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CAPÍTULO 1 AS FORTALEZAS DO E PARA O CAPITAL: O ES PAÇO DE SE PRODUZIR CONHECIMENTOS NANOCIENTÍFICOS

M. Eletrônica de Transmissão (MET)

4.3 Terceira expressão de intercâmbio: alienação e ser social

Viu-se nos dois itens anteriores, respectivamente, que mesmo tratado isoladamente, o processo de produção do conhecimento nanocientífico remete para além de si, manisfestando-se objetivo e interdisciplinar, e que tratado socialmente é materialmente cooperativo. Isso, porque depende de condições gerais determinadas, vistas anteriormente.93

93 Essas condições são duas: a) objetivas imediatas e mediatas, bem como de homens que operam os equipamentos e aparelhos, instrumentos e insumos. Especificamente são as do

Assim, pela alienação, o homem, ao reproduzir a substituição dele mesmo por forças naturais e por um processo que só funciona por meio do trabalho comum - dominantemente intelectual - engendra uma base produtiva de sua existência cujo caráter cooperativo do processo de conhecimento, em função da natureza do próprio aparato (voltado à análise/decomposição e recomposição do objeto), é uma necessidade técnica das idéias dos homens pensantes, teleologicamente postos.

Essa necessidade, segundo Aued (2005a) se dá pela própria utilização do trabalho passado como condição posta da produção da vida em dimensão superior às legadas pelas gerações presentes.

E, de fato, na produção de base científica laboratorial, o ponto de partida como frisado é o objeto com o qual se trabalha e não os instrumentos de trabalho tal como na grande indústria. Somente neste tipo de produção a observação/decomposição e recomposição em escala nanométrica/atômica do objeto, esse conhecimento da matéria como condição social da produção, se coloca como necessidade socialmente imposta e não mera casualidade.

Aparentemente, na produção de base científica laboratorial, os homens “reaparecem” - para Fausto (2002) - como essenciais ao processo tal como tinham sido importantes na manufatura, pois haviam sido transformados, na grande indústria, em apêndice do sistema de maquinaria.

Entretanto, agora, o processo é levado a cabo pelo general intellect, isto é, como determinação social da produção material que se expressa como conhecimento da constituição da matéria e homem pensante.94 Por isso, é estranho pensar em termos de “reaparecimento” dos homens, como estuda Fausto (2002). Porque, de fato, LCME e da UFSC como instituição, e que se relacionam entre si, mediados pelas relações sociais advindas da produção do conhecimento nanocientífico como égide do capital e desenvolvimento do ser social. Inicialmente, esses homens são exclusivamente os técnicos do LCME, porque tratam-se de equipamentos e aparelhos caros e sensíveis ao uso de muitas pessoas. Exceções acontecem quando um professor-pesquisador ou pós-graduando possui domínio sobre os equipamentos igual ou maior ao dos técnicos do LCME. No tocante aos instrumentos e insumos, são operados por todos, usuários e técnicos. b) coletivas, de homens que se unem para operar objetivamente por meio do pensamento, o que é dado pelas variadas áreas da ciência. O intercâmbio e a troca de informações dos homens entre si, mesmo que divididos em “professores, alunos e técnicos”, é parte indispensável ao processo, denotando o seu caráter intrinsecamente interdisciplinar. Há separação entre “os que pensam” e “os que executam”, mas sob a ótica do processo da produção, tende a ser superada.

94 Quando as máquinas e o sistema de máquinas tornam-se inteligentes, “esses conhecimentos que se encontram dentro das cabeças dos trabalhadores e em parte nas próprias máquinas são distribuições descentralizadas de um todo altamente complexo de saberes científicos, tecnoló- gicos e produtivos que Marx chama de intelecto geral” (PRADO, 2003, p.123).

historicamente, na grande indústria o general intellect também era posto pela determinação social da produção material, mas dominantemente como desenvolvimento da objetivação das máquinas (o instrumental de trabalho) - e não como desenvolvimento a partir do objeto sobre o qual se trabalha -, principalmente no tocante ao desenvolvimento dos meios de transmissão e motor, dos conhecimentos clássicos de física, química etc. Porque a grande indústria é em si a objetivação da subjetividade do trabalhador manufatureiro. Essa determinação era essencialmente moldar ou transformar exteriormente o objeto, eficiência que prescindia da necessidade de conhecimento da constituição da matéria. Nesse sentido é que o laboratório de então estava limitado pela grande indústria (CAMPANA, 2006).

Por que a eficiência da transformação, na grande indústria, pôde prescindir do conhecimento da constituição da matéria? Porque esse tipo de conhecimento não é determinado pelo espaço da grande indústria, mas pela produção de base científica laboratorial. Veja-se que mesmo o laboratório agregado à grande indústria, sendo submetido ao seu interesse de eficientizar os meios de transmissão e motor, levou à produção de fenômenos que jamais a grande indústria moderna poderia solucionar. Desta forma é que atualmente é a grande indústria que depende inteira e dominantemente da produção de base científica laboratorial, no sentido de que procura desenvolver ao máximo seus próprios laboratórios de P&D, e/ou desenvolver e/ou apropriar-se desses conhecimentos junto a Universidades e Institutos de Pesquisa, inclusive imprimindo sua lógica de produção a esses espaços95.

Na produção de base científica laboratorial, para além de expulsar os trabalhadores do processo de produção e encurtar a parte do dia de trabalho da qual o trabalhador precisa para si mesmo, o ser social indica ter engendrado o pressuposto material de superação dessa própria alienação ao criar “a máquina ferramenta de precisão eletrônica que observa/decompõe” partículas em escala nanométrica na forma dos microscópios eletrônicas e seus aparelhos. Veja-se que o homem aqui não é, de modo algum, o homem expulso da grande indústria moderna. Suas prerrogativas e habilidades são outras, totalmente distintas.

