• Nenhum resultado encontrado

O ensino-aprendizagem de línguas no período pós Independência (1975-2005)

No documento Juvenal Maricane M Inruma (páginas 95-98)

CAPÍTULO 3 A ALFABETIZAÇÃO EMERGENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NO

3.1. A situação linguística e o ensino-aprendizagem de línguas em Moçambique

3.1.2. O ensino-aprendizagem de línguas no período pós Independência (1975-2005)

Independência (1975-2005)

A primeira Constituição de Moçambique independente, em 1975, não faz referência explícita sobre a problemática das línguas nacionais. A política linguística traçada elegeu a

língua portuguesa como língua de Unidade Nacional, adoptada para o ensino, a informação escrita e os serviços públicos. A norma padrão de referência seguida devia ser a do Português Europeu (variante de Lisboa).

GONÇALVES (1996:17) refere que a língua portuguesa, além de, estrategicamente, servir como língua de Unidade Nacional, também “torna-se como uma espécie de símbolo do poder

estabelecido”. A autora sustenta isso, afirmando que a língua portuguesa era a língua usada, preferencialmente, em reuniões políticas e recorria-se a tradutores e intérpretes para passar a mensagem aos não falantes da língua portuguesa. DIAS (2002:137) afirma que a política linguística adoptada pela elite política libertadora do país, de orientação socialista, teve que ser de carácter agregador dos cidadãos do novo Estado de forma a não incentivar, nem fomentar as rivalidades étnicas e linguísticas. Foi esta a razão que sustentou a escolha da língua portuguesa para língua Oficial e de Unidade Nacional. A mesma autora refere que, a “escolha de uma

língua bantu para Língua Oficial podia pôr em perigo a integridade territorial. Contrariamente, a lingua portuguesa estava minimamente divulgada em todo o país e era uma língua internacionalmente conhecida, o que facilitava a comunicação com os outros países”.(DIAS, 2002: 137)

LIPHOLA (1995) subdivide o período que se segue após a Independência em dois momentos distintos quanto à abordagem das línguas nacionais:

- O primeiro período de 1975 – 1980, caracterizado pela defesa, ao nível dos discursos

políticos moçambicanos, da língua portuguesa e a definição do papel reservado às línguas maternas (nacionais) no quadro de uma política geral de desenvolvimento nacional que colocava tais línguas com o papel de indefinição;

- O segundo período compreende os anos de 1980-1990 que foram caracterizados por

discursos políticos vincados no reconhecimento das línguas maternas.

Em 1983, realiza-se a 11ª sessão do Comité Central do Partido FRELIMO, único na altura, que se debruça sobre a questão do estudo das línguas moçambicanas e sobre a criação de um órgão especializado para o efeito. As discussões relativas à política linguística existentes no país, no concernente, à problemática do estatuto sócio-cultural das línguas moçambicanas no período pós-independência, continua actual e foi apenas, parcialmente, resolvida com a introdução do Ensino Bilíngue. Moçambique é um país onde a alfabetização geral da população ficou ainda por resolver, devido sobretudo ao agravamento da guerra civil que se seguiu durante 16 anos (1976-1992). Nem mesmo a língua portuguesa, considerada língua oficial e de Unidade Nacional, se impôs, quer ao nível da administração pública quer ao nível da

alfabetização das populações. A influência dos ventos de mudança no Leste Europeu relacionados com a queda do Socialismo incentivou um debate quase aberto das políticas democráticas no país (inclusivé a política linguística). No âmbito dessa conjuntura realiza-se o 1º seminário sobre a “Padronização da Ortografia das línguas moçambicanas” que vai impulsionar a definição mais clara do estatuto sócio-cultural das línguas moçambicanas na Constituição da República de Moçambique (CRM) de 1990. A primeira edição da CRM de 1990, consagra no seu artigo 5, o seguinte:

“Na República de Moçambique a língua portuguesa é a língua oficial.

O Estado valoriza as línguas nacionais e promove o seu desenvolvimento e utilização crescente como línguas veiculares e na educação dos cidadãos”.

Apesar do que foi postulado na CRM, em 1990, notou-se, ao nível da educação, a falta de uma política linguística mais adequada e uma ausência total de propostas concretas e factíveis para o tratamento das línguas maternas bantu no que concerne às aprendizagens da leitura e da escrita. Há estudos experimentais que reivindicam que as línguas maternas são fundamentais para as aprendizagens iniciais da leitura e escrita. É de salientar que, à luz da vontade latente entre diferentes segmentos da sociedade, sobretudo no seio de políticos e de académicos vai aparecer uma nova abordagem sobre as línguas moçambicanas, através do Núcleo de Estudo das Línguas Moçambicanas (NELIMO) e do INDE. Os trabalhos de pesquisa do NELIMO são realizados pela Faculdade de Letras da Universidade Eduardo Mondlane e contribuíram para a criação de um clima de debate e de mudança de atitudes sobre o reconhecimento das línguas maternas bantu no âmbito do desenvolvimento humano no país.

Em 1992, como consequência do 1º seminário sobre a “Padronização da Ortografia das línguas moçambicanas”, o NELIMO45 levou a cabo em todo o país um estudo sobre as línguas existentes e propôs a criação de núcleos provínciais de estudo das mesmas de forma a incentivar o estudo alargado de todas as línguas bantu moçambicanas.

A realização da “Conferência Nacional sobre a Cultura”, em 1993, também, impulsionou os estudos sobre as questões linguístico-culturais; mais concretamente, em relação a aspectos relacionados com as línguas moçambicanas bantu. Tal conferência recomendou que se incentivasse a formação de grupos de estudos e valorização dessas línguas em todas as províncias. As reflexões efectuadas nesse âmbito, terão incentivado outros estudos sobre a língua de ensino, o Português. As consultas feitas a diferentes actores educativos revelaram que

havia necessidade urgente de revisão dos programas de ensino de modo a torná-los mais relevantes para as necessidades comunicativas e sócio-culturais dos alunos.

Nesse contexto, o Currículo do Ensino Básico revisto em 1983, pela lei nº 4/83, de 23 de Março, e revisto pela lei 6/92, de 6 de Maio, deixa expressa a vontade do ensino das línguas moçambicanas que é fruto da consciencialização de que um dos problemas que conduz ao insucesso neste nível é, também, a não utilização das línguas maternas bantu nas aprendizagens iniciais da leitura e escrita.

A introdução do ensino das línguas bantu no novo currículo moçambicano implementado a partir de 2003, altura em que inicia a transformação curricular, significou o reconhecimento oficial, objectivamente expresso ao nível didáctico, da necessidade de um ensino da língua portuguesa como língua segunda (L2). A transformação curricular contempla um Ensino Monolíngue, no qual a língua exclusiva é o Português e um Ensino Bilíngue, em que as crianças iniciam a escolarização na sua língua materna de origem bantu e, progressivamente, vão transitando para a língua portuguesa a partir da 3ª classe.

A presente investigação vem reforçar esta reflexão, tendo em conta que, em países multilingues e com problemas de alfabetização emergente, como é o caso moçambicano, o recurso ao Ensino Bilingue, provavelmente, poderá melhorar os níveis de alfabetização na escola, partindo duma realidade mais próxima do aluno que é a família e a comunidade.

Vejamos de seguida em que consiste, em linhas gerais, o processo de alfabetização na Educação Infantil e no Ensino Básico (EB). Em relação à Educação Infantil veremos o que foi definido pelo Ministério da Mulher e Coordenação da Acção Social.

No documento Juvenal Maricane M Inruma (páginas 95-98)