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A implantação de institutos privados de idiomas no Brasil deve-se a alguns fatores históricos que impulsionaram a grande presença da cultura norte-americana em território brasileiro. Detenho-me a citar apenas alguns acontecimentos que colaboraram para a rápida disseminação de cursos de inglês em órgãos privados.

O Brasil vivia sob o regime de Getúlio Vargas (1930-1945) e foi exatamente na década de 40 que o país sofreu uma grande influência da cultura norte- americana. Essa influência ocorreu porque, durante a Segunda Guerra Mundial, iniciada em 1939, houve uma relação mais formal entre o Brasil e os Estados Unidos.

Durante o período da Guerra, os Estados Unidos ficaram proibidos de atuarem na Europa por razões de política interna. Sendo assim, o governo de Roosevelt concentra-se para estabelecer alianças com outros continentes. Para isso, o governo cria um birô12 com o objetivo de firmar relações econômicas, políticas e culturais com a América Latina. No Brasil, segundo Moura (1993), o birô era coordenado por Berent Friele e foi o responsável pela implantação de programas no país.

Os programas estabelecidos pelo governo norte-americano tinham como objetivo promover uma troca de serviços entre a América Latina e os Estados Unidos. Esses programas estavam ligados a três áreas: informação, saúde e alimentação. Dentre esses serviços estavam: na área da informação, a divulgação de notícias por meio da imprensa, o patrocínio de astros latino-americanos para Hollywood e de astros de Hollywood para a América Latina; na área da saúde, a preocupação com o controle da malária, atendimento médico para trabalhadores, ‘treinamento’ de médicos e outros profissionais da saúde por meio de bolsas de estudos nos Estados Unidos; na área da alimentação, houve uma grande produção de alimentos em algumas áreas do Brasil e alguns profissionais como agrônomos e nutricionistas também foram levados aos Estados Unidos para receberem ‘treinamentos’, enquanto profissionais norte-americanos também vinham ao Brasil para troca de informações.

Segundo Moura (1993), esses e outros fatores também colocaram a cultura brasileira em evidência. A língua portuguesa não era um idioma muito conhecido,

12 Repartição, agência, firma que presta serviços simples de produção e/ou criação gráfica,

por isso, o birô no Brasil ficou encarregado por contratar jornalistas brasileiros para adaptar as notícias à realidade do país, neste caso, os Estados Unidos. Em decorrência desses acontecimentos, os Estados Unidos também disponibilizaram ‘treinamentos’ para brasileiros na área da ciência e educação, além da criação de escolas e cursos em diferentes áreas do conhecimento. Além de oferecer cursos, os americanos também forneciam os materiais para executá-los. De acordo com Moura (1993), esse caráter assistencialista devia-se às dificuldades da América Latina e no modelo de perfeição das instituições americanas, vistas como padrões ideais.

Ao final da Segunda Guerra Mundial, devido aos fatos mencionados anteriormente, surge uma demanda por uma língua internacional devido à grande expansão das atividades econômicas e científicas. Nesse contexto, os Estados Unidos passam a dominar o mercado devido ao seu poder econômico. Por essa razão, o inglês passa a ser a língua internacionalmente aceita tanto comercial como academicamente.

O nosso país, sendo contaminado pela cultura americana e marcado pelo poder da potência política, econômica e cultural americana, também foi influenciado pelos preceitos que regiam os Estados Unidos. A instalação desse birô no Brasil influenciou a cultura brasileira na época e repercute até os dias de hoje. Frutos dessa influência são os traços característicos da cultura norte-americana por todo país; palavras provenientes da língua inglesa permeiam o universo brasileiro, nomeando objetos, lojas, comportamentos, alimentos etc. Foi nesse momento que começam a surgir as escolas e os institutos culturais americanos no Brasil, como, por exemplo, o Instituto Brasil - Estados Unidos (IBEU) que, apesar de ter surgido um pouco antes da Guerra, fortaleceu-se ainda mais pós-guerra.

De acordo com Moura apud Silva (1999):

Nessa época, fortaleceram-se também as escolas americanas, assim como se ampliou a atuação dos institutos culturais americanos em território brasileiro. Embora tivesse aparecido pouco antes da guerra, o IBEU (Instituto Brasil-Estados Unidos) ganharia um formidável impulso nesse momento, constituindo não apenas um centro difusor da língua inglesa, mas também um centro de atividades culturais variadas (palestras, concertos etc.) de importância crescente. O governo americano deu incentivos também à difusão do ensino de inglês, por meio de livros, filmes, discos e exposições itinerantes. (...) Começaria a partir daí o declínio do francês como língua por excelência das chamadas elites culturais do país (MOURA, 1993, p. 48 apud SILVA, 1999, p. 18).

A partir desse fato histórico, a busca pelo aprendizado de uma segunda língua vem crescendo desenfreadamente e, concomitantemente, vários institutos privados de idiomas começam a surgir para atender a este público. Com o surgimento de diversos institutos de idiomas, o mercado começa a se sentir ameaçado e, para sobreviver, eles precisam criar recursos para despertar o interesse dos alunos e, assim, manter os cursos em funcionamento.

Atentando-se para esses fatos, é possível perceber que inúmeras propagandas de cursos de inglês invadem o nosso cotidiano, seja em jornais, revistas, folhetos, internet ou televisão, divulgando novas metodologias de ensino.

