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Estes segmentos temáticos buscam investigar as representações das professoras sobre o planejamento em sala de aula vinculado ao uso das TICs.

SOT – Atualmente o planejamento das tuas aulas contempla o uso das TICs?

Como isso acontece?

STT

Professora Daniele

“[...] ãhn, quando eu planejo ãhn, eu sei que mais adiante em um ou

outro momento eu posso usar o computador como um recurso

pra/motivacional. Mas pra motivar eles a participarem, a se interessarem em... ãhn no conteúdo. Eu acho positivo que assim ó: eu consigo trabalhar primeiro a escrita, organizar e dentro dessa escrita eu coloco/eu agrego os conteúdos de/de gramática.”

Professora Ivana

“Eu não trabalho diretamente com ela, porque me falta esse domínio,

assim, né. Mas eu como eu disse, eu penso, eu tenho ideias que talvez eu não coloque em prática justamente porque eu não sei por onde ou como fazer, tecnologicamente falando, né? Mas eu acredito que eu posso te dizer que eu penso de forma tecnológica, mas daí a prática efetiva em sala de aula, me falta esse/esse ambiente virtual.... dominar esse ambiente virtual, né.“

Professora Káthia

“O que eu posso dizer, eu eu...quando eu faço meu planejamento de

aulas, eu já vejo nesse planejamento o que que pode ser feito dentro da aula da informática. [...] Eu já to visualizando isso também. E pelo

menos os meus alunos assim eles já sabem o que que eles vão fazer no laboratório de informática, eles nunca vão pro laboratório sem saber, porque eles sabem que eles vão fazer dentro do projeto que eles estão trabalhando em sala de aula.”

Os discursos das professoras estão coerentes à proposta do SOT. Dessa forma, em relação ao planejamento para o uso das TICs em sala de aula é possível verificar se as professoras agregam ou não o uso das tecnologias às suas práticas docentes e se isso já está contemplado no planejamento.

A professora Daniele informa que contempla as TICs no seu planejamento como um recurso motivacional. Essa afirmação está coerente à proposta do SOT e também está em conformidade ao tema da representação Uso das TICs x Motivação

dos alunos, analisado anteriormente. Em relação aos aspectos relacionados à

professora, empregado em conjunto com modalizadores verbais compostos e no tempo presente (“quando eu planejo”, “eu posso usar”, “eu acho positivo”, “eu

consigo trabalhar”, “eu coloco/eu agrego”). A docente também acha positivo o

planejamento com o uso das TICs, pois assim ela consegue sistematizar a sua aula. Essas informações são confirmadas a partir do emprego dos verbos e do numeral – com a função de advérbio, no sentido de trabalhar primeiramente (“trabalhar

primeiro a escrita”, “organizar” e “coloco/eu agrego os conteúdos de/de

gramática”), que apresentam uma ordem de atividades, uma rotina, o que pode classificar a figura de ação como ação experiência. (BULEA, 2010). Porém, a predominância do pronome eu e as circunstâncias de tempo (“mais adiante” e “um ou outro momento”) sob a forma de locuções adverbiais, definem um eixo de referência situacional no discurso, classificando assim a figura de ação como ação

ocorrência.

Dessa forma, os modalizadores verbais predominantes no discurso da professora Daniele o classificam como discurso interativo e ainda é possível constatar que a docente não afirmou em que momentos usa os recursos das TICs, apenas que usa em suas aulas e que eles são contemplados no momento do planejamento.

A professora Ivana afirma não trabalhar diretamente com as TICs nas suas aulas por falta de conhecimento. Dessa forma, não foi mencionada a maneira como ela agrega o uso das TICs no planejamento das suas aulas. Seu discurso é marcado por um grau de contextualização no sentido de que sua construção mobiliza elementos específicos que a identificam como actante central no STT, como a forte presença do pronome pessoal em primeira pessoa eu, além do pronome oblíquo me. O discurso da actante apresenta diferentes modalizadores que destacam a suas relações com as TICs: (“Eu não trabalho diretamente”, “me falta esse domínio”, “eu penso, eu tenho ideias”, “talvez eu não coloque em prática justamente porque

eu não sei por onde ou como fazer”, “eu acredito”, “eu posso”, “eu penso de

forma tecnológica”, “me falta”). Dessa forma, é possível constatar que a presença dos advérbios de negação (não) no seu discurso torna o seu enunciado negativo. Já o emprego do advérbio de dúvida (talvez) indica um dos motivos que faz com que ela não utilize as TICs, que é reforçado pela presença do advérbio de modo (justamente).

