• Nenhum resultado encontrado

Possível relação da consciência fonológica com as dificuldades específicas da leitura

No documento TESE 2011..8ª SÃ são final 11 5 2012 (páginas 44-47)

A consciência fonológica influencia o desempenho das crianças na decifração, permitindo-lhes conseguir ser bons leitores. Mas, como em todas as fases de desenvolvimento da criança, implica a acção da criança e as relações que mantém com o meio envolvente. Neste campo, também a criança deverá ter a consciência fonológica estimulada e desenvolvida e só o conseguirá se a sua interacção com o meio envolvente for activa e assim poderá obter o sucesso que implica esta tarefa - A leitura (Freitas et al., 2007; Sim-Sim, 2009; Silva, 2008).

Albuquerque, Simões e Martins (2011) recorre a Badian e a Goulandris, Snowling e Walker para evidenciar a importância que o nível de consciência fonológica que a criança tem será um indicador possível para diferenciar crianças com e sem dificuldades de aquisição da leitura (dislexias), equiparáveis em termos de idade cronológica ou desempenho na leitura, e que a consciência fonológica é capaz de constituir, desde a idade pré-escolar, um importante factor-aviso para o despiste da problemática da dislexia.

Albuquerque et al. recorrem a Sprenger-Charolles, Colé, Lacert e Serniclaes e a Badian que consideram que o treino da consciência fonológica poderá exercer um impacto moderado, mas estatisticamente significativo, na aprendizagem da leitura

Rocha (1991) considera que o conceito de dificuldade de aprendizagem da leitura e escrita é definida como “a dificuldade que certos indivíduos têm para a leitura, o que implica um défice de consciência fonológica e futuros problemas na aquisição da leitura e escrita”.

É importante referir que só se está a entrar em linha de conta com a variável consciência fonológica e não considerar outros factores adjacentes a possíveis dificuldades de aquisição da linguagem, tais como: factores orgânicos, sociais, genéticos e alimentares.

Kamhi (1992) opta por uma definição inclusiva, centrada na própria linguagem e na separação das dificuldades sentidas no processamento de informação de carácter fonológico. Esta definição vai de encontro às correntes de pensamento actual, que argumentam a possibilidade de distinção de leitores “pouco eficientes” e crianças com dislexia. Assim, para uma melhor compreensão da ideia passamos a citar a referida definição (Kamhi, 1992):

«A dislexia é uma desordem ao nível de desenvolvimento da linguagem cuja

principal característica consiste numa dificuldade permanente em processar informação de ordem fonológica. Esta dificuldade envolve codificar, recuperar e usar de memória códigos fonológicos e implica défices de consciência fonológica e de produção do discurso. Esta desordem, com frequência geneticamente

transmitida, está, por via, de regra presente à nascença e persiste ao longo de toda a vida. Uma característica marcante desta desordem manifesta-se nas deficiências ao nível da oralidade e da escrita» (p. 50).

Em 2002, a Associação Internacional de Dislexia adoptou a seguinte definição: «Dislexia - É uma incapacidade específica de aprendizagem de origem

neurobiológica, caracterizada por dificuldades na correcção e/ou fluência na leitura de palavras e por baixa competência leitora e ortográfica. Estas dificuldades resultam de um Défice Fonológico, inesperado, em relação às outras capacidades cognitivas e às condições educativas. Secundariamente podem surgir dificuldades de compreensão leitora, experiência de leitura reduzida que pode impedir o desenvolvimento do vocabulário e dos conhecimentos gerais.»

Esta definição de dislexia é a actualmente aceite pela grande maioria da comunidade científica, sendo denominada por dificuldade específica de aquisição da leitura e escrita. Torres e Fernández (2001) consideram que, numa primeira fase, se estabeleceu a existência de dois tipos de dislexia: a auditiva e a visual. Mas as investigações mais recentes apontam para a existência de variantes distintas de dificuldades específicas de aquisição da leitura e escrita, tais como: as fonológicas, as gráficas e outras demais.

O subtipo mais usual é caracterizado por uma perturbação auditiva ou fonológica, que é a que está implicitamente ligada com a consciência fonológica. A perturbação ao nível fonético afecta o processo cognitivo, que relaciona os fonemas com os grafemas. A dificuldade reside na integração do grafema-fonema. A criança apresenta uma fraca consciência fonológica, o que se caracteriza por uma confusão nas sílabas iniciais, intermédias e finais, e por défices na memória auditiva - a resposta da criança será desadequada devido ao processamento cognitivo estar debilitado. As dificuldades fonológicas, de que sofrem as crianças com dificuldades de aprendizagem específica da leitura e escrita, são devidas a uma incapacidade funcional do hemisfério esquerdo do nosso cérebro para a compreensão dos sons, afectando assim tudo o que está subjacente a esta competência, mais especificamente, o atraso de processamento de informação, a memória de curto prazo. Consequentemente, essa informação acabará por ser processada de forma errada.