Porque o material orgânico do ser social, como corpo do homem,

95 A tecnologia relacionada aos conhecimentos nanocientíficos, chamada de nanotecnologia, “só existe em laboratórios e indústrias com equipamentos de alta precisão, afinal, são necessá- rias máquinas muito precisas para trabalhar com componentes tão pequenos, os quais são invisíveis aos nossos olhos” (JORDÃO, 2009, p.1).

é o mesmo da natureza.96 Cabe enfatizar que o ser social a partir dessa produção de base científica laboratorial exalta que a unidade do ser social é um composto da relação homem-homem (H-H), a partir da qual se efetuam as relações homem-natureza (H-N) e natureza-homem (N- H), porque o homem é um ser natural, mas nunca em si, somente como tempo da relação homem-homem (H-H) (FIGUEIRA, 1987, TORRIGLIA, 1999). O homem é ser genérico somente no sentido de que constitui teológica e permanentemente a “comunidade”, sua natureza orgânica, por assim dizer (a relação dos homens entre si). Somente assim, é considerado como espécie real, existente, de fato, viva, como um ser universal e, em consequência, livre (MARX, 2004).97

Quanto a isso, a partir da observação no LCME, foi verificado que não apenas as pesquisas lá empreendidas visam alterar a natureza externa ao homem, mas a própria natureza do homem, sendo um processo empreendido social e coletivamente para além de seu espaço imediato. Dessa forma é que investigadores da Universidade de Purdue, no estado de Indiana (EUA), descobriram uma nova abordagem para reparar fibras nervosas danificadas na medula espinal usando nano esferas que podem ser injetadas diretamente no sangue, logo após um acidente (CIÊNCIA HOJE, 2009). Ou, que o Instituto Nacional de Nanotecnologia, do MCTI, está desenvolvendo nanopartículas de polímeros biocompatíveis que liberam controladamente no pulmão medicamentos contra a tuberculose, biomateriais com porosidade controlada que melhoram a fixação dos implantes cirúrgicos, nanomembranas capazes de reter desde o sal da água do mar até substâncias tóxicas do sangue, dentre outros (AGÊNCIA BRASILEIRA DE NOTÍCIAS, 2009).

O que isso significa em termos da ‘objetivação’, da ‘alienação’ e da ‘apropriação’? Significa considerar essas tranformações como elementos ou existências da atividade criativa de homens viventes,

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Em outras palavras, a produção de base científica laboratorial explicita o entendimento marxiano de que o homem “atuando assim sobre a natureza externa e modificando-a, ao mes- mo tempo modifica sua própria natureza” (MARX, 1996, p.202). Por outro lado, a construção prática de um mundo objetivo, a manipulação da natureza inorgânica é a afirmação do homem como ser genérico consciente, como um ser que considera a espécie o próprio ser; é a afirma- ção da constituição da natureza orgânica do ser social orgânico (MARX, 2004).

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Assim, é de acordo com a relação com outros homens, que é o próprio movimento do corpo orgânico social ou do ser social, que os homens se relacionam com o seu corpo inorgânico como natureza. É necessário observar que em todos os tempos da existência humana o trabalho adquire caráter social, pois alguém produz valores de uso para que outros sobrevivam (AUED, 1999) ou, ainda, “desde que os homens, não importando o modo, trabalhem uns para os outros, adquire o trabalho uma forma social” (MARX, 1996, p.80).

historicamente determinados, que efetivam a universalidade humana no momento em que a subtração do trabalho excedente dos assalariados pelos capitalistas constitui “essência” humana (AUED, 2004). Portanto, os nexos, as mediações e as relações advindas da alienação como manufatura e grande indústria capitalistas e como base científica laboratorial são fenômenos do homem se fazendo homem no seu processo dialético de revelar até que ponto o comportamento natural do ser humano se tornou humano e a essência humana tornou-se para ele natureza (MARX, 2004).

A tônica do processo é a reprodução do capital, o que significa que a alienação ainda não se resolve por completo, pois os homens ainda não produzem outros homens em si e para si, mas ainda como exterioridade que é capital.

Sendo assim, a razão de ser do capital, produzir para acumular-se com a finalidade de produzir mais riqueza, é que impõe à produção a capacidade de gerar riqueza ilimitadamente. Entretanto, quanto mais potencializa a produção da riqueza, mais incorpora trabalho vivo (excedente) em trabalho passado. Nesse sentido, as condições que limitam a produção das coisas para serem vendidas e compradas são rompidas e superadas. É esse processo que permite um salto de qualidade das forças produtivas sociais e que cada vez mais vai rompendo com o invólucro que prende a produção às condições naturais. (AUED, 1999). Nesse processo dialético, os homens cooperam uns com os outros na e pela produção material de sua existência, de conformidade com um plano previamente estabelecido, que no caso burguês é o capital, desfazendo-se “dos limites de sua individualidade para desenvolver a capacidade de sua espécie” (MARX, 1996, p. 378).

Nesse sentido, o homem burguês que nasce com o modo de produção capitalista vai tornando-se (aufhebung) homem social de outra qualidade, na medida em que o capital como princípio de ordenamento social da produção faz o trabalho desaparecer como singularidade ao transformá-lo em e desenvolvê-lo como componente do processo de produção.

4.4 Quarta expressão de intercâmbio: cooperação e relações sociais