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2.3 Ensino de Língua Materna mediado pelas TICs

2.3.1 O ensino mediado pelas TICs nos documentos oficiais

Em 1998, o governo brasileiro instituiu os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), com o objetivo de orientar professores de diferentes áreas. Para o ensino fundamental, os PCNs são divididos em duas partes, uma contempla o ensino de

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“[...] involves social practices that can potentially promote the construction of knowledge and meanings and therefore cannot be isolated from the contexts in which these are produced”.

primeira a quarta série (anos iniciais), e a segunda parte (anos finais) contempla os referenciais para o ensino do quinto ao oitavo ano (agora nono). Para o ensino médio, na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, o referencial curricular apresenta um conjunto de sugestões de práticas educativas e de organização dos currículos.

Mais recentemente ainda, em 2009, a Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul lançou como base para a educação desse Estado os Referenciais Curriculares do RS – Lições do Rio Grande23

(RIO GRANDE DO SUL, 2009). Esse documento tem ancoragem teórica interacionista e propõe uma nova abordagem para o ensino de Língua Portuguesa.

Diante dessa realidade, Kleiman (2010, p. 9) também reflete sobre a questão dos documentos oficiais no ensino de língua materna:

A proposta dos PCNs de fundamentar o ensino da língua materna, tanto oral quanto escrita, nos gêneros do discurso desencadeou uma relevante e significativa atividade de pesquisa visando, primeiro, descrever uma diversidade considerável de gêneros a partir dos heterogêneos textos que os atualizam e, segundo, apresentar referência de determinado gênero.

Ao lidar com Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, enfatizam-se propostas relativas às disciplinas dessa área. Nesse contexto, seguem alguns excertos dos PCNs e também dos os Referenciais Curriculares do Rio Grande do Sul, no que diz respeito ao ensino de língua portuguesa mediado pelas novas tecnologias da informação e da comunicação.

O referencial curricular estadual, Lições do Rio Grande, destaca que “Para uma educação de qualidade é necessário levar às escolas a tecnologia da informação”. (RIO GRANDE DO SUL, 2009, p. 6). Já os Parâmetros Curriculares Nacionais do terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental (quinto ao oitavo ano) apresentam um capítulo dedicado ao ensino de língua portuguesa mediado pelas TICs, intitulado Tecnologias da informação e Língua Portuguesa. O capítulo trata das novas tecnologias como suportes para aulas mais interativas, sem mencionar a questão de gêneros. Utilizando o computador como suporte, o referencial curricular destaca o uso do processador de textos como tecnologia para produção textual, leitura, revisão de texto e aspectos gramaticais. O referencial também aborda o uso de CD-ROM, multimídia e hipertexto como recursos potenciais e aliados ao ensino,

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Aqui, especificamente se refere ao volume I do Referencial curricular da Área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, na seção de Língua Portuguesa e Literatura.

por “[...] combinarem diferentes linguagens e atividades multidisciplinares” (BRASIL, 1998, p. 90).

É interessante notar que, apesar de enfocar o uso de diferentes tecnologias, esse excerto dos PCNs do Ensino Fundamental não faz menção ao trabalho com gêneros textuais. Ao mencionar o uso das novas tecnologias no ensino de língua, os referenciais consideram as tecnologias como suporte e não levam em consideração os benefícios que o trabalho com os gêneros pode oferecer aos eventos de letramento em sala de aula. Tal observação pode estar relacionada ao fato de que os PCNs foram desenvolvidos no final dos anos 1990, quando a internet não tinha uma vasta abrangência aqui no Brasil. Já Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEM) (BRASIL, 2006), detalham aspectos relacionados ao trabalho com textos digitais, algo que parece demonstrar uma preocupação com o ensino mediado pelas TICs no âmbito dos textos digitais apenas no Ensino Médio, além de serem desenvolvidos com uma diferença de oito anos em relação aos PCNs, quando a internet já estava mais difundida no país.

