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3. JORNAIS: ESCRITAS DO COTIDIANO

3.1 O ESTADO DE S PAULO

Em quatro de janeiro de 1875 é lançado na cidade de São Paulo um periódico diário de notícias intitulado A Província de São Paulo. De acordo com a História do Grupo54, o periódico tinha por intenção combater a monarquia e a escravidão, colocando-se como um jornal republicano desde o início de suas atividades.

O jornal foi fundado por Manoel Ferraz de Campos Salles55 e Américo Brasiliense. Antes de se tornar O Estado de S. Paulo, Júlio de Mesquita começa a trabalhar como redator em 1885. Para o grupo, Mesquita é uma figura fundamental. É com ele que o jornal se moderniza, se sustenta e ganha novos ares, chegando a se tornar o jornal mais vendido no país, alguns anos depois.

Em 1888 o jornal deixa de ser A Província de São Paulo para se tornar O Estado de S. Paulo. Essa mudança ocorre na transição entre o governo monárquico e a República, e, a partir de então, o periódico com Júlio de Mesquita à frente se torna um dos principais meios de comunicação do país. É na década de 1890 que Júlio de Mesquita assume a direção do diário, dando início a um novo projeto de jornal. É ele que dá o tom do periódico, passando a dirigir uma empresa jornalística:

A passagem do século, assim, assinala, no Brasil, a transição da pequena à grande imprensa. Os pequenos jornais, de estrutura simples, as folhas tipográficas, cedem lugar às empresas jornalísticas, com estrutura específica, dotadas de equipamento gráfico necessário ao exercício de sua função. Se é assim afetado o plano da produção, o da circulação também o é, alternando- se as relações do jornal com o anunciante, com a política, com os leitores (SODRÉ, 1999, p.275).

Ainda de acordo com Sodré (1999, p. 268) “em 1896 [...] A tiragem do Estado de S. Paulo era, então, de 8000 exemplares”.

54 História do Grupo é uma seção do portal do Estadão, que conta por décadas a atuação do grupo no Brasil, destacando as principais reportagens, os aparatos técnicos, entre outros fatores que consideram relevantes para contar a trajetória do jornal. Disponível em: <http://acervo.estadao.com.br/historia-do-grupo/decada_1870.shtm>. Acesso em: 11 de dez. 2016.

55 Manuel Ferraz de Campos Salle ou Campos Salles foi o quarto presidente republicano. Já na década de 1870 percebe-se sua atuação em prol da república pela criação do diário de notícias A Província de São Paulo.

Assim, O Estado de S. Paulo entra no século XX já bastante consagrado na imprensa nacional. Entre tantos fatores, séries de notícias como as da Guerra de Canudos56, escritas por Euclides da Cunha, deram fôlego e aumentaram a vendagem do jornal. Segundo o próprio grupo “A tiragem do Estadão, que girava em torno de 10 mil exemplares, saltou para mais de 18 mil em março de 1897, com a publicação de notícias da Guerra de Canudos”57

A relação entre cidade e jornal é bastante evidente. Seja nas preocupações das colunas, seja no título do jornal é possível compreender a ideia de que, em fins do século XIX e início do século XX, a relação entre leitura, jornal e atividade intelectual se dá, majoritariamente, no espaço urbano.

Apesar do alto índice de analfabetismo, a imprensa conquista leitores novos. A urbanização atrai, para as metrópoles que se formam, contingentes de mão- de-obra; o desenvolvimento econômico e social estende a participação crescente de camadas de trabalhadores e classe média às decisões políticas (BAHIA, 2009, p.138).

Desta forma cabe aqui ressaltar o lugar ocupado pelo grupo no traçado urbano. Em 1906 o jornal passa a compor o cenário do Triângulo Central da cidade, na Praça Antonio Prado.

O Triângulo Central da cidade é o foco do projeto de modernização em voga. É entre a Praça Antônio Prado, a Rua São Bento e o Viaduto do Chá que o comércio, a oferta de serviços e os projetos higienistas e modernizantes aparecem com mais evidência. Até 1929 o jornal funciona neste endereço.

