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CAPÍTULO I – Revisão da literatura

1.1.1. O Ensino Profissional privado

Em termos históricos, o ensino profissional foi trazido para Portugal pelo Marquês de Pombal no século XVIII (Alvará de Maio de 1759), foi prosperando com Fontes Pereira de Melo na segunda metade do século XIX, mas só se desenvolveu verdadeiramente e de forma significativa a partir de meados do século XX. Era premente formar pessoas com capacidades técnicas que pudessem desenvolver atividades sem as quais o país não podia crescer. Assim, foram implementadas várias medidas que tentaram colmatar falhas na formação de técnicos industriais de que o país tanto precisava, pois como referiu Oliveira Marques «Das escolas industriais , industriais e comerciais, e de artes e ofícios,

cujo número (de alunos) foram sempre em aumento durante o período republicano, é que iam saindo umas centenas de diplomados, cada ano. Mas a sua preparação, muito mais teórica do que prática, não permitia especializações rápidas nem aquele enquadramento técnico firme de que a novel indústria portuguesa carecia se quisesse pular para a frente».

frequentavam as escolas na época, sobretudo as técnicas, ainda não tinha um impacto representativo na economia do país.

De facto, a formação profissional não passava só pelas escolas, pois já durante o século XIX várias eram as empresas que ensinavam com caráter de aula os seus trabalhadores. Por exemplo, o Arsenal do Alfeite (extinto através do Decreto-Lei n.º 33/2009, de 5 de fevereiro), substituído pela Arsenal do Alfeite, S.A., que se dedica, principalmente, à satisfação das necessidades de construção, manutenção e reparação naval da Marinha Portuguesa, de outras Marinhas da Nato e comerciais, possui desde 1858 uma estrutura própria de formação «articulada» com o ensino oficial, de tal forma eficaz, que foi referida às cortes como exemplo a seguir na sessão legislativa de 1858 e 1859 pelo Ministro da Marinha e Ultramar, no relatório que elaborou e que passo a citar:

«O estabelecimento de uma aula de instrução primária no Arsenal da Marinha , na qual recebem ensino os numerosos aprendizes que trabalham neste estabelecimento , era uma necessidade. Os operários não podem bem desempenhar os melhoramentos introduzidos em todos os artefactos aplicáveis ao serviço da marinha, sem que tenham os indispensáveis princípios elementares. Neste propósito acha-se já funcionando umas aulas de instrução primária, dirigida por um hábil professor indicado como próprio para esse mister pelo comissário dos estudos nesta capital. A dita aula tem sido frequentada por perto de 160 alunos, os quais, na sua maioria, pertencem ao Arsenal da Marinha, e alguns deles, não poucos têm dado suficientes provas de aproveitamento».

Figura 2: Escola Oficina nº. 1 - Aula de Desenho (1914)

Fonte: http://educar.no.sapo.pt/histFormProfB.htm

«O ensino era misto e combinava aulas teóricas e práticas, sem distinção de sexos. Foi uma das experiências pedagógicas (particulares) mais bem

Se recuarmos mais atrás no tempo, aquilo que se passou com a criação das guildas em muitos países europeus ao longo de vários séculos, assemelhava-se ao que na sociedade atual é designado por formação profissional. As guildas eram corporações de artesãos, que funcionavam segundo regras próprias e bastante específicas (normas que regulamentavam, por exemplo, a forma com deviam trabalhar, os preços que deveriam praticar, os direitos dos trabalhadores, a hierarquia - aprendiz, artífice e mestre - , etc.), para onde iam as pessoas que queriam/precisavam de aprender um ofício, adquirindo os saberes que a experiência teria ensinado a outros ao longo de anos de trabalho.

Pensando em tempos mais remotos, podemos questionar-nos: como é que antigamente as pessoas aprendiam as suas profissões? É um facto comprovado que o ser humano quando nasce «está em branco» em termos de conhecimentos do que quer que seja, e só através do processo de socialização é que todas as suas aprendizagens, nomeadamente as sociais, se vão adquirindo ao longo da vida; nada lhe é inato a não ser o instinto de sobrevivência. Isto significa que tudo o que o Homem aprende lhe foi ensinado por alguém e, se num primeiro momento esse alguém são (ou deverão ser) os pais, já mais tarde os saberes são-lhe transmitidos pelos diversos grupos sociais aos quais vai pertencer. No que diz respeito às profissões, os saberes eram passados de geração em geração, os mais novos aprendiam com os mais velhos, os mestres ensinavam os aprendizes. Ora, em termos sociais, qualquer pessoa que tivesse uma profissão fora da agricultura já tinha uma posição social mais elevada, o que fazia com que todos os pais sonhassem com uma profissão para os filhos que lhes proporcionasse uma certa ascensão social. Neste sentido, as famílias, bastante numerosas por sinal, faziam uma enorme sacrifício para conseguir que algum dos seus filhos pudesse ir para uma oficina aprender uma profissão com um mestre. Celebravam um acordo entre si, em que os pais do aprendiz pagavam ao mestre para ensinar ao seu filho todos os saberes e conhecimentos adquiridos ao longo de uma vida de trabalho: para o aprendiz, era garantia de um futuro melhor, poder desempenhar uma tarefa importante, com algum relevo na sociedade; para o mestre, muitas vezes sem descendentes ou com filhos desinteressados na profissão do pai, era a certeza de que alguém ia seguir o seu caminho, de que podia deixar o seu legado de sabedoria a uma pessoa que, um dia, iria fazer por outra aquilo que ele fizera pelo seu aprendiz.

Assim, pode dizer-se que desde sempre existiu «ensino profissional» desde os primórdios da civilização até aos nossos dias, primeiro a um nível particular, privado, e mais tarde, a um nível público, no sentido de ser hoje uma das atribuições do Estado enquanto instituição social dotada de supremacia. As alterações que foram surgindo ao longo dos tempos tiveram a ver com o grau de desenvolvimento da própria sociedade, nomeadamente a evolução tecnológica e as necessidade próprias dos indivíduos.