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CAPÍTULO I – Revisão da literatura

1.1.2. Organização do Ensino Profissional em Portugal

A organização e gestão dos currículos, da avaliação dos conhecimentos adquiridos pelos alunos a das capacidades a desenvolver, estão regulados no Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho, recentemente alterado pelo Decreto-Lei 91/2013, de 10 de julho. De acordo com esta lei, o currículo é um «conjunto de conteúdos e objetivos que,

devidamente articulados, constituem a base da organização do ensino e da avaliação do desempenho dos alunos...» (cfr. art.º 2º), e concretiza-se através de planos de estudo

de acordo com a matriz apresentada pelo presente diploma:

Figura 3: Componentes de formação e carga horária dos cursos profissionais

Os currículos estão organizados num sistema modular que respeita os programas das disciplinas e respetivas áreas disciplinares, sendo os seus conteúdos adaptados a cada curso (atualmente os cursos estão divididos por 19 áreas de formação, as designadas famílias profissionais), constituindo a base dos conhecimentos e capacidades a adquirir pelos alunos.

Neste sentido, os cursos profissionais têm planos de estudo de âmbito nacional estabelecidos pelo Ministério de Educação (embora as escolas profissionais tenham autonomia para os gerir da forma que entendam melhor, pois a lei confere aos órgãos de gestão autonomia administrativa para desenvolver os mecanismos que entenda adequados para este efeito - art.º 7º) e encontram-se divididos em três componentes:

formação sociocultural que, sendo comum a todos os cursos, «visa contribuir

para a construção da identidade pessoal, social e cultural dos alunos» (art.º 16º,

n.º 2, al. b, do Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho);

formação científica que pretende proporcionar aos alunos «a aquisição e

desenvolvimento de um conjunto de conhecimentos e aptidões de base do respetivo curso» (art.º 16º, n.º 2, al. d, do Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de

julho);

formação tecnológica que visa «a aquisição e desenvolvimento de um conjunto

de conhecimentos e aptidões de base do respetivo curso, e integra ... formas específicas de aprendizagem em contexto de trabalho» (art.º 16º, n.º 2, al. e, do

Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho).

Assim, tendo em conta a matriz apresentada, as escolas têm autonomia para distribuir e gerir a carga horária de forma flexível e otimizada, desde que a mesma não ultrapasse as mil e cem horas por ano, as trinta e cinco por semana e as sete diárias (art.º 7º).

Os cursos são coordenados por um Professor designado pela Direção Pedagógica, escolhido, preferencialmente, entre os docentes profissionalizados que lecionem as disciplinas da componente da formação técnica (cfr. art.º 8), a quem compete, nomeadamente, a articulação pedagógica entre as diferentes disciplinas e componentes de formação do curso, a organização e coordenação das atividades a desenvolver no âmbito da formação técnica e o acompanhamento e avaliação do curso.

De acordo com o art.º 10º, a avaliação das aprendizagens, enquanto processo que regula o ensino, orienta o percurso escolar e certifica as capacidades, os conhecimentos, as aptidões e atitudes adquiridas e desenvolvidas pelos alunos, identificados no respetivo perfil profissional, quer no âmbito das disciplinas de cada uma das componentes de formação, quer no que respeita à Formação em Contexto de Trabalho (FCT), tem por objetivo aferir uma série de indicadores que permitam o reajustamento daquilo que for necessário para melhorar o ensino e suprir as suas dificuldades (art.º 23º do Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho). As suas modalidades são diagnóstica, formativa e sumativa (cfr. n.º 2, do art.º 10º) e, no caso concreto do ensino secundário (onde se enquadram a maioria dos cursos profissionais), esta última permite um juízo conducente à tomada de decisão da classificação e aprovação da disciplina ou módulo que possibilite a progressão no curso até ao seu término. A avaliação sumativa designa-se de interna, quando é da responsabilidade dos professores e órgãos de gestão pedagógica da escola, e de externa quando a responsabilidade é dos serviços ou entidades do Ministério da Educação e Ciência, concretizando-se através da realização de provas e exames finais nacionais (as regras aplicadas aos cursos profissionais estão previstas no n.º 4, do art.º 29º do Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho) - art.º 23º.

A avaliação interna verifica-se no final de cada um dos módulos de todas as disciplinas, em reunião do conselho de turma nos termos do art.º 21º, havendo a obrigatoriedade de registar e afixar todos os momentos de avaliação (art.º 22º). Para além dos conteúdos lecionados em cada módulo, a avaliação incide, também, na FCT e na Prova de Aptidão Profissional (PAP - trabalho desenvolvido pelo aluno no último ano da sua formação, que se centra sobre um tema que tenha ligação com os contextos de trabalho relacionados com o perfil profissional do seu curso, sendo acompanhado e orientado por um Professor que lecione, preferencialmente, disciplinas da componente técnica, cfr. art.ºs 17º e seguintes).

O curso considera-se concluído depois de o aluno obter aprovação em todas as disciplinas do plano de estudos do curso que frequentou, na formação em contexto de trabalho e prova de aptidão profissional (art.º 27º). A classificação expressa-se numa escala de 0 a 20 valores (art.º 25º) e a aprovação só se obtém com uma classificação igual ou superior a 10 valores e desde que estejam preenchidos os requisitos da assiduidade (art.º 9), que não pode ser inferior a 90% da carga horária de cada módulo

de cada disciplina, nem de 95% da carga horária prevista para a formação em contexto de trabalho.

Após a conclusão do curso profissional com sucesso, o aluno requer o seu certificado ao órgão de gestão pedagógica (cfr. n.º 4 do art.º 27º), passando a estar, a partir deste momento, na posse de uma formação duplamente certificada, pois tem concluído o ensino secundário permitindo-lhe o acesso ao ensino superior e um curso profissional do nível que for atribuído pelo Quadro Nacional de Qualificações que, neste caso concreto, é o nível 4 (cfr. anexos II e III da Portaria n.º 782/2009, de 23 de julho).

Atualmente a formação profissional, contemplada pela Lei de Bases do Sistema Educativo desde 1986 e regulada pela Portaria 74-A, de 15 de Fevereiro de 2013, faz parte integrante do sistema educativo e tem como principal objetivo proporcionar um ensino profissionalizante adequado à satisfação das necessidades locais e regionais, através de uma oferta formativa diversificada.

Assim, e tendo em conta todo o percurso que o ensino profissional teve ao longo da história, podemos verificar que este tipo de ensino já conquistou o seu «lugar ao sol», possibilitando aos jovens, cada vez mais sedentos de novas experiências, fruto da sociedade de informação em que se inserem, uma alternativa que lhes proporcione a aquisição de conhecimentos mais flexíveis, virados para o saber fazer, interdisciplinares, com uma estreita ligação entre a escola e o mercado de trabalho. Esta componente prática do ensino tornou, para muitos, a vida quotidiana na escola mais atraente e contribuiu para manter o interesse escolar de alunos que querem ingressar na vida ativa sem que o seu percurso escolar passe, necessariamente, pelo ensino superior.