A partir do discurso da professora Ivana, é possível constatar que a actante pode prever em algum momento o uso das TICs nas suas aulas (“penso, eu tenho ideias”, “penso de forma tecnológica”), porém, não efetiva esse uso (“mas daí a

prática efetiva em sala de aula, me falta”) por acreditar não ser capacitada para

usar os recursos das TICs (reforçado pela expressão me falta em duas ocorrências do discurso). Sendo assim, é possível identificar também que, a partir do uso de diferentes modalizadores, o agir da actante está centralizado na sua relação com as TICs, sob a forma como ela pensa em utilizá-las em sala de aula, mas não o faz de maneira efetiva por acreditar não ter conhecimentos relacionados (de acordo com as expressões “me falta esse domínio”, “dominar esse ambiente virtual”), algo que está em conformidade com a análise do tema da primeira representação

Capacitação Para o Trabalho com as TICs, o que também aparenta uma certa

resistência da professora para agregar o uso das TICs nas suas práticas de linguagem, algo recorrente para os professores (GUERRERO, 2013; VALERIO, 2011) com mais tempo de experiência, como contemplam os estudos de Souza (2007) e Freitas (2009). Sendo assim, é possível classificar o discurso da professora Ivana como interativo, com uma figura de ação ocorrência, marcada pela presença do pronome em primeira pessoa (singular) e pelo fato de que nessa figura de ação predomina a situação da actante, por meio das marcas no texto que mostram relações de temporalidade no que diz respeito ao momento da enunciação do STT.

O discurso da professora Káthia é marcado por modalizadores que se relacionam com a temática proposta pelo SOT. Segundo a actante, o uso das TICs já está previsto no seu planejamento (“quando eu faço meu planejamento de aulas,

eu já vejo nesse planejamento o que que pode ser feito dentro da aula da informática”), que por sua vez está vinculado a um projeto específico (“eles vão

fazer dentro do projeto”).

Desse modo, do ponto de vista das marcas de agentividade, observa-se a coexistência de duas formas pronominais predominantes, sendo a mais frequente apresentada pelo pronome eu (e os pronomes possessivos meu e meus), seguida pelo pronome eles. Embora haja a alternância de formas pronominais, o discurso da professora Káthia pode ser analisado a partir da identificação de dois momentos: no primeiro momento do discurso, é possível identificar a actante central no STT pelas ocorrências do pronome em primeira pessoa; já o segundo momento do discurso

apresenta o pronome eles, que referencia os alunos – os agentes que interagem com a actante no contexto escolar. Assim, em relação aos modalizadores verbais, adverbiais e pronomes empregados, verifica-se que são ocorrentes no primeiro momento do discurso a presença única da actante e o seu agir relacionado ao planejamento (“eu faço meu planejamento”, “eu já vejo”, “eu já to visualizando”). O segundo momento do discurso inicia com a apresentação dos agentes (“meus

alunos”) e posteriormente segue com as ações deles no agir da actante (“eles já sabem”, “eles vão fazer”, “eles nunca vão pro laboratório sem saber”, “eles sabem

que eles vão fazer”, “eles estão trabalhando”). Nesse sentido, também se percebe que o uso do advérbio temporal já apresenta uma circunstância de tempo, indicando um momento recorrente e que realmente se compatibiliza com verbos no presente, ou seja, algo que a professora concretiza em aula. Em contrariedade com o advérbio

já, o emprego do advérbio nunca (nesse contexto como advérbio de tempo), enfatiza

que nas suas, em nenhum momento as TICs são usadas sem um propósito específico.

Nesse viés, o discurso da actante apresenta características de discurso interativo, como o emprego de diferentes formas verbais em primeira pessoa no presente, nas perífrases verbais (verbos compostos), verbos no futuro do presente (em relação aos alunos), além da exposição da situação espaço-temporal apresentada pelo emprego do modalizador adverbial já, em diferentes trechos do discurso. Sendo assim, o STT define a figura do agir como ação ocorrência, pela contextualização que configura o enunciador como ator no STT e a situação em que ele está envolvido com outros agentes (os alunos).

A partir da abordagem textual e análise da interpretação do agir das actantes, é possível constatar que para uma docente, o uso das TICs não é contemplado no momento do planejamento, uma vez que ela alega não ter capacitação para o trabalho com as TICs. Em contrapartida, duas docentes agregam uso das TICs nos seus planejamentos, embora elas não apresentem detalhes de como isso acontece.

Dessa forma, constata-se que os discursos das professoras Daniele e Káthia confirmam o uso das TICs no planejamento e nas práticas em sala de aula, ora visto como um recurso motivacional (para a professora Daniele), ora por estar sempre vinculado a um projeto específico (para a professora Káthia), além de estarem em conformidade com os seus discursos anteriores, presentes na análise do tema da

representação Dificuldades em trabalhar com as TICs, apresentada anteriormente. Já o discurso da professora Ivana está de acordo com as temáticas das representações analisadas anteriormente, Capacitação Para o Trabalho com as TICs e Dificuldades em trabalhar com as TICs, uma vez que a docente não contempla o uso das TICs nas suas aulas por não se sentir capacitada para o trabalho com elas no contexto escolar.