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2.5 O estádio contemporâneo e a sua relação com os sistemas de mobilidade urbana

2.5.3 Os Jogos Olímpicos de Atenas, 2004

As Olimpíadas de 2004 representaram uma grande oportunidade para que Athenas estabelecesse um processo de reestruturação urbana, que tinha como principal objetivo o desenvolvimento dos sistemas de transporte de massa da cidade. Dessa forma, por meio da localização das instalações esportivas em áreas pouco desenvolvidas e a implantação de um plano de expansão dos sistemas de transporte público, a cidade buscava conectar as regiões periféricas a sua área central. Com isso, a cidade buscou atender às expectativas do COI, assim como extrair o máximo de benefícios possíveis dos investimentos feitos na construção de cem quilômetros de sistema viário, 23.6 quilômetros de linhas de trens de superfície, 32 quilômetros de trens suburbanos, novas estações de trens e um novo sistema de controle de tráfego.

A organização dos jogos de Atenas decidiu, desse modo, não concentrar o estádio e as demais instalações olímpicas em um mesmo local, como no caso de Sidney. As estruturas esportivas foram implantadas em dois complexos principais: Oaka, onde estava localizado o Estádio Olímpico de Atenas, e o complexo esportivo Faliro. Os dois principais complexos esportivos foram propostos em pontos opostos, ao norte e ao sul da malha urbana da cidade. O Estádio Olímpico foi implantado em uma região a nordeste do centro de Atenas, em uma área onde já existiam instalações esportivas e o complexo Faliro, localizado a sul, próximo à costa da cidade.

Essa decisão configurou a necessidade de estabelecer vetores de mobilidade conectando esses dois pontos da cidade, e que portanto acessariam a congestionada região central de Atenas. Com isso, grandes investimentos foram feitos na expansão da única linha do metrô de Atenas em 1997, que fazia a conexão norte-sul da cidade.19

Portanto, a linha de metrô existente foi estendida conectando assim o Estádio Olímpico ao sistema de metrô. Além disso, duas novas linhas de metrô foram criadas, juntamente com um sistema de ônibus elétricos que ligavam a região da costa ateniense ao centro da cidade. Por último, o sistema de trens suburbanos ganharia uma nova linha circular, que conectaria o novo aeroporto e as regiões suburbanas ao centro da cidade.

Com isso, durante os Jogos Olímpicos a acessibilidade de profissionais de mídia e atletas ocorreu de forma eficiente, e o plano de expansão do transporte de Atenas atendeu à demanda gerada. Assim como nos Jogos de Sidney, a conexão entre o Estádio Olímpico e as linhas de transporte público possibilitou que o acesso da massa de espectadores às competições acontecesse apenas por meio dos sistemas de transporte público. Para garantir a acessibilidade ao estádio, mesmo em momentos de grande demanda, foi criado um sistema temporário de ônibus gratuitos para passageiros com entradas para o Estádio Olímpico, partindo das principais estações de Atenas. Esses ônibus tinham acesso garantido às competições, mediante faixas exclusivas, que foram temporariamente criadas em vias arteriais que levavam ao estádio e a todos os locais de competições.

19 A conexão norte-sul que era importante para os Jogos já existia na forma da única linha de metrô operando no

momento da candidatura de Atenas ao avento. Convenientemente essa linha conectava duas das três áreas esportivas previstas para os Jogos (KASSENS, 2009).

Os Jogos de Atenas foram de grande importância para o seu sistema de transporte público. A necessidade de conectar grandes equipamentos esportivos à cidade, como o Estádio Olímpico, determinou que grandes investimentos fossem feitos no sistema viário, linhas de metrô, trens suburbanos e transporte de superfície. Com isso, como afirma Bovy (2007), a cidade pôde recuperar 25 anos de deficiências no seu transporte público nos sete anos entre a escolha da cidade e o início dos jogos.

No entanto, como citado anteriormente, os investimentos feitos em estádios contemporâneos e sistemas de transporte tem de ser conjugados com o planejamento urbano da cidade no longo prazo. Os Jogos de Atenas representaram grandes avanços no sistema de transporte público da cidade, porém críticos afirmam que, após os Jogos, não existiu continuidade ao desenvolvimento de alternativas ao automóvel particular. Com isso, nos últimos anos a cidade apresentou altos níveis de congestionamento em sua região central, em níveis mais altos que aqueles obtidos antes dos Jogos de 2004.

Imagem 18: Oaka, complexo onde foi contruído o Estádio Olímpico de Atenas para os Jogos de 2004. Fonte: Google Earth

A falta de um planejamento no longo prazo também trouxe críticas às instalações esportivas construídas para as Olimpíadas. Especialmente em um momento de profunda crise econômica, grandes questionamentos são feitos acerca da utilização das instalações esportivas após os Jogos Olímpicos.

O Estádio Olímpico chama a atenção pelas soluções estruturais e pelo sistema de cobertura, no entanto, não possui soluções que o transformem em um equipamento multifuncional. Mesmo assim, o edifício transformou-se em um ponto de atração turística e de eventos musicais ao longo do ano, apesar de as atividades e os eventos que acontecem no Estádio Olímpico e em seu entorno não cobrirem as grandes quantias gastas na manutenção de todo o complexo. Além do Estádio Olímpico, outras instalações encontram-se subutilizadas ou até mesmo completamente fechadas desde o fim das Olimpíadas em 2004. Com isso, tais instalações tornaram-se indesejáveis ruínas contemporâneas em meio aos monumentos gregos da antiguidade clássica.

Imagem 19: Esquema de transporte sobre trilhos desenvolvido para em Atenas para os jogos olímpicos de 2004. Bovy (2007). Disponível em: http://mobility-bovy.ch. Acessado em: 09/12/2010)