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O edifício esportivo segundo o parque temático

1.3 Cinco versões de estádios

1.3.3 O edifício esportivo segundo o parque temático

O entretenimento familiar assumiu novos conceitos a partir da década de 1960, com o lançamento de Disney World. Com a criação do parque temático, Disney lançou a ideia de que as estruturas de entretenimento poderiam ser idealizadas para toda a família. A Disneylândia é a materialização de um mundo de “faz de conta”, o simulacro de uma cidade americana idealizada, com todas as estruturas comuns ao ambiente urbano: prefeitura, supermercados, polícia, semáforos, ruas e casas com cercas pintadas de branco. Mas, além disso, este é o local onde famílias inteiras poderiam passar seus dias de descanso, sabendo que estariam seguras, rodeadas por estruturas que proporcionariam conforto, segurança, restaurantes e um grande número de atividades.

De maneira contrária, durante o mesmo período os estádios de futebol eram compreendidos como estruturas destinadas praticamente ao público masculino, excluindo, assim, mulheres e famílias. Dessa forma, os arquitetos envolvidos na concepção de edifícios esportivos começaram a perceber que, para o esporte se tornar uma atividade de entretenimento capaz de competir com os parques temáticos e outras estruturas de lazer, eles teriam de se adequar a essa nova realidade oferecendo aos usuários segurança, salubridade e conforto. O novo estádio teria de responder ao desafio imposto pelos parques temáticos. Assim afirma Sheard (2004, p. 103) quando trata dos estádios de terceira geração:

A terceira geração de estádios surgiu no principio da década de 1990, com o desenvolvimento de estruturas capazes de atender a toda família. A prática esportiva era o foco principal dos edifícios, mas não a única atração. Com isso, também mudou a principal fonte de renda dos clubes, que deixaram de lucrar com a os ingressos vendidos em dias de jogos para se beneficiarem das vendas de produtos

esportivos com suas marcas e dos direitos televisivos vendidos a companhias de telecomunicação. (Tradução nossa).9

Em um parque temático qualquer, as famílias iriam encontrar um grande número de banheiros limpos, restaurantes e lanchonetes, juntamente com uma rede de hotéis pronta para acomodar os visitantes e conectá-los a meios de transportes eficientes. Em outras palavras, o público-alvo era a família e, dessa forma, os edifícios esportivos deveriam oferecer estruturas similares para almejar o mesmo público. Este foi o estímulo que deu origem à terceira geração de estádios.

Com isso, profundas mudanças ocorreram dentro e fora dos estádios, que a partir desse momento reuniam uma gama de estabelecimentos e serviços que proporcionavam entretenimento para os espectadores antes e depois do jogo. Ir ao estádio passou a ser um programa para a tarde inteira e não apenas para as poucas horas de duração de uma partida.

Outro fator determinante para as inovações nos edifícios esportivos foi o aumento de incidentes violentos ligados ao comportamento agressivo dos espectadores e as más condições de segurança dos estádios. Após um grande número de incidentes e acidentes que levaram a morte de várias pessoas, em janeiro de 1990 foi publicado pela justiça inglesa o relatório Taylor, um documento que dava um parecer sobre as condições atuais de segurança dos estádios ingleses e determinava novas diretrizes de segurança a serem seguidas pelas edificações e a adoção de estádios onde os espectadores permanecessem sentados em assentos individuais.

O relatório elaborado pela justiça inglesa sobre as mortes ocorridas em Hillsborough, publicado em janeiro de 1990, recomendou novas regulamentações de segurança e a introdução do estádio onde todos os espectadores permanecem sentados. Em um período relativamente curto de tempo, tornou-se obrigatório que, nos principais campeonatos, todos os espectadores assistissem aos jogos sentados. Essa medida foi importante para romper a ligação entre os hooligans10 e um

determinado clube de futebol, pelo menos no interior dos estádios. (SHEARD, 2004, p. 111, tradução nossa).

Astrodome11 – Houston, EUA, 1965

A construção do estádio Astrodome foi concluída em 1966. Localizado na cidade de Houston, o edifício trazia inovações que o transformavam em um marco mundial para sua época. O estádio foi o primeiro edifício esportivo totalmente coberto da história. Em seu interior o edifício trazia poltronas acolchoadas para os espectadores e 53 camarotes exclusivos. No lugar do comum placar eletrônico o estádio possuía um telão, que, além de informar o resultado dos jogos, trazia uma série entretenimentos para os espectadores presentes.

