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O estresse oxidativo induzido pela hipercolesterolemia e suas repercussões em

No documento JULIANA DE LIRA COLANTONIO (páginas 39-44)

2.2. O colesterol e a hipercolesterolemia no contexto da reprodução masculina

2.2.3. O estresse oxidativo induzido pela hipercolesterolemia e suas repercussões em

Pesquisas recentes mostram que mudanças nos níveis lipídicos como a hipercolesterolemia são capazes de desencadear uma série de reações nas células

resultando na formação de espécies reativas de oxigênio (EROs) que, por sua vez, podem desencadear o chamado estresse oxidativo (SUDHARHAR et al., 2006 e 2007; KWOK et al., 2010; THIRUCHENDURAN et al., 2010). As EROs são produtos normais no metabolismo celular geradas pelos processos de respiração ou fosforilação oxidativa que ocorrem nas mitocôndrias. O O2 sofre redução gerando H2O, energia e alguns

intermediários reativos como radicais superóxidos (O2•-), hidroxila (OH•), que é o radical

mais deletério ao organismo, e peróxido de hidrogênio (H2O2) (FERREIRA &

MATSUBARA, 1997).

A formação das EROs nem sempre é deletéria e tem papel importante na defesa do corpo contra infecções (FERREIRA & MATSUBARA, 1997). Entretanto, quando há um desbalanço entre a produção de agentes oxidantes e a formação de agentes antioxidantes as EROs podem atacar proteínas, enzimas, carboidratos, DNA e lipídios, principalmente os presentes nas membranas celulares, gerando danos celulares (FERREIRA & MATSUBARA, 1997). As membranas são ricas em ácidos graxos poliinsaturados que são altamente susceptíveis ao ataque de radicais livres, especialmente hidroxila, e o resultado desta peroxidação lipídica é a perda de sua propriedade seletiva durante a troca iônica, além da formação do malondialdeído (MDA), produto citotóxico (FERREIRA & MATSUBARA, 1997; BARREIROS et al., 2006).

Os principais antioxidantes produzidos pelo organismo são os enzimáticos, como a glutationa peroxidase (GPx), catalase (CAT) e superóxido- dismutase (SOD), e os não enzimáticos, como a glutationa reduzida (GSH) (BARREIROS et al., 2006). Além disso, existem os advindos da dieta: α-tocoferol (vitamina E), ᵦ-caroteno (pró-vitamina A), ácido ascórbico (vitamina C) e flavonóides

(BARREIROS et al., 2006). Atualmente existem inúmeras publicações que exploram substâncias com poder antioxidante presentes em alguns alimentos e que são capazes de prevenir ou combater os danos do estresse oxidativo. Como exemplo temos as sementes de uva (THIRUCHENDURAN et al., 2010), o arroz negro (SALGADO et al., 2010), a soja e o chá verde (SANTANA et al., 2008; YOKOZAWA et al., 2002).

Dados de Sudharhar et al. (2007) mostram claras evidências que uma dieta rica em colesterol é capaz de gerar o chamado estresse oxidativo lipêmico em muitos tecidos, principalmente no próprio fígado onde os danos foram confirmados pela histologia do órgão. Esses autores suplementaram a dieta de ratos com colesterol (4%) e ácido cólico (1%) durante 30 dias, observando uma diminuição na atividade antioxidante da SOD, CAT, GPx e GSH, além de um aumento na peroxidação lipídica hepática avaliada através da quantidade de MDA formado na reação do tecido com o ácido tiobarbitúrico, e consequente crescimento na produção de radicais livres, levando a um colapso no sistema de defesa contra oxidação devido à hipercolesterolemia. Sudharhar et al. investigaram, em 2006, os efeitos negativos da hipercolesterolemia induzida em ratos sobre o fígado e seu papel no desenvolvimento de estresse oxidativo lipêmico no organismo desses animais.

Experimentos feitos por Thiruchenduran et al. (2010) com dieta hipercolesterolêmica em ratos e seus efeitos sobre o tecido cardíaco implicaram em aumento nos níveis séricos de LDL e VLDL que, ao serem oxidados formam hidroperóxidos, espécies altamente reativas que podem desenvolver aterosclerose e iniciar um processo de peroxidação lipídica nas membranas celulares. Este estudo ainda apontou para uma queda nos níveis de antioxidantes (SOD, CAT, GPx e GSH) no miocárdio comprovando o estresse oxidativo causado pela dieta rica em colesterol.

