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3 A LMA e suas Categorias de Estudo

3.4 O Espaço

Esta categoria, também conhecida por Harmonia Espacial, refere-se ao ‘onde’ nos movemos, o local no qual o movimento se realiza. Ela está relacionada a ‘arquitetura do espaço’ criada por Laban a partir dos estudos realizados sobre a ‘arquitetura do corpo’. A categoria Espaço é, portanto, aquela que trata da organização do espaço, como uma geometria de ocorrência efetiva ou potencial do movimento humano. E, como tal, ela encerra os seguintes conceitos51: 1. Harmonia Espacial 2. Cinesfera 3. Alcance do Movimento 4. Padrão Axial 5. Formas Cristalinas 6. Percurso Espacial 7. Tensão Espacial

8. Outros Conceitos e Símbolos de Espaço

A Harmonia Espacial é um conceito complexo que tem as suas raízes fixadas em diversas fontes de interesse de Laban. Estas fontes incluem desde o misticismo e a filosofia (especialmente a grega), as artes, até as ciências. Contudo, é possível dizer-se (sempre se correndo o risco de ser reducionista) que, as bases deste conceito estão calcadas nas idéias de relação entre as partes de uma determinada estrutura (proporção), em relação a uma estrutura

maior ou menor (equilíbrio). A Harmonia Espacial visa estabelecer uma relação de equilíbrio e proporção entre duas arquiteturas diferentes a do corpo, com a sua estrutura própria e seu espaço interno, e o espaço externo que, ao mesmo tempo em que contém o corpo nele também está contido. A Harmonia é, neste aspecto, o equilíbrio entre diferentes geometrias, ou seja, a busca de uma correlação estabelecida no princípio morfológico segundo o qual as partes do corpo estão ligadas ao espaço externo, de tal modo que, as transformações na forma de um acarretam mudanças na forma do outro, contínua e reciprocamente.

É baseado neste princípio de co-relação entre os espaços individual e externo que os Fundamentos Corporais Bartenieff (BF) são desenvolvidos. Este aspecto fica mais evidente quando se verifica que os BF identificam o corpo como uma arquitetura tridimensional. Essa identificação se processa através de determinados pontos da estrutura anatômica do corpo humano (Marcos Ósseos), que funcionam como pontos de referência na organização e na realização do movimento para locomoção no espaço externo, também tridimensional.

A Cinesfera é um conceito de Laban que diz respeito ao espaço físico tridimensional que se localiza ao redor do corpo humano e que pode ser atingido pela extensão de suas partes, desde que não se transfira o peso da base de apoio. Entretanto, a cinesfera pode ser metaforicamente comparada a um campo de força – neste caso um campo de ação -, o que significa dizer que ela é levada juntamente com o corpo onde quer que ele vá e está sempre presente onde quer que ele esteja. Portanto, a cinesfera não é um conceito estático, ao contrário, ele é dinâmico, plástico, e está sujeito às influências de diversos fatores, tais como pessoais, psicológicos, sociais, culturais, entre outros que afetam a percepção e a amplitude desse campo de ação.

O Alcance do Movimento refere-se às possibilidades de amplitude do movimento, em função do espaço que ocupa e está diretamente relacionada com o tamanho da Cinesfera, mas não com o tamanho do corpo. Este alcance pode se dar em três diferentes níveis (próximo, médio, distante) que estão diretamente relacionados com os tamanhos passíveis de serem assumidos pela Cinesfera (pequena, média, grande).

Padrão Axial é uma referência espacial (convencionada) que serve para orientar o movimento corporal no espaço externo e que, como toda convenção, varia segundo os critérios que se adotem para sua definição. Pode-se, por exemplo, usar o espaço físico ou o corpo como referência para fixar a frente, o alto, etc. O símbolo utilizado para representar o padrão axial é a Cruz Axial que pode ser de três tipos: Cruz Axial Padrão, Cruz Axial do Corpo e Cruz Axial Constante. Dentre estas opções, este estudo usará a Cruz Axial do Corpo, na qual os pontos são definidos em função da estrutura corporal, tomando como ponto de referência o Centro de Peso. Assim, a frente do corpo é aquela adotada independente da posição adotada, por exemplo, a posição deitada tanto pode ser em decúbito dorsal, quanto ventral ou lateral. Esta Cruz considera o corpo como principal agente do movimento, e é ela a referência espacial principal usada em LMA, tanto na prática quanto na teoria.

Formas Cristalinas são aquelas criadas pelo desenho produzido pelo movimento do

corpo projetado no espaço externo. Estas projeções do corpo - por mínimas que sejam - alteram a Cinesfera que assume diferentes formatos geométricos. Laban escolheu cinco Formas Cristalinas (formas geométricas compostas de poliedros regulares em ordem de complexidade matemática) como um padrão para estruturar os seus princípios de movimento do corpo no espaço. As Formas Cristalinas utilizadas por Laban, segundo o grau de complexidade são: O Tetraedro, o Octaedro, o Cubo, o Icosaedro e o Dodecaedro. Inscrevendo o corpo nestas estruturas, verdadeiras Cinesferas geométricas, Laban estabeleceu percursos ligando os vários pontos destas estruturas em seqüências chamadas de Escalas Espaciais.

As Formas Cristalinas e as Escalas Espaciais que elas facultam têm como principal finalidade desenvolver a consciência e a potencialidade de movimento do corpo humano de forma tridimensional com influência direta sobre a intensão espacial, o gesto e a postura. Além disso, através desta geometrização do espaço Laban revelou uma poética potencial do espaço, estabelecido posteriormente como afinidades espaciais.

O Percurso Espacial é uma espécie de rastro deixado pelo movimento ao ligar pelo menos dois pontos no espaço. Os desenhos surgidos a partir destes rastros são denominados Formas de Rastro Espacial (Spacial Traceforms). São eles que evidenciam o formato

geométrico assumido pela Cinesfera. Estes rastros ilustram os Percursos Espaciais que podem ser diferenciados em três tipos: Percurso Central, Percurso Transverso e Percurso Periférico. Através da definição dos dois pontos no espaço fica estabelecido de maneira cabal o tipo de Percurso Espacial.

A Tensão Espacial refere-se à interação, de forma ativa, entre os membros e o tronco no Espaço, “... a lei do contrabalanço [tensão] requer que seja dado um contrapeso a qualquer membro que se mova em uma direção e que este contrapeso seja dirigido aproximadamente na direção oposta, em certas medidas e ângulos definido” (Laban apud Bartenieff).52 As Tensões Espaciais podem ser de três tipos: Tensão Central, Tensão Transversa e Tensão Periférica.

Conceitos e Símbolos de Espaço são símbolos utilizados na identificação e na organização de forma inteligível dos conceitos sobre o espaço cênico e a colocação do corpo neste espaço. Estes símbolos também constam no ANEXO 1.

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