Entre os conceitos e competências gerais desenvolvidos ao longo dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio (PCNEM) está a divisão dos textos em verbal, não-verbal e digital. A linguagem é um conceito-chave abordado ao longo do documento que perpassa os conteúdos e as disciplinas apontadas no referencial curricular. Segundo o PCNEM (2002, p. 46), as competências e habilidades estão no trabalho com “[...] linguagens que usam o computador como suporte”. Todavia, “[...] não basta poder comprar ou possuir uma tecnologia, é preciso aprender a usá-la e, de preferência, a usá-la bem”. (RIO GRANDE DO SUL, 2009, p. 26). Nesse sentido, para o ensino de Língua Portuguesa as práticas de linguagens devem usar o computador e as tecnologias como suporte em uma prática de letramento com o uso dos gêneros, que será explanada ao longo deste estudo.

O PCNEM destaca nas áreas de Linguagens e Códigos o uso de novas tecnologias, como o computador e a Internet. Esses recursos fazem a integração entre as competências e habilidades com a aplicação de tecnologias da comunicação e da informação, em situações relevantes, nas quais a escola pode se valer de tecnologias largamente utilizadas fora dela, com o objetivo de promover metodologias importantes para a sistematização dos conhecimentos como usar a Internet para realizar práticas de leitura não-linear em hipertextos; produzir textos

com usos diversos, a fim de enfatizar a publicação em suporte que permita maior circulação social; utilizar gravação em vídeo de um debate regrado a fim de que se promova a análise crítica da expressão oral, por exemplo. Uma das preocupações dos PCNEM é a de que “[...] o conhecimento acadêmico não desfigure as práticas sociais”. (BRASIL, 2002, p. 52). Nesse sentido, o ensino de língua portuguesa mediado pelas novas tecnologias deve estar relacionado às práticas de letramento, tais práticas contemplam “[...] utilizar as tecnologias da informação e da comunicação em contextos relevantes para a vida (família, escola, trabalho, lazer e outros)” (RIO GRANDE DO SUL, 2009, p. 40), como aponta o referencial curricular estadual.

De acordo com o PCNEM, o contato com hipertextos em meio eletrônico deve propiciar que o aluno trabalhe com links e “[...] adquira e acione mecanismos que impeçam sua dispersão ao pesquisar na mídia eletrônica – e, muito além disso, saiba selecionar, no hipertexto, as informações pertinentes ao problema que procura resolver” (BRASIL, 2002, p. 49), uma vez que o hipertexto pode ser útil em atividades de leitura e suas características são comparadas a um texto que une o verbal e o visual.

Em relação ao letramento digital do professor, o referencial curricular estadual enfoca a capacitação de professores para o uso nas TICs em sala de aula. Dessa forma, desde 2009, o referencial já contemplava a parceria do estado do Rio Grande do Sul com o MEC, no ProInfo, através da instalação de laboratórios de informática, com computadores e softwares educacionais. Nesse sentido, tanto o referencial curricular estadual, quanto o referencial curricular nacional discutem o que já foi abordado na seção anterior, o fato de que todo professor deveria agregar o uso das novas tecnologias às suas práticas e às suas atividades diárias, algo que também está relacionado à administração da formação contínua do professor, a fim de que o professor proponha práticas de linguagem eficazes, em que os alunos possam “[...] reconhecer nas tecnologias de informação e de comunicação possibilidades de integração de diferentes linguagens, códigos e meios de comunicação, bem como o modo como se relacionam com as demais tecnologias”. (RIO GRANDE DO SUL, 2009, p. 41).

A partir da instituição dos PCNs, ocorreu a oficialização da adoção da noção de gênero discursivo como objeto de ensino, pois o documento apresenta como

ponto de partida do ensino os gêneros textuais. Nesse contexto, a próxima seção contempla o conceito e caracterização dos gêneros textuais digitais.