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O ensino superior no Brasil: uma abordagem

OPINIÃO DOS PROFESSORES N %

1.2.1 O ensino superior no Brasil: uma abordagem

O contexto no qual estão inseridas as universidades brasileiras, na atualidade, merece especial atenção por parte dos educadores e demais pessoas que possuem ligação estreita com a questão educacional no Brasil, enquanto alunos, professores, gestores, enfim, todos aqueles que pretendem dar atenção sob um olhar crítico para as políticas que envolvem tal problemática.

Temos, portanto, questões que se encontram no centro da problemática universitária como a autonomia, as relações com o Estado e a necessidade de propostas práticas para solução das questões aventadas. Nesse sentido, há que se questionar os objetivos reais da universidade, a sua estrutura e a sua avaliação; observância às relações entre os cursos profissionais e as licenciaturas, bem assim os cursos superiores não profissionais. Inclui-se a necessidade de análise à carreira docente e os processos de escolha dos dirigentes

universitários. Essencial, dado ao processo de construção da universidade, análise acerca da compreensão da história das universidades no Brasil com as imposições sociológicas do momento presente, bem como observância aos atores sociais ali inseridos.

Na lição de Florestan Fernandes35 a universidade enfrenta a pior crise com que já se defrontou durante sua curta formação no Brasil. Aduz que três ameaças principais pairam sobre ela e sobre a natureza de sua contribuição educacional. Inicialmente, pretende-se submetê-la a uma tutela exterior cega e inflexível. Segundo, o radicalismo intelectual é focalizado como um mal em si mesmo e como um perigo para a sociedade. Por último, de uma forma ou de outra, os professores vêem-se diante de um novo dilema: fortalece-se dia a dia a aspiração de isolar-se o jovem do fluxo de reconstrução da sociedade.

Analisemos a questão da autonomia. Tem-se no Brasil a inexistência de qualquer universidade até o início do século XX, conquanto existissem cursos superiores como os de Arte e Filosofia na Bahia, instalado em 1572, além de cursos no Rio de Janeiro, Olinda, Belém, São Paulo e Mariana. Contavam tais cursos com uma média de 300 alunos, de sorte que 1/3 deles estudavam na Bahia. Em 1808 foram criadas aulas de anatomia e de cirurgia na Bahia e no Rio de Janeiro e em 1810 uma Academia Militar de Engenharia no Rio de Janeiro. Já em 1827 foram criados dois cursos jurídicos, um em São Paulo e o outro em Recife (Olinda). Iniciou- se, assim, o marco de referência para o ensino superior no nosso país.

O ensino superior desenvolveu-se, então, através de faculdades que foram criadas de forma isolada, sem o padrão universitário e com precária

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administração, motivo que ensejou um desenvolvimento muito lento entre as unidades universitárias.

Narra Luiz Antônio Cunha36 que a primeira vez que a palavra autonomia apareceu no cenário do ensino superior brasileiro foi em 1911, quando da existência de um movimento de contenção da expansão das inscrições nas faculdades, propiciada pelo ingresso irrestrito dos concluintes das escolas secundárias oficiais e das privadas a elas equiparadas. Nesse sentido e objetivando suprimir tal privilégio das instituições oficiais, a Lei Orgânica do Ensino Superior e Fundamental da República declarava as instituições oficiais de ensino secundário e superior corporações autônomas do ponto de vista didático e administrativo.

Em sua fase moderna o ensino superior teve início no Brasil em 1808. Com relação aos Cursos Jurídicos, possui 1.038 faculdades, sendo que 225 encontram-se implantadas no Estado de São Paulo, sendo que em setembro de 2004 o país já possuía 700 cursos.37

Não obstante, tem-se a universidade atualmente como uma instituição em crise. Na lição de Gadotti38 a identidade da universidade não é um dado, uma marca, um brasão ou um logotipo. É um processo de construção de um projeto. Narra que a gestão compartilhada não deve ser encarada apenas como um modelo de gestão como a busca de um modelo mais eficiente, mas como uma forma que favorece a qualidade de ensino, da extensão, da pesquisa, que cria novas relações sociais e humanas, estabelecendo novos vínculos.

Sílvia Teixeira Penteado39 faz uma reflexão a respeito do para quê e a quem serve a universidade. A indagação da autora instala-se no papel do ensino

36 CUNHA, Luiz Antônio. Qual universidade? São Paulo : Autores Associados, 1989. p. 52. 37

CONSULTAS jurídicas. Disponível em: <www.conjur.estadão.com>. Acesso em: 17 mar. 2007 às 15:00 horas.

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GADOTTI, Moacir. Educação e poder. São Paulo : Autores Associados, 1991. p. 22.

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superior no Brasil e tem como desdobramento as finalidades e os objetivos que visa a alcançar, uma vez que tais colocações convivem com uma realidade bastante distinta no que se refere a um sistema altamente diversificado não só geograficamente como também em termos das instituições que o compõem e do público a que atendem, diferenças que são tomadas como desvio de um modelo único em virtude das deficiências do subdesenvolvimento no país. Constata-se, assim, que muitas interpretações disponíveis sobre a universidade e seu papel esbarram em pontos de estrangulamento tanto na relação da Universidade com o Estado e a sociedade, como em seu interior, enquanto instituição e organização.

A estrutura das universidades foram abaladas na década de 60 pelas pressões a que resultou sujeita. A unicidade de seus três fins principais, quais sejam, ensino, pesquisa e extensão explodiu em múltiplas funções por vezes contraditórias entre si. Percebemos, aí, questões como a explosão das faculdades, o acúmulo da população estudantil e do corpo docente, a proliferação das instituições, a expansão do ensino, a investigação universitária em novas áreas do saber.

O Relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico de 1987 atribuía às universidades dez objetivos principais, a saber: educação geral pós-secundária, investigação, fornecimento de mão-de-obra qualificada, educação e treinamento altamente especializados, fortalecimento da competitividade da economia, mecanismo de seleção para empregos de alto nível por meio da credencialização, mobilidade social para o estudante trabalhador, prestação de serviços à religião e à comunidade local, paradigmas de aplicação de políticas nacionais e preparação de liderança social. Narra Sílvia Penteado que tal multiplicidade de objetivos levanta a questão da compatibilidade entre eles.

Em nível elementar, a contradição estaria entre alguns objetivos e o caráter utópico e a idéia de universidade estabelecida num modelo único da reforma de 1968 onde se definiram, em linhas gerais, as mudanças de formato do sistema de ensino superior. Tal reforma buscou implantar no Brasil a universidade da indissociabilidade da pesquisa, ensino e extensão, vigorando até hoje no ensino brasileiro, moldura que convive com uma realidade distinta em função do sistema diversificado que idealizou e do público a que atendem, o que se constitui como um desvio de um modelo único em virtude das deficiências de subdesenvolvimento no país.

Tais contrastes apontam para um processo de desqualificação do ensino superior relacionado, na maioria das vezes, por uma ausência de qualidade formal e política, uma vez que o próprio sistema tem consciência da indefinição e das distorções de sua estrutura e funções.

Tem-se, assim, inquietações dentro do segmento universitário, a saber: - as finalidades e trajetórias da universidade, seus condicionantes sócio- políticos e econômicos, com ênfase para os processos de avaliação e melhoria da qualidade;

- sua inserção no meio social, não só em relação aos que participam do cotidiano institucional (professores, alunos e pessoal de apoio), mas também aos vários grupos e sistemas com os quais a universidade interage;

- o processo decisório administrativo da universidade e as relações de poder, englobando o acesso ao conhecimento e desenvolvimento científico e tecnológico.