As redações, tal como salões, cafés, livrarias, editoras, associações literárias e academias, podem ser encaradas como espaços que aglutinam diferentes linhagens políticas e estéticas, compondo redes que conferem estrutura ao campo intelectual e permitem refletir a respeito da formação, estruturação e dinâmica deste (DE LUCA, 2010, p.141).

Essa rede intelectual está presente em O Estado de S. Paulo. É preciso pontuar que um jornal é composto por vários atores. São redatores, diretores, cronistas e colaboradores. Com Júlio de Mesquita à frente do diário até 1927, ano de sua morte, e colaboradores como Olavo Bilac, Monteiro Lobato e Ruy Barbosa, O Estado viu o número de tiragens aumentar significativamente.

56 Euclides da Cunha foi enviado como correspondente do O Estado de S. Paulo para cobrir a Guerra de Canudos. Suas reportagens são importantes registros do evento, e foram transformadas na obra Sertões.

A colaboração de nomes como estes, por exemplo, é prática recorrente na atividade jornalística do período. Cumpre destacar que, como a atividade literária era pouco remunerada, nomes da literatura em todo o país atuavam também em periódicos, seja em reportagens, crônicas ou mesmo compondo anúncios presentes no jornal. Sobreviver da escrita em uma sociedade que convivia com os altos índices de analfabetismo exigia desses homens de letras atividades na imprensa periódica, com escrita mais dinâmica e própria do mundo moderno que se abria no Brasil, e neste caso em São Paulo, no início do século XX.

O jornal funcionava, portanto, como meio de comunicação, mas também como espaço de sociabilidade, uma sociabilidade intelectual, entre seu corpo editorial, redatores e colaboradores. Em O Estado de S. Paulo as sociabilidades burguesas são bem aparentes, seja nas crônicas aqui estudadas, seja nas notas e colunas sociais, gênero jornalístico que passa a fazer parte da publicação já nas primeiras décadas do novo século.

Os homens de letras, à frente de impressos periódicos que passavam a funcionar como empresas, e que passam a ter prestígio e poder social, fazem parte desta camada que se entende como burguesia. Formam uma elite intelectual que aponta para a “percepção social que os diferentes atores têm acerca das condições desiguais dadas aos indivíduos no desempenho de seus papéis sociais e políticos” (HEINZ, 2006, p. 7). Estes atores que estiveram à frente deste grande negócio que passaram a ser as empresas jornalísticas.

A modernização do periódico, que emerge num grande processo de modernização da cidade, dos hábitos cotidianos, dos meios de transporte, da saúde pública, entre tantos outros aspectos, só é possível graças às tecnologias disponíveis.

É a partir da aquisição de linotipos58 que o jornal pode saltar de aproximadamente 18 mil tiragens para mais de trinta mil, entre as décadas de 1910 e 1920. Os impressos periódicos até então não apresentavam grandes diferenças na aparência estética das edições.

A variedade de tendências políticas, contudo, não se repetia na aparência do material. Ao contrário, até que os avanços técnicos permitissem diferenciações, os impressos eram muito parecidos, sendo o formato mais comum o de quatro folhas e duas colunas. A precariedade da nossa indústria gráfica persistia, obrigando os interessados em edições mais cuidadas a imprimir no estrangeiro, como foi o caso da revista Kosmos (1904). Essa condição se modificou no início do século XX, quando a modernização das técnicas de impressão e ilustração e a introdução de cores possibilitaram o aumento do número de páginas, a elaboração de capas mais atrativas e maiores

58 Linotipo é uma máquina utilizada para impressão de livros, jornais e revistas. Ela agilizou o processo até então feito pelas prensas de tipos móveis, onde era necessária a organização sequenciada de cada uma das letras – tipos – que compunham os textos de jornais. O linotipo possibilita a escrita a partir de teclado, como a máquina de escrever, agilizando o processo de impressão de um impresso.

tiragens. Multiplicaram-se os títulos impressos expostos em ‘locais de jornais’ – estações ferroviárias, charutarias, quiosques e livrarias; assinaturas eram vendidas por agentes espalhados em todo o país. Os jornais diários alcançaram porte expressivo graças à introdução das rotativas, ao incremento das formas de publicidade e ao aumento da rede de distribuição decorrente do crescimento da malha ferroviária (COHEN; 2013, p.104).

