram gradualmente acontecendo, e superados os fatores limitantes como tempo e experiência. O documentário foi realizado no prazo pré-estabelecido, e cumprido o objetivo de que os alunos se responsabilizariam por todas as etapas do processo, menos a edição, que foi assumida pelo pesquisador. Esta particularidade provocou uma espécie de efeito colateral, e possibilitou que se fizesse uma análise comparativa entre o que caracterizava o vídeo-ficção experimental – “os cocô-rangers”, e o vídeo- documentário institucional, realizado como parte prática da oficina; diferenciando demandas do próprio grupo realizador e da instituição representada. Esta comparação foi, de certo modo, facilitada pelo papel desempenhado como editor do

vídeo-documentário. Assim, a partir do estudo comparativo dos dois objetos audiovisuais, apesar de similares e produzidos pelos mesmos indivíduos, foi possível elucidar alguns aspectos das proposições deste estudo de caso.

Buscando tornar a prática mais significativa em termos de sua operacionalidade, optou-se por orientar uma divisão funcional de trabalho, para que os alunos envolvidos pudessem compreender mais claramente a organização de uma produção cinematográfica de caráter profissional e, também, em função da necessidade de agilizar ações e operações necessárias ao desenvolvimento do projeto. Cada um dos participantes passou a responder por determinadas ações funcionais, respeitando suas afinidades e, delimitando, mas deixando sempre uma abertura para mudanças nas suas atividades, levando cada um a assumir, por vontade própria, uma determinada posição de sujeito em relação ao trabalho como um ato de responsabilidade consciente daquilo que deveria ser executado por ele, ou ela. (figura 35).

Figura 35: Imagens dos alunos produzindo o documentário

A equipe, formalmente composta, foi assim configurada:

a) Equipe técnica – repórter, câmera, filmadora, iluminador, técnico de som, maquiagem, figurino, cenografia e locação das gravações. Alunos: Ana Carolina; Adriano da Silva; Bianca Barros; Jeferson Benedito de Oliveira; Jéssica Ciopek; e, Mateus Crozetta;

b) Produção – textos, entrevistas, contatos e agendamentos, organização da produção. Alunos: Andressa Santos; Fabrício Abucarub; Miriã Emanuelle; e; Murilo César;

c) Captação de imagem e som. Alunos: André Luiz da Silva e Fábio André Bonfim. Outros alunos vieram a fazer parte da equipe, mas apenas

momentaneamente, na oportunidade que se apresentasse por acaso ou coincidência. A direção do documentário ficou diluída ao trabalho da oficina, como parte prática da proposição metodológica, em que se mesclava também com a pesquisa, de modo a considerá-la como um exercício coletivo orientado; e,

d) Edição: a princípio sem definição, mas que acabou sendo assumida pelo pesquisador, em função da exigüidade do tempo previsto para executar o trabalho.

O primeiro passo dado foi construir um roteiro aberto, uma vez que no caso de um documentário não se torna possível definir de antemão todos os elementos que comporão o vídeo final, diferenciando-se do ocorre, normalmente, num filme de ficção, em que se tem um roteiro mais fechado de seqüências, cenas e falas das personagens (há exceções). A partir das informações prévias, do levantamento das possibilidades, se construiu uma estrutura preliminar que indicava as cenas que deveriam ser gravadas. A busca por fotos e documentos antigos, e a criação do texto da narração foi um trabalho dirigido pela aluna Miriã Emanuelle, que já demonstrara habilidade literária em textos poéticos. Posteriormente os textos escritos foram narrados pelo aluno Fabrício, escolhido pelos participantes, em função da voz, entonação e dicção.

O roteiro constou de:

a) Abertura - com as logomarcas dos realizadores: Grupo Camélia e Gordo & Lapi produções;

b) Vinheta do documentário - seqüência de imagens com entrada do nome do documentário, chamada assinatura;

c) Introdução – histórico da Escola com narração gravada e algumas fotos; d) Primeiro grupo de entrevistas – sobre a professora Ottília Homero da Silva, com familiares, amigos e antigos colegas de trabalho;

e) Cenas do cotidiano do colégio – opiniões de alunos, professores e funcionários;

f) Segundo grupo de entrevistas – o colégio, ontem e hoje: depoimentos do diretor, pedagogos, professores, ex-alunos e funcionários;

g) Atividades extra-classe – projetos especiais em andamento na Escola: futebol de salão, teatro, vídeo, línguas estrangeiras, reciclagem, “bom aluno”, APMF, e outros;

h) Terceiro grupo de entrevistas – a escola que queremos: depoimentos da diretoria, professores, alunos, funcionários e comunidade;

i) Poema – clipe com fotos e imagens selecionadas do colégio e voz gravada; j) Créditos finais – imagem da escola como fundo para a exposição de todos os nomes dos participantes da produção do documentário, bem como das autoridades da referida instituição, e agradecimentos.

Para este pré-roteiro foi previsto um tempo máximo de 24 minutos.

Na prática, durante o processo de produção do documentário ocorreram inúmeras alterações no roteiro inicialmente proposto, principalmente em função das falas dos entrevistados. Não havendo, neste primeiro momento, tempo hábil para refazer as imagens e algumas entrevistas, o documentário foi editado contando com que havia sido captado até o início do mês de novembro de 2007. A apresentação do produto acabado deveria acontecer no dia 20 deste mesmo mês.

Aproveitando este fato, tomou-se a decisão de propor a apresentação de uma primeira versão do documentário à comunidade interna do colégio, submetendo-o ao julgamento da instituição como um todo, nas pessoas de seus alunos, professores, funcionários, comunidade e direção, de modo que fizessem uma avaliação crítica do objeto, sob a forma de um questionário de recepção (Anexo 3); e então, a partir disso, se re-elaborou o documentário para uma segunda versão, em que puderam ser corrigidos os “desvios” percebidos e apontados na primeira recepção.

Um dos momentos mais instigantes da produção do documentário foi a escolha de sua denominação. Dando continuidade à idéia de que tudo deveria ser decidido coletivamente, propôs-se aos participantes da atividade a realização de uma “brain storm”, nome dado em publicidade a um momento em que se colocam aleatória e seguidamente idéias sobre um determinado tema de que se quer tratar, como uma “tempestade de idéias”, a escolha do nome de um produto por exemplo. E assim, foram apresentadas diversas sugestões de nomes que compuseram uma lista (que infelizmente se perdeu), de onde, depois de um animado debate, em que se alternavam o sério e o jocoso, configurou-se o nome: “Ottília: múltiplos olhares”. Esta denominação, concluiu-se, traduzia de forma adequada o sentido de diversidade e multiplicidade de olhares que os produtores do documentário se propunham lançar sobre a Escola. Assim, como escreveu a aluna Miriã Emanuelle:

“(...) Colégio que não será mais o mesmo, depois que o virmos de vários olhares, depois que virmos sua verdadeira face. Ottília: o meu, o teu, o nosso colégio”.

5 A ANÁLISE DAS EVIDÊNCIAS