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TRINTA E UMA NACIONALIDADES.

2.4. O ELDORADO CAFEEIRO.

A partir da década de 1940, a região Norte do Paraná passou a ser identificada com o café, pois teve início a sua produção em larga escala. Constitui-se o segundo momento apontado por Arias Neto (1998, passim), identificado como o “Eldorado Cafeeiro”, ideia disseminada na crônica e na história. Neste período, ocorre a desestruturação do poder exercido pela CTNP, motivada pela associação de diferentes fatores como: crise na Prefeitura com a instauração de sindicância, pelo interventor estadual, para verificar irregularidades64; baixa venda de terras em virtude de motivos como a crise de 1929; a Revolução Constitucionalista de 32; e o início da II Guerra Mundial.

Além disso, a necessidade em repatriar o capital, em virtude da guerra que ocorria na Europa e no mundo, fazia com que empresas como a CTNP fossem colocadas à venda. Associado a esse quadro, a empresa havia sofrido, também, um duro golpe em decorrência da política de nacionalização do Governo Vargas, que foi a encampação da Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná, em 1939, via decreto federal (IVANO, 2000, p.215).

Em 1944, a CTNP foi vendida65 ao grupo paulista Vidigal/Mesquita e passou a denominar-se Companhia Melhoramentos Norte do Paraná – CMNP. A partir de então, ocorreu uma mudança na forma de comercializar as terras, isto é, o tamanho das glebas aumentou, ao mesmo tempo em que muitos pequenos lotes foram mantidos para permitir o acesso do pequeno lavrador. Pretendia-se, desta maneira, proporcionar mão-de-obra barata para as fazendas de café, que começavam a se expandir em direção a Maringá. Grandes fazendeiros paulistas, produtores de café, se dirigiram para a região em expansão.

Em 1940, os preços do café começaram a melhorar e com o fim da Guerra, em 1945, elevaram-se consideravelmente, proporcionando o enriquecimento dos produtores. A partir de então, as propaladas terras férteis e roxas do Norte do Paraná ficaram associadas à riqueza do café. Isto contribuiu, sobremaneira, para que milhares de pessoas fossem atraídas para aquela localidade, em cujas terras “brotavam-se dinheiro”.

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O prefeito era Willie da Fonseca Brabazon Davids, de ascendência inglesa. 65

A imagem do Eldorado Cafeeiro era uma estratégia de propaganda que visava atrair “braços para a lavoura” e, assim, aumentar a reserva de mão-de-obra e baratear o custo da produção da lavoura do café em expansão, favorecendo aos produtores (ARIAS NETO, 1998, p.287). Com o fim do Estado Novo, e com as atenções da Companhia direcionada para a região em expansão rumo ao Oeste (Maringá, fundada em 1947), uma outra ordem se instalou em Londrina, e o poder político local foi assumido pelos cafeicultores – fazendeiros e donos das máquinas de beneficiamento.

O crescimento urbano resultante da prosperidade agrícola fez com que Londrina polarizasse a economia da região, conhecida como “Norte Novo”. Nos anos de 1950, a cidade estava entre as 81 maiores cidades do Brasil (PREFEITURA, 2001, p.13). Sua população no início dessa década era de aproximadamente 71 mil habitantes, com uma população urbana de 34.320. Em 1960, a população quase dobrou, ou seja, havia quase 135 mil habitantes, sendo que 77.382 viviam na zona urbana.

Juntamente com as levas de migrantes trabalhadores atraídos pela propaganda do Eldorado, veio também toda sorte de aventureiros, prostitutas, golpistas, fraudadores, além dos “miseráveis que tinham esperanças de melhores oportunidades no Eldorado”. Assim, ao longo da década de 50, acompanhando o “progresso” e o crescimento acelerado da cidade, ocorreu também o surgimento dos problemas sociais. As elites, por meio do poder público, procuraram saneá-los com medidas respaldadas na legislação municipal.

Fatores como as geadas, a agitação política de cunho socializante, as reivindicações trabalhistas na zona rural, e a política governamental em relação ao café, que ocorreram ao longo da década de 50, contribuíram para a desagregação da economia cafeeira, que sobreviveria até o início da década de 70, quando a maioria dos pés de café foi erradicada após a ocorrência de pragas e o evento da “geada negra”.

Os dois momentos distintos na trajetória da cidade, representados pelas imagens construídas acerca da ideia de Terra de Promissão e de Eldorado Cafeeiro, associados à ênfase das noções de progresso e, sobretudo, civilização, acabaram por esmaecer os aspectos paradoxais da barbárie ou da violência que acompanha os processos de ocupação territorial, característica das frentes de expansão de fronteiras agrícolas.

Estender-se no subcapítulo que trata da representação Terra de Promissão foi necessário para melhor compreensão deste período inicial do processo de (re)ocupação daquele espaço. Pois este foi o momento em que o grupo japonês se destacou, juntamente com o de alemães, como lembraria Oswald Nixdorf anos mais tarde, ao se referir aos primórdios

do povoamento daquelas terras, nas quais Londrina havia sido “destinada a ser o ponto de partida para a colonização de uma” extensa área.

Dificuldades de ordem técnica e financeira de grande monta tiveram que ser vencidas até ser conseguido algum êxito. Foram as duas colônias Heimtal e Rolândia, povoadas com colonos de origem alemã, bem como alguns agrupamentos de colonos japoneses, que ajudaram a Companhia de Terras Norte do Paraná a vencer as primeiras dificuldades. Estes centros de colonização foram deliberadamente criados como centros agrícolas e não deviam, inicialmente, ocupar- se do plantio do café (NIXDORF, [1960], p. 59).

Ademais, é principalmente no primeiro momento, o da Terra de Promissão, que se constata a construção conjugada da ideia de harmonia entre as raças. No entanto, procurar- se-á demonstrar a existência de conflitos e tensões interétnicas envolvendo o grupo nipônico, que se processaram, sobretudo, neste primeiro momento. Estes conflitos serão relatados no capítulo 4.

Foi nos referidos limites de tempo, isto é, décadas de 1930 a 1950, e neste espaço multiétnico que se constituiu o cenário onde se desenrolaram as referidas situações de conflitos e tensões, bem como de sociabilidades e inserção social do grupo étnico japonês.