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O edifício esportivo segundo o poder do capital

1.3 Cinco versões de estádios

1.3.4 O edifício esportivo segundo o poder do capital

Com o passar dos anos, tornou-se claro que os estádios de futebol eram estruturas capazes de gerar grandes quantidades de recursos financeiros se o projeto, o orçamento e a administração dos clubes trabalhassem de forma integrada.

Dessa forma, a quarta geração de estádios é um resultado direto das demandas estabelecidas pelo advento da TV via satélite e do interesse de grandes corporações por times e campeonatos como forma de investimento.

No final do século XX o processo de globalização permitiu que grandes empresas explorassem outros mercados em busca de lucratividade. Mas foi no esporte, e mais especificamente no futebol, que essas empresas encontraram uma grande oportunidade de explorar um produto aceito mundialmente. A evolução dos meios de comunicação via satélite permitiu que eventos esportivos pudessem ser acompanhados pela televisão, ou pela internet, em horários compatíveis com os expedientes de trabalho da população.

No entanto, a evolução da transmissão esportiva e as alterações geradas em jogos e campeonatos, em consequência da participação de grandes corporações na organização dos times, não afastaram o público dos estádios de futebol, ao contrário, as empresas entenderam que aliar seu nome à imagem de um estádio repleto de espectadores poderia representar um benefício para os seus objetivos comerciais. Assim, o programa dos edifícios esportivos de quarta geração buscou criar o palco necessário para a transmissão do evento esportivo real, para o estádio virtual, difundido ao redor do globo pela transmissão via satélite.

Os estádios tornaram-se menores, mais acessíveis e com soluções que permitem a instalação de dezenas de câmeras e quilômetros de cabos ópticos que transmitem a partida para bilhões de telespectadores espalhados pelo mundo, como afirma Sheard (2004, p. 114), quando trata da teoria das cinco gerações de estádios:

A quarta geração de estádios é um resultado direto das demandas das TVs via satélite. A programação das empresas de televisão é montada de forma que um jogo de futebol com duração de noventa minutos ou um jogo de Rugby com duração de oitenta minutos se torna também um programa de televisão, com replays, comentários, análises e programas de críticas esportivas após o jogo. O jogo de

baseball com seus innings e o futebol americano com o jogo dividido em quartos

enquadraram às necessidades dos canais de televisão. Os “tempos técnicos” foram criados nos jogos do futebol americano apenas com fins comerciais. (Tradução nossa).

Além de estar conectado a redes de transmissão via satélite, esses edifícios passaram a agregar ao seu programa outros usos que beneficiassem a sua lucratividade como hotéis, edifícios de escritórios, restaurantes e áreas comerciais que se valiam da mídia esportiva como sua principal forma de propaganda. Com isso o edifício transformou-se em um centro comercial, que fazia do esporte o seu principal meio de divulgação.

Porém o estádio de quarta geração não se valeu apenas da ascensão do esporte como propaganda, mas do caráter tecnológico empregado aos edifícios patrocinados por grandes empresas. O impacto causado pelo avanço tecnológico de um edifício esportivo na mídia e no público em geral passou a ser uma prática comum entre as arenas esportivas. Como resultado dessa prática, surgem estádios cujo nome do edifício é o mesmo da empresa que patrocinou a sua construção.

Apesar de tecnologicamente avançados, esses edifícios na maioria dos casos não apresentavam um partido arquitetônico expressivo plasticamente, assim como não

estabeleciam uma relação direta com suas cidades.

O estádio de quarta geração é um equipamento comercial, onde o poder do esporte de atrair multidões é posto a serviço do lucro. Nesse sentido, essa tipologia de estádio é característica, por apresentar espaços internos trabalhados, com soluções inovadoras que conciliam uma variedade de funções, por conta dos diferentes usos comerciais, utilizando o ambiente esportivo e suas atividades como atração.

Reebok Stadium13 – Bolton, Inglaterra, 1997

O Reebok Stadium foi implantado na região de Bolton a oeste de Londres, em uma área de pouco desenvolvimento urbano. O estádio apresenta soluções arquitetônicas arrojadas que permitem ao edifício destacar-se em relação ao seu entorno imediato.

Um dos objetivos do partido arquitetônico adotado foi a flexibilidade da edificação, visando permitir desenvolvimentos futuros, como ampliações ou incorporações de outros tipos de edifícios ao corpo principal do estádio sem que isso viesse a comprometer a harmonia

13 Sheard (2004). Disponível em: <www.bwfc.premiumtv.co.uk> (acesso em: 12 ago. 2011);

estética do projeto. Assim sendo, a fachada leste do Reebok Stadium foi transformada em um hotel com 125 quartos, dos quais 19 com vista para o campo.

O estacionamento do estádio foi circundado com edificações destinadas à ocupação comercial. Assim sendo, o grande número de vagas destinadas aos eventos esportivos é ocupado por consumidores das lojas ou usuários do hotel incorporados ao complexo.