Diante de uma sociedade movida pelo rápido avanço tecnológico, a profusão de informações e o pluralismo cultural, os institutos privados de idiomas veem-se obrigados a repensar as metodologias usadas no ensino de línguas para conseguirem atingir essa nova clientela.

O mercado competitivo entre os institutos privados de idiomas é um fator que colabora com o crescimento maciço de propostas cada vez mais persuasivas por parte desses institutos para conseguirem atrair alunos e se manter no mercado.

O método ligado à tecnologia é um recurso recorrente utilizado em propagandas de divulgação de cursos de inglês. É muito comum encontrar em outdoor, folhetos e sites o uso de slogans contendo a palavra método ou metodologia como elementos persuasivos no ensino de inglês. No dia a dia, quem já não se deparou com frases do tipo: método dinâmico e eficaz, método especializado, método desenvolvido nos Estados Unidos, metodologia especializada, metodologia voltada para a comunicação, dentre outras.

Uma pesquisa de Mestrado realizada por uma pesquisadora da PUC/SP, cujo objetivo foi analisar os itens lexicais nas propagandas de escolas de idiomas, já revelou que muitos institutos privados de idiomas produzem um discurso retórico ao tentarem atrair novos estudantes.

Sobre esse assunto, Silva (1999) revela:

Logo no início, já pudemos perceber que visão de ensino- aprendizagem é aparente nas propagandas somente superficialmente. Não que as escolas não a tenham, mas o que elas mostram para nós não é, com certeza, o que elas fazem com relação ao ensino e à aprendizagem. O motivo disso acontecer talvez seja porque nesse momento da negociação questões relacionadas ao ensino e à aprendizagem não são interessantes para vender seus cursos, pois não é isso que o público quer saber [...] Verificamos

também, através deste estudo, que as escolas ao divulgarem seus cursos se preocupam com as mesmas coisas que os vendedores de empresas comerciais, de produtos comercializados se preocupam. Vendedores de cursos de escolas de línguas não se preocupam com aquilo que é específico de escola, ou seja, ensino-aprendizagem [...] São vantagens e mais vantagens apeladoras que se apresentam ao público com o objetivo de persuadi-lo a atitude de escolha. Por isso, o que predomina, é um discurso retórico das escolas apresentando- se com inúmeras credenciais legitimizantes com o objetivo de construírem uma realidade para que o público as veja como persona

grata. Assim, a presença exagerada de apelos que acenam com

vantagens é uma marca evidente em todas as propagandas em geral (SILVA, 1999, p. 169-170).

O excerto que antecede este parágrafo tem o intuito de mostrar como a concorrência induz os institutos a produzirem propagandas que valorizem os seus recursos e métodos ao se disporem a ensinar uma determinada língua. Provavelmente, o alto grau de disputa entre eles ocasione discursos focados nos melhores métodos e recursos tecnológicos para ensinar uma língua estrangeira. Levando em consideração que essa pesquisa foi realizada há vinte anos, tudo me leva a crer que a competitividade só tem aumentado, fazendo com que os institutos privados de idiomas criem estratégias para tentar atrair um novo público. Com certeza essas estratégias estão ligadas aos métodos e às tecnologias voltadas para o ensino de língua inglesa, como está evidente nos diversos veículos que divulgam cursos de inglês por todo Brasil.

Conforme dito no parágrafo anterior, o número de institutos privados que se dedicam ao ensino de inglês vem aumentando a cada ano e, provavelmente, eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 contribuirão para elevar ainda mais esses números. Isso pode ser comprovado por índices estatísticos apresentados em uma matéria extraída do site de notícias G1, setor educação:

O ensino de inglês no Brasil, porém, está em expansão: entre 2010 e 2011, o faturamento das 73 redes de escolas de idiomas, que já somam 6.215 unidades pelo país, cresceu 11% e chegou a R$ 3,1 bilhões, segundo levantamento da Associação Brasileira de Franquias (ABF). O número total é ainda maior, pois os dados excluem escolas que não funcionam como franquias de redes [...] Além da inclusão recente de parte da sociedade a serviços antes oferecidos para uma minoria, a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 fizeram do Brasil um palco de eventos internacionais. O mercado de turismo, porém, se deparou com profissionais sem capacitação para receber a quantidade de estrangeiros que deve desembarcar no país nos próximos anos

(MORENO, A. C. Brasil perde oportunidades por falta de domínio do

inglês. Disponível em: <http://g1.globo.com >Acesso em: 02 mar. 2014).

A questão da implosão de institutos privados de idiomas no Brasil e o uso da persuasão para atrair novos alunos não são os temas centrais desta pesquisa, mas considero importante destacar como o método está presente no cerne dos institutos privados de idiomas como meio para convencer a população de que aliado a uma boa estrutura institucional é o melhor caminho para se aprender uma língua estrangeira. Esse foi um dos motivos que me levou a pesquisar a concepção de método em institutos de idiomas, uma vez que, a partir do momento que se apropriam desse termo para promover os cursos, é imprescindível que os coordenadores desses institutos o conheçam a ponto de explicar à sociedade o que são esses métodos utilizados em cada instituto privado de idioma selecionado para esta pesquisa. Isso será exposto mais detalhadamente na seção de apresentação dos resultados da análise dos dados.

Nesta passagem, apresentei um breve panorama histórico sobre a influência da cultura norte-americana no Brasil, o que contribuiu para a instalação de diversos institutos de idiomas no país.