A investigação dos últimos dez anos tem-se centrado no modelo de défice fonológico. Por esse motivo, convém explicar a importância que a consciência fonológica tem. Tunmer e Rohn (1991) dizem que: ”é a capacidade para conscientemente manipular, mover, coordenar

ou suprimir os elementos sonoros das palavras orais. É também a capacidade de reflectir

sobre os segmentos sonoros das palavras orais.

Nesta perspectiva, as crianças com défice fonológico apresentam dificuldade em trabalhar os códigos escritos e respectivos sons, na memória de curto prazo e, futuramente, integrá-los na memória de longo prazo, para depois dar uma resposta correcta. Lopes (2007) afirma que as crianças com este tipo de problemática mostram um défice em vários aspectos do processamento fonológico e têm dificuldades em segmentar a linguagem, (nomeadamente em tarefas de omissão de letras, ordenação de sílabas).

Este tipo de problemas leva a que muitos investigadores considerem que o problema persiste principalmente no reconhecimento das palavras.

A criança começa por diferenciar os sons que, numa fase inicial correspondem à consciência silábica, depois numa fase mais avançada começa a ter dificuldades em associar os sons dos grafemas aos fonemas. O facto de as consoantes assumirem vários sons (tais como: os sons fricativos, oclusivos e vibrantes) e as vogais se apresentarem com sons fechados, abertos, semi-abertos, nasais e orais, cria dificuldades extremas para este tipo de crianças com problemas ao nível da consciência fonológica.

Para estas crianças, torna-se importante realizar actividades de treino ricas em literacia e consciência fonológica, para que possam assim adquirir o princípio alfabético e conseguir diminuir a sua dificuldade na correspondência grafema/fonema e analisar os sons das diversas sílabas e palavras que assumem diferentes sons. Todo o fonema apresenta diferentes propriedades acústicas em função dos fonemas que o antecedem e o procedem, o que torna este processo tão complexo. É usual dizer que as consoantes dependem das vogais e que se associam às vogais. Entrando-se, mais tarde, no âmbito da complexidade, quando se junta o som de duas consoantes, que são difíceis de decifrar pela criança com este tipo de dificuldades.

Uma deficiência no processamento fonológico perturba a descodificação e impede a identificação das palavras e a futura compreensão semântica, pelo que tem de ser reeducada e treinada. Nos seus estudos, Silva (2003) concluiu que as crianças em idade pré-escolar têm um maior grau de sucesso em tarefas silábicas (pois apresenta um grau de concretização) e falham mais frequentemente em tarefas que implicam segmentos fonéticos (pois está subjacente a exigência da abstracção). Nesta idade, ao verificar-se alguma dificuldade, esta constituirá um sinal para alguma problemática ao nível auditivo ou fonológico. Alegria (1985) afirma que é importante ajudar as crianças a analisarem a linguagem, para que entendam a relação que existe entre as letras e o que elas representam.

Escribano (2007) afirma que o professor, a família, o médico de família, o pediatra deverão fazer o despiste da história de desenvolvimento pré-natal, a gravidez e o parto; desenvolvimento linguístico (primeiras palavras, articulação, vocabulário, palavra-frase); desenvolvimento emocional; história educativa; história médica, (défices visuais, défices auditivos, epilepsia, lesões cerebrais importantes, outras doenças ou problemas graves de saúde); história social. Com estes dados, o pedopsiquiatra aplica testes de avaliação característicos para a problemática específica de cada criança.

Teles (2004) afirma que esta problemática poderá precocemente ser observável antes do início da aprendizagem da leitura. Teles (2004) nomeia sinais de alerta para que exista um grau de prevalência deste distúrbio e que poderão ser indiciadores de futuras dificuldades a esse nível. Se esses sinais forem observados e se persistirem ao longo de vários meses, os pais devem procurar uma avaliação especializada. Não se pretende ser alarmista, mas sim estar consciente que uma criança mais tarde poderá vir a ter problemas neste campo, se nada se fizer precocemente. Os anos perdidos não podem ser recuperados, pois a criança, nos primeiros anos, apresenta uma plasticidade cognitiva para a um plena aprendizagem (Piaget, 1982).

No documento TESE 2011..8ª SÃ são final 11 5 2012 (páginas 44-47)