Esse conjunto de modificações foi catalisador para o desenvolvimento do impresso periódico e pensar a escrita de jornais é pensar também nas condições para a sua existência. Juarez Bahia (2009, p.141) aponta que

Em 1916, os mais importantes diários do Rio e de São Paulo possuem parques gráficos considerados os maiores da América do Sul, com 12 linotipos, três monotipos (também conhecidas como tituladoras) e rotativa com capacidade pouco acima de 70 mil exemplares.

Assim sendo, percebe-se que o investimento na imprensa é característica marcante do início do século XX, e o Estado de S. Paulo faz parte deste processo. Este período marca o “fim do antigo regime tipográfico” como bem aponta Roger Chartier (2010, p. 16). O regime moderno é marcado pela aceleração do tempo e também pela aceleração da impressão, bem como pela modernização dos equipamentos que permitem, além de um maior número de impressos, outras formas textuais.

Velocidade, mobilidade, eficiência e pressa tornaram-se marcas distintivas do modo de vida urbano e a imprensa, lugar privilegiado da informação e sua difusão, tomou parte ativa nesse processo de aceleração (DE LUCA, 2010, p.137).

O jornal O Estado de S. Paulo na década de 1920 circulava diariamente na cidade e o número de páginas de cada edição varia de 10 a 16 páginas. Nas segundas-feiras a edição é menor, contendo aproximadamente 6 páginas, provavelmente pela legislação referente ao trabalho aos domingos59. Para Nelson Werneck Sodré (1999, p.355), o pós Primeira Guerra Mundial foi um corte bastante importante para a História da Imprensa no país:

Se, com o após-guerra, profundas alterações se denunciam na vida brasileira, tais alterações, para a imprensa, acentuam rapidamente o acabamento da sua fase industrial, relegando ao esquecimento a fase artesanal: um periódico será, daí por diante, empresa nitidamente estruturada em moldes capitalistas.

59 Os jornais deixam de circular às segundas-feiras a partir de julho de 1927, quando uma lei municipal proibiu o trabalho aos domingos.

O material impresso é composto, portanto, por longas páginas, mas, diferente do início das atividades da Província de São Paulo, na década de 1920 já é possível mapear algumas colunas fixas e uma divisão bastante evidente aparece quando tomamos contato com as edições dos jornais.

Os especialistas costumam apontar os anos compreendidos entre o último quartel do século XIX e o início do seguinte como um período de inflexão na trajetória da imprensa brasileira. Naquele momento, a produção artesanal dos impressos, graças à incorporação dos avanços técnicos, começou a ser substituída por processos de caráter industrial, marcados pela especialização e divisão do trabalho no interior da oficina gráfica e a consequente diminuição da dependência de habilidades manuais. Máquinas modernas de composição mecânica, clichês em zinco, rotativas cada vez mais velozes, enfim, um equipamento que exigia considerável inversão de capital e alterava o processo de compor e reproduzir textos e imagens passou a ser utilizado pelos diários de algumas das principais capitais brasileiras (DE LUCA, 2013, p. 149).

A primeira página já apresenta algumas manchetes em datas e acontecimentos chave, como a morte de Júlio de Mesquita, a comemoração do centenário da Independência do Brasil, entre outros eventos de destaque. Entretanto, nas edições diárias regulares ainda não aparecem as manchetes de destaque como conhecemos hoje. O jornal é composto por colunas fixas, como Telegramas do Exterior, Notícias do Rio que aparecem logo nas páginas iniciais. Portanto, não é possível ainda falar em capa do jornal. Configuram-se como primeira página, com organização de conteúdo muito próximo das demais páginas de cada edição.

Pela pesquisa feita no acervo do jornal foi possível compreender que há uma intenção de setorizar o jornal. Nas primeiras páginas as notícias mundiais, seguidas pelas nacionais60. Após as notícias e colunas de destaque aparecem as seções de esporte e notícias da cidade de São Paulo, seguidas pela Parte Comercial, que reúne a maioria dos anúncios, embora estes apareçam também nas demais páginas.

