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implementação Art 7° da lei 12.711/12.

O ESTADO DA ARTE

AFIRMATIVAS NO BRASIL

Para abordar o estado da arte da produção acadêmica das teses e dissertações sobre as ações afirmativas no Brasil, é necessário situar o leitor que esta pesquisa deu continuidade ao estudo anterior desenvolvido em nível de mestrado por Carvalho (2014). Na pesquisa de mestrado foi feito um estado da arte da produção acadêmica da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a respeito das ações afirmativas no período de 1990 a 2012.

Naquela pesquisa foram contempladas essas três Instituições de Ensino Superior (IES), para realizar o estado da arte, porque elas são as três maiores instituições de ensino superior pública do Brasil. Além disso, elas possuem todo o seu acervo, de teses e dissertações, disponíveis em Portable Document Format (PDF) em suas bibliotecas digitais.

Ainda naquela ocasião foi utilizado o banco de teses e dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), para ampliar a possibilidade de identificar possíveis teses e dissertações defendidas que estivessem registradas no banco de tese da CAPES e que, por uma ou outra circunstância, não estivessem disponíveis nas bibliotecas digitais da USP, UNESP e Unicamp.

Esses esclarecimentos iniciais se fazem necessários ao leitor, porque neste capítulo foi utilizado o mesmo referencial teórico sobre o estado da arte que outrora fora utilizado para fazer a pesquisa anterior em nível de mestrado. Entretanto, é necessário destacar que esta tese teve o objetivo de fazer um estado da arte sobre as teses e dissertações defendidas no Brasil, que abordaram a temática das ações afirmativas.

O ESTADO DA ARTE

O estado da arte é um referencial importante para esta pesquisa porque a necessidade de ampliar as informações de estudos anteriores exige que se atualize e se conheça o universo empírico que será estudado na atividade de pesquisa. Nesse sentido, este trabalho toma como referência a articulação teórica e a bibliografia referente ao estado da arte apresentado no artigo escrito por Carvalho e Sánchez Gamboa (2014).

Isso porque, ambos os autores, após explorar a leitura de vários autores sobre o estado da arte, elaboraram uma sequência lógica para fundamentar e justificar as pesquisas bibliográficas definidas como estado da arte.

O estado da arte, que também é definido por alguns autores como “estado do conhecimento” (SOARES; MACIEL, 2000, p.9) e (FERREIRA, 2002, p.258), são pesquisas

Definidas como de caráter bibliográfico, elas parecem trazer em comum o desafio de mapear e de discutir uma certa produção acadêmica em diferentes campos do conhecimento, tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares, de que formas e em que condições têm sido produzidas certas dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em anais de congressos e de seminários (FERREIRA, 2002, p. 258).

O estado da arte é importante, para esta tese, porque possibilita organizar, caracterizar e identificar as pesquisas desenvolvidas a respeito de alguma área do conhecimento, ou sobre algum assunto peculiar, que seja de interesse do pesquisador.

As pesquisas de caráter bibliográfico, com o objetivo de inventariar e sistematizar a produção em determinada área do conhecimento (chamadas, usualmente, de pesquisas do “estado da arte”), são recentes, no Brasil, e são, sem dúvida, de grande importância, pois pesquisas desse tipo é que podem conduzir à plena compreensão do estado atingindo pelo conhecimento a respeito de determinado tema – sua amplitude, tendências teóricas, vertentes metodológicas. Essa compreensão do “estado do conhecimento” sobre um tema, em determinado momento, é necessárias no processo de evolução da ciência, a fim de que se ordene periodicamente o conjunto de informações e resultados já obtidos, ordenação que permita a indicação das possibilidades de integração de diferentes perspectivas, aparentemente autônomas, a identificação de duplicações ou contradições e a determinação de lacunas ou vieses (SOARES; MACIEL, 2000, p. 9).

Com isso, observa-se que o estado da arte permite iniciar uma pesquisa tendo como ponto de partida informações que são possíveis de serem obtidas a partir das produções acadêmicas e científicas. Isso porque, “esses trabalhos não se restringem a identificar a produção, mas a analisá-las, categorizá-las e revelar os múltiplos enfoques e perspectivas." (ROMANOWSKI; ENS, 2006, p.39)

As informações, que são possíveis de serem obtidas a partir da produção acadêmica e científica por intermédio do estado da arte, são importantes para os mais diversos estudos, e para as diversas áreas do conhecimento na pesquisa científica porque

O interesse por pesquisas que abordam "estado da arte" deriva da abrangência desses estudos para apontar caminhos que vêm sendo tomados e aspectos que são abordados em detrimento de outros. A realização destes balanços possibilita contribuir com a organização e análise na definição de um campo, uma área, além de indicar possíveis contribuições da pesquisa para com as rupturas sociais. A análise do campo investigativo é fundamental neste tempo de intensas mudanças associadas aos avanços crescentes da ciência e da tecnologia (ROMANOWSKI; ENS, 2006, p. 38-39).

também desta tese porque “embora recentes, os estudos de “estado da arte” que objetivam a sistematização da produção numa determinada área do conhecimento já se tornaram imprescindíveis para apreender a amplitude do que vem sendo produzido”. (ROMANOWSKI; ENS, 2006. p.39)

Nesse sentido, e considerando os autores citados até o momento, é possível observar que o estado da arte tem uma característica predominantemente inventariante, mas que é essencial para se conhecer o que já foi pesquisado em determinada área do conhecimento.

