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O Ensino da Leitura: A Decifração

No documento TESE 2011..8ª SÃ são final 11 5 2012 (páginas 39-44)

"Escrevendo ou lendo nos unimos para além do tempo e do espaço, e os limitados braços se põem a abraçar o mundo; a riqueza de outros nos enriquece a nós. Leia."

Agostinho Silva

O ser humano apresenta um modo de funcionamento característico, ao receber os estímulos recebidos do exterior que automaticamente lhe exigem uma resposta. Ao longo do seu desenvolvimento/crescimento, o ser humano estará constantemente a alcançar patamares diferentes de conhecimentos. Primeiro assimila, acomoda e equilibra para assim produzir uma resposta (Piaget, 1982).

No que respeita à linguagem, estas fases processam-se da mesma forma: 1º A criança reconhece as cadeias fónicas ou gráficas. 2º A criança produz as cadeias fónicas ou gráficas dotadas de significados. 3º A criança consciencializa e sistematiza o conhecimento intuitivo da língua.

Sim-Sim et al. (1997) e Sim-Sim (2009) nomeiam cinco competências essências para que a criança chegue ao sucesso nesta competência e são: 1. Compreensão oral. 2. Leitura 3. Expressão oral. 4. Expressão escrita 5. Conhecimento explícito da língua.

Se a pré-leitora (a criança) estiver em contacto desde muito cedo com um ambiente rico em estímulos orais e escritos, (ouvir histórias ou notícias, conversas ouvir e ver as legendas dos filmes, ouvir televisão e outras…), a sua pré-disposição para a leitura será maior e perceberá/descobrirá intuitivamente que a escrita se organiza em segmentos gráficos. Essas unidades são: as palavras que tem um significado, as sílabas e os fonemas correspondentes às unidades mínimas que têm nomes.

A criança compreenderá que existe uma organização sequencial e posicional das letras, sílabas e palavras e que existem regras que nos obrigam a escrever da esquerda para a direita e de cima para baixo.

Sim-Sim et al. (1997); Sim-Sim (2009) afirmam que a criança ao apreender estes pré- requisitos terá sucesso assegurado na aquisição da leitura e da escrita e interioriza que ao ler o que está escrito, acaba por se relacionar com a linguagem oral.

Então, quanto maior é o conhecimento lexical da criança - nomeadamente, a relação escrita/som, a realização de alguns sons através de diferentes formas gráficas - maior será a sua capacidade de decifração. Segundo Sim-Sim (2009) é: “a recodificação fonológica, i. e, a

tradução de uma sequência de grafemas numa sequência de sons que constituem uma palavra permitindo o acesso ao significado do que está escrito” (pág. 22)

Sim-Sim (2009) refere também que a nossa língua está inteiramente ligada com o princípio alfabético, pois as palavras escritas são compostas por letras, que estão convencionalmente associadas a segmentos fónicos das palavras da língua oral.

A decifração, segundo Sim-Sim (2009) é a correspondência entre o número limitado de sons da língua e o número limitado de letras do alfabeto, bem como a reflexão que a criança faz dos mesmos (significado).

Frota e Pereira (2004) afirmam que a língua portuguesa possui um sistema de escrita alfabético essencialmente fonémico, que se baseia na relação entre os sons e as letras correspondendo à consciência fonológica. Ora, sem essa capacidade desenvolvida torna-se mais moroso o processo de decifração.

Capovilla et al. (2004) e Sim-Sim (2009) consideram que o desenvolvimento da leitura é um processo no qual a criança utiliza diferentes estratégias e que ocorre em três fases sequenciais: a logográfica, a alfabética e a ortográfica.

A fase logográfica é caracterizada por uma leitura de reconhecimento instantâneo de palavras familiares, tomando como referência suas características gráficas evidentes sem levar em conta a ordem das letras na palavra (esta estratégia é muito utilizada para crianças que apresentam dificuldades na aquisição da leitura, utilizando a correspondência da imagem à palavra). Nesta fase, anterior à decifração, a criança ainda necessita da ajuda de imagens para relacionar o código escrito à palavra. Cardoso-Martins e Pennington (2001) e Sim-Sim (2009) afirmam que, no início da aprendizagem da leitura, as crianças não processam as relações entre as letras na grafia das palavras ou entre os sons na sua pronúncia, mas começam a iniciar a sua fase leitora através da formação de uma associação entre uma característica saliente na grafia da palavra ou em torno dela e o seu significado e/ou pronúncia da palavra. Esta estratégia de

leitura chama-se logográfica. Sendo uma estratégia imprecisa (pois palavras com grafias semelhantes podem levar a uma decifração errada) isso dificulta a decifração de palavras desconhecidas.

A fase alfabética é caracterizada pelo início da aquisição do princípio alfabético. A criança necessita também da consciência fonológica, pois recorre-se aos sons das letras que compõem uma palavra, tendo em conta que as primeiras letras formam uma sílaba.