É possível perceber que há um esforço em destacar as colunas fixas, seja pelo destaque do título, o tamanho da fonte utilizada ou mesmo a localização na página. O leitor do O Estado já esperava, portanto, encontrar estas colunas ao comprar o jornal para ler. Estas são, desta forma, parte importante do jornal, que incentivam as vendas e assinaturas, pois dão o tom do periódico. O jornal até então sisudo e dedicado exclusivamente aos grandes acontecimentos políticos e econômicos abre espaço para escritas mais leves e traz em seu conteúdo elementos

60 Cabe aqui destacar que neste período o jornal O Estado de S. Paulo tem sucursais em diversos locais do país e do mundo como Santos, Rio de Janeiro e Lisboa.

do lazer e do cotidiano da vida urbana. Essa variedade de escritas faz do Estado um jornal polifônico.

A fatura dos matutinos começou a exigir gama variada de competências fruto da divisão do trabalho e da especialização: repórteres, desenhistas, fotógrafos, articulistas, redatores, críticos, revisores, além dos operários encarregados da impressão propriamente dita. Esses artífices da imagem e da palavra encontravam na imprensa atraentes oportunidades de profissionalização (DE LUCA, 2010, p.138).

Esta polifonia é perceptível, por exemplo, ao pensar o público leitor dos jornais. Se até a primeira década do século XX O Estado de S. Paulo tinha nos homens brancos, letrados e urbanos sua principal parcela de leitores esse público vai se modificar com as mudanças na estrutura do impresso em meados da década de 1910.

Abrindo espaço para novos formatos de escrita, para anúncios mais chamativos, para divulgação de vagas de trabalho na cidade ou mesmo para as colunas sociais, pode-se inferir que crescem as tiragens porque cresce também o público leitor. Há colunas e anúncios voltados ao público feminino, aos trabalhadores de modo geral, aos pequenos comerciantes. Enfim, o projeto de letramento que ganha força com o governo republicano começa a se fazer presente no cotidiano dos jornais.

No que tange aos leitores em potencial, basta lembrar que, em 1890, estimava- se em apenas 15% o montante da população brasileira alfabetizada, porcentagem que timidamente se elevou para 25% no censo de 1900 e não sofreu alterações significativas em 1920. Nesse ano, o estado de São Paulo, cujas reformas na escola primária chegaram a ser consideradas um modelo para o país, então ostentava o índice de 70% iletrados, valor que declinava na capital para 42% graças à entrada de levas de imigrantes que dominavam a leitura e a escrita (DE LUCA, 2013, p.156).

Os jornais fazem parte deste projeto de modernização em boa parte das cidades brasileiras no início do século XX. O tom progressista das publicações fica evidente, seja nas grandes reportagens, seja nas escritas do comum.

Imprensa e progresso, portanto, caminham juntas na transição do século XIX para o século XX. A imprensa moderna só foi possível graças a descobertas científicas. As grandes novidades possibilitaram a existência de publicações maiores e mais dinâmicas. As novidades eram muitas: luz elétrica, cinema, telefone, automóveis, bondes, máquinas de escrever, arranha- céus. Além disso, a utilização do telégrafo submarino agilizou e trouxe a conexão interacional para a imprensa periódica, que se profissionalizava. A modernização da imprensa se dá também

pela contratação de agências como a Havas que trouxe dinâmica e dava agilidade à chegada das notícias do exterior.61 Isso fez dos diários publicações mais dinâmicas e possibilitavam um maior contato com o mundo. É o tempo da abertura do Brasil para o mundo, como aponta Lilia Schwarcz (2014) em História do Brasil Nação.

Um dos sintomas deste dinamismo é que o jornal passa a ser cada vez mais consumido. As vendagens aumentam, assim como o número de assinaturas. Locais para comercialização destes impressos passam a fazer cada vez mais parte do cotidiano dos habitantes das cidades. Figuras como o jornaleiro e comércios como as bancas de jornal são presenças comuns na cidade de São Paulo no início do século XX, especialmente no Triângulo.