A ingestão de altos níveis de colesterol é capaz de provocar estresse oxidativo e produção de radicais livres e EROs, que interferem em parâmetros reprodutivo. Em revisão, Saradha & Mathur (2006) destacaram a importância da descoberta nas últimas duas décadas, das EROs e do estresse oxidativo para os estudos da infertilidade masculina, pois a elevação nos níveis de EROs resulta em ataque aos ácidos graxos poliinsaturados, presentes em altas quantidades nos espermatozoides de mamíferos que, por isso, são muito susceptíveis a danos oxidativos, os quais diminuem a fluidez da membrana e o movimento da cauda levando à queda na motilidade. Além disso, esses autores alertam para o fato de que se as mitocôndrias forem atingidas e a disponibilidade energética for prejudicada a motilidade pode até ser impedida por completo. A presença de EROs inicia uma cascata de peroxidação lipídica nos lipídios da membrana espermática fazendo com que, além da perda de movimentos, os espermatozoides também percam sua capacidade de executar a reação acrossômica e penetrar no oócito (SARADHA & MATHUR, 2006). O estresse oxidativo foi ainda associado com danos no DNA em um trabalho com suspensão de células testiculares onde foi visto um aumento das anormalidades nas cabeças dos espermatozoides (KUMAR et al., 2002).

Tremellen (2008) em seu artigo de revisão sobre o estresse oxidativo na reprodução masculina lembrou que os espermatozóides e o plasma seminal são dotados de antioxidantes enzimáticos como a SOD e a CAT, responsáveis por inativar o ânion superóxido e peróxidos de hidrogênio. Trabalhos anteriores ainda confirmam uma ligação entre a deficiência de atividade da catalase no sêmen e infertilidade masculina (SANOCKA et al., 1997; MIESEL et al., 1997). A GPx também é uma enzima antioxidante cuja função é reduzir hidroperóxidos utilizando como doadora de elétrons a

glutationa podendo ser localizada no testículo, próstata, epidídimo, vesícula seminal, canal deferente plasma seminal e nos espermatozóides. Entre os antioxidantes não enzimáticos do sêmen estão o ácido ascórbico, α-tocoferol, glutationa, albumina, carotenóides e flavonóides que também agem neutralizando quimicamente os radicais livres. Os antioxidantes presentes no plasma seminal protegem os espermatozoides do ataque oxidativo, no entanto, durante a espermatogênese e a passagem pelo epidídimo os espermatozoides não estão em contato com o plasma seminal e devem contar apenas com a capacidade antioxidante desses órgãos para sua proteção, estando mais vulneráveis a danos oxidativos nestas etapas, principalmente quando há alguma inflamação no epidídimo ou infecção no trato genital.

Mendiola et al. (2009) compararam hábitos alimentares de pacientes normospérmicos e oligozoospérmicos (moderados a severos) e puderam perceber que o grupo controle (normospérmicos) consumia em maior quantidade alguns itens ricos em antioxidantes e micronutrientes tais como frutas, tomate, alface e legumes. Tais alimentos controlam a quantidade de EROs geradas fisiologicamente pelos espermatozoides, evitando o acúmulo, capaz de afetar a qualidade seminal. Eskenazi et

al. (2005) demonstraram a associação entre dieta rica em antioxidantes e números

elevados de espermatozoides e melhor motilidade espermática em homens saudáveis sugerindo-se que a qualidade seminal pode ser influenciada pelo consumo alimentar. Sabe-se ainda que o estresse oxidativo e a redução na atividade antioxidante estão relacionados negativamente com concentração, motilidade e morfologia espermáticas em homens inférteis (PASQUALOTTO et al., 2000).

A associação, já explicitada acima, entre hábitos alimentares e parâmetros reprodutivos levou Mendiola et al. (2009) a sugerirem que mais pesquisas

sejam feitas para avaliar os efeitos da má alimentação durante os períodos perinatais, infância e puberdade na reprodução e fertilidade masculina.

Foi com base nesse cenário que ao longo das últimas décadas foi se delineando uma grande preocupação, por parte das ciências médicas, com os hábitos alimentares atuais da população mundial e suas ligações com o desenvolvimento de diversas doenças, assim como seus riscos sobre a fertilidade (PADRÓN et al., 1989; HAMMOUD et al., 2006; MENDIOLA et al., 2009).

2.3. O sono: características gerais, papel fisiológico e consequências de

No documento JULIANA DE LIRA COLANTONIO (páginas 39-44)

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