As pesquisas do tipo estado da arte se fazem necessárias, porque “esses estudos são justificados por possibilitarem uma visão geral do que vem sendo produzido na área e uma ordenação que permite aos interessados perceberem a evolução das pesquisas na área.” (ROMANOWSKI; ENS, 2006, p.41).

O pesquisador do estado da arte é

Sustentado e movido pelo desafio de conhecer o já construído e produzido para depois buscar o que ainda não foi feito, de dedicar cada vez mais atenção a um número considerável de pesquisas realizadas de difícil acesso, de dar conta de determinado saber que se avoluma cada vez mais rapidamente e de divulgá-lo para a sociedade, todos esses pesquisadores trazem em comum a opção metodológica, por se constituírem pesquisas de levantamento e de avaliação do conhecimento sobre determinado tema (FERREIRA, 2002, p. 259).

As pesquisas denominadas estado da arte contribuem para esta pesquisa porque permitiu fazer uma revisão da literatura, identificar lacunas e pesquisar sobre os assuntos, ou temas, que ainda não tenham sido explorados dentro de uma determinada área do conhecimento ou temática de pesquisa.

Fazer um balanço do conhecimento identificar temas de pesquisas que carecem de desenvolvimento e tentar avançar na compreensão das questões postas pelas relações sociais concretas é um trabalho que se impõe principalmente no caso brasileiro, onde as conquistas democráticas são incipientes e a cidadania é pouco mais que uma concepção formal, em decorrência do que a oferta educacional tem sido insuficiente e inadequada (KUENZER, 1987, p. 5 e 6).

Desse modo, constata-se que as contribuições das pesquisas do tipo estado da arte não estão restritas tão somente ao seu caráter inventariante. O estado da arte não é uma pesquisa bibliográfica dedicada tão somente a quantificar seus próprios dados de pesquisa.

O estado da arte é uma pesquisa que também permite realizar alguns estudos qualitativos, ainda que estes sejam restritos. Desse modo, fazer uma pesquisa bibliográfica caracterizada como estado da arte exige do pesquisador a construção de uma questão norteadora e, também, de objetivos de pesquisa para que o estado da arte possa conter alguns

aspectos qualitativos. Isso porque,

O pesquisador do “Estado da Arte” tem dois momentos bastante distintos. Um, primeiro, que é aquele em que ele interage com a produção acadêmica através da quantificação e de identificação de dados bibliográficos, com o objetivo de mapear essa produção num período delimitado, em anos, locais, áreas de produção. Nesse caso, há um certo conforto para o pesquisador, pois ele lidará com os dados objetivos e concretos localizados nas indicações bibliográficas que remetem à pesquisa. Ele poderá visualizar, nesse momento, uma narrativa da produção acadêmica que muitas vezes revela a história da implantação e amadurecimento da pós-graduação, de determinadas entidades e de alguns órgãos de fomento de pesquisa em nosso país. Nesse esforço de ordenação de uma certa produção de conhecimento também é possível perceber que as pesquisas crescem e se espessam; ampliam-se em saltos ou em movimentos contínuos; diversificam-se os locais de produção; em algum tempo ou lugar ao longo de um período.

Um segundo momento, é aquele em que o pesquisador se pergunta sobre a possibilidade de inventariar essa produção imaginando as tendências, ênfases, escolhas metodológicas e teóricas, aproximando ou diferenciando trabalhos entre si, na escrita de uma história de uma determinada área do conhecimento (FERREIRA, 2002, p. 265).

Desse modo, nota-se que “os dois momentos de pesquisas distintos” (FERREIRA, 2002, p.265) é de fundamental importância para o estudioso que realiza pesquisa do tipo estado da arte. Para que o pesquisador do estado da arte possa articular e usufruir das sugestões feitas por Ferreira (2002) é que se compreende o porquê da importância de uma questão norteadora e de objetivos de pesquisa. E, ainda, na perspectiva da argumentação aqui apresentada, é possível acrescentar que

Os objetivos favorecem compreender como se dá a produção do conhecimento em uma determinada área de conhecimento em teses de doutorado, dissertações de mestrado, artigos de periódicos e publicações. Essas análises possibilitam examinar as ênfases e temas abordados nas pesquisas; a relação entre o pesquisador e a prática pedagógica; as sugestões e proposições apresentadas pelos pesquisadores; a contribuição dos professores/pesquisadores na definição das tendências do campo de formação de professores (ROMANOWSKI; ENS, 2006, p.39).