Além de repórteres, redatores e tipógrafos, a imprensa se caracterizava como um novo campo a ser explorado e gerava empregos. A vida na cidade era sedutora e, por isso, o país vivenciou um processo de êxodo rural. Com novos serviços, mais ofertas de emprego e acesso às benesses da modernidade, a cidade atraía trabalhadores de todos os cantos do país. Assim, o acesso aos jornais era cada vez mais facilitado ao consumidor nas primeiras décadas do século XX. A partir da leitura dos impressos é possível delimitar seu público alvo. Em publicidade publicada pelo próprio O Estado de S. Paulo em 1926 pode-se mapear alguns aspectos:

O Typo das duas mais perfeitas rotativas em construcção nos estabelecimentos Marioni de Pariz para O “Estado de S. Paulo”. Essas machinas são dotadas dos apparelhos de rotogravuro, processo de impressão nitida e de maravilhos belleza artística com as duas novas instalações, O “Estado”. Dentro em breve ficará habilitado a imprimir 80.000 exemplares em uma hora deste modo o jornal poderá ser distribuído cedo e com toda a pontualidade de entrega e expedição aos assinantes da capital e do interior (OESP, 30 de jan. 1926, p.4).

Tendo em vista que a população alfabetizada já atingia 42% da população na capital, pode-se pensar que O Estado não estava restrito apenas ao público masculino e de classes abastadas. Com a vinda de imigrantes europeus alfabetizados ou mesmo com o acesso à educação formal de mulheres das classes médias e altas urbanas é possível inferir que o jornal moderno abarcava outros públicos.

Publicações sobre greves trabalhistas, anúncios de vagas de empregos, propagandas voltadas à saúde da mulher e da família62 são indícios coletados no jornal que fazem pensar

61 Disponível em: <http://acervo.estadao.com.br/historia-do-grupo/decada_1890.shtm>. Acesso em: 11 de dez. 2016.

62 O país passa pelo momento de transição para a norma familiar burguesa. Neste sentido, cabe à mulher o cuidado com a família – especialmente os cuidados com saúde e educação. A divisão das tarefas familiares a partir de padrões de gênero é abordada por Margareth Rago em “Do cabaré ao Lar” e por Maria Bernardete Ramos Flores em “Tecnologia e Estética do Racismo”.

sobre o seu público leitor. Além disso, os estímulos ao consumo, próprios da entrada cada vez mais vertiginosa do país no modelo capitalista moderno faz do habitante da cidade consumidor. Neste sentido a publicidade vai ser meio eficaz de propagar hábitos cotidianos de consumo, inclusive voltados ao público feminino. A loja Mappin Stores é um bom exemplar de anunciante do Estado.

Se antes da chamada profissionalização da imprensa os anúncios eram objetivos em seu propósito – anunciando brevemente a necessidade de compra ou venda de algum produto – a publicidade do jornal moderno vai construir a necessidade do consumo, através de publicações chamativas, com longos textos e anúncios subjetivos. O exemplo da Mappin Stores é bastante ilustrativo deste processo.

A utilização de imagens com mulheres, o texto que constrói a urgência do consumo e os padrões de moda e vestimenta aparecem como um novo formato de publicidade nas páginas dos jornais. De acordo com Tânia de Luca:

A publicidade também se articulou às novas demandas da vida urbana do início do século XX e, no que diz respeito à imprensa periódica, transformou- se na sua principal fonte de recursos. O anúncio trilhou, então, novos caminhos em relação à estrutura e linguagem e, ainda, no que concerne à profissionalização da atividade, com o agenciador individual cedendo lugar, no decorrer da década de 1910, às empresas especializadas. A voracidade dos Figura 15 Anúncio Mappin Stores. OESP, 08 dez. 1925, p. 11.

cartazes e reclames parecia insaciável, e eles se faziam presentes nos mais diferentes espaços: muros, bondes, casas de espetáculos, restaurantes, almanaques, jornais e revistas (DE LUCA, 2010, p. 123).

A vida moderna exige um leitor dinâmico. Exige a utilização de imagens além de palavras. O público do jornal, portanto, não é meramente informativo e objetivo. Ele constrói necessidades, cria a aura da vida moderna na urbe e a sua polifonia aparece nas crônicas, nos anúncios, nas grandes reportagens e nas mais variadas formas de escrever um jornal.