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CAPÍTULO 02: MARCO TEÓRICO

2.2 HOWARD GARDNER E A TEORIA DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS

2.2.3 A Teoria Alicerçada em Diferentes Tipos de Inteligência

2.2.3.9 Reflexões acerca das Inteligências Existencial e Pictórica

Para Gardner (2002), existem evidências persuasivas para a existência de diversas competências intelectuais humanas relativamente autônomas as quais designou como “inteligências humanas” e apontou serem estas as “estruturas da mente” – expressão que intitula uma de suas obras.

(...) a exata natureza e extensão de cada 'estrutura' individual não é até o momento satisfatoriamente determinada, nem o número preciso de inteligências foi estabelecido. Parece-me, porém, estar cada vez mais difícil negar a convicção de que há pelo menos algumas inteligências, que estas são relativamente independentes umas das outras e que podem ser modeladas e combinadas numa multiplicidade de maneiras adaptativas por indivíduos e culturas (GARDNER, H. 2002, p. 7)

Na apresentação original da Teoria das IM, Gardner propôs sete inteligências, mas observou que pode haver um número maior ou menor. "Uma lista de 700 inteligências seria proibitiva para o teórico e inútil para o praticante. Consequentemente, a teoria das IM tenta articular apenas um número manejável de inteligências que parecem constituir tipos naturais" (GARDNER, 2012). Segundo o autor, qualquer um pode criar outras inteligências, mas, a menos que elas se ajustem aos critérios propostos, “postular uma inteligência se torna um exercício de imaginação, e não um trabalho com base no conhecimento acadêmico” (GARDNER et. al, 2010). Ao criar a Teoria das IM, Gardner deixa clara a pluralidade do intelecto e a possibilidade de subdivisão ou reorganização da lista de inteligências ao ressaltar que “[...] cada uma das inteligências abriga sua própria área de sub-

inteligências e que a relativa autonomia de cada inteligência e as maneiras como elas interagem precisam ser mais estudadas” (GARDNER, 2000).

Em textos recentes, Gardner especula sobre a existência de uma possível nova inteligência, a nona, chamada de “inteligência existencial” embora, segundo o mesmo autor, existam pronunciadas razões para considerá-la um amálgama das inteligências interpessoal e intrapessoal, com um componente de valor acrescentado. Gardner a define como uma preocupação com as questões básicas da vida e descreve sua principal capacidade como:

(...) de situar-se com referência ao alcance máximo do cosmos – o infinito e o infinitesimal – e a capacidade relacionada de situar-se com referência a características existenciais da condição humana como o significado da vida, o significado da morte, o derradeiro destino dos mundos físico e psicológico, e àquelas experiências profundas como o amor por alguém ou a total imersão num trabalho de arte. (GARDNER, 1999, p.60).

Armstrong (2001) comenta que Gardner pensou em incluir esta inteligência na teoria das IM porque ela parece ajustar-se muito bem à maioria dos critérios estabelecidos, mas, embora a inteligência existencial não revele um ajuste perfeito em termos destes critérios por preencher apenas parte dos requisitos avaliados para assegurar sua existência, há pontos de confluência suficientes para considerá-la como a recém-chegada ao grupo.

Antunes (2010) relata que, até onde se sabe, nada parece indicar que, no cérebro humano, exista um centro específico, definido e localizado que represente a „morada‟ da inteligência existencial e que pessoas que sofram traumatismo localizado percam sua „crença existencial (espiritual)‟ sem outras perdas sensíveis. O mesmo autor menciona ainda que seria mais prudente afirmar que, no estágio atual de conhecimento neurológico, não é possível considerar que exista, de fato, a inteligência existencial, circunstância que, entretanto, não exclui a necessidade de estímulos. Essa breve análise estrutural parece tornar claro por que Gardner considera a inteligência existencial apenas uma meia inteligência. O que é moral ou espiritual depende imensamente dos valores culturais; ao descrever as inteligências, lida-se com capacidades que podem ser mobilizadas pelos valores de uma cultura, e não pelos comportamentos que são, eles próprios, valorizados de uma maneira ou outra.

Essa inteligência está ligada à capacidade de considerar questões mais profundas da existência, de fazer reflexões sobre quem somos, de onde viemos ou por que morremos. Ainda não aceito inteiramente essa inteligência porque os cientistas não provaram que ela requer áreas específicas do cérebro. Por isso digo que existem oito inteligências e meia, embora a afirmação possa parecer um pouco estranha à primeira vista (GARDNER, H. em entrevista com SILVA e GUIMARÃES, 1997)

No Brasil, através dos trabalhos de Nilson Machado e Kátia Stocco Smole, é validada outra possível inteligência chamada “inteligência pictórica”. Esta relaciona- se com a capacidade de expressão por meio do traço, pela sensibilidade para dar movimento, beleza e expressão a desenhos e pinturas, pela autonomia para apanhar as cores da natureza e traduzi-las em apresentações incluindo aqui a pintura clássica e o desenho publicitário. Manifesta-se também pela arte da caricatura e pelo uso de linguagens específicas de computador. Outras características enriquecem ainda mais a capacidade pictórica:

(...) as histórias em quadrinhos destacam expressivos modelos dessa capacidade de imprimir força, beleza e movimento aos traços, e cartunistas como Bill Anderson, criador de Calvin e Haroldo, e muitos outros possuem certamente extraordinário poder de „falar‟ usando a linguagem pictórica (ANTUNES, 2010, p.68).

Para Machado (1995), antes mesmo que a linguagem escrita seja acessível ao ser humano, os recursos pictóricos tornam-se elementos fundamentais na comunicação e na expressão de sentimentos, representando um canal por meio do qual as individualidades podem revelar-se. Gardner, em suas obras, não a menciona e consequentemente não a coloca no grupo das inteligências de sua teoria, pois não acredita que seus pressupostos caracterizem uma inteligência e, portanto, passe pelos oito pontos básicos para sua existência (Antunes, 2010).

Em sua obra “Mentes que criam”, Gardner analisa cautelosamente as habilidades de Picasso e identifica-o como verdadeiro ícone do desenvolvimento das inteligências espacial, cinestésica corporal e interpessoal em total interação e acredita que os estados finais atribuídos à inteligência de Machado, como pintores e ilustradores, não expressem a qualidade específica da inteligência pictórica. É posta a discussão: “para Nilson Machado, a extrema competência pictórica é uma inteligência, para Gardner, ela é o fluxo de três inteligências atuando de forma simultânea” (ANTUNES, 2010). Mas essa divergência, no entanto, não necessita

atravessar os limites acadêmicos; mais essencial que admiti-la como autônoma ou não, parece ser a necessidade de pais e professores terem a sensibilidade para saber percebê-la, reconhecê-la como linguagem independente que, assim, pode representar expressão válida do conhecimento e apontar “ferramentas” que possam incentivar seu desenvolvimento (ANTUNES, 2010).

2.2.4. Inteligências de Gardner – Centros Neurais, Fatores Desenvolvimentais,