O edifício possui uma cobertura arredondada, composta por painéis semitransparentes, de cor clara, montados sobre uma malha metálica que cobria todas as dependências do estádio. Porém a luminosidade que atravessava os painéis tornava difícil a visualização de bolas altas. Assim os painéis da cobertura tiveram de ser pintados e o estádio passou a depender completamente da iluminação artificial. Para iluminar o campo de jogo e as dependências internas do estádio era necessária a utilização de energia suficiente para iluminar uma cidade com 10 mil habitantes

O ponto mais alto da cobertura do estádio está a uma altura equivalente a dezoito andares e a forma circular do volume principal do edifício possui mais de duzentos metros de diâmetro. O campo de jogo está situado oito metros abaixo do nível da rua. O edifício foi o primeiro a utilizar um sistema inflável que mudava as características do gramado artificial, de acordo com o tipo de jogo ou evento. Por ser hermeticamente fechado, o estádio possui um sistema de ar-condicionado central que circula cerca de oito milhões de metros cúbicos de ar por minuto. Até os dias atuais, o Astrodome ostenta o título de maior sala climaticamente condicionada do mundo. A concepção original do estádio previa a utilização de grama natural no campo de jogo, porém a grama não resistiu à alteração feita na cobertura, para conter a luminosidade, e teve de ser substituída por uma espécie de grama sintética chamada Astroturf. Dado seu grande espaço interno, o estádio tornou-se um polo de diversão, abrigando uma infinidade de eventos e entretenimento, como rodeios, concertos musicais, shows de acrobacias e até mesmo corridas de motocicletas.

11Koolhaas (2001, p. 558); Sheard (2004, p.108). Disponível em: www.ballparks.com. Acesso em: 20 nov.

No final da década de 1980, o Astrodome passou por um processo de expansão que aumentou a sua capacidade interna, rampas foram incorporadas ao corpo circular do edifício e uma gama de telas foi instalada no interior do estádio. As telas estão conectadas a diversos meios de informação, trazendo uma variedade de notícias e entretenimento aos espectadores ao mesmo tempo em que esses assistem aos eventos.

O Astrodome é um dos principais representantes dos estádios americanos. Apesar de ter sido construído há mais de quarenta anos, o estádio determinou uma nova tipologia de edifícios esportivos em solo americano, em que o edifício é capaz de receber inúmeros tipos de atividades voltadas ao entretenimento do público presente.

De acordo com esse novo conceito, o estádio de futebol se torna um equipamento para toda a família, lançando mão de tecnologias que garantam um ambiente interno artificial, porém agradável aos espectadores12. No caso específico do Astrodome, o estádio assumiu

proporções impactantes, e números o transformaram em uma referência mundial em termos de segurança, conforto e entretenimento.

12 A cúpula do estádio Astrodome possui 196 m de comprimento, 63 m de altura, um sistema de carvão ativado

que executa a filtragem do ar e um campo de grama sintética feito manualmente chamado Astroturf. A temperatura é constante, 23º C, com a umidade do ar em 50%. Disponível em: <www.ballparks.com>. Acesso em: 20 nov. 2011.

ASTRODOME – HOUSTON, EUA, 1965 Dados do edifício: Ano de construção: 1965

Capacidade de público: 62.439 Autor do projeto: Roy Hofheinz Expansões: 1866, 1970, 1980

Website: www.reliantstadium.com

Proprietário:

Reliant Energy Home

Partido Arquitetônico

O estádio Astrodome foi concebido para abrigar não apenas partidas de beisebol ou de futebol americano, mas também outros tipos de eventos voltados para o entretenimento. Assim, o estádio é composto por um volume arredondado de duzentos metros de diâmetro e uma cobertura arredondada de altura equivalente a um edifício de 18 andares.

Linguagem Arquitetônica

Visualmente o Astrodome é marcante pela forma circular do volume único que constitui o edifício, assim como pelas linhas arredondadas da cobertura em cúpula. O volume principal do estádio também é marcado pela repetição de colunas que dão ênfase ao desenho circular do prédio.

Implantação

O estádio foi implantado em uma zona suburbana da Houston, de ocupação rarefeita, porém servida de grandes vias de acesso de veículos. Com o passar dos anos a região foi tomada por condomínios residenciais, e ocupações comerciais.

Imagem 7- Vista aérea do edifício . Fonte: http.www.flickr.com. Acesso em 30/09/2012.

Sistema de cobertura

O edifício possui uma cobertura arredondada, composta por painéis semitransparentes, de cor clara, montados sobre uma malha metálica que cobria todas as dependências do estádio. Mais tarde, em decorrência da alta temperatura, os painéis da cobertura tiveram de ser pintados e o estádio passou a depender completamente da iluminação artificial.

Sistema Estrutural

O sistema estrutural do estádio é composto por colunas em concreto, localizadas sob os lances de arquibancadas, e no perímetro da edificação. Assim, o sistema estrutural localizado no perímetro do estádio recebe as cargas provenientes da cobertura arredondada.

Multifuncionalidade

O estádio Astrodome é constituído de um grande espaço interno possibilitado pelas soluções formais utilizadas no volume principal do edifício e na sua cobertura. Dessa forma, o estádio se configura como um grande espaço destinado a qualquer atividade voltada ao entretenimento. Por ser completamente fechado, o edifício permite a realização de quaisquer modalidades de eventos, ignorando as adversidades climáticas locais.