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CAPÍTULO 1 AS FORTALEZAS DO E PARA O CAPITAL: O ES PAÇO DE SE PRODUZIR CONHECIMENTOS NANOCIENTÍFICOS

1.2 O espaço da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Em 2005, ano seguinte ao início do projeto do LCME coordenado pelo Professor Campagnolo, a UFSC tinha sido considerada:

como a 6ª. universidade entre as IES de língua portuguesa, a 8ª. da América Latina, a 23ª. da Ibe- roamérica e a 464ª. no ranking mundial dentre as 2.000 universidades classificadas.23 A UFSC é a- inda qualitativamente falando a 4ª. universidade brasileira na graduação e a 5a. na pós-graduação, entre as cerca de 1.800 IES do Brasil (MEC, 2005). (UFSC-PRPe, 2005, p. 5).

Além disso, recentemente a UFSC tinha criado a Pró-reitoria de Pesquisa, separando-a da Pró-reitoria de Pós-graduação (na re- estruturação administrativa de 2004):

[...] trabalhando assim no sentido de instituciona- lizar as atividades de pesquisa e ampliar suas á- reas de abrangência, além de consolidar as áreas

23

Tratou-se de um “[...] estudo (http://www.webometrics.info; 2005) feito por meio de uma pesquisa com 2.375 acadêmicos do mundo inteiro, segundo a análise de disciplinas combinada com detalhes como a relação entre o número de professores e estudantes, o número de profes- sores estrangeiros, o número de trabalhos de pesquisa publicados, além da opinião de empre- gadores de todo o mundo sobre quais universidades eles se utilizam para recrutar novos fun- cionários” (UFSC-PRPe, 2005, p.5).

já desenvolvidas, no âmbito nacional e internacio- nal. (UFSC-PRPe, 2005, p. 4).

Evidentemente, as posições da UFSC no âmbito nacional e inter- nacional melhoraram nos anos seguintes, senão mantiveram-se signifi- cativamente positivas. Conforme os Relatórios de Gestão da PRPe, de 2006 a 2011, verificou-se que a posição da UFSC, em termos de IES de língua portuguesa, variou entre a 3ª e 5ª, com predomínio da 3ª posição. Entre as universidades da América Latina, sua posição oscilou entre a 4ª e 7ª; e no ranking mundial - que considerou, dependendo do ano, entre 2.000 e 6.000 universidades classificadas -, variou entre as posições 134ª e 381ª.

Trata-se de uma Universidade que tem procurado nos últimos anos afirmar-se cada vez mais internacionalmente e que, como decor- rência, vem focando no âmbito interno a pesquisa em termos de análise de desempenho por meio de indicadores de pesquisa qualitativos e quan- titativos, conforme os Relatórios de Gestão anuais da Pró-reitoria entre 2005 e 2011.24

Anualmente, a UFSC recebe entre R$ 250 a 300 milhões desvin- culados do orçamento para execução de projetos, o que significa, por exemplo, que não necessariamente parte desses recursos esteja sendo utilizada para melhorar a infraestrutura de pesquisa da instituição.25 E esse valor não deve ter apresentado significativa variação nos anos ante- riores, de modo que não é equivocado afirmar que da tríade ensino, pesquisa e extensão, a pesquisa é a que envolve maior volume de recur- sos desvinculados do orçamento.

Esse volume de recursos condiz com a infraestrutura da UFSC, medida por indicadores de conteúdo como espaço físico, laboratórios,

24 Esses indicadores são da produção científica e intelectual, da existência de grupos de pesqui- sa e suas interrelações e resultados, da ampliação dos projetos por meio da captação de recur- sos e financiamentos (nas figuras do Departamento de Projetos, vinculado à PRPe, do FUN- PESQUISA, da Cooperação Internacional promovido pela CAPES, dos convênios público- privados, dos projetos sociais e das Fundações, especificamente, FEESC, FAPEU e FAPESC), dos resultados do Programa PIBIC/CNPq, dos números de propriedade intelectual e patentes, dos convênios nacionais e internacionais (tanto de caráter público como privados) (UFSC- PRPe, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2011).

25 Informação verbal de Elias Machado, Diretor de Projetos da Pró-reitoria de Pesquisa, na reportagem de UFSC-PRPe. In: Reunião discute fluxo para tramitação de projetos. 21 nov. 2012. Disponível em < http://noticias.ufsc.br/2012/11/21/reuniao-discute-fluxo-para- tramitacao-de-projetos-na-ufsc/ >. Acesso em 16 mar. 2013. Na reportagem não é informado de onde provêm esses recursos, se da esfera pública ou privada e nem o percentual, no entanto, imagina-se que boa parte seja oriunda da esfera pública, considerando-se a preocupação da reitoria em mapear e acompanhar sua destinação.

rede de bibliotecas, equipamentos, manutenção, serviços terceirizados e de apoio administrativo, segurança patrimonial e pessoal.26

O surgimento do LCME aconteceu numa década de ampliação do espaço físico da Universidade27, de crescimento do número de livros, periódicos, e-books28 e de bolsas de pós-graduação29. Até mesmo a exis- tência do Restaurante universitário é importante ao funcionamento regu- lar do LCME.30

Essas constatações denotam a infraestrutura geral que capacita diretamente a produção de conhecimento no LCME, pois constituem as condições gerais postas com que se deparam servidores técnicos e usuá- rios do LCME (bem como futuros usuários). Essas condições gerais estão materializadas predominantemente como trabalho passado. Entre- tanto, é o trabalho vivo que as reproduzem ao colocar em movimento o trabalho passado, apesar de que, ao mesmo tempo, é feito/determinado por essas condições gerais.