Alegria (1985), Capovilla et al. (2004), Castro e Gomes (2000), Freitas et al. (2007), Sim-Sim et al. (2008) referem que o treino da consciência fonológica, combinado com o ensino da correspondência grafema-fonema, acelera a aquisição da leitura. Pode-se então dizer que existe uma correspondência unívoca entre ambas e, por outro lado, perante esta correspondência unívoca, pode-se antever um défice na consciência fonológica e, logo, um défice na leitura e escrita,

Sim-Sim (2009) cita Walpole e Mckenna pois os mesmos consideram: “Mesmo os leitores fluentes, embora não pareçam lêem, as palavras processando

efectivamente cada letra da palavra, fazem-no contudo de uma forma automatizada, pois o processo de decifração já foi adquirido pelo leitor através dos seus mecanismos cognitivos preparados para tal, estando assim autónomo” (pág.48).

Ao olhar para a palavra escrita, o leitor automaticamente a “fotografa” no seu intelecto e sabendo as regras de representação das letras e da leitura, o mesmo realiza automaticamente e em simultâneo as fases que competem à consciência fonológica e à fase lexical, para depois representar na sua memória imediata a apresentação da palavra ortograficamente. Assim como os sons pertencentes à mesma. Seguidamente recorre à semântica ao dar significado à palavra. Estas fases aglutinam-se numa única em poucos segundos.

Na fase ortográfica, a criança realiza a leitura por meio da análise das palavras em unidades ortográficas (grupos de letras e morfemas), tendo já realizado anteriormente a análise fonológica pelo que, nesta fase, já não precisa da conversão fonológica. As palavras são processadas analiticamente e não há o uso de conversão fonológica. A criança usa processos superiores que apelam à formação das palavras e ao seu significado, para além das relações que elas assumem num texto.

Na fase ortográfica, a criança aprende que há palavras que envolvem irregularidade nas relações entre os grafemas e os fonemas. Ela aprende que é preciso memorizar essas palavras para que possa fazer uma boa pronúncia na leitura e uma boa produção ortográfica na escrita. Ima vez que se dá como adquirida a fase alfabético, em que aprendeu as regras de correspondência entre grafemas e fonemas. Na fase ortográfica, a criança debruça-se nos

pormenores da Língua e na memorização das excepções às regras de ortografia. Ao realizar a análise morfológica das palavras a criança usa a função metacognitiva para identificar o significado da palavra, e também a compreensão da mensagem através da escrita nas frases e no texto Quando chega a esta fase pode considerar-se que a criança se encontra num estádio superior bem consistente da leitura e interpretação das palavras, conseguindo ler as palavras familiares com cada vez maior rapidez e fluência, por meio do reconhecimento visual directo (Capovilla, Joly, Ferracini, Caparrotti, Carvalho & Raad, 2004).

É importante ressaltar que, ao chegar a este último estágio, só porque a criança passa a ser capaz de fazer uso da estratégia lexical, não significa que ela abandone as estratégias anteriores. Em verdade, as três estratégias de leitura ficam disponíveis, o tempo todo à criança, sendo que ela aprende a fazer uso da estratégia que se revelar mais eficaz para um ou outro tipo de material de leitura e escrita.

Mota (2007) considera pertinente abordar a noção de morfema e como as crianças a processam, pois também se relacionam com a estrutura fonológica. Existem duas grandes classes de morfemas: as raízes (núcleo de uma palavra) e os afixos que são dois tipos: prefixos adicionados antes da raiz e sufixos adicionados depois da raiz. O autor introduz também a noção de derivações que determinam o género, o número dos substantivos e adjectivo e nos verbos atribuem o nome derivações temáticas, modos temporais, número e pessoais.

Mota (2007) concorda com a complexidade do funcionamento da língua e nomeia um estudo efectuado por Deacon e Bryante, chegando à conclusão que as crianças têm mais facilidade em escrever os sons finais das palavras, mas a sua validade só se verifica para os sufixos, apresentando um grau de complexidade nas derivações morfossintácticas incluindo a gramática, as formas diferentes de escrever as palavras, a partir da raiz e as diferentes formas que assumem quando escritas de forma diferente, tais como adjectivos, passam a ser substantivos abstractos e palavras que assumem significados diferentes.

Mota (2007) recorre aos estudos de Carlisle, Stone e Kats e ao estudo de Mota, Moussatché, Castro, Moura e Ribeiro em que os resultados reforçam a ligação entre a consciência fonológica e o desempenho das crianças na leitura e escrita, pois os grafemas e morfemas assumem sons diferentes em várias palavras diferentes que alterem a raiz. Logo, tudo depende de língua para língua.

A lista 6, retirada de Sim-Sim (2009:14), procura mostrar como se processa o acesso à leitura da palavra.

Lista 9. Vias de acesso ao reconhecimento das palavras escritas.

É importante frisar que os primeiros contactos da criança com o mundo da fala e da escrita são essenciais para que a criança atinga sucesso na leitura. A criança adquire assim uma maior capacidade para descodificar o grafema e chegar ao som (fonema) e realizará esta tarefa com facilidade sua consciência fonológica o permitir.

Palavra escrita Conversão grafema/fonema Automatização na conversão do grafema/fonema Automatização na conversão do grafema/fonema

Formatação fonológica Busca no léxico visual

Representação ortográfica

Activação semântica

Identificação dos significados da palavra

2.4.Possível relação da consciência fonológica com as dificuldades específicas da

No documento TESE 2011..8ª SÃ são final 11 5 2012 (páginas 39-44)