Nessa mesma perspectiva é importante destacar que, assim como é necessário que o pesquisador do estado da arte tenha claro sua questão norteadora e objetivos, um recorte temporal pode contribuir de forma significativa para o estado da arte.

Outros estudiosos que escreveram sobre o assunto, também destacam que é importante que o pesquisador do estado da arte defina um recorte temporal para realizar a pesquisa bibliográfica. E, para esta tese, compreende-se que definir um recorte temporal, é importante tanto para o estado da arte proposto para esta pesquisa, quanto para a delimitação de um período histórico que privilegie o contexto das ações afirmativas.

sistematizar um determinado campo de conhecimento, reconhecer os principais resultados da investigação, identificar temáticas e abordagens dominantes e emergentes, bem como lacunas e campos inexplorados abertos à pesquisa futura (HADDAD, 2000, p.4).

Assim, está claro que o estado da arte é uma pesquisa bibliográfica que em determinados momento é crucial para o avanço da pesquisa científica. Isso porque,

Um levantamento e uma revisão do conhecimento produzido sobre o tema é um passo indispensável para desencadear um processo de análise qualitativa dos estudos produzidos nas diferentes áreas do conhecimento. Este tipo de estudo caracteriza-se por ser descritivo e analítico (ROMANOWSKI; ENS, 2006, p.43).

O estado da arte é um passo primordial para o avanço da produção acadêmica e científica, pois além de permitir apontar lacunas, conforme já abordado anteriormente, pode indicar em quais assuntos os pesquisadores podem avançar no desenvolvimento da sua produção acadêmica ou científica.

Nesse sentido, e antes de finalizar a fundamentação aqui apresentada sobre o estado da arte, é necessário fundamentar a necessidade de existirem pesquisas do tipo estado da arte e o motivo para elas continuarem existindo e serem realizadas.

A primeira razão é que a identificação, caracterização e análise do “estado do conhecimento” sobre determinado tema é fundamental no movimento ininterrupto da ciência ao longo do tempo. Assim, da mesma forma que a ciência se vai construindo ao longo do tempo, privilegiando ora um aspecto ora outro, ora uma metodologia ora outra, ora um referencial teórico ora outro, também a análise, em pesquisas de “estado de conhecimento” produzidas ao longo do tempo, deve ir sendo paralelamente construída, identificando e explicitando os caminhos da ciência, para que se revele o processo de construção do conhecimento sobre determinado tema, para que se possa tentar a integração de resultados e, também, identificar duplicações, contradições e, sobretudo, lacunas, isto é, aspectos não estudados ou ainda precariamente estudados, metodologias de pesquisa pouco exploradas.

A segunda razão para que pesquisas de “estado do conhecimento” tenham caráter permanente, isto é, não tenham um término, é que, num país como o nosso, em que as fontes de informação acadêmica são poucas e precárias, sobretudo no que se refere a teses e dissertações, o banco de dados que forçosamente se constitui como subproduto desse tipo de pesquisa precisa manter-se atualizado, dada a sua grande relevância para pesquisadores e estudiosos (SOARES; MACIEL, 2000, p. 6).

Nessa perspectiva, concordamos com a argumentação das autoras, supracitada, de que as pesquisas de estado da arte não podem acabar, não apenas pelas argumentações apresentadas, mas também, porque em estudos anteriores, por exemplo, Carvalho (2014) que fez um estado da arte sobre a produção acadêmica das teses e dissertações sobre a temática das ações afirmativas na USP, UNESP e Unicamp, foram identificadas o total de 46 teses e dissertações, entre as quais 12 não foram possíveis de serem acessadas. (CARVALHO, 2014, p.59)

Essas informações ressaltam a importância da pesquisa do tipo estado da arte e mostram que essas pesquisas são também atuais. Após essas constatações, fica mais fácil compreender a importância de utilizar os resumos nas pesquisas de estado da arte.

É evidente que o leitor indagará e poderá até mesmo afirmar que é inviável uma pesquisa bibliográfica que considere apenas a leitura dos resumos. Todavia, ao constatarmos ainda hoje, que em pesquisas recentes, o acesso a materiais bibliográficos, por exemplo, teses e dissertações, ainda é difícil de ser realizado, tal constatação nos leva a concordar com as indagações e as sugestões apresentadas por Ferreira (2002), conforme segue

É possível afirmar o que se tem falado sobre determinado tema ou área de conhecimento, em nosso país, num certo período, a partir só da leitura dos resumos? Um resumo poderia ser lido como parte de um todo? Que relação poderia ser feita entre cada resumo e o trabalho que lhe deu origem? É possível um olhar metonímico para cada resumo? Buscando respostas para essas interrogações, entre outras saídas já encontradas por outros pesquisadores, enveredamos por uma: levar em consideração a natureza do material que temos em mãos (FERREIRA, 2002, p. 266 – 267. Grifos da autora).

A ESCOLHA DA BASE DE DADOS DA BDTD PARA A PESQUISA