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Ao adentrar a universidade o indivíduo já possui um histórico de conhecimento não só escolar, como também de outros grupos culturais. Tais condições prévias de aprendizado devem ser consideradas na aquisição dos novos processos de desenvolvimento. O aluno, no campo universitário, precisa entender a necessidade do que está aprendendo e dar significado e sentido ao que está descobrindo, para que possa perceber sua utilidade em outros contextos (Chauí, 2001).

A universidade, sendo um espaço de socialização e relações de poder, pode exercer uma prática que envolva o conhecimento, na qual alunos e professoras possam construí-lo juntos, o estudante tendo opções de escolha e participação, e o docente como problematizador do conhecimento. A partir das reflexões feitas com base em Foucault,

percebemos que o autor abre possibilidades para a discussão de tais transformações. Nesse sentido, buscamos contribuições de Paulo Freire para abordar os três pilares da Universidade: o ensino, a pesquisa e extensão.

Freire (2007, p. 212) defende o ensinar na universidade como um processo de construção do conhecimento:

Precisamos ser melhor formados para depois ficar bem informados. Essa é uma tarefa da universidade, para mim, assim como é para ti. É preciso que um tema como esse seja realmente discutido. Ensinar não é trazer para a escola um pacote de conhecimentos, às vezes desarticulados. Ensinar é produzir a possibilidade da produção do conhecimento por parte do aluno.

Em relação à pesquisa, Freire (2007) já foi muito criticado e ignorado pela academia por acreditar e praticar uma pesquisa que se aproximava do saber popular, por defender uma metodologia de pesquisa dialógico-problematizadora e conscientizadora. A criação de um clima pedagógico para a produção do conhecimento pressupõe que o professor se revele aberto às indagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições. Um professor crítico, inquiridor e inquieto, ante a tarefa que tem, a de ensinar e não a de transferir conhecimento.

Na acepção freiriana, a pesquisa faz parte do processo de ensinar e aprender: Fala-se hoje, com insistência, no professor pesquisador. No meu entender o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescenta à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma, porque professor, como pesquisador (Freire, 2011, p. 29).

elementos para reconhecer o conhecimento como dinâmico e inacabado, e passível de ser culturalmente apreendido e construído, levando-nos a compreender, como Freire (2013, pp. 123-124), que

[...] toda docência implica pesquisa e toda pesquisa implica docência. Não há docência verdadeira em cujo processo não se encontre a pesquisa como pergunta, como indagação, como curiosidade, criatividade, assim como não há pesquisa em cujo andamento necessariamente não se aprenda porque se conhece e não se ensine porque se aprende.

No contexto da educação superior, o ensino, quando associado à pesquisa, leva a um pensar e um agir comprometidos com a reflexão sobre o cotidiano em que se vive e atua (Lima & Braga, 2016).

Por fim, em relação à extensão, Freire (1983) ressalta que ela se constitui em referência para que os sujeitos inseridos no ensino superior possam participar criticamente de toda a estrutura universitária, contribuindo, aliás, para a elaboração de novas teorias e práticas. Os projetos universitários de extensão incidiriam na comunidade. Certamente, a própria extensão ampliaria seu potencial ao ter como alunos e pesquisadores grupos que até então eram somente objetos de pesquisa.

Diante do exposto até aqui, reconhecemos o quanto a universidade pode repensar as relações que estabelece entre seus alunos e professores em sala de aula, tornando-se um espaço com mais trocas, mais acolhedor e dinâmico. Afinal, a relação de poder existente atualmente na academia, por ser repressiva e autoritária, dificulta que a interação entre o aluno e o professor promova uma aprendizagem mais envolvente. O estudo visa então compreender se os alunos e professores percebem como estão envoltos na relação de poder, ou melhor, compreender a concepção de alunos e professores sobre a relação de poder na universidade e as possibilidades de mudança na interação aluno/professor.

CAPÍTULO 3

OBJETIVOS

Na sociedade atual, as instituições de educação superior têm a responsabilidade de formar sujeitos para a atuação profissional. Nesse contexto, as interações professor-

aluno são destaque, afinal os professores podem afetar diretamente na formação dos futuros profissionais. Sendo assim, um dos inúmeros fenômenos que influenciam o processo de ensino e aprendizagem são as formas que as relações de poder se exercem, ainda que não possam ser conscientemente compreendidos pelos sujeitos do processo, afinal os alunos e professores estão envoltos constantemente em relações sociais que recorrem ao poder (Pasqualini & Eidt, 2013).

