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CAPÍTULO 02: MARCO TEÓRICO

2.4 O ENSINO E A APRENDIZAGEM DE CONCEITOS ACERCA DAS

O tema Reações Químicas foi selecionado para a pesquisa em função das possibilidades de articulação de conteúdos que ele permite, das variadas formas

possíveis de estimulação das diferentes inteligências e da relevância do mesmo para o ensino de Química, pois, como ressalta Maldaner (2000), ele é a essência da Química. Além disso, todos os assuntos propostos nos programas e vários fenômenos que ocorrem cotidianamente giram em torno da compreensão das transformações químicas; tal centralidade aparece explicitada em documentos que norteiam a construção dos currículos, a exemplo dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN):

(...) o aprendizado de química pelos alunos do Ensino Médio implica que eles compreendam as transformações químicas que ocorrem no mundo físico de forma abrangente e integrada e assim possam julgar com fundamentos as informações advindas da tradição cultural, da mídia e da própria escola e tomar decisões autonomamente, enquanto indivíduos e cidadãos (BRASIL, 1999, p. 240).

Parece ser consenso entre os pesquisadores que a fonte da confusão na química reside no fato de os estudantes terem que articular dois mundos diferentes: o macroscópico e o microscópico. Herron citado por Bodner (1992) identifica um terceiro: o simbólico. Johnstone (1982) apresenta esses níveis do conhecimento químico da seguinte forma:

a) Nível macroscópico (fenomenológico): descritivo e funcional, é o campo onde se pode ver e manusear materiais, analisar e descrever as propriedades das substâncias em termos de densidade, pontos de fusão etc. e observar e descrever suas transformações.

O nível macroscópico aporta conceitos do conhecimento que são passíveis de uma maior concretização, e também de análise ou determinações das propriedades dos materiais envolvidos e de suas transformações (MACHADO, 1999). Nessa perspectiva, é possível trabalhar com as reações químicas, considerando o fenomenológico, no que elas têm de mais visível e mensurável.

b) Nível simbólico (representacional): é o campo onde representam-se substâncias por fórmulas e suas transformações por equações. É a linguagem sofisticada do conhecimento químico. Para Andrade Neto et al. (2009) a simbologia na química tem que ser entendida como uma forma de facilitar a compreensão de aspectos abstratos concernentes ao assunto. O significado dos símbolos deve ser apresentado correlacionado com a teoria sobre o assunto abordado, familiarizando o

estudante não só com o conteúdo, mas também com a linguagem que está sendo utilizada. Ocorrendo o domínio da linguagem, é possível a manipulação de sistemas de símbolos e a compreensão dos aspectos teóricos.

c) Nível explicativo (microscópico): O conhecimento químico deve apresentar as informações de natureza microscópica, e os conhecimentos inerentes a esse nível têm como função explicar e fazer previsões relacionadas com o fenômeno percebido, ou seja, com o nível macroscópico. É o nível onde invocam-se átomos, moléculas, íons, estruturas, que fornecem um quadro mental para racionalizar o nível descritivo mencionado acima. As reações químicas tornam-se um processo de reorganização (rearranjo) dos átomos das substâncias originais, onde a quantidade e a identidade dos átomos são conservadas (LAUGIER; DUMON, 2004).

Rosa e Schnetzler (1998) salientam a importância das pesquisas relacionadas às concepções alternativas que os estudantes do ensino médio apresentam sobre reações químicas. Neste estudo, estas pesquisadoras observaram que todos os atributos de reações químicas expressos pelos estudantes, restringiam-se ao nível macroscópico, não havendo referência a atributos microscópicos, ou seja, os estudantes expressam suas idéias pautadas em aspectos observáveis, não fazendo uso do modelo corpuscular da matéria para entender os vários fenômenos abordados nestas transformações. Elas ressaltam que a compreensão da ocorrência e dos mecanismos das reações químicas possibilita a compreensão de muitos processos que ocorrem diariamente no cotidiano, como o metabolismo dos seres humanos, a ação de medicamentos, o cozimento de alimentos, entre tantos outros exemplos. Considerando também, a formação do cidadão, infere-se que, epistemologicamente, para que o sujeito conheça a química, o entendimento desse conceito se torna uma necessidade central.

Nery, Liegel e Fernandez (2007) apresentam dados que revelam que no ensino tradicional de Química, os estudantes estão sendo conduzidos a uma simples memorização de regras em sala de aula. No caso das reações químicas, essa memorização leva a uma total desarticulação entre os três níveis apresentados, sendo que, no nível simbólico, o estudante apenas representa a equação química, cujo significado acaba por se transformar em mero algoritmo. Segundo estes pesquisadores, essa memorização é decorrente de um ensino tradicionalista, voltado exclusivamente ao ingresso em universidades públicas ou privadas que, nos

seus exames de admissão, cobram um conteúdo programático muito extenso, o que tem influenciado a abordagem pronunciadamente conteudista do ensino. Neste paradigma, o professor costuma propor atividades que se reduzem à utilização de algoritmos, exigindo do estudante apenas procedimentos mecânicos e memorização, tendo como consequência apenas a transmissão de conteúdos e dificultando a sua adequada compreensão.

Nardin, Salgado e Del Pino (2005) relatam a respeito da dificuldade que os estudantes possuem em entender o conceito de reação química: eles acreditam que tal dificuldade decorre da apresentação tradicional do conceito, que é feita através de uma abordagem mecânica, levando a uma aprendizagem memorística que dificulta a articulação entre os níveis macro, micro e simbólico. Concordando com o autor, percebe-se que o ensino tradicional, proporciona uma subjetividade fragmentada que rompe com a unidade do conhecimento e as relações de superveniência (macro/micro) deixam de ser abordadas.

Segundo Driver (1989), é possível que os alunos assimilem conceitos sobre átomos e moléculas e suas representações do modo pretendido nas aulas de ciências, mas quando se encontram diante de um fenômeno que tenham que explicar, tendem a considerar relevantes não as noções que lhes foram ensinadas, mas sim as ideias intuitivas próprias, das experiências de cada um.

Para compreender o sentido pleno de uma reação química, o estudante deve ser capaz de passar da situação observada (os fenômenos tangíveis, no nível

macroscópico: o que pode ser visto, tocado ou sentido), para o domínio do modelo,

onde o comportamento das substâncias é descrito em termos de representações que envolvem o nível microscópico (átomos, moléculas, íons e suas estruturas) e finalmente, depois de passar por essas duas etapas, o estudante deverá ser capaz de traduzir por meio de equações (registro de representações simbólicas: os elementos, fórmulas, equações, quantidade de matéria, e assim por diante) (JOHNSTONE, 1982; 2000; LARCHER, 1994 citado por LAUGIER; DUMON, 2004).