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O estado atual do espaço urbano-industrial no Garcia

4. PATRIMÔNIO INDUSTRIAL DE BLUMENAU

5.3 O estado atual do espaço urbano-industrial no Garcia

Atualmente o espaço onde está implantada a unidade fabril da Coteminas S.A., que inicialmente pertenceu a E. I. Garcia e a Artex, e sua área de influência demonstra grande diferença com relação às prioridades da empresa e a relação dela com seus funcionários, seu entorno e com a cidade. A empresa aumentou significantemente sua área construída em sua unidade fabril, com a construção de inúmeras novas edificações que foram ocupando praticamente todo o espaço ainda disponível, e isso inclui à antiga rua, praça pública, cooperativa e o antigo campo de futebol. As casas populares, já haviam sido vendidas aos funcionários em condições facilitadas em 1966 e das aproximadamente 240 existentes, sobraram apenas algumas poucas dispersas ao longo da Bairro da Glória. A maioria deu lugar à construção de novas edificações, quase todas comerciais devido a importância das ruas, assim como as que permanecem existentes também são de uso misto, moradia e uso comercial na fachada frontal, conforme figura 5.37 com casas ainda existentes.

A portaria principal do complexo industrial se concentra na entrada anteriormente utilizada apenas pelos veículos pesados, de carga e descarga, e estacionamento da empresa, localizado onde anteriormente era o campo de futebol do Amazonas E. C., que foi todo aterrado, assim como as demais áreas do complexo industrial. A entrada é bem demarcada pelas palmeiras imperiais, onde para a direita fica localizado o estacionamento de veículos leves e para a esquerda o início do complexo industrial, onde os veículos pesados entram por onde seria o antigo traçado da Rua Amazonas até certa parte.

Figura 5.33: Portaria principal no local do antigo campo do Amazonas E.C.. Fonte: Bielscchowsky, 2009.

Figura 5.35: Novo traçado da Rua Amazonas e o complexo industrial. Fonte: Bielscchowsky, 2009.

Seguindo externamente ao parque fabril, é necessário percorrer o “novo” trajeto da Rua Amazonas implantado em 1974 (Figura 4.88), que também recebeu uma demarcação através de Palmeiras Imperiais exatamente entre o início do novo traçado até encontrar a grande reta traçada por trás do antigo parque fabril, conforme a figura 5.35. A partir dessa reta cria-se uma perspectiva, entre o morro e a unidade fabril, em direção à nova Praça (ou apenas rótula do sistema viário) Getúlio Vargas (figura 5.36), local onde havia uma grande concentração de casas populares da vila operária anteriormente (Figura 4.65).

A partir da Praça Getúlio Vargas, ocorre a divisão da Rua Amazonas em duas vias importantes, a Rua da Glória que é a principal conexão do bairro da Glória e a Rua Progresso, que é a principal conexão do bairro Progresso. Seguindo pela Rua da Glória, já não existe mais relação direta com a empresa, visto que as antigas casas populares e a antiga cooperativa de consumo não pertencem mais a empresa. Porém, as residências da antiga vila operária ainda existentes nos remetem ao tempo em que existia uma relação direta da empresa com seus funcionários e com a cidade, através da ação direta nos bairros próximos.

Figura 5.37: Casas populares remanescentes em frente ao complexo fabril. Fonte: Bielscchowsky, 2009.

Seguindo pela Rua Progresso pode-se perceber diversas situações inusitadas e a perda da identidade desse local. A primeira grande decepção é o espaço da antiga Praça Getúlio Vargas, um espaço público que foi apropriado pela empresa de tal forma que hoje não é possível ter referencia nenhuma à esse elemento urbano de grande importância no passado. Seguindo em frente, uma surpresa relativamente boa, é a existência do primeiro edifício fabril da Artex, de 1936. O edifício não apresenta nenhum destaque por estar em uma via de grande fluxo rápido de passagem e não ter sido criado nenhum espaço que o valorize como deveria.

Surpresa relativamente boa porque, num espaço onde quase nada foi preservado, a existência de um edifício-chave para se compreender a história desse espaço urbano-industrial serve como elemento de referência e que pode reconstituir alguma identidade.

A edificação está parcialmente preservada, externamente, com a alvenaria em boas condições, mas com todas as aberturas vedadas, inclusive as mansardas na cobertura, para que não se possa ver ou saber o que existe ou acontece na parte interior do edifício, que está vazio.

Prosseguindo pela Rua Progresso, praticamente ao lado do antigo edifício parcialmente preservado, tem-se uma grande perda na dinâmica urbana e a perda de identidade do local. A antiga portaria principal, onde anteriormente acontecia a entrada dos funcionários, apresenta seu portão fechado. A própria Artex, ao incorporar a empresa E. I. Garcia, eliminou diversos fatores que contribuíam para a dinâmica local e o cotidiano das pessoas, com o fechamento de vias, ponte, campo de futebol e edifícios que marcavam o espaço urbano local. A Coteminas faz da mesma forma, com a desculpa de reorganização funcional e logística. Fechou o portão principal da Artex, mas não apenas pelas desculpas dadas, mas para marcar o espaço da sua maneira. Esse espaço foi de importância fundamental no decorrer da história urbano-industrial pelos diversos fatores anteriormente já citados, como por exemplo, ter sido neste local onde teria sido implantada a primeira fabriqueta têxtil da cidade, a linha imaginária onde percorriam os principais fluxos, desde o tapume que represava a água para o fornecimento de energia, o local onde foi construída a grande chaminé da antiga empresa e mais tarde, bem em frente à portaria, ficava situado a cantina, o refeitório e o centro social da empresa. Com relação ao antigo refeitório, o espaço foi doado para o governo estadual, que doou para o governo municipal em para a construção do ambulatório do Garcia, uma antiga reivindicação popular de décadas.

Finalizando o percurso, temos a ADR Artex, que anteriormente era restrito para o uso dos funcionários, mas atualmente funciona como um clube comum, onde qualquer pessoa pode se associar e desfrutar da excelente infra-estrutura existente.

Figura 5.42: Imagem da A.D.R. Artex. Fonte: Bielscchowsky, 2009.