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Até o momento, comentamos a história da universidade, em especial da Universidade de Brasília e sua proposta; porém, se ela leva o nome de universidade, há que pensar o que isso significa e pode proporcionar.

Alguns autores brasileiros até consideram a UnB a primeira que poderia de fato ter o nome de universidade, por sua proposta e fundamentos, ao não ser criada com a junção de faculdades isoladas, mas idealizada em conjunto com diversas faculdades e voltada para a população, para formar “cidadãos empenhados na busca de soluções democráticas para os problemas com que se defronta o povo brasileiro na luta por seu desenvolvimento econômico e social” (Mendonça, 2000, p. 144). Porém, não há consenso quanto a isso, e o que mais a literatura aponta é que a Universidade do Rio de Janeiro, com a junção de outras faculdades, foi realmente a primeira (Costa & Rauber, 2009; Fávero, 2006).

Tal dúvida pode ser devida ao propósito da universidade. Ao revisar a etimologia da palavra universidade, que remete ao latim universitas, percebemos que a palavra também se transformou ao longo dos anos, se apropriando de novas camadas simbólicas. A própria trajetória das universidades passou por diversas transições em relação a sua estrutura e organização que as influenciaram. Desde o final do século passado elas já ocupam um lugar definido socialmente, sendo aceitas e respeitadas como instituições que

transmitem e criam o saber, mas também investigam, sendo curiosas e ousadas (Vasconcelos, 1996).

Ao refletir sobre o real papel da universidade e o papel utópico, almejado, podemos referenciar o autor Menezes (2001), que, ao analisar a prática universitária, questiona se o que está na lei é realmente visto ou, ao que parece, apenas ocorre uma repetição de conhecimento e modelos já definidos. O autor se preocupa com o compromisso de formar profissionais críticos, que dialoguem com teóricos consistentes, podendo, alunos e professores, ter em sala um leque de possibilidades para a aprendizagem. Outros autores também comentam o real papel da universidade, como é o caso das estudiosas Assis e Bonifácio (2011). Para elas a universidade, por ser uma instituição educacional, deveria comprometer-se com a busca do conhecimento, tornando-se um ambiente para produção e intervenção do saber, reflexão, debate e crítica, sempre considerando seu papel social. Em outras palavras, a educação superior deveria formar profissionais em diversas áreas do saber, preocupando-se, por meio do ensino, com o conhecimento cultural, científico e técnico.

Dentre várias hipóteses que visam melhorias, destaca-se o dialogar com a realidade que temos hoje entre alunos e professores na universidade; afinal, ela está inserida em uma realidade histórica, política e social e deve atuar e intervir em tal contexto. Dessa forma, a universidade, como instituição de ensino, ao procurar trabalhar com a pesquisa, o ensino e a extensão; pode ir além, com um projeto articulado entre esses três aspectos, em que professores e alunos se beneficiem de cada eixo, coexistindo entre si. Assim, durante a graduação o aluno vivenciaria a universidade como um todo, e isso já o prepararia tanto para o mercado de trabalho como para os desafios sociais e políticos (Oliveira, 2013).

Quando um aluno ingressa na universidade, ele se depara com uma realidade diferente daquela que rotineiramente permeou sua vida escolar; se essa universidade for pública, isso se acentua ainda mais. Por mais que haja interesse de sua parte, é preciso lhe demonstrar a importância de sua qualificação, por isso é imprescindível que o professor possa atuar com esse aluno, para que juntos possam pesquisar, estudar e participar de projetos voltados para a comunidade (Oliveira, 2013). A articulação de ensino, pesquisa e extensão, os torna complementares e essenciais na universidade para o aprendizado do aluno. Como destacam Chaves e Gamboa (2000), partindo-se do ensino, para a discussão do conhecimento, envolve-se a pesquisa para problematizar o desconhecido e divulgar o novo conhecimento; assim, na extensão, pode-se usar o conhecimento aprendido, ampliando ainda mais a forma vista, aumentando o alcance do aprendizado e proporcionando mais intervenções no contexto social. Os autores destacam que

Formar profissionais competentes para atuar em situações complexas, produzir conhecimento científico, elaborar materiais instrucionais para socializar conhecimentos, são desafios que nos propomos a encarar a partir do ensino- pesquisa-extensão, tendo como princípio articulador o trabalho pedagógico (Chaves & Gamboa, 2000, p. 164).

A proposta da universidade pode e deve ir além. Mas, Vasconcelos (1996) ressalta que geralmente cada universidade tende a enfatizar um dos três eixos – pesquisa, ensino ou extensão. O que acaba por desvalorizar a capacidade da universidade, não atingindo sua real definição e tornando-a incompleta. Ainda segundo esse autor, como ele demonstra em sua pesquisa, o ensino tende a receber mais atenção do que as outras

práticas. Além disso, Roncaglio (2004), ainda relembra que a universidade precisa ter em mente o fato de ser uma instituição social, com responsabilidade pela formação completa do sujeito não só nos três eixos mencionados, como também na transmissão cultural e política, fato esse já expresso na LDB.

A literatura ainda demonstra que a universidade, refletindo aspectos da sociedade, está mais voltada para uma prática educacional imposta, pouco envolvente e que preza a memorização, em vez de a reflexão. Em sala, professores e alunos entram em conflito, em vez de se apoiar, e, devido a tantas imposições, não conseguem dialogar. Assim, professor e aluno ocupam patamares bem distintos, no qual o primeiro está como detentor do conhecimento e o estudante como quem tem de absorvê-lo (Oliveira, 2013; Santos & Soares, 2011; Silva, 2011).

Rozendo, Cassagrande, Schneider e Pardini (1999) são mais rígidos em suas afirmações e consideram que as universidades exercem práticas pedagógicas que não contribuem para o desenvolvimento da sociedade e, como consequência, também não contribuem para o desenvolvimento dos sujeitos sociais, que iriam construir suas histórias. O sistema parece estar mais preocupado em se adequar a normas e padrões estabelecidos, o que, por diversos motivos, delega ao educador o desempenho de um papel mais autoritário e ao educando o exercício de um papel de subordinação. Não há espaços – nem, muitas vezes, tempo – para diálogos e reflexões; muito menos para questionamentos.

Dessa forma, levando em conta os vários papéis e consideráveis atuações da universidade que são possíveis, esta pesquisa buscou pensá-la como instituição do saber, que se compromete com a socialização e divulgação do conhecimento produzido,

importando-se com o avanço da ciência, da arte, da cultura e da história. A universidade, nesse ponto, pode colaborar para a construção de uma sociedade mais democrática, sendo necessário debater sua própria constituição no espaço público, se preocupando com uma formação do ser de forma integrada e em constante desenvolvimento, que interliga não só ensino, pesquisa e extensão, mas, vai além, e se preocupa com a contribuição que pode proporcionar aos estudantes, professores e à sociedade.