Formalmente, o estádio é constituído por um volume principal circular, que não apresenta grandes inovações. A fachada sul do estádio, paralela a menor dimensão do campo de jogo é marcada pela repetição das aberturas dos quartos do hotel que faz parte do edifício. Essa fachada desprende-se do perímetro do volume circular e avança alguns metros em direção ao estacionamento. Esse movimento permite demarcar visualmente a parte do estádio destinada ao uso hoteleiro. Basicamente, o espaço destinado ao hotel foi incorporado ao volume do estádio como um edifício curvo, de volumetria horizontal aplicado à fachada do estádio.

O principal aspecto formal do Reebok Stadium é o desenho composto pela estrutura metálica que sustenta a cobertura e os refletores do edifício. Essa estrutura é constituída de quatro pilares metálicos inclinados, que são os principais apoios para cada uma das quatro treliças metálicas que sustentam os quatro planos de cobertura, paralelos às laterais do campo de jogo. As treliças, por sua vez, também foram concebidas de modo que os elementos metálicos horizontais fossem curvos, assim, ao se aproximar dos pilares metálicos, as treliças aumentam suas dimensões verticais. O

movimento gerado pelos elementos metálicos curvos e pelos pilares inclinados enfatiza a condição iconográfica do estádio, implantado em uma região pouco habitada nos arredores de Londres.

A estrutura de cobertura do Reebok Stadium representa a alteração mais significante no que diz respeito à arquitetura de estádios durante os anos noventa. Até então, raramente o sistema de cobertura havia sido concebido como um elemento de expressão visual. No caso do Reebok Stadium, o desenho do sistema estrutural da cobertura funciona como um marco comercial, transformando o estádio em um símbolo de todo complexo.

Ao referir-se à cobertura do Reebok Stadium, Sheard (2004, p.127) faz a seguinte afirmação: “seja observada como um símbolo, entendida como uma metáfora ou simplesmente admirada pela sua beleza a linguagem formal proposta para cobertura desse edifício, representa um momento de ruptura com as tipologias que antecederam”. Desde então, a concepção de coberturas surpreendentes e altamente tecnológicas tornou-se a ferramenta padrão de projeto, utilizada por arquitetos ao redor do mundo.

Imagem 9 - Imagem aérea mostrando a sua implantação ao lado de instalações comerciais. Fonte: www.flickr.com. Acesso em : 20/05/2010.

REEBOK STADIUM – BOLTON, INGLATERRA, 1997 Dados do edifício:

Ano de construção: 1997 Capacidade de público: 28 mil Autor do projeto: HOK+S+V+E Expansões:

Website: www.bwfc.premiumtv.com.uk

Proprietário:

Bolton Wanderers Football Club

Partido Arquitetônico

O Reebok Stadium foi concebido para se tornar um símbolo local através das soluções arquitetônicas utilizadas no edifício. Além disso, o estádio representava a volta à atividade de um dos mais antigos clubes ingleses. Assim, o estádio foi concebido como um polo de atividades comerciais, que utilizam o esporte como veículo de divulgação.

Linguagem Arquitetônica

O principal elemento de destaque visual do estádio é o sistema de cobertura estruturado sobre pilares metálicos inclinados. A fachada sudeste é composta por um volume curvo que se destaca do perímetro do estádio. Essa fachada é composta pela repetição das janelas dos 128 quartos de hotel presentes incorporados ao edifício.

Implantação

O Reebok Stadium foi implantado na região de Bolton a oeste de Londres, em uma região de pouco desenvolvimento urbano. O estádio apresenta soluções arquitetônicas arrojadas que permitem ao edifício destacar-se em relação ao seu entorno imediato.

Sistema de cobertura

A estrutura da cobertura é constituída de quatro pilares metálicos inclinados. Eles são os principais apoios para cada uma das quatro treliças metálicas que sustentam os quatro

Imagem 10 - Vista externa do estádio a partir dos arredores de Bolton. Fonte: http://www.rivals.net. Acesso em: 14/12/2010.

planos de cobertura, paralelos às laterais do campo de jogo. As treliças, por sua vez, também foram concebidas, de modo que os elementos metálicos horizontais são curvos. Assim, ao se aproximar dos pilares metálicos, as treliças aumentam suas dimensões verticais.

Sistema Estrutural

O sistema estrutural do estádio é composto por colunas em concreto, localizadas sob os lances de arquibancadas, e no perímetro da edificação.

Multifuncionalidade

Um dos objetivos do partido arquitetônico adotado foi a flexibilidade da edificação, visando permitir desenvolvimentos futuros, como ampliações ou incorporações de outros tipos de edifícios ao corpo principal do estádio, sem que isso viesse a comprometer a harmonia estética do projeto. Assim sendo, a fachada leste do Reebok Stadium foi transformada em um hotel com 125 quartos.

O estacionamento do estádio foi circundado com edificações locáveis, destinadas à ocupação comercial. Assim sendo, o grande número de vagas destinadas aos eventos esportivos, são ocupadas por consumidores das lojas ou usuários do hotel incorporados ao complexo.