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Os métodos tradicionais e globais na leitura e escrita

No documento Juvenal Maricane M Inruma (páginas 74-77)

CAPÍTULO 2- ALFABETIZAÇÃO EMERGENTE

2.5. O Ensino da Leitura e da Escrita

2.5.1. Os métodos tradicionais e globais na leitura e escrita

Os métodos de aprendizagem da leitura diferem muito de acordo com os autores que os propõem. A sua classificação tem sido sugerida como devendo ser utilizada para a preparação da alfabetização escolar e o ensino da leitura. As perspectivas acerca dos métodos mais eficazes de iniciar a leitura têm sido fonte de amplo e aceso debate, relacionando-se com a preferência por um determinado modelo teórico do processo de leitura. Assim encontramos dois principais tipos de métodos, nomeadamente: 1) métodos tradicionais, também considerados por analíticos e sintéticos e 2) métodos globais.

Os métodos tradicionais procuravam ensinar a leitura através da exposição e repetição do alfabeto ao aluno. O uso destes métodos não permitia ao aluno o uso da sua criatividade. Tudo era ensinado a todos ao mesmo tempo.

FEIL (1983: 27) refere que o método sintético surgiu por volta dos anos 1880, juntamente com o aparecimento da cartilha30. ADAMS (1974), apud FEIL (1983: 30), tratando dos métodos tradicionais sintéticos, refere que a alfabetização ou o ensino da leitura e escrita parte das letras para formar sílabas e só mais tarde formar palavras. Essas palavras eram aquelas fixadas pelas letras estudadas, por isso, eram apresentadas palavras de uma forma isolada. As análises críticas a respeito desses métodos, hoje, apontam que tornavam a alfabetização mais artificial, mecânica e muito distante de quem se pretende atingir, neste caso, a criança. A criança repete letras ou sílabas até a sua efectiva memorização.

Para o método tradicional, ler significa decifrar sons, sílabas e palavras. Quer dizer, este método caracteriza-se pela escolha de uma “palavra chave” para ensinar a letra inicial desta palavra e a sua combinação com as vogais. Neste contexto, a leitura não é considerada como comunicação utilizável pela criança, pois ela trabalha sobre fragmentos e, por conseguinte, a sua aprendizagem fica reduzida à decifração.

Os métodos tradicionais sintéticos são totalmente desintegrados da realidade da criança, pelo facto de se preocuparem apenas com a decifração e não com o sentido da leitura.

De acordo com FEIL (1983: 30), o método global surgiu no ano de 1768, com o abade Randovlliers. Em 1787, Nicola Adams esclareceu que esta corrente de pensamento era contrária ao método sintético. O método analítico defende que a alfabetização ou o ensino da leitura deve partir do todo para, posteriormente, passar para a decomposição. Segundo ADAMS (1787), apud FEIL (1983: 30), esse “todo” era a palavra. Este autor defende que, o processo de ensino da leitura deveria partir de uma palavra conhecida pela criança, isto é, para para que ela conheça e compreenda algo, precisa, antes, opinar, sintetizar, ou seja, conhecer essa coisa na sua totalidade.

FEIL (1983: 31) afirma que as críticas à volta dos métodos sintéticos persistiam e, apenas em 1818, Jacotot, amplia a ideia de globalização. Este autor defende que a globalização não se limita à palavra, reivindicando que “ a alfabetização deve partir de uma frase”. A criança depara-se em 1º lugar com a frase, e posteriormente destaca os elementos, isto é, passa da análise à síntese.

O método global possiblita à criança aprender a ler e escrever a partir do todo, para a decomposição, isto é, das palavras, dos contextos globais para as unidades mínimas, as letras.

30 A cartilha eram os primeiros manuais de ensino da leitura, estruradas com as gravuras, as palavras, as letras e as

De acordo com o autor mencionado, o método global recebeu incentivos de muitos educadores de renome do século XIX ao XX, nomeadamente, Montessori (1870-1952), Decroly (1871-1932), Claparède (1873-1940), Wallon (1879-1962), Freinet (1896-1966), Piaget (1896-1980), entre outros. Todos eles deram o seu contributo para o aprofundamento e enriquecimento dos métodos globais. Neste estudo, vamos destacar apenas Decroly e o seu método.

FEIL (1983) destaca Decroly como sendo aquele que mais esforço empreendeu, de forma prática, adaptando o ensino da leitura e da escrita à nova corrente. Portanto, Decroly conseguiu fundamentar todo o seu trabalho no chamado “método decroly”. Ele construiu o seu método a partir da sua experiência de trabalho com crianças anormais para a partir daí elaborar o ensino das crianças ditas “normais”.

DECROLY (op. cit.), apud FEIL (1983), defende que o ensino seja adequado aos interesses da criança e às necessidades primárias que advêm do seu meio, designadamente, as necessidades de se nutrir, de se vestir e de trabalhar em harmonia com os outros. DECROLY (op. cit.) preconizava que as escolas deviam ser verdadeiros laboratórios e não auditórios, daí o seu apelo ao recurso de trabalhos manuais para a aquisição dos conhecimentos.

O método Decroly concentra-se no respeito à criança cuja personalidade é “sagrada” e servirá de centro de toda a complexidade do seu programa. Tal facto implica que a definição dos objectivos da educação deve ser feito pelo próprio aluno que será impulsionado pelos seus interesses e capacidades. No entanto, Decroly reconhece que existem diversos factores condicionantes a essa actividade educativa, tais como, idade, sexo, saúde e habilidades do professor. Daí que, FEIL (1983) considera que Decroly apelava que, para a criança conseguir trabalhar com autonomia, é preciso recorrer ao princípio da individualidade. DECROLY (op. cit.) com o seu método, propõe que a actividade deve provocar o trabalho espontâneo e constante. Daí que a sala de aula deve estar organizada de modo a que a criança realmente possa agir, trabalhar espontaneamente e circular livremente.

Para o ensino da leitura, Decroly usa um processo que pode ser chamado, segundo FEIL (1983: 38), de visonatural, ideovisual ou visoideográfico. Em geral, quando uma criança aprende a ler, a compreensão visual dos sinais gráficos, a expressão verbal, a associação dos sons e sua representação gráfica, a expressão escrita e a ortografia desses sinais se formam num todo.

Para Decroly (op. cit.), apud FEIL (1983), a leitura compreende diferentes funções, entre elas, as funções visual, verbal, auditiva, motora da linguagem ou da escrita e uma função

superior para a interpretação. Segundo DECROLY (op. cit.), a função visual é a mais importante e a básica, pois é possível ler um texto, compreendê-lo, executar a ordem expressa, sem usar a linguagem verbal, realizando-se, então, uma leitura mental. A esse propósito, FEIL (1983) argumenta que para ensinar uma criança a falar, empregamos frases, pensamentos e nunca letras e sons. Falando, mostrando as coisas que a rodeiam, ela começa a familiarizar-se, a compreeder o meio em que vive e, paulatinamente, aprende a falar. É neste contexto que este método pode ser usado para o ensino da leitura, propondo frases escritas que traduzem pensamentos. Esta perspectiva abre a possiblidade de se definir a leitura como um processo complexo de reacção pessoal.

2.5.2. Estudos comparativos sobre os métodos de ensino da

No documento Juvenal Maricane M Inruma (páginas 74-77)