A UFSC como instituição social e de porte (quase como uma “coisa” viva) é a estrutura imediata à qual a comunidade universitária, especialmente, o LCME, seus servidores técnicos e funcionamento ope- racional estão vinculados. Não há como negar que parece, no tocante à pesquisa, como uma grande engrenagem da qual somos partes e que objetiva um fim comum. No caso do LCME, a subordinação é direta- mente ao gabinete do reitor, manifestando-se entre estes dois espaços relações sociais específicas decorrentes do entendimento da UFSC quanto ao seu próprio objetivo como instituição de pesquisa e seu modo de alcançá-lo:

26 Programa de Autoavaliação Institucional. Sem data. Disponível em < http://www.paai.ufsc.br/arquivos/infraestrutura.pdf >. Acesso em 16 mar. 2013.

27

Dados da Pró-reitoria de Planejamento e Orçamento (PROPLAN) relevaram que, entre 2001 e 2010, o crescimento em termos de área construída, dentro do campus, foi progressivo, pas- sando de 274.522,78 m2, em 2001, para 353.443,89 m2, em 2010 (UFSC-PROPLAN, 2011, p.7).

28

Quanto à Biblioteca Universitária Central, a PROPLAN indicou, em 2007, o registro de 293.290 livros, 281.605 periódicos, 174 e-books, ao passo que quatro anos depois, ou seja, em 2011, esses materiais somaram 361.362 livros, 346.994 periódicos e 28.102 e-books (UFSC- PROPLAN, 2011, p.7), respectivamente, apresentando variações percentuais positivas de 23,20%, 23,22% e 16.050,57%.

29 O número (total) de bolsas de pós-graduação, um dos alicerces da pesquisa, aumentou de 1.769, em 2009, para 2.730, em 2011 (UFSC-PROPLAN, 2011, p.8), significando um aumento de 54,32%.

30 A atividade (ou não, como em períodos de greve, por exemplo) do Restaurante Universitário afeta negativamente o fluxo de usuários no LCME, pois os pós-graduandos – principal público usuário do LCME – não aparecem às sessões agendadas marcadas (relato informal de técnicos do LCME).

Na sociedade contemporânea, a principal contri- buição da Universidade para o desenvolvimento humano-social consiste na geração de conheci- mentos científicos e tecnológicos que capacitem a população a enfrentar seus desafios econômicos, políticos, ambientais e existenciais. Nesta pers- pectiva, as principais responsabilidades da univer- sidade pública brasileira são: a) produzir conhe- cimentos novos, que se apresentem como potenci- ais soluções para os problemas enfrentados pelo país, em seu processo de desenvolvimento; b) vei- cular este conhecimento de forma apropriada, inclusive participando do planejamento e ges- tão de projetos, em parceria com os setores pú- blico e privado. Assim, a instituição universitária deve funcionar como um coletivo de investigado- res - empreendedores, procurando a cada momen- to identificar os principais entraves e as oportuni- dades que se apresentam para o processo de de- senvolvimento econômico, social e humano, vin- do a elaborar e testar soluções, e aplicá-las em tecnologias que viabilizem a remoção dos entra- ves e a promoção de novos empreendimentos. Neste processo, seria preciso superar as limitações das disciplinas e áreas de conhecimento aca- dêmicas, procurando uma interação e complemen- tação de saberes e habilidades [grifos nossos] (UFSC-PRPe, 2005, p. 4, 2006, p. 3, 2007, p. 3). Chama atenção na citação imediatamente anterior o desejo da Universidade em contribuir para resolver os desafios da sociedade, ge- rando conhecimentos científicos e tecnológicos, porém claramente numa parceria entre os setores público e privado. A alegação é o entendimento de que o entrave a esse processo é “a limitação das disciplinas e áreas do conhecimento acadêmicas” em relação a uma suposta “falta de interação e complementação de saberes e habilidades”.

Esse objetivo e fim comum, ao qual a comunidade universitária está submetida, e a forma de atingi-lo foi repetido durante três anos na parte introdutória dos Relatórios de Gestão da PRPe, e foi posteriormen- te substituído por uma parte intitulada ‘metas’, talvez por já ter sido consolidado organicamente como um entendimento, ao mesmo tempo em que parece ter se tornado imperativa a busca de resultados ‘concre-

tos’, talvez diante do volume elevado de recursos para projetos desvin- culados do orçamento.

A UFSC reproduz a lógica dominante do produtivismo, mas para se compreender como isso se dá em sua relação com o LCME é preciso apreender as mediações amplas no tocante à produção do conhecimento nanocientífico.

1.3 A lógica dominante na produção de conhecimentos nanocientífi-