Logo, reconhecendo que o exercício do poder se orienta nas relações interpessoais, desencadeando uma rede de relações em que há a possibilidade do sujeito ditar o poder ou obedecê-lo, surgem questionamentos a respeito do que os educadores e educandos percebem sobre a relação de poder na interação aluno-professor no campo universitário. Assim, o problema desta pesquisa instiga à procura de como os professores e alunos se percebem e percebem o outro nas interações em sala, como também os aspectos que podem condicionar a relação de poder na interação aluno-professor.

Objetivo Geral:

Compreender a concepção de estudantes de licenciatura e professores universitários sobre a relação de poder na interação aluno-professor.

Objetivos Específicos:

1. Investigar o significado e sentido de alunos e professores sobre a UnB.

2. Entender como são as relações dos alunos de licenciatura com seus professores e dos professores com seus alunos.

CAPÍTULO 4

METODOLOGIA

A pesquisa teve caráter qualitativo com embasamento em uma visão histórico- cultural do desenvolvimento humano e na concepção de um envolvimento de mútua construção entre pesquisador e fenômeno pesquisado.

A escolha da metodologia qualitativa se deu por essa ter como característica o caráter participativo, envolvendo o sujeito e colocando pesquisador e participante mais próximos a realidade de investigação. Nesse tipo de pesquisa, a preocupação está mais relacionada ao processo do que com o produto, ou seja, como as pessoas percebem e pensam sobre o tema. O pesquisador opera sobre o espaço de investigação e também é afetado por esse, enquanto sujeito que reflete sobre uma realidade. Assim, somente na dialética estabelecida entre pesquisador, sujeitos participantes e contexto escolhido que se pode conceber a pesquisa. Para realização do estudo, consideramos a especificidade dos diferentes contextos da pesquisa, a singularidade dos participantes e a subjetividade das pesquisadoras. Procuramos assumir uma postura de diálogo, com uma escuta empática para que a troca entre pesquisador-sujeito ocorresse de forma espontânea. Desse modo, buscamos ainda possibilitar espaço para a consideração do pesquisador enquanto sujeito, que trouxe para o processo de investigação suas experiências, intuições e curiosidades (Pedroza, 2003).

O presente estudo foi submetido à avaliação e posterior aprovação via Plataforma Brasil junto ao Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília (CEP/IH/UnB).

Participantes:

O estudo constituiu com a participação de 8 professores universitários que ofertam disciplinas introdutórias para as licenciaturas e 12 estudantes de licenciatura. O critério

de inclusão dos alunos foi ser graduando de licenciatura e pretender atuar como professor após formado e o critérios dos professores foi lecionarem, a pelo menos dois anos, na universidade.

A tabela abaixo evidencia o curso dos alunos ou formação dos professores, sexo e semestre dos estudantes ou ano de ingresso dos docentes. Os participantes foram identificados neste trabalho de duas formas: pela letra P, em caso de professores, seguida pela numeração de 1 a 8 ou pela letra A, em caso dos alunos, seguida pela numeração de 1 a 12. Vale ressaltar que todos os participantes são brasileiros.

Tabela 1 – Caracterização geral da amostra dos participantes

Identificação Curso Sexo Semestre/Ano de ingresso

ALUNOS

A1 História Masculino 4º semestre (2º curso)

A2 Letras Português Feminino 3º semestre

A3 História Feminino 2º semestre

A4 Matemática Feminino 2º semestre

A5 Matemática Feminino 2º semestre

A6 Matemática Masculino 8/9º semestre (pediu

transferência, ingressou em Engenharia Mecatrônica)

A7 Matemática Feminino 2º semestre

A8 Artes Plásticas Feminino 4º semestre

A9 Artes Plásticas Masculino 6º semestre

A10 Física Masculino 7º semestre

A11 Física Masculino 5º semestre

A12 Pedagogia Feminino 6º semestre

PROFESSORES

P1 Pedagogia Feminino 2011

P2 Física Masculino 2011

P3 Físico Masculino Não informado, mas atua há

mais de 13 anos na UnB

P4 Bacharel engenharia Masculino 1985

P5 Matemática Masculino 2009

P6 Matemática Feminino 2014

P7 Letras Português Feminino 2012

Contexto de Pesquisa:

A Universidade de Brasília (UnB) é uma instituição pública de ensino superior situada em Brasília-DF. Possui quatro campi – Campus Universitário Darcy Ribeiro,

Campus UnB- Ceilândia, Campus UnB-Gama e Campus UnB- Planaltina –, 12 institutos,

14 faculdades, 53 departamentos e 16 centros que compõem a sua estrutura acadêmica. A pesquisa foi realizada no Campus Darcy Ribeiro. Dentre os 87 cursos presenciais que esse campus proporciona, 22 são cursos de licenciatura.

Instrumentos

Para as entrevistas semiestruturadas foram utilizados um gravador digital e dois roteiros que auxiliaram na conversa – um voltado para os alunos e o outro para os professores (Anexos I e II). Também foram disponibilizas folhas de papel e caneta, para os participantes que quisessem expor suas reflexões de forma escrita.

Procedimentos para construção das informações:

A pesquisa de campo constituiu em entrevistas semiestruturadas, por visar compreender de forma mais detalhada as percepções e concepções dos participantes. A opção pela entrevista individual ocorreu em função da necessidade de acolher melhor cada sujeito da pesquisa e assim capturar suas vivências pessoais a respeito dos temas levantados no estudo. Os roteiros de entrevista serviram de base para uma conversa sobre o assunto, onde a pesquisadora assumiu uma postura reflexiva, considerando sua subjetividade na produção de conhecimento.

Os alunos participantes foram convidados em sala de aula10 para participaram do estudo. Com o aval do professor da matéria, a pesquisadora entrou em sala e explicou

10 A pesquisadora estabeleceu contato com os professores das matérias introdutórias de Fundamentos do Desenvolvimento e Aprendizagem (FDA) e Desenvolvimento Psicológico e Ensino (DPE), que são disciplinas ofertadas pelo instituto de psicológica para os cursos de licenciatura da universidade.

brevemente o intuito da pesquisa aos alunos, que foram convidados a participar voluntariamente do estudo no próprio campus universitário, em momento posterior, com hora e data de sua preferência. Aqueles que concordaram enviaram um e-mail para a pesquisadora com os horários e dias disponíveis para a participação. Os e-mails eram respondidos com um texto padrão sobre a pesquisa e confirmando o horário, dia e local. Caso houvessem dúvidas, também eram esclarecidas nesse momento. As entrevistas com os alunos foram feitas na Biblioteca da Universidade de Brasília (BCE) em cabines de grupo.

Já os professores participantes do estudo foram convidados por e-mail11. Enviamos um e-mail com um texto padrão que explicava o estudo, seu objetivo e solicitava a participação dos professores, com hora e data de sua preferência. Como as primeiras entrevistas aconteceram com os alunos, alguns desses também indicaram alguns professores, assim, verificávamos se já havíamos enviado o e-mail para o(a) professor(a), caso não, encaminhávamos um novo e-mail com o mesmo texto padrão. Aqueles docentes que concordaram em participar, responderam ao e-mail com os horários e dias disponíveis para a participação. As entrevistas com os decentes foram realizadas nas salas dos próprios professores.

Nos momentos iniciais da entrevista procurou-se estabelecer um rapport, mantendo uma relação de acolhimento e confiança para assegurar informações diferenciadas. Após esse momento, era solicitado aos entrevistados (alunos e professores) que assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido- TCLE (Anexo III). Em seguida foram tiradas possíveis dúvidas, alinhado o gravador e se iniciado a conversa. As

11 O decanato de gestão de pessoas (DGP) disponibilizou os e-mails dos professores da universidade.

entrevistas presenciais tiveram a duração de aproximadamente 45 minutos e foram transcritas e analisadas só após o encerramento de todas as entrevistas.

Procedimentos de Análise

A análise das transcrições das entrevistas se embasou no método de Análise de Conteúdo de Bardin (2009). Tal método foi escolhido por ter a característica de ir além dos significados imediatos das falas dos sujeitos participantes da pesquisa, fornecendo procedimentos metodológicos para uma compreensão – e interpretação – do material, permitindo uma apreensão mais apurada (Bardin, 2009). Segundo a autora, a função primordial da análise do conteúdo é o desvendar crítico e a apreciação da comunicação com todas suas peculiaridades. Na análise do material, deve-se buscar classificá-los em temas ou categorias que auxiliam na compreensão do que está por trás dos discursos.

Sendo assim, após a transcrições das entrevistas, fizemos uma leitura reflexiva, em que nos familiarizamos com os conteúdos, nos aprofundamos nos seus significados expressos e em suas contradições, nos apropriando do material. Após essa análise inicial, exploramos de forma mais profunda o material e tivemos a possibilidade de refletir sobre os resultados, as inferências e interpretações, que geraram as categorias de análise.

Consideramos na análise a singularidade de cada sujeito participante, assim como sua construção histórico-cultural e dividimos em três categorias os resultados encontrados: 1. Concepções sobre a UnB, 2. Interação aluno-professor: uma relação de poder e 3. O futuro da educação almejado por alunos e professores. Em cada uma delas há subcategorias, visando explorar melhor as análises das conversas com os participantes. Realizamos as interpretações do material de campo em comunicação com os referencias teóricos de base e levamos em conta o contexto no qual ocorreram as manifestações.

CAPÍTULO 5